Kazuma e Asahi #30


A noite havia caído novamente, e retornavam a base, sem sinal do padre ou dos soldados inimigos. Na base, os soldados descansavam visto que a chuva já saía incessante sobre o chão, deixando lama por onde passava, impossível de se manter as buscas. Um dos soldados, que voltava correndo para o alojamento passou ao lado do general e com um comprimento uniu as sobrancelhas.
- Senhor... Acho que devia descansar um pouco.

Kazuma fez um breve assentir com a cabeça, podia ser um cumprimento ou simplesmente aceitação do conselho.
- Eu irei, soldado. Vá.

A chuva havia molhado totalmente as roupas, se é que naquele estado podia chamar de roupas, os trapos pretos que um dia havia chamado de batina. Estava imunda, os pés, sujos de lama, e caminhava devagar por ela devido aos machucados que tinha neles, assim como as mãos, pequenas marcas de cortes e até mesmo das cordas no pulso, Asahi havia sido refém durante todos os dias, fora sorte própria os soldados não decidirem fazer consigo as atrocidades que fizeram com aquele pobre garoto, se lembrava dele como se fosse ontem. Mas só queriam provocá-lo, irritá-lo talvez, o general. Claro que pretendiam fazer aquilo por mais tempo, mas havia conseguido escapar. Em dias normais, teria desistido, mas pensava em voltar para ele, em vê-lo de novo, em sentir o perfume dele novamente, e fora isso que fez a si se levantar diversas vezes após ter caído e continuado a andar, era azarado como ele dizia, mas não iria desistir. E de fato, já estava perto da base, quando um soldado avistou a si e por sorte, já que novamente, havia caído, cansado e machucado demais para continuar andando.
- Senhor Sakurai! Veja!

Kazuma observava os homens que passavam em passos corridos pela chuva, buscando seus leitos. Em tempo de fazer menção e sai da porta, pretendendo fecha-la às costas, ouvia a voz recém falada do mesmo soldado, um pouco abafada pelo pisoteio, ou mesmo a chuva densa na terra, baixando toda poeira, deixando o característico cheiro do solo molhado. Ao voltar atenção ao rapaz, fitou o garoto, não teria reconhecido se não por seus cabelos louros cor champanhe, roupas surradas e a falta do adorno branco na própria mão. Não se demorou para pega-lo do chão, num passo breve estava ali para acolhe-lo e por fim no colo.
- Asahi, localização, me diz de onde veio.

O padre sentiu-o segurar a si, e fora a única coisa que dava atenção, as palavras dele, pareciam distantes, obviamente, estava tonto, o observava, mas não o via realmente, queria de fato, mas só conseguia buscar o cheiro dele que tanto queria. Encostou a face em seu ombro, e estava tranquilo, afinal sabia que havia chego em casa a partir do momento em que o havia visto.
- ... Você tem cheiro de roupa limpa... - Murmurou.

- Você vai ficar com o mesmo cheiro em alguns minutos, tente apontar de onde veio.
Disse o maior, esperando a indicação assim como os soldados prontificados a seguir a direção indicada por ele. Asahi u
niu as sobrancelhas, e conseguia entender parcialmente o que ele dizia, de onde veio, do sul, veio das árvores, lembrava delas, e apontou-as.
Kazuma indicou com o queixo erguido a direção e mandou que os homens seguissem até lá, embora não fosse necessário dizer, marchavam até lá. E por fim seguiu a levar o rapaz até o próprio aposento. Direcionando-o precisamente ao chuveiro, mesmo com suas roupas ainda vestidas.
- K-Kazuma...
O loiro murmurou, sentindo os passos firmes do outro, e tossiu, certamente ficaria doente por sair na chuva, mas isso era o de menos, estava com ele agora. Ouviu o barulho do chuveiro e suspirou, quase sentia a água quentinha sobre o corpo, e logo, o sentiu, chegando a estremecer.

- Bom, hum?
Kazuma retrucou a ele, e por fim, já embaixo d'água, passou a despir suas roupas desajeitadas e sujas. O menor a
ssentiu, agarrado a ele ainda e novamente, tossiu, tentando falar.
- Desculpe, odeio ser um problema pra você...

O moreno não respondeu, não queria falar sobre como era azarado, queria só ajuda-lo a se recompor. Após despir de suas roupas e deixa-lo completamente nu, deixou de lado as peças molhadas que provavelmente jogaria fora.
- Fique na água um pouco.

- Não... Não me deixe sozinho, por favor...
- Não vou. Quer falar o que aconteceu ou depois?

