Kazuma e Asahi #33
Asahi suspirou, espreguiçando-se e aos poucos acordava de um sono longo demais, havia dormido várias horas, e descansado o suficiente para recuperar o corpo ferido e cansado. Uniu as sobrancelhas e uma das mãos guiou em direção aos olhos, esfregando-os e só então notou o curativo feito o pulso, e no outro também, cobrindo os machucados feitos pelas amarras dos outros militares, e só de lembrar daquilo tinha arrepios pelo corpo, era horrível. Desviou o olhar a cama, e não achou o outro, claro, deveria estar trabalhando, esperava que a porta estivesse trancada ao menos.
Kazuma acordava sempre cedo, por vezes sequer dormia, conseguia ver praticamente todo o sono do garoto, tivera tempo de cuidar de seus machucados, o que cuidou por si. Até mesmo dar uma breve higienização em seu corpo, após o sexo e após algumas horas corridas de seu sono, já que transpirava. Levaria algo a que pudesse comer, já era hora de dejejuar novamente, mas regrediu ao aposento inicialmente, verificando sua consciência recobrada ou não. Destrancou a porta e por fim passou pelo escritório até o quarto, observando-o com cabelo bagunçado, arrepiado, rosto amassado e rosado, provavelmente quente, olhos inchados, quase parecia uma criança.
- Finalmente.
O loiro uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo e logo desviou o olhar a ele, com um sorrisinho nos lábios que de fato parecia mesmo o de uma criança.
- Kazuma...
- Posso trazer seu café da manhã? - O maior indagou ao garoto e seguiu até ele, se sentando à beira da cama.
- Hai... Obrigado por cuidar de mim.
Kazuma deu-lhe uma piscadela breve, não tendo certeza sobre como reagir ao agradecimento.
- Chá ou leite?
- Chá... Pode... Deitar comigo um pouco? Antes do café...
- Já não está deitado o suficiente? - Indagou o maior, num sorriso canteiro.
- Estou... Mas é que quero... Ficar mais... Perto de você.
- Mas precisa comer, só uns minutos, hum?
- Hai.
Asahi sorriu e estendeu as mãos a ele, esperando que deitasse consigo. Kazuma se deitou, na verdade se acomodou com as pernas na cama, parcialmente deitado, se não fosse pelo tronco um pouco mais erguido, encostando as costas no travesseiro.
- Diga, padre.
O loiro sorriu a ele e aproximou-se, repousando a face em seu colo a observá-lo e o olhar se desviou ao terço mantido em sua cabeceira, esboçou um pequeno sorriso.
- Hum, imaginei que acordaria dolorido, parece muito bem na verdade.
- ... Mas eu... Não sinto dor. - Murmurou.
- Eu me esqueço desse fator. Nem desconforto físico?
- Um pouco, me sinto cansado, se eu sentisse, talvez não conseguisse levantar da cama.
- Provavelmente. Mas não é por isso que pode ser descuidado.
- Hai, eu sei... Quando eu era pequeno, me levavam constantemente ao hospital. Você... Como você era quando era criança?- Uma criança comum, eu imagino.
- Hum. - Asahi sorriu. - Entendi. Não gosta muito de conversar comigo.
- Eu só não tenho coisas extraordinárias pra te contar. Leituras, atividades e colégio.
- Hum... - Murmurou, sem muito assunto e desviou o olhar. - Você... Me procurou quando eu sumi?
- Não, fiquei dormindo que nem você até agora.
Asahi riu baixinho.
- Sério?
- Ah, claro. Se posso mandar os outros, por que eu iria? - Kazuma disse, brincando, mas soava sério.
- Ah... - O menor uniu as sobrancelhas.
- É uma brincadeira, Padre. - Disse e pressionou seu cenho.
Asahi desfranziu as sobrancelhas e riu baixinho.
- É difícil saber quando está brincando. Sente falta de alguém?
- Hum, não sinto falta por saber que estão a salvo. Talvez se soubesse que nunca mais os veria, quem sabe.
- Hum. - Asahi murmurou. - Podemos sair um pouco?
- Onde acha que pode ir?
- Lá fora tomar um ar?
- Não vai se alimentar primeiro?
- Ah, eu não estou com muita fome.
- Certo.
Kazuma disse, não daria importância, faria ele como quisesse, não tinha paciência para dizer a ele quando comer ou como cuidar de sua saúde já frágil, nunca teve dom para filhos mesmo, pensava, embora não os tivesse.
- Vista alguma roupa e nós vamos.
O loiro assentiu e se levantou, constando que ainda vestia a camisa dele e uniu as sobrancelhas, só então se lembrando parcialmente do que havia acontecido e a face se corou primeiro sutilmente, depois cada vez mais.
