Kazuma e Asahi #40


Asahi piscou algumas vezes, a luz do dia já entrava pela janela, anunciando que já havia amanhecido, mas não podia ver, devido ao tecido colocado em frente e fazia isso somente para não acordá-lo, sabia que as horas de sono que ele tinha eram preciosas, por isso queria que ele as tivesse o máximo possível. Esfregou os olhos, arrumando os cabelos e logo desviou o olhar a pessoa que havia ao lado de si, e que tinha os braços sobre o próprio corpo, unindo as sobrancelhas.
- Então você está aqui mesmo!
Sorriu e lhe deu um pequeno selo nos lábios, visto que havia visto seus olhos olhando a si, meio indagativos.

Kazuma sentiu a movimentação pela cama, o que era algo fácil de interromper o sono, talvez por isso achasse sempre mais fácil dormir sozinho. Estava sempre alerta, tinha poucas horas de sono e acompanhado, acabava acordando a qualquer mínimo movimento. Voltou o olhar ao garoto, notando-o se mover, anunciando seu sono ao fim, desperto. Sua exclamação era de quem não percebia que estava acordado, mas ao fitar o rosto, notando o sono interrompido por ele mesmo, ganhou um beijo superficial.
O menor sorriu meio de canto, e parecia uma criança ao acordar, os olhos inchados e os cabelos bagunçados, mas estava feliz por estar mais um dia dormindo em meio aos braços dele, até chegou a se aconchegar novamente, desviando o olhar a ele.
- Dormiu bem?

- Hum, sim.
Disse já acostumado com a rotina de sono. Bocejou e o deixou no aconchego, enquanto tornava a se enfurnar abaixo do cobertor e fechar os olhos. Asahi s
orriu novamente e beijou-o em seu tórax, sentindo a pele quentinha e por um momento, sentiu um arrepio percorrer o corpo ao ver aquela parte específica de seu corpo descoberta pela regata, não havia notado até então, mas tinha uma estranha atração pelo tórax do outro.
- ... Eu... Quero te levar num lugar.

Kazuma desviou o olhar para baixo ao sentir o beijo.
- Aonde quer ir?
- É surpresa, só preciso que... Me leve até lá.

- Você gosta de inventar. - Disse, meio soprado.
O menor riu baixinho.
- Eu costumava ir lá quando podia sair da igreja... E já estou ficando louco de estar aqui. Ninguém vai achar a gente, não se preocupe.

- Entendo. Bem, certo. Logo nós vamos.
Asahi sorriu e assentiu, erguendo a face a observá-lo.
- Vamos comer algo primeiro ou?

- Talvez um café e podemos ir.
O maior disse e por fim se afastou do louro, ajeitou-se na cama e buscou a farda ao lado. Ainda bocejava com um sono mal dormido, recolocando as roupas tiradas antes, ajeitando os cabelos sem volume com os dedos que por eles deslizava.

Asahi desviou o olhar a ele enquanto se levantava, e era tão bonito que tinha vontade de prendê-lo a si por algemas para que ninguém se aproximasse dele e tentasse roubá-lo de si, até riu ao pensar sobre isso.
- Kazuma...

- Hum?
O maior indagou enquanto voltava a calça no lugar, fechando o zíper. Ao se voltar para ele, fitou com os olhos ainda estreitos, suavemente inchados pelo recente sono.

- Você é o homem mais... Mais lindo que eu já vi na minha vida. - O menor murmurou, e encolheu-se abaixo do cobertor.
O maior arqueou suavemente a sobrancelha e o sorriso torto evidenciava a feição sonolenta.
- Não é como se tivesse visto muitos homens.

- Bem, eu... É, mas... Tenho certeza que se tivesse visto você seria o mais bonito.
O riso soou entre os dentes do maior, abafado.
- Puxa saco.

