Yuuki e Kazuto #38


- Vamos a algum lugar especifico?

- Não.
Disse o maior conclusivo enquanto seguia a sair da moradia. A vista da noite clareada apenas por uma grande lua cheia no topo escuro, céu. As luminárias em postes de luz, e nada mais. Deu passos a fitar a rua em movimento, sem interesse aparente, continuou o caminho sem destino.
Kazuto observou a lua e sorriu, distraído com a beleza natural dela, estava cheia, e gostava de pensar que agora era uma criatura noturna, porém deu-se conta de que havia sido deixado para trás, desviando o olhar ao vampiro e seguiu-o.
- Yuuki, espere!

Sem pronúncia, Yuuki continuou o caminho incerto. Kazuto seguiu-o apenas, em silêncio, estendendo uma das mãos, mas o medo de ser repreendido não o deixou segurar a mão do vampiro.
O caminho, Yuuki prosseguiu a dobrar alguma direção. As vozes vinham de um bar qualquer no fim da rua solitária. Talvez tivesse algum miserável vagando por lá, e as silhuetas que iam para lá e cá indicavam a bebedeira dos homens que caminhavam desnorteados e sem passos retos e apesar do cambaleio, ainda aproveitáveis.
- Achou. - Sussurrou a voz numa tênue rouquidão. 

Kazuto ficou atrás do vampiro, encolhendo-se, como se já não fosse suficiente ser menor que ele e segurou a camisa do outro.
- Q-Quantos?

- Dois drinks.
- Estou com fome...
- Então vai pegar.
- Hum? Não... Como?
O maior virou num vagaroso movimento, talvez sóbrio demais.
- Como foi que eu peguei você? - Indagou com a mesma peculiar rouquidão na voz.

Kazuto encolheu-se ainda mais, unindo as sobrancelhas.
- Calma... Eu nunca fiz isso.

- Eu vou.
Yuuki voltou-se as imagens em distância, não pouco e não muito distante. O caminho traçou nos despreocupados passos das botas sob o solo, com os olhos de cor diferenciada a voltar-se a uma calçada e outra, era propício o caminho com becos tão escuros e latões de lixo, onde depositaria toda a carcaça utilizada.

- Não... Yuuki...
O menor murmurou, virando-se no local escuro e estremeceu, mesmo que fosse um vampiro, morria de medo de ficar sozinho, ainda mais no escuro. Agarrou-se a parede, observando o namorado a caminhar pouco longe de si.


O passo do maior cessou ao meio termo. Uma rua sem saída no lado direito, e o caminho vagaroso dos homens que tiravam a paciência.
- Pff... Bêbados do caralho.
Yuuki resmungou mesmo sem costume, o passo foi rápido, mas nem tanto. O xingamento dos miseráveis insanos, eram jovens e certamente deliciosos e claro que deveras loucos por briga, como típico de bêbados sem rumo. Não deu tempo a impaciência enquanto ouvia seus murmúrios sem nitidez, foi objetivo em segurar o colarinho do louro e jogá-lo a direção do vampiro mais jovem.
- Anda, moleque.

Kazuto observou o vampiro e o homem a frente que caíra no chão com o impulso do outro, unindo as sobrancelhas, não sabia o que fazer, os olhos apenas fitavam o rapaz que certamente não conseguia se levantar, rindo e tentou acertar a si com uma das mãos. Num passo, afastou-se e hesitante se aproximou logo após, fechando os olhos e suspirou, sendo rápido a ajoelhar-se ao lado dele, puxando-lhe os cabelos e as presas, que antes só havia usado para sugar o sangue do outro vampiro, cravaram-se na carne dele, sugando-lhe um gole do sangue quente que engoliu e sentiu o leve arrepio pelo corpo junto ao grito do rapaz, mas nem por isso largou-o, cravando as presas mais fundo e sugava o líquido para si, tão saboroso.
O outro homem, certamente seria visto apenas com suas pernas arrastadas pelo chão e ao fim de sua imagem que se escondeu na escuridão do beco. O grito, inicial, abafado pela mão do vampiro mais velho.
Kazuto sugava o sangue, concentrado demais para pensar em outra coisa, deliciando-se com o sangue tão saboroso, tão quente, fazendo com que os próprios olhos adquirissem a cor vermelha e após um tempo, retirou as presas do pescoço dele, ao notar que o rapaz não se movia mais, talvez estivesse desmaiado. Uniu as sobrancelhas, soltando-o e lambeu os lábios, lembrando-se de quando era si nos braços do vampiro, poderia estar morto agora se não tivesse voltado, se não tivesse visto aqueles olhos, não o amaria hoje, mas não se arrependia por nenhuma decisão que tomou. Permaneceu desse modo por alguns segundos, observando o homem e logo levantou-se, observando o local escuro e caminhou calmamente, o medo tomando conta do corpo até ouvir o barulho baixo vindo de um dos becos, mas não enxergava, não o suficiente.
- Yuuki...? - Murmurou.

