Atsushi e Kaoru #8


Ao abrir os olhos, Kaoru demorou um tempo até se adaptar com o ambiente, não era a própria casa, estava na cama dele, meio perdido, quase "esparramado", mas dormira novamente, melhor do que dormia em meses, talvez anos. Desviou o olhar a ele, meio de canto, e para a própria surpresa, viu-o pertinho de si, podia dizer que estavam abraçados, e até ficou meio sem graça por isso.

Um forte sopro deixou as narinas de Atsushi, um sopro pesado de quem dormia bem. No entanto, tinha o sono leve de modo que ruídos próximos ou movimentos sutis, mesmo o dos próprios gatos, eram capazes de interromper o sono. Acordou somente ao perceber o inicial movimento do guitarrista, e ao abrir os olhos, quase apoiava o queixo em seu ombro, enquanto o braço passava sobre seu tronco nu, no entanto coberto. Fitou-o de olhos quase fechados, mas suficiente para enxerga-lo com os cabelos bagunçados e a franja em frente os olhos, quase adorável. Mas não lhe disse nada, também não se moveu.
O menor desviou o olhar a ele, meio de canto, e só então pôde vê-lo de olhos já abertos, fitando seus olhos pequeninos e negros, até chegou a sorrir, meio de canto.
- Bom dia... Acho que eu devia ir embora.

- Hum... - O maior murmurou, um pouco rouco. - Não precisa ir tão logo, se está de folga, descanse um pouco mais.
- ... Hai.
Kaoru murmurou, permanecendo em silêncio e ponderou por alguns segundos, pensava sobre ter ficado com ele, uma, duas vezes, e o pior, havia gostado de cada segundo ao lado dele, e aquilo era errado, mais errado ainda era o que vinha pensando, sobre ele, sobre si, sobre ambos, gostava dele, claro, não era uma adolescente, mas gostava de passar um tempo com ele.
- ... Atsushi...

- Hum? - O maior murmurou com o mesmo timbre rouco, e já voltara a fechar os olhos.
- ... Acho que não quero mais transar com a minha mulher. - Kaoru murmurou, e nem sabia porque estava dizendo aquilo a ele.
- Oh... Gostou assim tanto, ah? - Atsushi indagou com um riso que soou nasalado, deveras entre os dentes.
O menor estreitou os olhos.
- Estou falando sério.

- Hum... Ok. - O maior disse e levou uma das mãos aos olhos, pressionou-os de leve e arrastou os dedos para os cabelos, tirando os fios de frente ao rosto. - Por quê?
- Não me dá mais vontade... - Kaoru murmurou e suspirou, deslizando os dedos pela franja, arrumando os fios.
- Mas se começar, continua sem vontade?
- Bem... Eu preciso "subir".
- Se ela te tocar, te chupar ou coisa assim, pode não estar a fim, mas não acaba ficando?

- Não sei, ela não fez isso. É só que olho pra ela, e não sinto mais atração como antes...
- Hum, então peça pra ela fazer. Tente algumas preliminares. - Atsushi deslizou a mão até seu ombro, subiu ao pescoço, do lado oposto onde estava e beijou seu ombro. - Ou faça sexo pensando em mim.
O guitarrista desviou o olhar a ele, meio de canto, estremeceu ao pensar no dito por ele, e perguntava-se quando foi que começou a pensar sobre isso.
- ... Podemos... Comer algo? Eu posso pedir.

Atsushi sorriu, mais para si mesmo do que a ele, silencioso.
- Hum, quer pedir o almoço ou o café da manhã?
Indagou e sentiu um leve pulo pela cama, na altura dos pés, fitou de soslaio, e podia sentir trepidar, indicando o ronronar dos bichanos que nem estranhavam o rapaz na cama.

- Almoç.... Que porra é essa?! - Kaoru falou, quase num pulo ao sentir algo pular em si, e só então se lembrou que ele tinha os gatos. - ... Que susto, caralho.
O riso soou entre os dentes do maior.
-  Kuroi, Kurai.