- ... O que aconteceu?
- Aconteceu exatamente o que você acha que aconteceu. - Kazuma retrucou a se levantar e realinhar as roupas no próprio corpo. - Desmaiou depois do sexo.
- ... V-Você conseguiu... Terminar?
- Terminamos juntos. Não sou do tipo que curte uma boneca.
- Ah... Desculpe. - Murmurou.
- Desculpar o que, Asahi?
- Por ter desmaiado.
- Não há o que desculpar.
- H-Hai...
- Bem, se estiver pronto podemos ir um pouco lá fora.
- Hai, vamos sim, eu só... Vou colocar uma calça.
- Estou esperando.
Asahi assentiu e levantou-se, pegando a calça separada para si e vestiu-a, era própria, por isso fechou perfeitamente.
- Vamos?
Kazuma fitou-o a se vestir com sua peça já prontamente higienizada, como era sua única vestimenta. Esperou-o caminho à entrada e quando pronto, seguiu até lá, dando vazão ao exterior, medianamente movimentado.
O loiro seguiu junto dele, passando por algumas portas fechadas, até trancadas e do lado de fora e por fim piscou algumas vezes, sentindo a claridade incomodar os olhos, e suspirou, aspirando o cheiro da grama molhada, das árvores. O maior parou ali mesmo, à porta, fitando o exterior já previamente visitado, deixando-o apreciar o exterior do quarto, onde passara algumas boas horas adormecido.
- É tão bom... Sentir cheirinho de chuva...
- Choveu durante a noite, mas o frio já secou praticamente toda a região. São um pouco mais de oito horas da manhã.
Asahi sorriu, e parecia uma criança num dia de chuva, os passos eram calmos, afinal se sentia bem, mas o corpo ainda estava machucado, mesmo que não sentisse dor, e a prova disso fora que pendeu para frente, e quase foi ao chão, se não fosse pelo outro ter segurado a si.
Kazuma seguiu logo após ele, no mesmo passo lento. Não podia exigir nada muito além daquilo, afinal, ainda estava debilitado, embora ele não quisesse aceitar. Ao vê-lo pender, atrás de si, tomou seus ombros e manteve-o em pé, no entanto nada disse.
O loiro uniu as sobrancelhas e de fato esperava que ele não dissesse nada, havia se apoiado nele e aos poucos votava a andar, caminhando para fora a sentir o vento gostoso no rosto.
- ... Kimochi.
- Hoje a noite provavelmente faremos uma confraternização. Assaremos alguma coisa, no frio será bom, poderá comer fora do quarto hoje.
O menor sorriu.
- Eu adoraria participar, mas... Seus homens não gostam muito de mim.
- Meus homens não se importam. Com quem teve problema foi um único homem, e eles estarão entretidos com comida ou bebida.
- Hai... Tudo bem então.
- Você gosta de batatas, hum? Podemos fazer.
- Eu adoro batatas!
- Assadas ficam muito boas, não?
- Hum, são minhas favoritas!
- Então. - Kazuma disse e sorriu-lhe de canto. Não era muito fã de batatas, mas parecia algo que o empolgava como criança. - Gosto de batatas salsa, são muito saborosas, mas não são fáceis de se encontrar.
- Batata... Salsa? - Murmurou, unindo as sobrancelhas.
- Sim, ela é bem adocicada.
- Hum, não é uma batatinha pequena e amarelada?
- Sim, comprida.
- Ah, temos algumas plantadas na horta da igreja.
- Hum, e resistiram?
- Hai. Estão crescendo ainda.
- Vamos ver se vão aguentar até estarem prontas pra colher.
- Hai, aí vou preparar um purê pra você.
- Vou esperar então.
Asahi sorriu e assentiu, se voltando a ele e selou seus lábios, esquecendo-se de onde estavam e quem ele era, e esperou que ninguém tivesse visto e que ele não achasse ruim consigo. Kazuma assistiu-o a se aproximar e fora breve o bastante para fita-lo à seguir, tendo sentido aquele simples e ingênuo toque.
- Não pode fazer isso aqui. - Retrucou e embora soasse como sempre firme, não havia sido uma grosseria.
- Hai... Desculpe.
- Está pronto pra comer agora, padre?
- Estou. Desculpe por enrolar, sei que... Se preocupa comigo...?
- Me importo, mas ao mesmo tempo não gosto de insistir, então não vou falar duas vezes.
Asahi assentiu e sorriu a ele meio de canto e queria voltar ao quarto, onde pudesse ficar perto dele.
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