- Eu nem sei... O que isso significa. - Riu.
- Hum, significa ser ... Puxa saco. Elogiar alguém exageradamente porque tem alguma consideração por ela, embora não seja tudo isso.
- Mas você é tudo isso. Sou um padre, não posso mentir.
- Também não poderia transar ou ser homossexual.
- É, mas... Eu aprendi a fazer isso, mentir é mais difícil.
- Aprendeu, é?
- Hai.
- Você quem tomou atitude, padre. Já estava na sua cabecinha antes de "aprender".
- ... E-Eu? Não...
- Claro que foi você.
- E-Eu só olhei pra sua boca...
- E chegou perto, pediu pra ser beijado.
- Mas... Não disse nada, logo, você que é o depravado.
- Não, você pediu por isso, padre. Do contrário teria me afastado e sequer teria ficado colado a mim.
- Hum... Eu não posso discordar disso.
- E também não pode me chamar de depravado, garoto.- Posso sim, você é. - Sorriu.
- Não pode, eu não deixei.
Asahi riu baixinho.
- Você é um general do exército, bem sucedido que podia ter a mulher que quiser, mas prefere ficar com um padre, sem contar que gosta de bater nele com o cinto. É um depravado sim!

- O que tem a ver ser um padre? Se eu ficasse com uma mulher seria considerado menos depravado? Aliás, você gosta de apanhar, então você é o depravado.
- N-Não é que eu gosto de apanhar, eu não sinto dor de outra forma.
- Você gosta de apanhar, Asahi.
O menor uniu as sobrancelhas.
- Não é só apanhar...

- É o que então?
- ...
O menor permaneceu longos segundos em silêncio e uniu as sobrancelhas por fim, desviando o olhar a ele, e sabia que ele ouviria, não levaria em consideração e descartaria como tudo que dizia a ele, mesmo assim, era o que queria dizer.
- Eu não sei... Eu nunca senti dor, nunca, desde pequeno. Mesmo quando levo um tiro, quebro um braço, eu não sinto, é difícil pra mim até sentir os toques das pessoas sobre a pele. Mas quando você me toca, eu sinto. Eu sinto seus tapas, suas mordidas, suas cintadas, chicotadas, feridas, cortes, eu sinto você, de uma forma que eu nunca esperei sentir ninguém, é como se eu estivesse em sintonia com você, como nunca estive com o mundo, como nunca estive com ninguém, é como se o meu corpo quisesse sentir você, como se você pudesse entrar, como se você pudesse me mostrar como é se sentir bem...

- E parte disso é te prover da dor, que você gosta de sentir, logo, mesmo que pra você envolva diversos motivos, ainda que queira dizer que não, você gosta de apanhar, independente de ser porque sente só comigo ou não. Você poderia não sentir dor, e ao sentir não suportar justamente por não ser algo habitual para você. Então, ainda que você se sinta assim somente comigo, você gosta de apanhar, você gosta de sentir a dor, você é tão depravado quanto diz que sou por bater em você, mas não dou nada além do que você quer. Como você disse, é difícil sentir até o toque na pele, e se não fosse por gostar de apanhar, pediria somente os toques da pele. E não há nada de errado com isso.
O menor ouviu-o em silêncio e abaixou a cabeça, assentindo e mordeu o lábio inferior, ponderando em silêncio.
- Depravado.
Kazuma disse baixo, como se o acusasse disfarçadamente, brincando é claro. Asahi d
esviou o olhar a ele e uniu as sobrancelhas.
- Você também é!

- Você quem é.
O loiro riu baixinho.
- Vamos, vista-se.

- Hai!
Asahi sorriu e levantou-se, vestindo uma calça preta como habitualmente fazia e a camisa de botões, na cor cinza, uma que tinha guardada, queria se vestir bem para ele.

- Nada de batina, ah? - Kazuma indagou, notando a roupa casual no rapaz.
- Acho que você deve estar enjoado dela.
- Eu uso a farda todos os dias e não tenho problema com ela.
- Quer que eu use minha batina?
- Use o que gostar, Asahi. Me dê um café.
Desviou o olhar a ele e o sorriso aos poucos fora sumindo conforme o viu tomar a posição quase meio rude como de costume. Assentiu e se levantou, seguindo em direção à porta.
- Não murche, florzinha.
O maior disse, notando o sorriso afrouxando em seu rosto, era tão fácil de lidar, pensava. Asahi s
orriu meio de canto e chamou-o com um dos dedos.
- Vem, vou fazer seu café.
- O soldado já deve ter preparado.
Disse o moreno enquanto se encaminhava logo após ele e tocou seu ombro conforme seguia até a cozinha. O loiro s
entiu o toque, suave que para ele podia não ser nada demais, mas para si, era como segurar a própria mão e sorriu de canto, se esforçando para continuar caminhando sem parecer agitado sobre o toque e na cozinha, pegou com o cozinheiro o copo de café para ele.
- Soldado.
Disse o maior num breve cumprimento e recebeu posição de sentido, que logo permitiu seu descanso. Aceitou o copo entregue e tragou o amargo café.

