Ryoga e Katsumi #30


Katsumi colocou os copos secos sobre a bancada, havia lavado e arrumado todo o bar, e agora que não estava mais grávido, podia usar roupas mais maleáveis, e poderia se mexer melhor atrás do bar, dali tinha a vista e ouvidos para quase todo o restaurante, enquanto o outro não estava, cuidava do local, que estava vazio no fim de noite, somente duas pessoas conversavam numa mesa, e um deles fez um pequeno sinal, escondendo o riso, só então começou a prestar atenção. Ele era estranho, parecia um músico ou algo do tipo, mas parecia um vampiro velho apesar de sua aparência, ele parecia forte por algum motivo. Conversava com o outro sobre algumas coisas, e num ponto, disse que conhecia o dono do restaurante. Esticou-se sobre o balcão, como uma adolescente curiosa sobre o assunto e suspirou, pegando o pequeno pano e passou a limpar algumas mesas, lado aos rapazes.

- Ah sim, o Ryoga frequentava aquela casa, aliás, acho que ele ainda frequenta, lembro-me de ter visto ele por lá uns dias atrás. Sempre pegava os meninos mais bonitos aquele desgraçado. Uma vez o vi saindo com um loirinho que parecia uma criança. Aquele pervertido.
- Que merda, e a gente não consegue esses humanos se jogando nas nossas garras, só porque ele é bonitão.
- Hum, até eu pegaria o Ryoga, pena que íamos brigar pra ver quem fica por cima.
- Hum, eu pagaria pra ver isso, vocês fariam um casal bonito.
- Saiam. - Katsumi falou, e nem notou quando havia se pronunciado, meio alterado.
- Hum? Quem é você rapaz? O empregado?
- Eu sou o namorado do Ryoga.
- Namorado? Você? - Riu. - Rapaz, ele nunca namoraria alguém como você.
- Saiam daqui, agora antes que eu mate vocês dois. 
O loiro se levantou, e era quase do mesmo tamanho que a si, apagou o cigarro no cinzeiro no centro da mesa e ajeitou o casaco enquanto observava a si com a face quase colada a própria.
- Quantos anos você tem, ex-humano? Pra achar que pode me ameaçar.
- E você acha que é melhor do que eu só por causa de um par de olhos amarelos? - Katsumi riu.

- Inuki, esqueça o rapaz. Vamos embora, se ele for mesmo o namorado do Ryoga, ele...
- Cale a boca, estou ocupado. Você não pode ser o namorado dele, rapaz. Você é muito sem graça pra ser do Ryoga, você tem cara de quem vai a essas boates pra pegar porcarias porque não consegue caçar.
O moreno estreitou os olhos ao outro e rosnou a ele, mostrando as presas, porém o viu fazer o mesmo e fora quando o soco atingiu a face do loiro, que se virou por um segundo e logo voltou-se a si, o semblante nem havia sido alterado e ele ria.
- Que porra foi essa? Vai me fazer cócegas?
Katsumi estreitou os olhos novamente, porém sentiu dessa vez o soco desferido sobre si e sentiu todo o caminho que o maxilar fez ao sair do lugar, claro, havia quase voado sobre a mesa ao lado e teve que fechar os olhos, tateando o próprio queixo, mesmo assim, tentou se levantar para acertar o outro, que provavelmente era centenas de anos mais velho do que a si.

Aquela altura de hora, Ryoga já precisava colocar um óculos escuro, era fim de noite e embora estivesse cinza, não gostava das cores do dia dando ar da graça. Sentiu uma estranha sensação de alerta, mas deixou pender a cigarrilha entre os lábios enquanto pegava no porta-malas algumas garrafas num engradado cuidadoso de madeira envernizada. Seguiu ao restaurante pela porta de trás, entrando para o escritório para até então ouvir um ruído vigoroso vindo do salão, soube então porque da sensação incomum. Levou consigo as bebidas e deixou sobre o balcão do bar, já limpo. De lá pôde ver os poucos clientes e os causadores da confusão, a mesa desajeitada, taças quebradas e um maxilar que provavelmente também estaria.
- Mas que porra é essa?
Rugiu, embora as feições não fossem grosseiras, tinha um cenho franzido bem evidente, fitou o moreno e percebera sua tentativa determinada de se levantar embora parecesse lamentável, não para eles, mas para si, que sentia uma estranha sensação desgostosa no peito ao percebê-lo tão vulnerável, e embora tivesse de dar jeito no cliente mal educado, seguiu 
primeiro ao rapaz, que segurou e ergueu, evitando de deixa-lo percebido aos demais, evitando que a ele soasse como uma presa qualquer, porque não era. Ao toca-lo em sua mandíbula, ajudou no que podia para ajeitar no lugar, e claro que não tinha como ser gentil com o estalo que lhe deu. Após levanta-lo, conferiu se estava bem, embora parecesse bêbado, iria aguentar.
- Acho melhor você correr, mas eu vou te pegar.

