Nowaki e Tadashi #44


Tadashi suspirou, sentindo o cheiro bom de grama, molhada já que estava chovendo, mas era um aroma agradável. Havia saído do quarto, sob observação e numa cadeira de rodas onde pudesse acompanhar o soro preso logo atrás de si, não tinha humor pra nada, não tinha expectativa alguma, deixava-se estar vivo só por estar.

- Doutor. - Disse a jovem enfermeira em cumprimento, responsável pela ala médica.
- Terumi-san, onde está o paciente que estava na UTI? - indagou.
- Hamada Tadashi-kun
- Sim.
- Está no jardim, sob supervisão. Ele está bem.
Nowaki assentiu em agradecimento e seguiu ao exterior da clínica, avistando o rapaz o qual alcançou em pequeno passos, e não o via há muito tempo, de modo que não sabia como abordá-lo, como falar com ele. Estava novamente debilitado, a aparência suja, até arrancou um suspiro de si, talvez, decepcionado. 
- Tem uma boa vista, não? - Disse, descontraidamente, observando o mesmo ponto como ele, tirando-o de seus pensamentos.
Tadashi suspirou mais uma vez, iria voltar para o quarto, mas desistiu por fim e esticou-se a pegar uma flor, pequenina, cor de rosa, porém a atenção fora desviada, ouvia uma voz, distante, até piscava meio devagar, não conseguira se recuperar ainda totalmente da última vez que estivera internado, talvez estivesse sonhando, ou estivesse morto. 
- Sim, a vista é bonita.
- Talvez em condições melhores você pudesse aproveitar melhor, não acha?
- Sei. Tenho que dar um jeito na minha vida e parar de usar drogas. - Falou a ele, ainda sem levar a sério o fato dele estar ali. - Não vou mais usar... Nunca mais. Antes era só minha vida que estava em jogo, e ela não tinha muita importância. Mas agora eu tenho um pedaço de você. Foi só o que me sobrou.
- Não tinha importância mesmo quando esteve comigo, era assim que levava? Algo sem importância.                        
- Tinha importância, até você me expulsar da sua vida.                        
- Não te expulsei da minha vida. Te disse para ficar onde você estava.          
- É, pois é. Você está mesmo aqui?                        
- Nos dê licença. - Nowaki disse ao enfermeiro, que tentava ser bem avulso à conversa.
O rapaz assentiu com a cabeça, deixando a cadeira, e o rapaz, o outro era médico então não o machucaria. Quanto a Tadashi, desviou o olhar ao outro, unindo as sobrancelhas e até piscou algumas vezes, sentindo os olhos arderem na luz.
- Eu nunca disse que você não poderia falar comigo. Eu não estava disposto a ter alguém sem palavra. Falhar comigo só acontece uma vez, Tadashi. - Disse o maior e seguiu até ele, abaixando-se a altura, em frente a sua cadeira. - Não sei nem o que dizer a você sobre tudo isso. - Disse, indicando seu pulso ferido.
Tadashi observou-o a se aproximar de si, e se abaixar em frente a si, podia ver o rosto bonito dele, os cabelos macios de novo, os que não havia visto por tanto tempo, eram alguns meses, mas parecia um ano. Esticou uma das mãos em direção a ele e deslizou-a pelos fios negros de cabelo. 
- Você está mesmo aqui...
- Claro que sim, você está novamente na clínica. E muito pior do que costumava ser.
- Estou bem. - Murmurou.                        
- Não está bem. Mas vai ficar, não é?                        
O menor assentiu, ainda acariciando sua mecha de cabelo.                        
- Você vem comigo quando melhorar. Mas se fizer isso de novo,  não vai machucar um, vai machucar três.
Tadashi uniu as sobrancelhas e assentiu novamente, desviando o olhar ao chão. 
- Achei que iria me pedir pra abortar se soubesse.                        
- Acha que seria tão imaturo?                        
- Não imaturo, mas achei que não fosse querer ter um filho de um drogado.       
- De um drogado não, mas você não vai ser um.                        
- Desculpe por não estar apresentável.                        
- Não vou perdoar você se continuar com isso, Tadashi.                        
- Não vou machucar meu filho.                        
- E você. Parabéns. 
Nowaki disse, baixo. Preocupado por sua pouca idade, por sorte teria todo suporte que poderia lhe dar, por sorte não havia estado com alguém tão jovem ou irresponsável quanto fora. O menor sorriu, meio de canto e assentiu.
- Pra você também.                        
- Vou te levar para o quarto novamente.                        
- Quero ir pra casa... Sua ex-namorada tentou me matar.                        
- Ela não está aqui, Tadashi.
- ... Não posso passar a noite com você?                        
