Fei e Hazuki #39


Havia sido uma viagem longa, mais do que o loiro havia previsto, já que havia passado todos os dias ao lado do moreno, tentando seguir seus sinais vitais para que não tivesse complicações mais sérias. Infelizmente não tinha um médico a disposição, apenas um rapaz que estava no mesmo navio que a ambos, e que dizia estudar algumas coisas, mas não era um médico.
- Precisa ter paciência com ele.
- Mas ele está passando bem mal de febre, isso não é normal.
- Vamos atracar amanhã, poderá levá-lo ao médico, o mais rápido possível, isso vai mantê-lo instável essas últimas horas.
Fei segurava a mão do garoto, apertando em meio a própria com certa força, impaciente, sabia que aquelas horas seriam as piores daquela viagem inteira. Desde que ele havia se machucado, Hazuki não havia acordado nem uma vez e começava a se preocupar com seu estado físico, sua saúde, já que não se alimentava. E teve tão poucas horas de sono, com a ajuda do loirinho e do ruivo que haviam viajado junto a ambos, Izumi e Mitsuki, conseguira levá-los em conjunto, mas precisava de ajuda urgentemente.
Ao atracar, Fei nem via a hora de ver o chão, um carro esperava por ele logo no cais, onde iria desembarcar, fora enviado por sua família, devido a uma carta que ele havia endereçado previamente, seus pais sabiam de sua viagem.
Havia suportado horas no navio, mais algumas horas dentro de um veículo até sua casa não seria ruim, certo? Talvez estivesse certo, se não apertasse a mão do garoto em meio a própria como um desesperado, não podia perdê-lo, simplesmente não podia, e antes que algo pior acontecesse, informou o rapaz que deixasse a ambos num médico antes de passar na casa dos próprios pais.
- Sim senhor, conheço um doutor que pode ajudá-lo.
Fei assentiu e só pôde suspirar em alívio quando estava em frente a casa nada modesta onde o médico residia, claro que o tratamento do garoto seria pago por seus pais, já que ele não possuía dinheiro para fazê-lo.
- Boa noite doutor, se tiver um tempo preciso que atenda o meu amigo.
O doutor o olhou de cima a baixo e pediu que adentrasse o local, dando espaço a passar pela porta.
- Você é o filho dos Ly não é?
- ... Como sabe?
- O conheci quando era um garotinho, é bom tê-lo de volta.
Fei deu um pequeno sorriso, mas não tinha muito tempo para conversas triviais.
- Onde o deixo?
- Aqui, traga-o, coloque sobre o futon.
O loiro repousou o corpo do menor, ajeitando-o ali, e podia notar em sua face uma pequena gota de suor, que escorreu pela lateral.
- O que houve com ele?
- Foi esfaqueado.
O médico arqueou uma das sobrancelhas.
- Onde?
- Na altura da cintura.
- Há quanto tempo isso aconteceu?
- Alguns dias, estávamos no barco, vindo do Japão pra cá.
- Certo... Me deixe dar uma olhada nele, mas já vou dizendo que não acho que seja uma boa ideia levá-lo hoje, deixe-o por aqui e vou medicá-lo.
Fei franziu o cenho e assentiu, porém sentou-se deliberadamente no sofá, em frente ao futon.
- Não saio daqui doutor, enquanto não puder levá-lo.
Com um pequeno sorriso, o médico assentiu a ele, acomodando-se no chão, ao lado do garoto e nada mais disse quando passou a examiná-lo.
- Alguém tentou conter a infecção dele, não?
- Sim senhor, um rapaz ajudou nos pontos no navio e com a infecção. Ele estava estudando medicina.
- Hum, fez um bom trabalho o rapaz.
Fei assentiu, observando o moreninho deitado, e pensou em quando havia conhecido ele, era tão pequeno, precisava tanto de proteção, no pior momento teve que sair e não pôde ajudá-lo, o havia deixado sozinho. Negativou consigo, não podia desistir agora que estavam tão longe, faltava pouco para que tivessem um pouco de paz, esperaria o doutor, pela expressão, dura do médico, não sabia dizer se a situação era boa ou ruim, mas com seus instrumentos dos quais não entendia nada, o via examinar o rapaz.
Os bons dias sem dormir haviam pego o loiro, mesmo em poucos minutos sentado no sofá, já havia fechado os olhos e agora descansava, a expressão suavizada pelo sono no qual se encontrava, agora estavam em segurança, mas um sobressalto o fez se levantar.
- Algum problema?
- Os garotos, ainda estão esperando, vou mandá-los para a minha casa, me dê um minuto, doutor.
- Claro. - Disse o médico, sem desviar o olhar do rapazinho ainda desacordado.
Fei saiu da casa, seguindo em direção ao portão ao tê-lo aberto por uma empregada da casa, teria de se acostumar ali, naquele lugar, tudo era questão de dinheiro novamente. Ao chamar o encarregado da liteira, informou que levasse ambos os jovens para a própria casa, e que iria, assim que fosse possível.
Mesmo seus passos na volta, eram firmes. O loiro ainda se preocupava com o garoto embora tentasse não demonstrar, seu semblante calmo e inexpressivo em situações de emergência, como sempre. Ao voltar, o médico já o esperava em pé, secando as mãos com uma pequena toalha de cor verde.
- Doutor?
- Fei. - Disse o senhor. - Estou hidratando o rapaz, ele parece meio enfraquecido devido ao corte e a infecção, tudo parece controlado, então não se preocupe, ele parece bem, porém, é difícil agora saber se o estado do bebê é bom.
Fei fez uma pequena pausa, tentando se concentrar em cada uma das palavras dele, estava bem, isso era ótimo, poderia levá-lo assim que estivesse se sentindo melhor, assim que acordasse, porém, cessou no fim da frase.
- O que?
- Hum?
- O que disse?
- Que ele está bem por hora.
- Não, disse "o bebê"?
- Sim, o rapaz está esperando uma criança.
O loiro arqueou uma das sobrancelhas, observando o corpo deitado sobre o futon, e ele não havia dito nada a si, nada sobre algum sintoma existente, talvez... Talvez fosse a si que não tivesse visto nada. O sorriso suave no canto dos lábios fora inevitável, os dentes quase pediam para ser expostos, e por mais que se controlasse, tentava não se jogar sobre o corpo dele e beijá-lo, tomando-o nos braços.
- Desculpe, achei que soubesse que iria ser pai. O bebê é seu, certo?
- Sim senhor. - Disse ainda naquele pequeno sorriso, sem desviar o olhar do parceiro.
- Bem, eu o vi nascer, pelo visto, vou ver seu filho nascer também. - Disse o rapaz a dar um pequeno tapa sobre o ombro do maior.
Fei desviou o olhar ao médico, não se lembrava, é claro, do rosto dele, mas ele parecia olhar a si com um certo carinho, agora entendera o motivo.
- Deite, filho, durma um pouco, de manhã talvez ele já esteja um pouco melhor.
O loiro assentiu, não iria negar o sono aquela altura, estava cansado e sentia o corpo pesado.
- Se algo acontecer a ele, por favor, me acorde. Qualquer que seja.
- Certo, eu o farei. 

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