Ryoga e Katsumi #35


- Onii-chan, tá tudo bem com você? Fiquei meio preocupado por ontem...
- Estou bem sim. - Katsumi disse a recebe-lo em casa, abrindo a porta para ele.
- Cadê os meninos? 
- Dormindo. Pode entrar, eu fiz café. 
- Hai... O que houve afinal?
Katsum suspirou e na cozinha pegou uma xícara, servindo-o com o líquido escuro.
- Nada demais. 

- Onii... Eu ouvi. Quem são os caras que estavam implicando com você?
- Ninguém. 
- Katsumi.
- Eram só clientes. Pessoas sem importância. 
- Você não quer ser pai do Natsumi? Ele é uma criança tão boa.
- Eu quero, droga. Eu quero. Só que eu sou um idiota e tenho vergonha de ser uke. Porra. É isso tá bom? É isso. 
- Não é vergonha ser uke, Onii-chan... Acho você até melhor como uke, você é romântico e sensível, e gosta do Ryoga. Ele um ótimo pai. 
- Eu sei que é... Ele é maravilhoso, meio idiota, mas maravilhoso. 
- Então não tem que ter vergonha de si mesmo. Ele não vai te julgar. Ninguém pode dizer o que você quer fazer, não tem que dar satisfações pra ninguém.
- É... Talvez você tenha razão. A melhor coisa que eu fiz foi ter o Natsumi... Eu aprendo tanto com ele, ele é fantástico, imaginar que... Uma criança daquela veio de mim, sabe? Que é um pedaço de mim... Não sei explicar só sou... Louco por ele... Eu agi feito um idiota.
- Por que não sai com o Ryoga hoje? Eu cuido deles. Sabe disso.
- ... - Katsumi bebeu um gole do café. - Não quero. Fui um idiota, mas o Ryoga também foi. Ele age comigo as vezes como se eu fosse um qualquer, não parceiro dele. Sei lá, como se eu fosse... Uma babá.- Não seja bobo.
- Não sou, ele só parece frio demais comigo, tem muitos sentimentos com as crianças mas eu sinto que posso ser substituído facilmente... Talvez eu não devesse ter ido atrás do quarto... Talvez não devesse fazer nada disso. Me esforço pra ganhar um pouco de atenção dele pra nada.
- Hum... É a primeira vez que escuto você desabafar.
- Se contar pra alguém eu te mato.
Quando Ryoga se levantou ainda tinha sono, precisava dormir por pelo menos dez horas, mas tinha sede, forte suficiente para interromper o sono. Após se levantar, pegar um cigarro cujo cheiro de cravo passeou pelo caminho seguido, enquanto a essência amortecia os lábios, percebia a ausência do moreno mas sabia que estava lá, sabia também que havia alguém com ele cujo cheiro era recém conhecido. Podia ouvi-lo, embora não pretendesse espiar conversas, levou um minuto para decidir qual trajeto escolher e consequentemente ouviu seu desabafo, o que por fim deixava claro uma coisa, ele era um otário e foi assim que acabou com a conversa dos irmãos, seguiu até a pequena coleção de bebidas dispostas e fitou o moreno. Os cabelos eram pesados então não estavam de fato bagunçados,as os olhos estavam avermelhados é menores que o habitual, denunciando o sono recém interrompido.
- Haru alguma coisa.
Disse ao cumprimenta-lo e fitou o moreno, de alguma forma deixou claro que havia escutado a conversa, também deixou no ar que tipo de pensamento tinha sobre aquilo, tentou parecer contrariado, dando-lhe um pequeno sofrimento psicológico, era divertido. Após tirar o cigarro dos lábios tragou a bebida que serviu para si.
Katsumi desviou o olhar ao outro, ouvindo-o com seus passos pelo corredor e fora quando cessou a conversa, observando-o e notou sua falta de roupas, só usava a boxer e colada no corpo, dava toda a visão do corpo bonito dele ao irmão, que observava-o boquiaberto.
- ... 

- Nossa senhora, hein?- Desculpe a descortesia, Haru. - Disse o maior, não por apelida-lo, mas era a única coisa que se lembrava em seu nome. - Estava ouvindo uma conversa interessante e me distrai, acabei seminu com um cigarro e um pouco de sangue. Mas continuem. - Disse e tragou novamente o cigarro.- Não se preocupe comigo, pode ficar a vontade.
Katsumi virou-se a dar um peteleco no irmão. 
- Ai! 
