Kazuma e Asahi #21


Asahi suspirou, estava cansado já que a noite anterior havia sido agitada, havia fugido da igreja para vê-lo e fora a melhor ideia que teve, vê-lo, estar com ele, deitar com ele, era uma delicia, um pecado meio complicado de aceitar. O barulho da porta, havia tirado a si de todo o sono confortável, sabia que ele tinha que acordar cedo por isso mesmo não se preocupou com aquele ruído, nem com a falta dele na cama, porém devia ter se atido ao fato de que o perfume dele não havia invadido o quarto com a entrada. Espreguiçou-se, e tinha-se inteiramente nu em sua cama, coberto apenas pelo lençol fino e branco sobre as nádegas.
- Kazuma... - Murmurou num gemido fraco e preguiçoso, e sentia-o parado lado a si, mas não ouviu resposta, então tornou a chamar. - Kazuma? Como foi o dia? Senti sua falta...
Falou a ele e novamente não houve resposta, então virou a face em direção a ele, porém antes que terminasse, sentiu o corpo sobre si, segurando os próprios pulsos contra a cama e arregalou os olhos.
- Eh?

- Bom dia, padre. Então é verdade mesmo o que dizem sobre vocês? Achei que fossem apenas rumores.
- ... Q-Quem é você?! Me solte!
- Calma, sh... Se gritar vai ser pior pra você. Quer que todos saibam que o senhor Sakurai está dormindo com um padre? Acha que vai salvar seu lugar na igreja no fim da guerra? Melhor não. Imagine a vergonha quando souberem que você está fazendo isso. Acha que seus fiéis vão confiar em você?
As lágrimas estavam presas aos olhos do loiro, queria gritar, mas como poderia? Estava no quarto do outro, e de fato, não se preocupava consigo, mas sim a vergonha que ele iria passar recebendo a si ali.
- ... P-Pare... Kazuma vai achar você.

- E ele vai fazer o que? Acha que ele vai se importar com um padre inútil? Em tempos de guerra não temos tempo pra isso, acha que ele tem algum sentimento por você? Que ingênuo. Sabe, você já ouviu o que acontece lá fora? Oficiais estupram mulheres, matam, fazem coisas muito piores, e você... Acha que o general é diferente disso?
O padre uniu as sobrancelhas novamente e abaixou a face, tentando ver o rosto do rapaz sobre si.
- K-Kazuma é um bom homem... Ele nunca faria isso. 

- Então acredita mesmo que ele ama você, hum? Ele só quer alguém pra foder, padre. E eu achei que segundo o que diziam, qualquer buraco pra ele estava servindo, mas agora olhando pra você eu entendo o porque...
Seguido da fala do rapaz, o loiro sentiu a mão que deslizou pelas costas a segurar o lençol e puxá-lo, devagar a expor o início das próprias nádegas.
- Iie! Iie, me solte! Kazuma! 

- Eu mandei você não gritar! 
- Por favor... Não me machuque...
Asahi murmurou novamente, as lágrimas já nos olhos novamente e não tinha esperança de que o outro fosse voltar, por isso, só podia implorar mesmo, nada mais.

- Eu vou abrir você, padre. O Kazuma já fez isso com você? Talvez eu o faça com seu peito numa facada.
- Volto em breve.
Kazuma disse e descansou a caneta sobre a prancheta após a conferência dos suprimentos médicos, a listagem de homens feridos, recuperados ou mortos. Nos últimos dias não haviam perdido nenhum soldado, mesmo os homens na enfermaria aos poucos tomavam seus postos de volta ou partiam para suas casas ou o que restava dela com seus corpos já inúteis para batalha. Aos cumprimentos dos demais responsáveis pela enfermaria, deixou-a seguindo de volta ao próprio aposento, preferiu no entanto se prover de algum tabaco antes de voltar para dentro, hoje por fim, tinha alguma companhia, embora não fosse tão delicado assim, sabia ter alguma educação.
À menção de tomar o terceiro trago ouviu no entanto um ruído incomum vindo do alojamento o qual responsável, parou por alguns milímetros da boca o cilindro que queimava em brasa dispersando a fumaça contra o rosto que não se afetava diante dela. Em silêncio ouvia a movimentação fora da base, no entanto, atendo a outra parte o qual dizia respeito até que voltasse a ouvir o barulho e assim levou consigo o cigarro, poderia ser útil, pensou 
rápido e abriu a porta, traçou caminho do cômodo inicial o qual podia dizer o próprio escritório e posteriormente passou ao quarto, onde o farfalho de lençóis e tecidos era evidentemente audível, denotando alguma atípica agitação por lá diante da própria ausência. Observou alguns fios de cabelos emaranhados contra o travesseiro, escondida sua face sob a vista dorsal de um soldado. Por um instante parou e tornou a tragar o fumo, esperando até então ser respondido sem precisar perguntar. 
O barulho da porta fora audível ao padre e de fato, bem na hora, o coração estava prestes a pular do peito, ou quem sabe, desmaiar de tanto medo que sentia, as vistas até escureciam sutilmente, o rapaz era rude, já estava assustado devido ao ocorrido de dias anteriores, então não sabia o que fazer além de chorar, mas assim que a pessoa adentrou o quarto, ele se calou e virou-se em direção a porta, soltando o lençol que cobria novamente o próprio corpo marcado pelo maior no dia anterior e ao lado de si, o rapaz se colocou em pé.
- S-Senhor...
- Por que tanto amor no coração, soldado?
Kazuma indagou ao rapaz ao vê-lo se pôr em posição de sentido, fitar a si junto ao cigarro que por sinal deu nova tragada e dali esperava ainda a resposta para sua frase tão romântica, o pouco que pôde ouvir. 