Katsumi levantou-se com a ajuda do outro, quase a se apoiar nele e uniu as sobrancelhas, estava dolorido, muito, principalmente ao sentir o estalo do maxilar, que deu até um zumbido terrível no ouvido, talvez fora a pior dor que havia sentido na vida.
- .... Caralho... - Falou, meio tonto e sentiu a dor irradiante do maxilar ainda, enquanto tentava observá-lo ou observar o outro rapaz em pé. - Me... Me deixe matar ele.

- Correr? Qual é? Seu empregado foi quem me atacou. Disse que você era namoradinho dele, ficou irritado por algum motivo estúpido e veio querendo dar uma de macho pra cima de mim, essa moça.
- Namoradinho, é? Não vai querer usar a hostilidade comigo. Não estou perguntando quem começou, não vem criar bagunça na porra do meu restaurante, quebrar a mesa, causar confusão e bater na minha moça e me chamar de namoradinho. Está achando que isso é a porra de um boteco? Vai embora, depois eu vou cuidar de você, quem sabe eu leve o Katsumi pra isso.
Ryoga disse e segurou o moreno pela cintura, levando-o num dos braços sem dificuldade, até o balcão do bar, deu-lhe uma taça de vinho e o que precisava parar tirar aquela sua confusão. Ele era fraco e não percebia isso, pelo menos com um vampiro nascido, mesmo que fosse mais velho que ele, ainda assim não teria força para isso.

- ... Moça é? Bem... Ele disse minha.
Katsumi disse, ainda meio tonto e ouviu-o em silêncio, meio desconfortável por ter outra pessoa defendendo a si, mesmo que fosse ele e suspirou, sentindo-o segurar a si e levar ao bar, onde recebeu a taça e bebeu alguns goles.

- Porra, Ryoga. Nos conhecemos cara, você vai quase sempre pro bar e não está me reconhecendo? Caralho. Eu já passei por você várias vezes, já até de chamei pra um quarto. Vai me tratar assim agora? - O loiro sorriu meio de canto. - Por causa de um humano viado?
- Hum, falou o macho. - Disse o maior e sorriu a ele, tão canteiro como ele a si. - Estava querendo meu pau e chama o outro de viado. Não sei quem é você.
- Porra, eu sou vocalista. Te convidei várias vezes pra show, e nem vem com essa, eu não sou uke. Para com isso, humanos não valem a pena.
- Eu não sou humano seu desgraçado imbecil, morceguinho de horta.
- Claro que você é passivo, queria ir pro quarto comigo, acha mesmo que numa dessas o passivo seria eu? - O riso soou zombeteiro dos lábios de Ryoga. - Não sei quem é você. E calem a boca, saia você vocalista do não sei o que e Katsumi, vai pro carro.
- Eu não vou pro carro enquanto não quebrar a cara desse imbecil, entra aqui me desrespeitando a acha que eu vou ficar quieto.
- Desrespeitando o que, seu filho da puta?! Eu estava falando do Ryoga. Não tenho culpa que ele resolveu levar um cachorro feio pra casa. Ficava com tanto moleque bonito. Fala logo, você engravidou dele não foi?
- ... Eu vou matar esse desgraçado! - Katsumi gritou e avançou contra o outro quase num pulo.
Antes que deixasse seu posto, Ryoga pegou o moreno pela gola da camisa e levou-o de volta a seu lugar.
- Não vai aguentar, Katsumi, não seja estúpido.
Disse e por fim seguiu até o rapaz, indicou com a mão a saída de seu silencioso amigo, que parecia ainda ter alguma educação, já o louro, tratou de pegar como fizera antes com o parceiro, levando-o pela camisa caminho a fora, soltou somente quando na entrada do restaurante.
- Acho melhor correr, vocalista do não sei o que, tem um pouquinho de sol aí fora.