- Não estávamos falando nada. Haru estava falando do trabalho dele, não é?
- Eh? Ah, claro.
- Então continuem.
Ryoga disse e passou para trás do pequeno bar onde depositavam as bebidas, escondendo ao menos uma parte do corpo. Mas ficou lá, com o cigarro que ainda deixava os lábios dormentes e a bebida que aguçava o olhar qual voltava a ele.
- Então Haru... 
- Ai desculpa, onii-chan, mas eu não estou trabalhando em lugar nenhum e ele já deve ter ouvido mesmo, como estou com vergonha eu vou embora. Mas olha... Que homem viu, segura ele.
Katsumi arqueou uma das sobrancelhas e levantou-se, porém o menor fora mais rápido do que a si. 
- Tchau, Ryoga, prazer te ver.Ryoga teve de sorrir não provido de graça realmente, ainda que achasse sua tentativa de continuidade um tanto cômica. Ouviu seu irmão deveras palhaço entrega-lo enquanto provocava seu mais velho e fugia. Se voltou para ele novamente em seguida.
- Vamos, me conte sobre o trabalho.
Katsumi desviou o olhar ao outro, negativando e bebeu mais alguns goles da bebida.
- Não seja palhaço... 
- Estava ouvindo conversa de mulher na cozinha, mas cheguei aqui e não tinha mulher. - O maior provocou, com humor negro talvez, mas era somente uma brincadeira.- É, a bicha aqui estava conversando com a outra bicha. - Suspirou.- Por que não simplesmente vem ser bicha pra mim? Dizer o quer quer. Dizer que quer atenção. Você é um otário, Katsumi. Como pode pensar tanta coisa nada a ver?- Porque não é tão simples. Nunca diria isso pra você, não era nem pra ter ouvido essa merda. - Suspirou.- Por que não? Se sou eu o único que pode resolver?- Porque eu tenho vergonha caralho. Você não ouviu essa parte? Não quero ser um viado tão viado...- Escute Katsumi, estamos vivendo juntos há um ano. Nos relacionamos mais que um ano e na verdade quase sinto que não conheço você. Você fica com essas ideias de não querer ser viado, você quer o que? Quer me comer, é isso? Porque mesmo antes de morar comigo já transávamos, já nos relacionávamos e você parecia muito menos tenso. Parecia até alguém que eu conhecia melhor.- ... Certo, desculpe.- Quero que me diga o que está acontecendo.- ... - Katsumi suspirou. - Tenho me sentido mal esses dias... Quer dizer, eu amo você e amo o Natsumi, mas as vezes alguns amigos antigos me zoam por ser passivo demais agora e eu... Fico chateado, mas eu não sei porque, eu não deveria ligar pra isso... Estamos juntos há um ano e de fato, você não me conhece mesmo... Meu pai sempre quis que eu fosse pro exército, queria que eu fosse militar, desde pequeno me criou pra isso. Mas eu sentia que não era isso que eu queria. Se ele soubesse que eu não sentia atração por meninas provavelmente ele me mataria. Falou e se sentou em um dos bancos perto da bancada, escondendo a face com uma das mãos. Haruki contou a eles que era gay antes de mim. Claro que meu pai surtou... Na época, ele teve que ir morar com um amigo, nem pôde pegar nada que era dele em casa. Eu ainda ia pro colégio militar, mas... Me sentia horrível, como se fosse explodir, não queria o que meu pai queria pra mim. Aí eu contei pra ele... - Fez uma pausa num pequeno suspiro. - Ele ficou muito mal. Minha mãe tentou ajudar, mas pra ele eu era a vergonha da família... Ele morreu dois meses depois. - Desviou o olhar para a bancada, silencioso novamente. - Acho que me sinto assim porque é como se eu ainda devesse provar algo a ele... Algo que eu não quero... Eu não quero ser a vergonha da família, eu... Disse a limpar as lágrimas nos olhos. Eu já sou a vergonha da família... Tenho vinte e quatro anos, sou um tatuador horrível e um moleque insuportável... Nem uma mãe boa eu posso ser, não acredito que disse aquilo do meu filho... Me desculpe.- Katsumi, existem tantas coisas que eu poderia dizer pra você, mas todas são racionais demais. Não quero dizer muitas coisas ao mesmo tempo que eu quero dize-las. Começa pelo fato de que um pai de verdade ama seu filho apesar de suas escolhas. Se ele não gosta delas ele somente apóia e se é errado, o redireciona. Não sou sentimental e você sabe disso, tive poucos sentimentos em minha vida mas uma coisa eu sei, darei suporte aos meus filhos seja qual for a escolha de vida deles, não vou assentir a tudo, mas nunca os farei pensar que são uma vergonha, porque se pensassem, a vergonha da família seria eu e não eles. Você é um homem e vai continuar sendo independente de tudo, se você pega homem, se pega mulher, se é passivo ou ativo. Você não precisa provar nada nem pros caras e nem ao seu pai. E como você não queria ser visto como alguém vergonhoso, não tenha vergonha de si mesmo e também não faça que os outros vejam você como seu pai. Enfim, não pense bobagens e aproveite que agora tem uma família de verdade.O menor desviou o olhar a ele ao ouvi-lo, assentindo e limpou as lágrimas no rosto com a manga da blusa comprida, negativando para si mesmo e piscou algumas vezes, afastando o choro.
