Broken Hearts #1


O céu estava cinza, como tudo ao redor. Era triste morar naquela cidade. Yori havia nascido no campo, onde as coisas eram melhores, onde podia ver as árvores em sua beleza e as flores. Tinha se mudado para o centro para cuidar do pai doente, que até então não conhecia muito bem, porém, ele sofria de câncer e acabou falecendo, por fim havia ficado na casa dele, mas queria voltar para a mãe, o único problema é que já não podia mais. Dias depois do próprio pai falecer, recebeu a mesma notícia, de que não tinha mais família alguma no mundo. Tinha dezenove anos, ainda era novo demais para saber como se virar, apesar de ter agradecido pela morte do pai, que era muito raivoso e bêbado, ficou preocupado com a própria situação. Fora obrigado a começar a trabalhar, então teve que parar a faculdade por um tempo, queria ser médico, mas não teria como tendo que trabalhar quase o dia todo, via todos os sonhos que tinha irem por água abaixo, mas o que preocupava a si naquele momento era a chuva que já começava a cair. Sem guarda-chuva esperou ali mesmo, deixando que molhasse os cabelos curtinhos e repicados, de cabeça baixa, observava apenas o vento que batia na água, conforme fazia suaves movimentos. Era alto o suficiente, em cima daquela ponte, cairia e talvez não sentisse tanto o impacto da água, talvez, pudesse morrer antes de atingi-la, morrer em silêncio sozinho como agora estava.

O vampiro sentiu os cabelos balançados pelo vento, ventava bastante, o clima não era alegre e caloroso, adorava-o daquela forma, mas estava entendiado. Há alguns anos havia perdido o interesse em companheiras, ou melhor, talvez nunca o tenha tido, mas devido a isso já começava a sentir desagrado com as únicas companhias que tinha. Alguns empregados, outros vampiros mestiços e estúpidos com a juventude. Procurou pela companhia, tentou até pelo sangue encontrar alguém que fosse saboroso o suficiente para desejar ter a presença, e de longe podia sentir junto a brisa fria na pele que sentia com suavidade e dificuldade, mas ainda sentia. Junto a ela, o tempo úmido e uma leve onda de angustia parecia balançar as árvores próximas e dali, na ponte que levava a cidade para onde seguiria a fim de acabar com a sede e alguns dos humanos. Parou e podia assistir os cabelos louros dispersarem fios ao vento. Vestia uma camisa desajeitada, como quem já a usava por dias. Podia sentir pelo cheiro a mesma angustia, o medo mesmo junto a vontade de morrer, e mesmo assim o cheiro do sangue humano e saboroso. Deixou a mão no bolso, enquanto queimava o cigarro entre os lábios e dispersava o cheiro fresco de menta pelo ar frio com a outra. E analisou o jovem prestes a tirar sua vida, ainda que em seu peito queimasse o medo, era corajoso, ao menos tentava. Queria morrer? Talvez devesse matá-lo, e dar a ele um fim um pouco melhor.
Yori suspirou, várias vezes, pensando e foram duas vezes que estava com o pé atrás para pular, quase desceu, mas estava cansado daquela brincadeira consigo mesmo, tinha medo de morrer, mas medo de ficar vivo mais um dia. Abriu os olhos, e por um momento o rio abaixo de si pareceu atrativo, gostaria de saber como estava a temperatura da água e se estava do mesmo modo que o vento, frio. Pendeu-se para frente e por fim se atirou, tentando não pensar em mais nada, só no vazio.
Os olhos do vampiro se estreitaram levemente ao vê-lo pender, e tinha uma longa altura até que atingisse a água e certamente, quebraria seus ossos ou feriria sua pele frágil. Apodreceria e seria esquecido naquela água. Ao deixar o cigarro, aspirou vigorosamente o ar aos pulmões que sequer precisavam dele. Mataria-o, faria isso por ele ou por si mesmo. Teria o que queria e daria ao desconhecido o mesmo. Observou a leveza com que seu corpo deslizou e cortou o ar, mas antes que se tornasse inalcançável, segurou-o, tomando-o por seu pulso que cheirava a sangue e cobria porcamente com uma faixa manchada de sangue.
O garoto sentiu a fisgada no pulso segurado, já que tinha a ferida aberta. Uniu as sobrancelhas e arregalou os olhos num gemido dolorido. Demorou algum tempo para observá-lo nitidamente em meio a escuridão do local e piscou várias vezes.
- Eu... Eu morri?

O vampiro observou o outro e só então pôde enfim observar seu rosto, tinha um toque astuto mas ao mesmo tempo com traços inocentes, era bonito e seria desperdiçado.
- Não ainda. - Disse e puxou o garoto pelo pulso  qual segurava, colocando-o logo no chão asfaltado. - Você quer morrer?

Yori sentiu o chão embaixo dos pés, e achou que não sentiria nunca mais, observou-o e uniu as sobrancelhas.
- Bem... Estava querendo me jogar de uma ponte... Por que me puxou? - Disse a observar o pulso e tentou puxá-lo, gemendo dolorido mais uma vez. - Solta, está machucando.

