Naoto e Kazuya #24


Naoto passou pelo corredor ao rumo do refeitório. Passaria na cantina. Sentia o frio daquele clima desordeiro e queria um cappuccino quente, que fosse acolhedor no mínimo por alguns minutos. Após pegar o pedido, adoçou-o por ali e adicionou um tantinho de canela. Havia saído pouco antes da aula, e deixado o companheiro por lá. Mas o sinal tocado denunciava o horário de intervalo e dispersavam-se estudantes, e foi assim que seguiu em murmúrios debochados os comentários, que soavam baixos, mas evidentes de que deveriam ser audíveis para si. Ainda que houvesse ignorado, caminhou em busca de deixar o lugar em meio as mesas e colidiu a algum ombro, no qual feito ali propositalmente. E por sorte, somente algumas gotas do café quente haviam caído sobre a mão.

- Hey, viadinho, vi você com o Kazuya lá na quadra. Não sabia que agora ele estava pegando bichinhas. Você é o passivo dele, é?
Falou o garoto ali próximo, ao lado do rapaz que havia batido em seu ombro, por sinal, bem maior do que ele e o mesmo o empurrou, fazendo-o derrubar mais do café quente na mão.

- Tsc...
Naoto murmurou ao sentir a pele arder pela quentura da bebida e passou noutra das mãos enquanto sacolejava a que foi atingida pelo líquido. Ignorou os latidos estúpidos do rapaz, que sequer já havia visto pela escola antes.

- Hey, não me ignore, viadinho!
O garoto falou e o empurrou novamente, dessa vez mais forte, o suficiente para derrubá-lo. As pessoas ao redor de ambos no refeitório já faziam uma pequena roda a observá-los, algumas garotas pareciam horrorizadas e alguns rapazes olhavam confusos, outros riam.

Kazuya seguia tranquilamente pelo corredor, havia comprado um pedaço de bolo para ele e estava procurando o outro, não o via desde o inicio do intervalo. Parou em frente a uma das garotas assustadas que puxaram a si pelo braço e uniu as sobrancelhas, observando-a.
- O que foi?

- O Naoto! Está no refeitório e uns meninos estão machucando ele.
O loiro estreitou os olhos ao ouvi-la e assentiu, tendo o espaço dado por ela e seguiu com passos rápidos, quase corria em direção ao refeitório. Adentrou o local e procurou os garotos, porém foi simples encontrá-los. Correu até lá, deixando o pacote do bolo em cima da mesa e empurrou o primeiro garoto que fechava a roda, fazendo-o se afastar. Estreitou os olhos para os rapazes ali e estendeu a mão para o outro, ajudando-o a se levantar.
- Quem foi o imbecil que derrubou ele?
Naoto fez-se pronto a retrucá-lo, se não fosse por sentir o solo desconfortável logo embaixo do corpo. Havia caído quase sem ver, diante da abruptidão como o rapaz havia mirado seu movimento. E sentiu novamente o toque quente do café, desta vez no dorso da mão o qual por vez encoberto, e parte, que por sorte mínima, da calça de uniforme. Voltou-se a sujeira da bebida dispersa, chegou a lamentar pelo café desperdiçado, mas por hora, havia notado ter perdido o frio. Os murmúrios em turmas distintas se ouvia na roda insuportável de pessoas, patéticos, pensou consigo mesmo e observou-os cortarem os grupos ao ceder passagem ao loiro, que por vez se fez entre a multidão igualmente lá dentro. E levantou-se, lamentando pela forma como haviam se encontrado.
- Foi eu, loirinho enjoado. E aí, o que vai fazer?
Falou o rapaz a se colocar em frente ao loiro, e era bem maior que ele, afinal, Kazuya tinha o mesmo tamanho que o outro. Soltou a mão dele por um instante e a mão foi contra a face do garoto de pé num soco que estalou alto pelo local, derrubando o outro em frente a si. Gemeu sutil ao sentir a mão machucada pelo golpe forte e observou o garoto no chão novamente, havia acertado o nariz dele que agora sangrava. Suspirou e virou-se, porém antes que pudesse de dirigir ao outro, sentiu a dor enorme causada pelo soco no estomago que levou do outro rapaz próximo. Abaixou-se, levando a mão sobre o local por alguns segundos, sentindo o ar quase faltar de si e ergueu-se devagar, tentando acertar o rapaz ali próximo, porém levou o outro golpe, agora no rosto. Levou a mão sobre a face machucada, sentindo o pouco sangue que escorria dos lábios e desviou o olhar ao moreninho em pé, negativando a ele.
- Vai, Naoto... - Murmurou. - Não fique aqui.

