Fei e Hazuki #37


- Está pronta, Gongzhu?
Hazuki deu a ele um pequeno sorriso, a noite já havia chego, e trazia com ela a suave brisa de outono, era início dele, e as folhas já começavam a se soltar, caindo sobre a água do lago, lentamente em sua cor amarelada. As cerejeiras já não floresciam mais, e era o que mais entristecia ao pequeno. Fei já estava em pé, banho tomado e bem arrumado, assim como o mais novo, e agora, segurava a mão do moreno em frente a si.
- Vai ser a última noite que vamos trabalhar?
- Sim. Depois de hoje, nunca mais precisaremos fazer isso se você não quiser.
O moreno sorriu, estava animado com a viagem, Fei ainda tinha que ajeitar alguns detalhes, e não diria ao menor, quando ele menos esperasse, o levaria embora, para a China, onde já havia se ajeitado previamente. Hazuki somente não sabia o que esperar, já que Fei havia feito tudo por suas costas, algumas cartas misteriosas que chegavam para o maior vez ou outra, e não conseguia saber seu conteúdo.
- Eu preciso mesmo trabalhar hoje?
- Sabe que temos que fingir que nada está errado para que o Katsuragi não saiba.
- Mas Fei, eu... Estou um pouco tonto.
- Goungzhu, não invente, é só hoje, hum? Depois acabou.
- Hai.
- Não fique chateado, sei que é frágil como uma pequena flor, eu não vou deixá-lo sozinho.
- Fei... Na verdade eu estou com medo, estou com medo disso tudo, de algo dar errado, de Katsuragi nos perseguir.
- Ele não vai atrás de nós.
- Mas e se for? Ele é louco, e nos comprou, então pertencemos a ele.
- Na verdade, ele não me comprou, sabe que estou aqui porque quero, dividindo os lucros com ele.
- Eu sei, mas eu fui vendido para ele.
Fei suspirou, pesadamente enquanto observava as poucas nuvens formadas no céu.
- Acha que depois de todo esse tempo, você já não saldou sua dívida com ele?
O pequeno fora pego desprevenido, desviando o olhar ao loiro.
- Eh?
- Pense bem, Katsuragi é cruel com você, lhe dá pouco dinheiro do valor que arrecada de seus clientes, ao contrário dos outros garotos da casa, acha que ele já não recebeu o dinheiro pago por você de volta vários anos atrás?
O moreno permaneceu em silêncio, e de fato, aquela era uma verdade, até um pouco irritante, e tivera que assentir a ele.
- E se algo der errado?
- Não vai dar errado, Gongzhu.
- Mas e se der?
Fei suspirou, pesadamente, segurando uma mecha dos cabelos do garoto e ergueu a face dele a observá-lo.
- Se der, eu vou estar do seu lado, não importa o que aconteça.
- Você promete?
- É claro que sim.
O pequeno deu um pequeno suspiro, aliviado na verdade, agora estava mais tranquilo sobre tudo que haviam combinado, e segurou a mão do loiro, guiando-a sobre o próprio peito, mostrando a ele o coração acelerado, que arrancou um sorrisinho de Fei.
- Te vejo depois então?
- Ta bem. Eu te amo. Não vá sem mim.
- Nunca iria deixá-lo, Hazu.
O selar de lábios selou o desencontro de ambos, Hazuki subiu pela longa escada em direção a seu quarto, onde encontraria seu primeiro cliente da noite, claro, que primeiro olhou para trás, vendo o amigo ali parado, seus cabelos loiros bonitos sendo levados pelo vento e divagou como queria poder vê-lo daquele modo para sempre, tão tranquilo e sereno, certo do que iria fazer e do que iria viver ao lado dele. Fei somente fingiu seguir seu mesmo caminho, mas virou-se, em direção a saída, deixando por um pequeno tempo o garoto por lá, a caminho da cidade, onde iria encontrar o rapaz para o combinado de saírem dali. Aquele era o único detalhe faltante, o transporte. E pretendia fazer tudo na surdina, enquanto Katsuragi estava ocupado com os clientes, não iria notar que dois dos garotos haviam sumido, somente quando já estivessem bem longe dali.
Ao adentrar o quarto, ainda vazio, Hazuki observou os detalhes, o espelho pequeno colocado sobre o local onde se maquiava, as poucas maquiagens que havia ganhado do loiro e até sorriu, com as boas recordações que tinha dali, gostava daquele lugar, apesar de tudo. Já havia arrumado a mala, e guardado junto dela uma pequena caixa, onde continha dinheiro, que levaria consigo. Todo o dinheiro que havia juntado de todos os trabalhos feitos, há meses, não era pouco, era razoável, pretendia ficar com ele um tempo com aquele dinheiro, em alguma hospedaria, ou algo assim.
O rapaz bateu na porta, e o suspiro longo deixou os lábios do moreno, era o primeiro cliente da noite, então, fora forçado a abrir, tinha que agir normalmente, como o loiro havia dito a si, mas estava nervoso, seria difícil atender alguém naquele estado. Fitou ali o rapaz bem vestido, com um kimono negro, e parecia ter mais ou menos a mesma idade que a si, o que estranhou, aquilo não era comum, atendia rapazes mais velhos, ricos, casados, mas ele, parecia um bandoleiro simples, do qual assalta casas de chá, mas se havia passado pelo dono do bordel, tinha que ceder espaço a ele para dentro do quarto, porém, fora analisando suas feições, seus cabelos castanhos e curtos e obi branco estranhamente amarrado de qualquer jeito ao redor da cintura.
- Você é o Hazuki?
- Sim... Você?