- Por que se importa com a dor se você quer morrer?  - Disse diante do protesto. - Se caísse na água, sua pele se rasgaria com a força da colisão, seus ossos seriam quebrados, e você desmaiaria por dor antes de morrer por afogamento.
Yori arregalou os olhos a observá-lo e uniu as sobrancelhas, sentindo-se mal ao ouvi-lo e até meio tonto, tanto que teve que se segurar nele.
- Eu posso matá-lo se você quiser morrer.
- Q-Quem é você?
- Alguém que pode matar você.  Não é como se meu nome fosse influenciar algo.
- Influencia, não quero ser assassinado.
- Quando você quer morrer, a forma como isso acontece importa?
- Pra mim sim.
- Então você não quer morrer. Mas eu já senti o seu medo, mesmo em cima da ponte, quando tentava criar coragem pra se atirar dela. Você tem um rosto bonito. - Disse o maior e tocou sua bochecha, delineando-a com o dorso do dígito indicador.- Se você quer morrer, eu posso sugar seu sangue todo, até deixá-lo vazio, vai morrer sem ele, e com certeza sua única dor será onde eu o morder. Ou eu posso deixá-lo vivo, vivendo para mim.
O menor uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo, e não entendeu, só quando o viu bem de perto e notou a cor dos seus olhos tão nítidos mesmo no escuro, eram vermelhos, ou talvez amarelos, não sabia, mas era assustador, era um monstro? Um vampiro, já que ia sugar o próprio sangue.- O que? Eu... Eu não entendi...
- Eu quero um companheiro e eu gostei de você.
- Mas... Eu sou um zé ninguém... E você, você é... Você não é humano.
- Não me importa o que é a sua vida. Não sou humano, mas sou mais racional que um. Se você quer morrer, posso te conceder o que quer e você pode dar a mim o que procuro.
Yori desviou o olhar à rua e logo a ele, unindo mais uma vez as sobrancelhas, confuso.
- Você é um anjo?

- Uh... - Hideki murmurou, o que podia ser considerado um leve riso, e que soou nasal. - Talvez um caído. - E sorriu com os dentes, respondendo sua pergunta.
- Não sei se eu... Deveria... 
- Você sabe que um anjo caído é um anjo abandonado por seu Deus?
- Você... É mau?
- Você tem muitos questionamentos para alguém que não se importa mais com nada, ou mesmo a sua vida. Você vai ser meu companheiro?
- ...
Yori observou-o por alguns instantes, estava em dúvida do que respondê-lo, nunca o havia visto na vida, nunca havia sentido atração por homens, mas estava frio, tão frio que podia sentir a pele se arrepiando como se estivesse sendo perfurada por agulhas, sem contar que o pulso agora sangrava já passando por cima da faixa, mas não tinha mais vontade de morrer.
- Não posso... Não posso ir com você. 

- Uh.
Hideki tornou a murmurar nasal e segurou a mão do garoto onde do pulso desenrolou a faixa mal colocada e ergueu-a, sentiu o cheiro de sua pele, havia feito aquilo no banho? Porque cheirava a sabonete. E seu sangue parecia vivo como ele não desejaria estar. O lambeu, sentindo o gosto de seu sangue humano.
- Eu sou Hideki.

O menor observou-o atentamente, até a vê-lo lamber o sangue e arregalou os olhos, mas permaneceu um tempo em silêncio, processando suas palavras.
- Eu... Sou Yori.

- Yori. Eu pretendia ir jantar, mas por hora vou levá-lo até sua nova casa.
- Minha... Nova casa? Eu... Disse que não quero ir com você. Eu não posso ir com você!
- Será meu companheiro, então viverá comigo. Você deixou sua casa para morrer naquela ponte, então você morreu nela.
- Mas meu emprego... Minhas... Coisas... Eu... Não posso!
- Não era isso o que pretendia? Não foi a junção de todas essas coisas que te fez chegar ao ponto de cair de uma ponte?
Yori uniu as sobrancelhas, desviando o olhar a ele, confuso.
- Vamos. Seremos amantes.
- Amantes... Mas eu mal te conheço... Eu nunca fiquei com um homem, não sou gay, isso é absurdo!
Hideki observou o garoto e seu termo. Limpou sua pele ferida e cessou o sangue ao pressionar a língua e ao solta-lo, tocou seus lábios num beijo superficial e observou próximo, seu rosto.
- Pode conviver com isso?

Yori arregalou os olhos mais uma vez ao sentir o beijo e dessa vez se assustara com motivo porque deu vários passos para trás.
- Ah, meu Deus... - Murmurou e bateu contra o parapeito, quase pendendo para trás, porém segurou-se. - Ah!

Ao se afastar, Hideki pendeu, porém como se segurou, segurou-o da mesma forma, por sua camisa amarrotada.
- Pode?

O menor rapidamente assentiu várias vezes e uniu as sobrancelhas, sem dizer nada, o coração quase pulando pela boca devido ao susto que havia levado, e só queria sair daquela ponte vivo, teria que lidar com ele, uma outra hora, talvez se só o visitasse ele deixasse de lado aquela ideia de que tinha que ficar com ele.
- Então vamos, Yori.
- ...

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1 comentários:

  1. Muito tudo! É o começo! É o antes do que eu li *O* GENTE! Tá tudo, tá muito tudinho e eu já estou amando com todas as minhas forças <3

    Obrigada mesmo por tornar real esse projeto Kaya! Estou super o amando e ansiosa pelo desenrolar de tudo *----*

    De longe é uma das melhores comics que já li e sim! Digo isso mesmo sendo o primeiro cap que leio (no caso, o segundo xD)

    To em love e estou aguardando ansiosamente o cap dois!

    Bjinhos e obrigada mesmo <3

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