Kaname e Shiori #28


Shiori seguiu devagar em direção a geladeira, já podendo ouvir o barulho da televisão na sala, sabia que o outro estava assistindo algum programa antes de dormir. Observou todo o local e logo seguiu em direção a sala, seguindo o som da conversa ilusória, sentando-se ao lado dele.
- K-Kaname... Estou com fome.

Kaname se virou a observá-lo conforme sua estada ao lado, e tornou olhá-lo visto que o comentário.
- Acabou todo o sangue? Eu não tenho horário no hospital pelos próximos dias, estou com férias.

O menor assentiu e uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo.
- E-Eh? Mas...

- Mas eu havia trazido tanto sangue... Como conseguiu?
Shiori deslizou uma das mãos pela barriga, sutil expondo a ele, porém abaixou a cabeça, envergonhado.
- Mas... Foi muito mesmo. Você, nós temos que conseguir... Com alguém.
- Iie... E-Eu não quero.
- Não seja bobo, viveu até pouco fazendo isso, raras as vezes, mas fez. Não precisa matar ninguém.
- Mas as pessoas ficam... Chorando...
- É só desmaia-las antes.
- Mas como?
- Apertando num ponto certo na garganta ou induzir com álcool ou sonífero.
- Mas... Temos que ir?
Não tenho o porque entrar no hospital hoje.
- Ah... Ta bem.
- Se está com fome precisamos ir.

- Eu sei... V-Vamos.
- Hum. - Kaname assentiu e levantou-se. - Vista um casaco mesmo que não sinta frio.
- Ta bem.
O menor seguiu em direção ao quarto e pegou o próprio casaquinho preto, não era muito fino e nem muito grosso e exagerado. Desceu logo e sorriu a ele, o corpo tão pequeno perto dele e a barriga que já estava em volume evidente por volta dos seis meses de gravidez. 
Kaname ajeitou o casaco, acomodando-o sob ombros  e o observou conforme o retorno, encarando a barriga que se elevou pouco mais visto que o tecido do casaco caíra sobre ela.
- Estou pronto. - O pequeno sorriu e aproximou-se a lhe selar os lábios.
Kaname assentiu na retribuição do pequeno gesto.
- Bom, algo a dizer? Já que eu mesmo nunca fiz isso.

- Bom... Temos que nos esconder, conheço alguns lugares escuros que podemos ficar até passar alguém. Ah...
O menor seguiu em direção a cozinha e logo voltou a sala carregando consigo a garrafa a colocar a tampa na mesma.

- Não vamos conseguir ficar arrancando sangue de alguém assim sem matar. No máximo vai poder se alimentar hoje.
- Ah... Hai.
Shiori observou a garrafa por um pequeno tempo e logo levou de volta a cozinha.

- Esqueça, traga a garrafa... Mas não sei como faremos isso, deixaremos alguém anêmico.
O menor assentiu e logo voltou com a garrafinha e o sorriso no rosto, segurando a mão do maior.
- Vamos?

- Vamos.
O maior o segurou na mão e logo saiu de casa, buscou a chave do carro, onde iria um pouco distante dali. Shiori s
eguiu junto dele pelo local, o elevador e logo ao carro, acomodando-se no banco. Kaname fechou a porta do carro após sua entrada e acomodou-se igualmente, lado ao passageiro. Iniciou um caminho de rumo incerto, seguindo pela rua já anoitecida. O pequeno, segurava a pequena garrafa no próprio colo e observava a rua pela janela no local iluminado.
- Quando achar que seja um bom lugar me diga.
- Hai, pouco mais pra frente.
- Hum. Consegue ir atrás de alguém com o barrigão?
- Ele vai me ajudar. - Sorriu a ele.
- Espero que saiba o que faz. Não se machuque.

O menor assentiu, abaixando a cabeça a observar a garrafa, mesmo que sentisse um calafrio só de pensar em segurar alguém.
- Tudo bem.
Kaname dizia conforme o veículo recém adquirido fora estacionado numa vaga próximo ao parque ambiental ali. Shiori s
orriu a ele a observar o local.
- É bem bonito aqui... Eu nunca vim antes.