- Precisa terminar o tratamento. Terei plantão, estarei por aqui.               
O menor uniu as sobrancelhas e assentiu.
- Quero fazer amor com você.
- Como pode estar pensando em sexo? 
O maior disse a fitar o garoto, despreocupado demais talvez por ser o causador do problema. Já a si, estava ainda impassível, certamente sem filtro sobre toda a situação, sem perceber que seria pai, sem perceber que depois de alguns meses o havia reencontrado em estado muito pior do que haviam se despedido. No entanto ainda assim o havia aceitado, outra vez. 
- Vamos, você vai precisar comer tudo o que perdeu de peso.
Tadashi sorriu meio de canto.
- O doutor disse que meus hormônios podem estar me atacando. - Riu baixinho. - Se pudermos ir aquela confeitaria de novo, tudo bem. 
Murmurou, e claro, parecia despreocupado, mas sentia o corpo esmagado, dolorido, quase morrera duas vezes, uma devido ao sangue perdido e outra pela overdose, não sabia como ainda estava vivo, se perguntava todos os dias, talvez, estivesse vivo para poder se reconciliar com ele, para poder vê-lo de novo, preferia acreditar nisso. Só então, sentiu um pequeno toque suave sobre os cabelos e ergueu a face a observar o céu, que aos poucos derramava pequenos floquinhos brancos sobre a própria cabeça. Sorriu, gostava da neve, gostava ainda mais do natal, e havia se esquecido de que estavam perto outra vez. Vamos poder passar o natal juntos de novo.
- Hum, não esqueceu do bolo de lá. Podemos pedir um para o Natal.
- Hai, eu quero. - Sorriu. - De chocolate amargo.
- Não é você quem quer. Era por isso que estava comendo tão bem.
O menor sorriu meio de canto. 
- O doutor disse que quando eu me sentisse melhor iria fazer o ultrassom, quer ir comigo?
- Claro que vou. Eu mesmo posso fazer.                        
- Então vamos. - Sorriu.           
- Venha, precisa descansar e então após completar, novamente, essa etapa, poderá ir embora.   
- Hai, onde faremos o exame?                        
- Temos o aparelho de ultrassom aqui na clínica. Muitas mulheres grávidas chegam por aqui.                        
- Mas no quarto?                        
- Num quarto da clínica, é claro
- Preciso que me ajude... Não consigo girar as rodas.                        
Ao se levantar, Nowaki seguiu caminho, guiando sua cadeira de rodas até a ala onde se encontrava, diferente de onde seria examinado noutro momento. Tadashi suspirou, seguindo com ele até o quarto e suspirou, não queria de fato ficar sozinho, por isso, se agarrou na barra da camisa dele. Mesmo antes de se mover, após deixa-lo na cama, Nowaki sentiu-se segurado, na roupa que amarrotou entre seus dedos.
- O que há?
- Não quero que vá embora...                        
- Estarei aqui hoje.                        
- ... Se eu apertar o botão, você virá?                        
- Uma enfermeira virá, pode pedir pra me chamar.
- Hai. - Tadashi murmurou e soltou-o em sua camisa, observando-o enquanto te afastava.
- Você vai se alimentar bem, hum?                        
- Vou. Vou cuidar dele.                        
- Não vou deixar você maltratar meu filho.                        
O menor desviou o olhar a ele e uniu as sobrancelhas.                        
- Por que me olha assim, ah? Não foi o que fez nesse meio tempo?
- Eu estava maltratando a mim, não a ele, quando descobri sobre ele, parei o que estava fazendo e aceitei ficar aqui. Você não voltou por mim... Voltou por ele.  
- Não voltei, não fui a lugar algum.                        
- Veio me ver por causa dele. Teria vindo se ele não estivesse?                  
- Soube de você antes de saber dele. Claro que teria vindo, mas sem ele seria capaz de te enfiar uma agulhadas na bunda.
O menor uniu as sobrancelhas. 
- Hai...                        
- Eu dei fim a um plano, mas foi você quem deu fim ao restante. Mas agora descanse, vou tomar café e venho em breve.- Achei que não queria mais me ver. - Tadashi murmurou e suspirou, fechando os olhos por alguns segundos ao senti-los arder. - Hai...                        
- Está com alguns efeitos ainda, provavelmente. Durma e após um sono de pelo menos quatro horas eles devem passar.- Ta bem. - Murmurou a observá-lo e sorriu em seguida.                        
Nowaki fitou-o de cima visto que em pé. Acariciou seus cabelos descoloridos e penteou os fios com os dedos num tipo de afago. 
- Até já.
- Até já... Nowaki... Eu te amo.

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