Asahi desviou o olhar ao rapaz e logo ao outro, e toda vez que via aquele tipo de reação a ele, sentia uma pontada de medo, sabia com quem estava lidando, e não era qualquer pessoa, era mais do que um comandante do exército, era acima dele e aquilo era extremamente excitante para si, não podia dizer o porque. Ter a vida por um fio nas mãos dele, era excitante, e se sentia um idiota pensando nisso, ainda mais sendo um padre. Observou-o enquanto tomava seu café, com um pequeno sorriso nos lábios e logo ouviu a voz do rapaz.
- O senhor aceita, padre?
- Não, obrigado, não bebo cafeína.
Kazuma fitou o garoto, percebendo seu olhar esquisito, teria indagado, se não fosse tirado do raciocínio com a pergunta do soldado, responsável pela cozinha por lá. Após mais um trago no café, o arqueio da sobrancelha se deu diante da resposta.
- Cafeína?

Asahi desviou o olhar a ele e abriu um pequeno sorriso ao ouvi-lo.
- Ah, hai. Eu tenho insônia as vezes então... Se eu tomar café fica bem pior.

- É manhã, como teria problemas por tomar após acordar?
- Acredite, eu tenho.
- Podemos ir?
- Vamos.
O menor assentiu e virou-se para subir ao andar de cima novamente e seguiu em direção a porta. Kazuma seguiu logo atrás o rapaz, sendo guiado ao caminho onde desejava ir.
- Espero que seja um lugar interessante, garoto.

- Acho que você vai gostar.
Asahi murmurou a ele e saiu finalmente da igreja, porém seguiu lado oposto de onde ele estava com a base e desviando o olhar ao caminho, pode ver no pulso algumas marcas ainda evidentes do sequestro que havia sofrido dias atrás, fora quando cessou os passos, bruscamente como costumava, fazendo-o parar atrás de si, quase colado ao corpo.
- D-Desculpe...

Kazuma seguia logo atrás dele, ainda, como um hábito na verdade. Após terminar o café no pequeno recipiente descartável, pendeu a mão ao lado do corpo, sem jogar o copo já sem uso e provavelmente se tornaria objeto de descontração em algum momento. Tão habitual quanto fita-lo enquanto seguia em frente, fora a forma como interrompeu a caminhada, consequentemente causando o atrito inesperado. O segurou pelos ombros junto ao copo e fitou-o por cima na diferença de altura.
- Já me acostumei com essa mania.

O menor riu meio de canto ao ouvi-lo, observando o caminho a frente, e sentia os ossos estremecerem por um momento estava arrepiado, tinha medo, mas sabia que ele estava consigo então tentava se acalmar e voltar a caminhar, fora quando cobriu os machucados com as mangas compridas e seguiu em frente.
- Desculpe.

- Qual o problema, Padre?
O maior disse no costumeiro tom firme, o que poderia soar ríspido, embora não fosse, não sempre, a intenção. Asahi d
esviou o olhar a ele ao ouvi-lo, unindo as sobrancelhas e negativou.
- Nada, só estou um pouco receoso de sair da igreja, tudo bem.

- Como se não escapasse para a base no meio da noite, Padre.
- N-Não depois do que aconteceu...
- Você sabe que eu acho você.
- Hai... Mas foi... Horrível...
- Você não sente dor, e sabe que vou te encontrar, então não precisa ter medo.
Asahi assentiu e suspirou, seguindo o caminho estranho abaixo, onde se afastavam das casas e seria bem mais bonita a vista, se as bombas não tivessem destruído as árvores. Por fim virou numa pequena bifurcação e esperou por ele quando passou por algo que parecia ser a entrada de uma caverna, fazendo silêncio para saber se alguém estava por ali. Visto que o local silencioso, pegou o que carregava numa pequena sacola consigo, e que não disse nada a ele, e pelo chão, colocou duas velas, acendendo-as com a caixinha de fósforos e deixou-o ter a visão pouco iluminada do que parecia ser aquela estranha caverna afastada dos demais, inútil, se não fosse pela piscina natural e aquecida que tinha em seu interior.

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