- Bom, viremos outras vezes.
- Jura? Eu acho tão lindo...
- É bonito mesmo.
O maior dizia a deixar o veículo e abriu a outra das portas ao moreninho. Shiori s
aiu do carro e sorriu a ele, assentindo. Segurou a mão do maior, e seguiu em direção ao parque.
- Me dê essa garrafinha. Se preocupe mais com outra coisa.
Kaname dizia na caminhada do clima mais escuro no parque e o pequeno a
ssentiu e seguiu devagar a árvore ali próxima, permanecendo abaixado.
- Cuidado com os sustos e essa barriga.
- Eu... Não sei fazer isso, Kaname...
- Isso o que?
- Caçar...
- Você já fez isso, Shiori. Eu sei menos que você.
- Sh... Tem alguém vindo.
Quieto, Kaname encaminhou-se com ele, acomodando-se numa das paredes, em aguardo. O pequeno manteve-se a espera até que o rapaz novo se aproximasse e num movimento rápido o segurou, não queria matá-lo, queria apenas que ele ficasse desacordado por pouco tempo como fora o combinado. Sentiu medo e receio, talvez tenha sido o motivo pelo qual o golpe em sua cabeça fora tão fraco que não fora o suficiente para causar o desmaio do rapaz humano. Uniu as sobrancelhas a observá-lo, maior que si, e não teve tempo algum para tentar outro golpe ao ser atingido no rosto e contra o peito com o empurrão que derrubou a si, sentiu o rosto lacrimejar com a dor que sentiu pela queda e desviou o olhar ao rapaz ainda em pé ao lado de si. Sabia que tudo aquilo havia acontecido em pouquíssimo tempo, tinha medo e tinha fome, ainda mais carregando aquele corpo pequeno dentro de si. Fechou os olhos com força ao vê-lo se aproximar com a expressão furiosa, nem se importando com o volume que possuía na barriga e rosnou a ele como o único modo de se defender que pôde pensar, encolhendo-se em seguida.
- Shio!
Kaname exclamou antes de ser capaz de concluir a pronúncia de seu nome, quando seu ato fora apressado e antes mesmo de portar algum líquido que ao homem provocasse desmaio, seu ataque hesitante talvez fosse evidente até para o próprio homem, que se quer deu-se conta da presença de si próprio, estivesse fora de si o suficiente. A última coisa que ouviu foi seu rosnado que a si parecia manso e nada ofensivo à sua anterior presa. Sobressaiu-se com o rosnado que estancou o do próprio companheiro, abafando-o e entre os dedos a espessura frágil de seu pescoço, viera a estreitar-se ainda mais, fechando os dígitos que esmagavam suas vias de oxigênio com asfixia. E os orbes raivosos lhes encaravam o rosto penoso e desfalecido, desprovido da ira que antes lhe invadia, com feições de súplica a qualquer coisa que pudesse salvar a fraqueza de seu corpo e mesmo seu fisgo de vida a se esvair. Deleitou-se como nunca o faria, enquanto nada mais fez e retirava seu único e miserável rastro de oxigênio. Um estalo teria sido suficiente a estilhaçar os ossos responsáveis por todos os movimentos de seu corpo, 
mas sem que o tivesse feito, observou o companheiro, e por ele largou o ser humano, como algo que já fora antes, permitindo apenas um leito passageiro, induzido ao coma de algumas horas, ou dias, suficientes para lhe causar alguma anemia, e se morresse, não teria sido feito por si, não diretamente.
O menor ouviu o rosnado vindo do outro e arregalou os olhos a desviar o olhar a ele, unindo as sobrancelhas ao observá-lo enquanto enforcava o rapaz, que parecia desesperado com os atos do outro vampiro. Observou logo, seu corpo cair a própria frente já sem se mover, silencioso. Sentiu as lágrimas que escorreram pela face, não pelo rapaz, mas pelo susto e o medo que sentiu, por um momento, sentiu como se fosse morrer, novamente.
- Hum... K-Kaname...

O maior virou-se ao companheiro, no tilintar pesado do corpo alheio em contato miserável ao chão. Abaixou-se, e com o dorso dos dedos secou o rastro suave de seu lacrimejo e a corrida vagarosa da lagrima no rosto.
- Tudo bem?

O pequeno assentiu a levar a mão sobre a barriga, acariciando-a.
- Está doendo um pouco... M-Mas... Eu estou bem.

- Vá, faça o que precisa logo. Provavelmente fizemos alguns barulhos por aqui. Assim a dor passa.
Shiori assentiu e aproximou-se do rapaz caído no chão, abaixando-se e novamente sentiu os olhos lacrimejando ao tocar seu pescoço com os lábios, expondo as presas a roçá-las na carne macia o qual cravou as mesmas e segurou o choro, sugando o sangue para si em longos goles.
- Está chorando por que?
Kaname o indagou e encostou-se à parede, e ainda abaixado, somente não se permitiu sentar no chão. O pequeno a
penas parou quando se sentiu satisfeito com o sangue e retirou as presas da carne do rapaz, desviando o olhar a ele e suspirou.
- E-Eu não gosto de fazer isso...

- Pare com essa bondade toda. Não chore por alguém que não conhece, e que sequer teve pena do volume notório de sua barriga.
Shiori uniu as sobrancelhas e assentiu, limpando as próprias lágrimas.
- Todas as pessoas têm um lado ruim, não deveria chorar por elas, lhes faz um favor.
- Hai... Eu sei. Você... Sente fome?
- Não, não quero. Fique a vontade.
- Eu... Estou satisfeitos.
- Quase não tomou nada.
- Acho que... Perdi um pouco dela com o susto...
- Tome mais, hum? - Kaname se levantou e seguiu a ele, lhe acariciando os cabelos já maiores desde que o conhecera. - Sentirá fome mais tarde caso não faça.

Shiori assentiu ao ouvi-lo e abaixou-se a morder o rapaz no chão novamente, sugando pouco mais do sangue dele a se alimentar.
- Como fará para tirar o sangue e colocá-lo na garrafa?
- Não pensei nisso ne... Talvez... O pulso?
- Não fez isso antes?
- Iie...
Kaname observou o pulso do rapaz, analisando um modo de fazer aquilo sem fazer bagunça demais, e por fim, sem ter o que fazer, cravou as presas na pele do rapaz, arrancando de seu sangue, embora já pudesse ver em sua face aquele tom anêmico, de quem havia perdido boa parte de sua vitalidade, não podia deixar o próprio parceiro e o filho passarem fome, e sabia que ele sentiria mais tarde, por isso, encheu a garrafa com o sangue que espirrou de seu pulso, e quando cheia, tampou e segurou o pequeno pela mão.
- Vamos, já chega por aqui.
- Teremos que voltar amanhã...
- Voltaremos se for necessário, mas me prometa que não voltará a ficar com medo.
- Mas Kaname, eu...
- Shiori, é nosso filho que você está carregando, se tiver medo dos humanos eles vão acabar matando você, e você é bem mais forte do que eles. Você precisa ser forte para proteger o nosso filho, entendeu? Não pode hesitar.
O pequeno ouviu em silêncio, assentindo apenas e apertou a mão do maior.
- Vem, vamos voltar para casa.

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