- ... Na cama.
- Uhum.
Kazuma disse e pegou o sabonete, ajudando-o com um banho rápido, embora o houvesse deixado permanecer embaixo d'água durante algum tempo, até que pensasse ser suficiente. Asahi p
ermaneceu ali embaixo da água quente, confortável e logo saiu com ele quando limpo, embora as marcas não fossem embora com a água. Suspirou e segurou-se no outro, seguindo ao quarto com a toalha envolta ao corpo.
O moreno enrolou-o na toalha e por fim o levou para o quarto. Na cama, tateou seu corpo afetado com suavidade, na maciez da toalha felpuda, no entanto conseguira apenas uma camisa e calça que ficavam um pouco largas e longas pra ele.
Asahi vestiu as roupas entregues para si, ainda pouco tonto devido ao caminho, e também devido ao fato de que naqueles três dias, não havia se alimentado e água havia bebido bem pouco. Uniu as sobrancelhas ao se deitar na cama e estendeu uma das mãos a tocá-lo em seu pulso, acariciando-o ali, e não se dava conta que o pulso estava marcado.
Kazuma fitou o garoto e mesmo as pequenas feridas em sua pele, não disse nada no entanto e o acomodou à própria cama.
- Você está bem pra comer?

- Não como a três dias...
- Prefere tomar soro?
- Iie... Quero sopa, se tiver..
- Hum, essa noite teve caldo no jantar. Parece bom?
Hai, parece uma delícia. - Asahi sorriu e deslizou a mão pela dele. - Achei que nunca mais fosse ver você.

- Mas está vendo agora. Vou pegar seu jantar, acompanha um pedacinho de pão? - O maior indagou e acariciou seus cabelos como os de uma criança.
- Hai... Por favor.
- Eu vou buscar. A porta estará fechada durante a minha saída, então fique tranquilo.

- Obrigado. - Murmurou. - Não demore... Não quero ficar sozinho.
- Não demoro.
Kazuma disse e por fim se levantou, seguindo a fora do aposento e se apressou nos passos até chegar na cozinha, pediu pela bandeja junto a sua refeição após três dias, aproveitou para pegar uma porção para si, de modo que pudesse acompanha-lo, ocupado mais cedo, havia deixado de se juntar na refeição. Não se demorou a estar de volta, cruzando a fina chuva incômoda, reencontrando o garoto.
- Aqui. Estou de volta.

Asahi havia se encolhido em meio aos cobertores, claro, ainda tremia de frio devido a caminhada na chuva, mas ao vê-lo voltar, se sentou de melhor modo. Após deixar a bandeja sobre a cama, Kazuma aproveitou e tirou o casaco respingado da chuva, pendurou na entrada e sentou-se com ele. Posicionou a bandeja sobre suas pernas e deu-lhe a colher de sopa. O menor pegou a colher e a bandeja, ajeitando-a sobre o colo e atencioso, observou a comida, que era simples, mas para si, era muito. Pegou um pouco da sopa, e levou aos lábios.
- Tem um pouco de pimenta, então assopre bem. As batatas que você gosta também.
O loiro sorriu a desviar o olhar a ele e assentiu.
- Obrigado Kazuma...

- Coma.
Disse o moreno, não soou rude no entanto. Junto dele, aos poucos passou a comer vagarosamente. O menor a
ssentiu e passou a comer da sopa, observando-o vez ou outra, de soslaio.
- Eles não... Não me tocaram.

- Eu imaginei, do contrário estaria provavelmente traumatizado, mais. Mas não vai acontecer novamente.
Asahi assentiu e pegou o pão, guiando-o aos lábios e deu uma pequena mordida, sentindo as lágrimas já presas aos olhos.
- Hey, o que houve?
Kazuma indagou e soou um pouco abafado, soando como ele com a boca ocupada pelo pão. O loiro n
egativou e deixou o pão ao lado, suspirando e logo levou pouco mais da sopa aos lábios.
- Me diz. - Retrucou, esperando-o dizer.
- As coisas que eles diziam... Sobre você... Que iriam te matar... Que iriam me matar, eram horríveis.

Kazuma sorriu no entanto e negativou.
- Muitos já disseram isso, nunca foram capazes. Não se preocupe. Se tem medo por você, vou estar de olho até que tudo isso termine.

- Mas... E se eu perder você? Kazuma... O que eu faria?
- Asahi, o que você quer que eu faça a respeito disso?
O loiro negativou, virando-se a observá-lo e por fim, deixou a bandeja de lado e sentiu a pequena lágrima escorrer pelo face até dobrar a linha do maxilar.
- Faz amor comigo.

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