A atenção do moreno se desprendeu a medida em que sentia a pele arder. A mão pálida, havia tornado-se rubra e talvez estivesse um pouco trêmula pela sensibilidade. O espalmo soou evidente, rompendo a desatenção do punho e ouviu ressoar do toque abrupto do parceiro num dos rapazes ali, e como se estivesse em prontidão, o outro dos alunos que se impôs em acertar o louro. E por um instante fez-se absorto ao ouvi-lo grunhir sem fôlego. Incrédulo, ouviu-o murmurar o próprio nome num ofego e ainda aturdido caminhou ao outro segurando nos ombros, afastando-o dos demais, que por vez, com insistência um deles buscou segurá-lo no ombro do mesmo modo, na tentativa desgarrada de continuar a provocação. Ao soltá-lo vencido pela presença insuportável do adolescente, puxou com força o namorado que indelicadamente fez-se obrigado a deixar de lado. Quase nem viu quando se voltou a um deles, e sentiu a mão que queimava arder num esporro, e roçar em seus dentes desprevenidos, quase sentiu-os afrouxar de suas gengivas quando com força imposta acometeu a apunhalada em sua boca, e a outra, segurava o colarinho de sua camisa social torcida entre os dedos. Onde passou um bom tempo segurando, à medida que o número de acertos em seu rosto ia crescendo e deu cesso quando os antebraços deram encaixe abaixo dos próprios braços, e o rapaz que já tinha seu sangue no rosto surgia a fim de separar a briga. Ah, e que desgosto, pensou consigo e embora os dedos doessem por cada esporro, ainda tinha vontade suficiente para continuar, e acima disso, não querer ser interrompido. Voltou-se ao outro rapaz e puxou-o por seu braço intruso, ainda que mantivesse o enlace de seu pulso pelos dedos, elevou a perna num só chute, provendo seu estômago do mesmo dado ao lourinho, que a pouco grunhia sem ar. E entre ruídos dispersos pelo refeitório, cessou satisfeito somente quando já não mais aguentava a temperatura da própria pele.
Naoto parou ofegante, e enquanto os próprios limpavam o sangue de suas faces acertadas, um deles ainda buscava o ar faltante, e observava-os de cima. No tom rouco da voz, deslizou os dedos pelos cabelos já soltos atípicos  e desalinhados, voltando-os no lugar.
- Você pode me encher o saco... – Espaçou em mais um compasse respiratório. - Mas se tocar nele outra vez, eu mato vocês.

Kazuya fechou os olhos ao ver a mão do rapaz que quase havia tocado a própria face num soco, se não fosse pelo namorado puxá-lo e afastá-lo de si. Ao ser solto, caiu no chão, ainda sentindo-se com falta de ar pelo soco no estômago e tentou limpar o pouco sangue da face, sem sucesso. Sentia-se pouco tonto e com uma dor de cabeça horrivel, porém ergueu a face a unir as sobrancelhas e observar o outro, não importava que estivesse quase desmaiando, não deixaria que encostassem nele de novo, porém o que viu era totalmente o oposto do que esperava. Arregalou os olhos e permaneceu extático a observar o outro a bater nos provocadores e mal pode acreditar no que via, ele que era tão quieto e reservado fazendo aquele tipo de coisa, mas de uma coisa sabia, ele era forte, afinal, já tinha levado um daqueles socos no rosto antes. Apoiou-se na mesa proxima e ergueu-se devagar, esperando até que o outro largasse os garotos e se virasse em direção a si.
- Naoto... Me desculpe. - Murmurou, ofegante ainda e segurou a mão dele entre a propria, massageando-a sutilmente. - Não devia ter deixado... - Suspirou a

buscar o ar.
Naoto voltou-se ao companheiro e viu-o parecer um pouco confuso, embora sua preocupação fosse mais evidente. Sentiu o carinho de seus dedos, o que ainda assim soou desconfortável na pele, porém não desvencilhou a fim de que não o preocupasse.
- Tudo bem. Vamos na enfermaria, você precisa descansar.
Falou baixo e suficiente para ele, evitando a multidão. Tocou-o com sutileza no estômago, embora tentasse ser sutil ao fazê-lo e com ele, caminhou até a sala de enfermagem, até que finalmente fosse chamado na diretoria.

Kazuya assentiu ao ouvi-lo e com a ajuda do outro caminhou até a enfermaria, adentrando o local a observar a enfermeira que atendeu a ambos com espanto, era difícil ocorrer uma briga.
- Meu deus, sente-se aqui na maca. - Falou a moça a indicar ao loiro, que caminhou até o local e sentou-se devagar, mantendo a mão sobre o estomago.
- Não se preocupe comigo... Ele... Ele se queimou, por favor, cuide dele. - Murmurou.