- ... Ah... Gatos.
- Yep, gatos. - Os passos eram vagarosos e cautelosos, trépidos com o ronronar, analíticos sobre o humano não conhecido, mas que logo se aninharam. - Vou dispensar a empregada, acredito que você não queira ser visto aqui. Assim podemos sair e almoçar.

- Hai... Não! Quero ficar aqui com você.
- Hum, tudo bem. - Disse o vocalista, inicialmente um pouco surpreso pela resposta rapidamente formulada. - Então o que podemos pedir?
- Comida chinesa?
- Eu ia sugerir.
Atsushi disse e buscou o celular, tratou de enviar a mensagem de dispensa para a serviçal, assim como formulou o pedido do almoço pelo mesmo aparelho, devagar é claro, desacostumado com a claridade.

O menor sorriu novamente, de canto e aconchegou-se em sua cama, quente, macia demais e esticou uma das mãos, acariciando o gato preto em seus pelos compridos.
- ... Droga, já estou começando a ficar com dor.

- Hum, um analgésico serve pra alguma coisa? - Atsushi retrucou e deu atenção por fim ao felino de longos pelos cinzentos, já que o outro ganhava a afeição do guitarrista. - Pur pur, é?
Disse ao bicho, como se ele pudesse entender e ouvia o leve miado em resposta, como se estivesse a entender alguma coisa, ainda assim, continuava a mexer no celular até finalizar o pedido.

O menor assentiu ao ouvi-lo e desviou o olhar a ele, notando sua atenção para aquele pequeno cinzento e achava agradável o modo como os animaizinhos ficavam em volta, e o modo como ele não se importava com outras coisas, filhos, por exemplo. Ouviu o celular vibrar no criado-mudo lado a cama e pegou-o, levando ao ouvido.
- Oi Kaoru, te acordei?
- Iie, Shin, pode falar.
- Então, eu sei que é cedo, mas eu queria saber quando vou poder gravar a próxima música.
- Shin, você ainda não se recuperou, sabe que não pode tocar... 
- Hai... Preciso passar pra pegar o material de todo modo, está em casa?
Kaoru uniu as sobrancelhas a observar o outro de relance.
- Não... Eu não.

- Estúdio?
- Não sei quando vou voltar pra casa, Shin.
- Nossa, você geralmente não sai, saiu com a Haruna?
- Não, pergunte ao Kyo. - Respondeu o guitarrista e desligou o telefone, evitando demais perguntas e deixou-o de lado novamente.
Atsushi permaneceu em silêncio durante a ligação, fitou-o quando no fim dela.
- Tem de ir trabalhar?

- Iie, tudo bem, o Shin tem um tempo livre pela manhã, o Kyo deve ter saído, mas ele vai superar que ainda não pode tocar.
O maior não retrucou, sabia da breve licença do baterista, mas não tinha interesse em saber o motivo. Deslizou a mão por todo o dorso do bichano, que deitado, ergueu seu traseiro ao sentir o carinho deslizar até o rabo.
- Quer descansar um pouco mais, hum? Deveria avisar sua esposa.

- Enviei uma mensagem a ela ontem a noite dizendo que eu não ia voltar. Eu já dormi no estúdio uma vez então tudo bem. - Kaoru falou a ele e suspirou, assentindo com sua pergunta. - Eu costumo não descansar.
- Então descanse e a hora que o almoço chegar eu te chamo. Acordo com facilidade.
- Hai... Obrigado. - O menor falou a observá-lo e sorriu de canto.
O maior ajeitou-se na cama, com espaço ocupado pelos bichos e indicou a eles.
- Desce, vai pra baixo.

Kaoru riu, sutil ao ver os gatos descerem como indicado por ele e até virou-se, abraçando-o meio de lado. Atsushi ajeitou-se sob aquele toque que não deu tanta importância, o contrário dele, não tinha que pensar sobre o que pensava fazer ou programar como fazê-lo. Acariciou sua cintura onde tocou, mas virou-se de peito para cima, descansando de olhos fechados. O guitarrista igualmente fechou os olhos, descansaria novamente, e estava feliz, depois de tanto tempo.

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