- ... Quer café?
- Vai borrar a maquiagem. - Provocou. - Seria bom.Katsumi deu um pequeno sorriso, sem mostrar os dentes e levantou-se, servindo o café em uma xícara e entregou a ele, voltando a se sentar no próprio banco.- Não fique melancólico.
Ryoga disse e ao caminhar para ele, tocou seu rosto e secou com a ponta do dedo, contornando seus olhos marejados. O menor a
ssentiu ao ouvi-lo e segurou a mão dele, beijando-a no dorso.- Ao menos dentro de casa você pode ser bem viado. Na rua pode ser durão, mas aqui eu quero você assim. - Ryoga disse e o trouxe para si pela mão conforme ele a beijava, acomodando suas costas junto ao peito.Katsumi ergueu-se conforme o sentiu puxar a si e sentiu o corpo contra o dele, assentindo, e sentia-se meio ridículo por chorar na frente dele, mas não disse nada. Repousou a face sobre o ombro do outro e beijou-o no pescoço.
- ... Eu te amo.
- Mo.
Ryoga falou baixo, mas na proximidade que estavam, era audível o suficiente para ele. O menor s
uspirou, deslizando uma das mãos pelo rosto dele a acariciá-lo e só então virou-se completamente de frente, aconchegando-se contra seu peito.
- Ainda podemos usar o quarto...
- Nós vamos usa-lo mais tarde como eu disse ontem, ah?- Vou avisar o Haru por mensagem.- Okay, faça isso.Katsumi assentiu e observou o corpo dele, bonito até demais.
- Hum... Ele tem razão, tenho sorte.
- Se quiser dá pra começar aqui mesmo.- Hum, e se o Erin acordar?- E desde quando eu me importo com isso?O menor sorriu meio de canto.
- Melhor eu esconder as facas?
- Hum, não acho que eu me interesse por facas. Mas quem sabe.- Hum... Então devo me preocupar menos. - Disse o menor e deslizou as mãos pelo corpo dele, sentindo a pele macia. - Quero transar aqui na cozinha.- Parece sexy. No balcão do bar.- Hum... Já transou com alguém aqui? Ou sou o primeiro?- Você devia se lembrar do que eu disse a você.- Só estou confirmando. - Sorriu maldoso.
- Confirmando, ah? Você é um puta de um ciumento.- Eu sou mesmo. O que é meu é só meu. - Katsumi falou e beijou-o no rosto, descendo ao pescoço. - Então me coloca em cima do balcão.Ryoga pegou sem dificuldade por sua cintura e o levou até o bar onde estava, postou tão logo sobre onde antes apoiava a bebida. Apagou o cigarro no cinzeiro de vidro antes de dar de fato atenção a seu corpo.- Hum... Não me deu nem um traguinho antes, vai ter que me beijar com hálito de café.
Disse o menor, embora soubesse que sendo um vampiro, o hálito seria sempre fresco de alguma forma. Deu espaço a ele entre as próprias pernas, encarando seu corpo tão bonito naquela pouca luz através das cortinas.
- Então beba isso. - Ryoga disse e erguera o copo com o que restava da bebida.- Quer outro cigarro?Katsumi sorriu a ele, pegando o copo de sangue e bebeu alguns goles da bebida, deixando-o de lado em seguida e negativou, aconchegando-o entre as próprias coxas.
- Eu posso mentir pra quem eu quiser, mas não posso mentir pra mim mesmo que eu adoro sentir você entre as minhas pernas.- Não importa, mesmo que você não diga, eu sei.

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