- Prefiro não dizer o meu nome.
O moreno assentiu, embora aquela situação estivesse no mínimo estranha, mas nada disse a ele, apenas fitou seus movimentos, desapressados, fitando os cantos do próprio quarto como quem procurava alguma coisa perdida.
- Certo... - Disse Hazuki. - Devo tirar a roupa?
- Eu a tiro pra você.
O menor assentiu, e estava acostumado com aquele tipo de atitude. O rapaz havia dado um passo em direção ao moreno, segurando seu roupão entre os dedos a apertar o tecido e Hazuki fora obrigado a gemer, conforme o sentiu empurrar a si sobre o futon desconfortável. Ao cair no chão, o garoto guiou ambas as mãos ao redor do corpo dele, sentindo os beijos pelo pescoço e permitia, tentava de todo modo evitar qualquer toque nos lábios que não fossem do loiro, e já fazia isso há algum tempo, não havia segredo em reproduzir aquilo naquela hora, por isso, mantinha-se parado, apreciando aqueles estranhos toques até ouvir o som seco de um kimono se rompendo.
- O que... O que está fazendo? Não rasgue meu kimono...
O rapaz sorriu, canteiro enquanto analisava as expressões do menor, e parecia saber exatamente o que queria encontrar ali, como se não houvesse batido na porta somente procurando por sexo, e de fato não estava, já que guiou a faca tão rapidamente ao pescoço do garoto que nem tivera tempo de retrucar alguma palavra.
- Não abra a boca. Eu sei que você tem dinheiro aqui garoto, onde está?
- D-Dinheiro? O dinheiro fica com o dono da casa, eu não recebo.
- Mentiroso. Onde está?!
Disse o rapaz a se levantar, erguendo com ele a faca, e por sorte, Hazuki conseguiu se mover, sentando-se, devagar enquanto o observava, furioso a procurar na penteadeira.
- Se gritar, eu mato você, então fique quieto, garoto.
- E-Eu não tenho dinheiro, por favor.
A voz era quase suplicante, e tinha sim o dinheiro guardado, mas não queria entregar nas mãos dele, tinha planos para aquele dinheiro, não podia falhar com o loiro, havia prometido para si mesmo, assim como Fei prometera tantas coisas.
- Não saio daqui enquanto não me mostrar o dinheiro, garoto. Escolhe, sua vida ou o dinheiro.
Conforme o rapaz falou, guiou as mãos aos cabelos negros do garoto, puxando-os entre os dedos e aproximou a face do rosto do menor, expondo um sorriso sacana, diante da expressão de terror que Hazuki tinha na face. O menor desviou o olhar para a parede fina do quarto, observando a porta, o quarto do outro era logo ao lado, um curto espaço, podia gritar, podia chamá-lo, ele viria resgatar a si, alguém tinha que vir, não era tão difícil.
Num momento de desespero, o moreno empurrou o braço do rapaz e tentou se pôr de pé, porém no único passo dado, escorregou na barra do próprio kimono rasgado e foi ao chão, onde bateu o queixo e por sorte, não machucou os dentes ou a língua embora aquela sensação dolorida se alastrasse.
- Fei! Fei! Socorro!
Gritou, esperando que o outro alcançasse a si, porém, nada havia vindo do outro lado, nenhuma resposta. E naquele pequeno espaço de tempo o rapaz já o havia segurado pelo braço novamente.
- Eu mandei não gritar! Seu desgraçado!
A faca fina e afiada fora empunhada contra o pescoço do menor novamente, e Hazuki podia jurar que havia atravessado a si, mas a mão fora mais rápida e segurou a dele, lutava agora pela própria vida, já que não havia alguém que pudesse fazê-lo, ninguém havia vindo ajudar. Naquela casa, gritos eram comuns, em alguns quartos, eram sempre evidentes, os clientes eram loucos, e sabia que só o loiro poderia ajudar a si, mas nada havia vindo dele, havia sido abandonado? Mas ele havia jurado, há tão pouco tempo, que nunca deixaria a si, como poderia simplesmente ir embora? A lágrima marcou a linha de um dos olhos, e não sabia o que estava acontecendo, queria entender, mas tudo acontecia tão rápido, que não tinha tempo para pensar, para processar aquilo tudo.
A briga com a faca era tensa, Hazuki tentava empurrá-lo para longe de si, mas o rapaz insistia em atacá-lo, o menor era mais fraco, era tudo uma questão de tempo para que o fio atravessasse seu pescoço. Isso se o pequeno não tivesse a ideia de erguer uma das pernas, e acertou o rapaz, empurrando-o para longe de si, em tudo que restava da vontade que tinha de correr daquele quarto.
Hazuki se levantou novamente, chegando até a porta, ou achou que havia chego, quando fora novamente puxado pelo kimono, parecia que aquele terror nunca iria terminar, e dessa vez, não fora capaz de lutar com a faca do rapaz. Não fora preciso, era pequeno demais, fraco demais e não havia ninguém para ouvir.
Ao cair, Hazuki sentiu o corpo dele novamente sobre o próprio, porém dessa vez, num local bem menos preciso, fora onde ele pôde acertar, e a faca atravessou a própria cintura onde fora cravada e o gemido rasgou a garganta do moreno atingido, tudo que conseguira fazer, foi guiar o olhar em direção a pequena lata, que havia no canto do quarto, onde guardava o dinheiro, e fora o local onde o rapaz se dirigiu, sem pensar duas vezes, deixando a faca para trás e levando em troca todas as economias do garoto, que jogou em um bolso estratégico dentro do kimono, e seguiu porta afora, deixando o garoto no chão.

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