Nowaki e Tadashi #43


Nowaki não havia tido notícias do outro há algum tempo. Haviam terminado daquela forma inacabada, sem desfecho. Não o havia expulsado de forma definitiva da própria vida, mas havia acabado daquele jeito, não sabia sequer onde morava uma vez que saíra da casa de seu amigo onde antes costumava estar. Fitou o celular que apitava com notícias costumeiras da clínica, havia tirado um tempo de férias após algum tempo sem elas, férias estas que nunca eram de fato férias, qualquer caso mais complexo e era requisitadas autorizações ou assistência, havia sabido de algum paciente recente problemático, mas após alguns meses com pacientes que não eram ele, havia criado alguma esperança de que houvesse tomado jeito e foi por isso que não desconfiou de sua chegada por lá.

Tadashi havia estado internado por aqueles dias, em desintoxicação, tinha ordens de que não deveria sair da clínica, porém se não se matava de um jeito, seria de outro, então se recusava a comer. O médico cansava de discutir consigo, sobre a própria vida, a gravidez, mas não tendo ele, não havia sentido ter um bebê. Após um longo tempo, enjoado, sofrendo as consequências daquela desintoxicação novamente, pôde levantar e se olhar no espelho, estava limpo, mas deplorável. Os pulsos haviam sido cobertos por uma faixa, já conhecia clínicas, deixariam a si em observação o tempo todo. Olhou-se no espelho, erguendo a camisa e viu o pequeno volume existente, quase imperceptível devido ao fato de estar desnutrido, anêmico. O estava matando, e era o último pedacinho que tinha dele. Não sabia se estava naquela mesma clínica, parecia outra ala, outro local, muito diferente do que já havia estado, nunca o veria de novo, mas se pudesse salvar aquele pequeno corpinho, se não tivesse deficiências devido a droga, se pudesse salva-lo, ficaria com ele, seria um bom pai.

- Nowaki, que bom que voltou, achei que nunca mais veria você. - O médico riu, dando pequenos tapinhas nas costas do colega. - Foi difícil aqui sem você esse mês.
- Ah, eu imagino, já que meu celular ficou cheio de emails e mensagens. - Nowaki respondeu o rapaz e cumprimentou igualmente porém com um breve aperto no ombro.
O médico riu.
- Desculpe, alguns pacientes são imprevisíveis você sabe. Recebemos umas moças nada fáceis de lidar. Alguns da UTI, inclusive, um dos garotos que você atendia. Tadashi? É, ele mesmo.

- Eu sei, eu sei. - Nowaki disse no meio do assunto, porém o fitou de soslaio ao ouvi-lo mencionar o nome do garoto, poderia até pensar numa brincadeira, se não fosse por ele sequer saber sobre a relação com Tadashi. - Tadashi, é? - Disse, desapontado.
- Sim, mas está em outra ala, mais supervisionada. Chegou com overdose, os pulsos abertos. E sabe o que mais me deixa puto de tudo isso? Fizemos os exames dele, e está esperando um bebê de três meses. Quer se matar se mata, mas pelo menos use proteção pra não matar outros junto.
Nowaki voltou-se ao rapaz, de expressão de fato surpresa. Na verdade pasmo.
- Mas que porra de moleque...

- Sim, um porra mesmo. Mas aparentemente ele não sabia. Estava lá chorando hoje dizendo que ia cuidar da criança. Difícil hein?
- Qual ala dele? - O maior indagou, ainda sem filtrar a informação.             
- Isso, vá vê-lo quem sabe ele toma juízo. Está na ala psiquiátrica.
- Não vai tomar nunca. 
Nowaki disse embora num raciocínio para si mesmo. Logo seguiu o caminho já conhecido, assim como todos os cantos daquele lugar. 

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