- D-Desculpe senhor. - E fora a única coisa que ele pôde dizer.
- Ainda estou esperando a explicação para isso, soldado.
- E-Eu... Ouvi um barulho... Vim ver se tinha alguém, achei que fosse uma ameaça.

Asahi uniu as sobrancelhas, e estava em choque ainda, pensando naquele corpo nojento sobre o próprio, porém desviou o olhar ao maior parado perto da porta, sentindo o corpo trêmulo e negativou a ele.
- Estou esperando uma explicação verdadeira, soldado. Não sou surdo, ouvi você e sabia exatamente quem é ele, logo, se estava sem roupas na minha cama, não era uma ameaça.
O rapaz abaixou a cabeça, e evidentemente, tinha medo do outro, porque engoliu em seco.
- Achei que o senhor não se importasse em dividir.

O padre uniu as sobrancelhas novamente e encolheu-se ainda mais na cama, negativando ao ouvi-lo e desviou outra vez o olhar ao outro, sem acreditar no que ouvia e esperando dele uma resposta para aquele absurdo.
- Se você pensou que eu não me importaria, por que está me enrolando com desculpas? Por que não perguntou a mim? Acha que enfio meu pau em qualquer buraco usado, soldado?
- N-Não senhor...
- E por que as frases de amor? Ouvi algumas como "Enfiar a faca no seu peito".
- E-Eu... É o que fazemos, senhor.
- É o que fazemos o que?
- Matar...
- Matar um inocente?
- Não... Nossas prostitutas, todos fazem isso.
- Prostitutas são mulheres que ganham dinheiro por sexo, soldado, será que não aprendeu nada da vida? - Provocou, sarcástico. - Será que alguns anos de escola e quartel militar te prepararam para matar inocentes ou as pessoas com quem transa?

- N-Não senhor. Me desculpe.
- Se eu souber de soldados comendo e matando mulheres eu vou castra-los, você me entende? Preciso de pernas e braços sadios, não preciso de genitais, entende? Não terei problema em castrar bagunceiros.
O rapaz ergueu a face a observá-lo e uniu as sobrancelhas por um pequeno tempo.
-  O senhor... Não pode fazer isso.

- Eu não só posso como eu vou.
Asahi observou o soldado e viu-o engolir em seco novamente, assentindo.
- Posso me retirar?

- Pode, depois de me falar o que queria tratar comigo.
- ... Eu só queria saber se o senhor estava.
- Para que?
As sobrancelhas dele se uniram e podia-se ver uma pequena gota de suor escorrendo pelo canto da face.
- Os rapazes disseram que o padre estava aqui. Ninguém tinha coragem de entrar, mas ouviram os gemidos ontem...

- E...?
- Eu apostei com os rapazes que ia... Encontrá-lo.

- Então você entrou após eu ter saído pra estuprar o padre?
Asahi estremeceu, da cabeça aos pés ao ouvi-lo e encolheu-se ainda mais em meio aos lençóis.
- S-Sim senhor...
Kazuma sorriu ao soldado, com os dentes à mostra, realmente se deleitando em sua frase tão hipócrita.
- Você é corajoso, soldado. Ou pelo menos acha que é. Acha que deixo putas levantarem a hora que elas querem da minha cama?