- Ah, então foi isso?! 
O loiro riu, porém viu o amigo seguir em direção a saída, desistindo da briga e arregalou os olhos ao ser pego pelo moreno e carregado para fora, estreitou os olhos e sentiu o sol arder contra a pele, encolhendo-se.
- ... Porra Ryoga! - Disse, e passou a correr de fato, tentando se afastar do sol. - Diga a sua esposinha que não vai ficar assim!

- Filho da puta! Não vai? Vem aqui que eu vou arrancar seu pau e fazer você engolir!
- Crianças, mal posso prever seus movimentos. - Ryoga fechou a porta, dando fim as atividades do restaurante, ao se voltar a ele, fitou-o e parecia bem, sob efeito do sangue já correndo por seu corpo. - Você é uma mulher ciumenta, Katsumi? - Disse e voltou a segura-lo pela gola, levando-o como um filhote de gato.
Katsumi estreitou os olhos ao vê-lo voltar para dentro e ao ser segurado, encolheu-se sutilmente, porém logo voltou a esbravejar com o outro, e de fato, não sabia o quão velho ele era e o quão poderoso, para segurar aquele vampiro que quebrou o próprio maxilar pela gola e expulsá-lo, mas gritava com ele.
- Me solte! Por que não me deixou quebrar ele na porrada?

- Cale a boca, Katsumi. Ele tinha pelo menos uns cem anos a mais que você, ia quebrar seu pulso mas não ia doer nele.
- Porra, mas ele entra no seu restaurante, falando daquele jeito, e quer que eu fique tranquilo? Me chamou de feio, disse que eu não era nada comparado aos meninos que você pegava e que só me levou pra casa porque eu estava grávido, e você não fez nada? - O menor disse e por fim puxou a própria camisa, soltando-se.
- Ele provocou você porque você fez o mesmo. E você está dando importância ao que outro diz, não convém você saber o que eu acho disso? Você é esquentadinho, é alguém muito bom de se provocar, se não desse importância ele certamente teria ido muito mais irritado que você. Mas você é como um daqueles cães que não cresce e por isso prefere latir muito pra se defender. Não pense que as coisas que passam por mim ficam como estão, eu vou encontrar ele em algum lugar, mas meu restaurante não é boteco nem campo de luta.
Katsumi estreitou os olhos ao ouvi-lo, principalmente com a comparação estúpida própria com um cachorro e assentiu, ajeitando a camisa desajeitada no corpo e seguiu para fora, colocando a toca, mesmo a sentir a pele queimar com o contato do sol. Ryoga chamou, firme, impassível e pegou-o novamente pela roupa, jogando-o abaixo do braço a contê-lo de sua malcriação. 
- Aonde pensa que vai? - Indagou a leva-lo consigo para o carro, colocando-o no veículo, onde estacionado no escuro, longe do pouco de luz no inicio do dia. - Não seja birrento comigo.
Disse, fitando-o próximo, defronte, a medida que colocara-o no carro e adentrara o veículo para falar com ele. O menor e
streitou os olhos ao senti-lo puxar a si e negativou, tentando se debater, mas ele seguraria a si com o mindinho se quisesse. Ao ser colocado no carro, desviou o olhar a ele novamente, irritado e desviou o olhar.
- Não fale comigo como se eu fosse um boxeador, não quero gente dando em cima do que é meu na minha frente, não me interessa se você é meu namorado, noivo, marido, ou se ficou comigo só porque estava grávido, estamos morando juntos, logo é meu e não vou deixar falarem assim sobre você perto de mim, não interessa se ele vai me quebrar inteiro ou não.

O maior não o respondeu, ao fechar a porta e ouvi-lo, somente travou o veículo de vidros fumês bem escuros e deu início a partida até em casa, não muito distante dali, não estava a fim de prosseguir com o assunto. Katsumi suspirou e cruzou os braços, e permaneceu assim até que estivessem em casa, impassível.

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