Kazuma e Asahi #39


Asahi ouviu o barulho alto da porta aberta no andar de baixo, mas fora tão cedo que ainda estava sonolento, ele havia voltado antes do que imaginava. Estava sonhando, um sonho estranho, o mais esquisito que já havia tido, havia sonhado com um bebê, filho dele e contorcia-se na cama, agoniado, mas não acordava, estava sonolento, havia dormido num horário tarde, e não era apto a se levantar naquele horário para recebê-lo, pelo passos, não seria necessário, nem pensou na possibilidade de ser um soldado inimigo ou um ataque a igreja e por sorte, não era de fato, não haviam demais soldados, ele estava sozinho, não sabia, mas logo iria descobrir. Achando que era somente um sonho, virou-se de costas e sentiu a coberta deslizar pelo corpo, descobrindo o corpo magro, e dormia somente com a roupa íntima, visto que os únicos pijamas que tinha estavam lavando, todos com marcas de sangue em alguns lugares não muito bons de serem vistos. Os cabelos loiros e curtinhos descobriam a nuca, e a pele se arrepiava devido ao frio, visto que iria nevar novamente lá fora.

O horário girava em torno das quatro e meia da manhã, Kazuma chegara junto a tropa, que depois de uma ronda prolongada e de difícil acesso, haviam recebido um dia de descanso, embora, estivessem sempre alerta, eram treinados para isso. Diferentemente dos soldados, tomou um rumo um pouco diferente, embora a base estivesse localizada praticamente junto ao pátio da igreja. Recebera alguns gestos obscenos por parte dos rapazes, sugestivos, gestos de quem poderia formula-los sem receber um castigo. Abriu a porta da igreja sem delongas, deliberadamente seguiu pelo salão religioso e subiu pela escadaria de madeira num canto reservado, levando a ala de aposentos. Pôde ouvir os ruídos que indicavam passeio pelo quarto das enfermeiras, embora nenhuma delas houvesse se prontificado a deixar o aposento, provavelmente já sabiam o que tratava e como reagir em algum caso extremo. Ao chegar no quarto específico, abriu a porta e observou aquele corpo lânguido na cama, precisava comer melhor, pensou ao fechar o quarto, trancar a porta e tirar o quepe, tão logo fora aquele o primeiro acessório da sequência de roupa tirada. Despiu as botas, calças e farda superior, permaneceu com a roupa íntima e a regata simples de algodão, habitualmente por baixo da peça. Se encaminhou até a cama onde sem rodeios pegou o garoto e colocou mais ao lado, tomando lugar. Com ele se deitou e cobriu seu corpo mal coberto, provavelmente o aqueceu um tanto mais também. 
Asahi abriu os olhos, devagar, e ainda estava tão cansado que parecia estar mais sonhando do que acordado. Virou-se em direção a ele, sentindo seu corpo quente mesmo ao caminhar pelo clima frio e aspirou o aroma suave de sua pele, um cheiro que ele tinha e que não sabia explicar, mas era muito melhor do que qualquer outra coisa que havia sentido na vida.
- Kazuma... Você está mesmo aqui ou eu estou sonhando...?

O maior sentiu-o se confortar consigo, suspirar pesado e abriu os olhos até então já fechados para o descanso e fitou o garoto de olhos nublados, pouco abertos, evidentemente sonolento, embora desperto.
- Você está sonhando.

O loiro sorriu, meio de canto e assentiu, encolhendo-se em meio aos braços dele, e se quer se lembrava da última vez que ele dormiu consigo, a qual adormeceu após terminarem de fazer amor, quando bêbado, tudo que lembrava era da despedida de manhã, o beijo na testa e o dito que não se preocupasse. Segurou a mão dele, mesmo descontraído em meio ao sono e suspirou novamente.
- Você está quentinho demais pra um sonho.

- E quem disse que os sonhos não tem temperatura?
O moreno indagou e roçou a unha na palma de sua mão, fazendo uma pequena cócega. Mas o deixou se confortar no calor dos braços, bem, estaria pronto para fazer sexo se quisesse, mas estava sonolento, e a si cansado, chegara ali somente para dormir desta vez.

Asahi riu baixinho, encolhendo a mão e logo segurou a dele novamente, sabia que se fosse ele de verdade, iria querer a si para mais do que somente deitar na própria cama e tomar a si entre os braços.
- Talvez você seja mesmo um sonho... - Murmurou, aconchegando-se. - Senti sua falta.

O maior sorria no lugar de um riso, achando graça em seu conformismo.
- Gostei do pequeno balão que vi no ar noite passada.

O menor sorriu.
- Eu fiz pra você... Eu vi o sinal na fogueira.

- Você pode fazê-lo mais vezes.
Asahi sorriu novamente e assentiu, repousando a face em seu peito e manteve os olhos fechados.
- Fique comigo até eu acordar... E eu vou te levar num lugar.
- Hum, vim dormir com você, não vou embora.
- Ótimo, estava tendo um pesadelo, então...
- Um pesadelo comigo? Achou que eu era um sonho quando entrei.
- Mais ou menos isso... Você não iria querer saber...
- Hum... Certo.
O maior deitou-se ao lado do loiro e puxou o edredom para cobrir ambos os corpos agora, estava com sono de mesmo modo, então, dormiria um pouco com o loiro. Asahi deu um sorriso a ele e aconchegou-se contra seu peito, agradecendo de alguma forma o fato de que o outro estava ali, e que tudo não havia passado de um sonho, não que não quisesse um filho dele, queria, mas não ali, não naquela hora, em meio a guerra, nem fazia ideia do que poderia fazer com ele, como iria cuidar... O outro mataria a si. Num suspiro de alívio, voltou a dormir, agora junto dele. 

Compartilhe:

DEIXE UM COMENTÁRIO

    Blogger Comment

0 comentários:

Postar um comentário