- N-Não achamos, mas... Por ser um padre, queríamos ver como ele é. Os rapazes também queriam.
- Aham, sabendo que o que tem aqui dentro pertence a mim?
- O senhor realmente faz tanta questão desse homem? É somente um padre de uma igreja qualquer, podemos achar mulheres bem mais bonitas para o senhor. Deixe-me levá-lo.
- Não te perguntei nada disso. Venha cá, preciso de um cinzeiro.
- Eh?
O rapaz falou e sobre a comoda pegou o pequeno cinzeiro de vidro colocado ali, estendendo a ele. 
O maior erguera a mão, fez menção de alcançar o cinzeiro entregue pelo homem, enquanto fitava a seu rosto e contrário ao aceite do cinzeiro, tocou a seu braço enquanto segurava a peça de vidro, puxou-o um pouco mais perto e queimou a ponta em brasa sobre o pulso pouco atrás do cinzeiro.
- Veja bem, se podia encontrar mulheres mais bonitas e é um padre qualquer, o que veio fazer aqui? Queria transar comigo indiretamente, é isso? Posso comer seu cu, soldado, mas não sou delicado, eu entro de uma vez e não uso lubrificante e nem mesmo saliva, no mínimo o sangue do seu rabo pode ajudar a dar uma aliviada. Mas não precisa se humilhar, pode me pedir ao invés de entrar no quarto do seu general e tentar pegar algo dentro do aposento dele sem que houvesse sido chamado. Não ache que pode pegar minhas coisas, seu merda, se você e qualquer filho da puta lá fora tentar tocar mesmo na porra da parede do meu aposento, vou cortar o pau de vocês depois de enfiar a porra de um charuto dentro da sua uretra, entende?

O grito deixou os lábios do rapaz devido ao pulso ferido e de fato, fora o suficiente para expulsar todos os outros que o esperavam fora do local. As sobrancelhas unidas agora eram as dele ao ouvir as palavras do superior e o arrepio que percorreu sua coluna foi evidente, estremecia de medo, tanto quanto o padre.
- S-Sim senhor... Me perdoe, senhor.
Quanto ao loiro, ainda observava a ambos, amedrontado cada vez mais pelo que via, e claro que o cheiro da pele dele queimada havia chego em si, mas havia visto tantas coisas ruins que de certo modo, já havia se acostumado, quanta pressão psicológica uma pessoa pode sofrer na vida? Em guerra talvez isso se eleve ainda mais, sentia medo até mesmo do outro, por suas palavras tão rudes, mas sabia que estava defendendo a si, e era melhor ouvir aquilo do que ter um homem, ou vários sobre si como animais.
- Por hora, você está perdoado, só porque me deu um bom som pra ouvir. Você pode sair e se lembre do que eu disse, eu não ameaço ninguém, eu faço promessas. Dispensado. - Disse o general após soltar o pulso do rapaz.

O soldado não disse nada, apenas abaixou a cabeça e saiu do local, fechando a porta atrás de si, e de fato, correu como uma garota para fora. Asahi observou o maior ali em pé, sempre tão bonito com sua farda, mas ainda tremia, embora quisesse mostrar a ele que era forte.
- M-Me perdoe por ter vindo... E-Eu vou embora, eu juro.

- Eu não disse nada a você. - Kazuma retrucou com um breve arqueio na sobrancelha. Se encaminhou até a própria cama e se sentou à beira. - Imagino que esteja bem.
O loiro assentiu, desviando o olhar e puxou o lençol a cobrir o tórax nu.
- E-Eu estava dormindo... Não pude evitar que... Ele não tocou em mim, eu juro.
- Sei que não. - O maior disse e ajeitou o lençol que ele mesmo segurava. - Quer comer alguma coisa?

- H-Hai... Eu quero. Ele... Me disse algumas coisas horríveis...
- Eles sempre fazem isso, como eu disse, homens pequenos como eles tentam amedrontar para que se sintam superiores a alguma coisa, só não entendem que parecem menores a cada vez que fazem isso.
Asahi assentiu e desviou o olhar, não entraria naquele assunto com ele.
- ... Comer o que?

- Quer um almoço ou um café da manhã?
O menor sorriu meio de canto.
- Eu posso escolher?
- Se estou perguntando.

- C-Café da manhã.
- Certo, vou pedir que o tragam.
O moreno disse e seguiu até o escritório, como primeiro cômodo do aposento e pegou o telefone, pedindo que alguém trouxesse os pequenos pães de carne, chá e suco como opções de bebida. Sentou-se à mesa no fim da ligação, voltando a verificar alguns documentos quaisquer até que trouxessem o café do rapaz.

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