Reika e Takatsuki #19


Reika se encostou à parede ao lado do assento enquanto tilintava a lapiseira na folha do caderno aberto, batendo suavemente, de modo que certamente acabava tendo a atenção de algum colega de classe, irritado com a batida ritmada. Deu um meio sorriso de canto, aceitando o desafio do olhar torto, e continuou. Ao se encostar por lá, observou o campus da nova escola do qual até havia se habituado rapidamente, não era muito difícil se acostumar; podia ver a quadra de basquete onde o time da escola jogava, alguns alunos passeando com horas de aulas vagas, e bem, parecia até mais interessante do que a aula de geometria. Observou o rapazinho de mãos nos bolsos que passeava pelo patio parecendo perdido sem ter o que fazer, já o havia visto algumas vezes por lá, sempre do mesmo jeito, e o que mais gostava de ver, era o fato de que seus cabelos se pareciam muito com o de Takatsuki, desse modo, podia imaginar o amigo estudando consigo no novo colégio, imaginava até ele observando os garotos jogando basquete e fazendo algum cometário sobre o corpo de um deles; ao pensar sobre isso riu, e esperava não ter atenção do próprio professor, que fitava por cima do óculos de armação fina e prateada, num semblante dócil de alguém com meia idade, mas que no fundo não era tão adoçadinho assim. Suspirou quando se recordou da última vez que falara com ele, bem, acabara até perdendo a virgindade do sexo com um rapaz, ao pensar nisso teve de abaixar a cabeça e esconder o rosto por trás da franja longa e que agora tinha um tom louro não muito claro, acinzentado, para assim esconder qualquer possível tom rosado e incomum sobre as bochechas. Ele era um maldito, definitivamente e nunca entenderia o motivo daquela merda, mas não brigaria com ele no último dia, e foi por isso que não causou com ele uma discussão, esperando que terminassem aquele pouco tempo juntos de um modo agradável. Embora não houvesse sido assim tão harmonioso, havia sido trocada pela parede, onde ele preferia olhar ao invés de encarar a si, ainda que tivesse sorriso ou conversado, sabia que era um maldito birrento, mas fazia parte de quem ele era. Pegava-se sorrindo ao pensar sobre sua personalidade bastante mimada as vezes. Pegava-se com saudade, até mesmo de sua mania desagradável de acordar a si durante a noite, com vontade de comer miojo, ou melhor, usando a fome como pretexto para que pudesse ganhar um beijo, maldição... Era até mais fofo que a própria Mei. Pegava-se com saudade de seu jeito másculo no corredor, e que ninguém podia imaginar o quão sensível podia ser dentro do quarto, pegava-se imaginando como gostava de ser a única a conhecer aquela parte dele, e imaginava também, o quanto não queria que outras pessoas a conhecessem. Pegava-se imaginando quem tomaria conta dele quando estivesse com fome a noite, ou quando brigasse com alguém. Bom, ele era um homem que sabia se defender fora do quarto, mas era um garoto que gostava de ser consolado dentro dele. Sentia falta definitivamente, e sentia-se também aborrecida pelo fato de perder o desafio, porque ao pensar tanto e olhar tanto o garoto fora da sala, até parou de bater a lapiseira, o que desejava ter continuado a irritar o amigo nem tão amigo assim, em frente a própria carteira.

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