- Não seja idiota, Kazuya. Foi só café. Eu vou passar o soro com um gase e para de arder logo.
- Não acha melhor passar uma pomada pra queimaduras? Está bem vermelho. - Murmurou a moça a observar a mão do outro, buscando os medicamentos necessários.
- Também estou bem, Naoto... Só... Um pouco tonto.

- Vocês precisam ir pra casa descansar. - Falou a moça a pegar o pequeno saquinho com o gelo enrolado em um pano branquinho, colocando-o sobre os próprios lábios machucados. - Segure.
Kazuya assentiu e pressionou o gelo, deixando escapar um gemido baixinho.
- Durma um pouco enquanto eu passo na diretoria, e eu o acordo quando for para casa.
Dizia o moreno, e aceitou a pomada que foi sugerida pela enfermeira do lugar, espalhou sob o dorso e posteriormente, deixou-a encobrir com algodão e a faixa provisória.

- Não... Naoto, quero ir com você. - Murmurou. - Eu...
Kazuya suspirou a observá-lo, sentindo os olhos se preenchendo pelas lágrimas que não sabia como explicar. Permaneceu em silêncio por alguns segundos e estendeu uma das mãos na direção dele, esperando que ele a segurasse. 
Naoto observou com silêncio, desentendido pela situação. Caminhou próximo a ele e segurou sua mão estendida, sentando-se à beira da cama onde acomodado. O loiro suspirou novamente a observá-lo e sentiu uma das lágrimas escorrer pela face. Apertou a mão dele entre os dedos e entrelaçou os dedos aos dele.
- Eu... Não sei o que faria se algo acontecesse com você... Me desculpe. Quando sairmos... Eu vou comprar outro café pra você, tá bem?
- Não seja bobo. - Naoto pressionou sua mão assim como havia feito consigo. - Eles são estudantes como nós, é só briga de colegial que deveria estar no fundamental.

- É, mas... Não poderia ver você machucado sendo que eu não estava perto pra impedir. E sabe como são esses moleques... Mesmo sendo ensino médio, e se resolverem fazer algo realmente ruim?
O maior murmurou e tossiu, unindo as sobrancelhas a manter a outra mão sobre o estomago, mesmo ainda a segurar o saquinho de gelo e deitou-se na maca, suspirando em seguida.

- Não farão nada.
Naoto afirmou e deixou-o se acomodar no leito. A enfermeira por hora havia saído, talvez entregar algum relatório na diretoria. Curvou-se e beijou na testa escondida pela franja repicada, atipicamente.
- Descanse. Eu vou lá, mas vou resolver logo.

- Você vem me buscar, não é?
- O que há com você? Está parecendo o Kazuki ao invés de Kazuya.

O loiro uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo e levou a mão sobre a própria cabeça, pressionando o saquinho de gelo na mesma.
- Ah... Desculpe... Acho que uma porrada foi demais pra mim.

- Geralmente estaria se fingindo de durão. - Descontraiu o menor, e passou um minuto em silêncio. - Claro que vou vir buscar você. Está tudo bem.
- É, eu.. Eu sei... - Pigarreou. - Desculpe. Ta bem, eu espero.
Naoto tornou abaixar-se e lhe selou os lábios com sutileza.
- Não vou deixar ninguém maltratar você.

Kazuya sorriu a ele e assentiu, soltando a mão do outro aos poucos e retribuiu o selo dos lábios.
- Hai...

O moreno soltou-o e após o pequeno toque labial, levantou-se.
- Eu já venho.

- Vou esperar. Ah, eu... Eu comprei... Ah... Nada esquece. - Suspirou ao lembrar-se de que havia deixado o bolo do outro no refeitório.
Naoto observou no comentário, que por fim não concluiu. Sorriu lânguido.
- Durma um pouco, assim a dor no estômago vai parar.

- Ta bem... - O loiro sorriu a ele, sutil e deixou o saquinho de gelo ao lado.
Naoto despediu-se no sorrisinho curto e seguiu até a diretoria, onde tratou de ser informado da suspensão que levaria, junto aos demais estudantes, que logo também iriam à enfermaria.
Kazuya fechou os olhos e manteve-se em silêncio, porém somente após o outro sair da sala. A dor de cabeça e o mal estar incomodavam, mas ia tratar disso quando fosse para casa, então tentou dormir um pouco.

Compartilhe:

DEIXE UM COMENTÁRIO

    Blogger Comment

0 comentários:

Postar um comentário