Um avanço contra o pequeno se fez tão ligeiro a puxá-lo ao beco. Yuuki tinha a figura de uma silhueta escura e de lábios manchados até o pescoço pelo sangue em demasia, sem rosto, apenas olhos tão nítidos e o sangue pouco visto na breve claridade ao pegá-lo e empurrá-lo contra o latão de lixo, onde segundo atrás havia metido o homem sem vida.
- Se lembra de algo?
Indagou em voz de mesmo tom rouco e serioso. Havia lhe tapado a boca o qual destapou logo após e lhe soltou o corpo, talvez houvesse lhe causado uma pequena lembrança de tal e ao soltá-lo apenas se deixou ser visto quando já fora do beco onde havia o deixado, e lambia os dedos sujos de sangue, feito um gato em seu banho.

Kazuto assustou-se ao senti-lo puxar a si e arfou ao sentir o corpo contra o local, claro que na outra vez que fora colocado naquele lugar, doeu muito mais do que nessa. Os olhos arregalados fitavam os olhos do outro apenas, sem dizer uma palavra, as pernas tremiam e quase não ajudavam a si a se manter de pé. Dos olhos, duas lágrimas escaparam e molharam a face. Assim que ele retirou a mão dos próprios lábios, suspirou, erguendo a face e observou os telhados das casas, não era o mesmo lugar mas lembrava-se de tudo, das janelas se fechando, as pessoas ignorando a própria dor, tão egoístas. O sangue no próprio corpo, as roupas rasgadas no chão, o corpo dele junto ao próprio, os olhos... Os olhos. Desviou o olhar a ele e deu um passo em direção ao mesmo, esperando que as pernas fizessem seu trabalho e ajudassem a si a se manter de pé, mas não conseguia falar nenhuma palavra, caminhou até a frente do outro, observando-o com os olhos vermelhos, mas ainda assim tão inocentes e selou-lhe os lábios.
A expressão do mais velho se manteve, incerta ante os passos desajeitados do garoto, o medo da lembrança talvez, pensou consigo mesmo enquanto sentia o enlace da cintura e seu beijo, quase tão mal dado quanto o de uma criança, sem comentários passou um dos braços envolto ao corpo magro e passou a andar, caso contrário, teria que ser desapressado no caminho.
Sentiu o braço do outro ao redor de si e uniu as sobrancelhas, não estava acostumado a nenhum toque dele, achou ele apenas empurraria a si e o deixaria ali, ou o puxaria pela mão, mas aquilo era diferente, era quase um abraço. Caminhava junto dele, pouco confuso e observava o chão, com cuidado para que não caísse, afinal, estava pouco tonto.
- Tomou sangue ou veneno? - Indagou o maior apenas no traçado caminho.
- Me assustei... - Kazuto murmurou.
- Tanto a ponto de cambalear feito bêbado?
- Podemos parar um pouco? ... Só um instante. 
Kazuto parou junto dele e respirou fundo algumas vezes, recompondo-se e observou o outro próximo a si, novamente abraçando-o e repousou a face sobre o ombro dele.
Os ambos braços do maior se dispersaram em inércia às laterais do corpo enquanto em passos cessados, atípico, lhe concedia tempo a perdurar de tal modo enquanto o enlace da própria cintura era feito num abraço já conhecido, e na mente, pensamento se passava só consigo mesmo e talvez sem entender o garoto que se tornava mais frouxo como estivera no momento. O menor ergueu a face, beijando-lhe o pescoço e segurou a mão do maior.
- Obrigado...

- Já pode andar? - Yuuki indagou, ignorando seu dito, seu feito.
- Estou mais calmo.
O desvencilhado do abraço, o maior deu caminho a seguir ao trajeto feito hora antes. No bolso o maço de cigarros, mesmo que sequer necessitasse de um vício de nicotina, era apenas um pequeno e insignificante passatempo, que levou a boca, passando a tragar após o zipo ceder a brasa. 
Kazuto o observou apenas a acender o cigarro e novamente a mão segurou a dele, devagar, buscando uma reação e entrelaçou os dedos aos do outro, continuando o caminho. Tão breve, talvez Yuuki tivesse lhe dado um sutil aperto na mão, porém desfez o toque a levá-la em seu ombro e passá-lo a frente do corpo, bem mais a frente. 
- Não me toque, vai andando.
O menor uniu as sobrancelhas e assentiu, caminhando e segurou a própria mão, observando-a a dar um pequeno sorriso. As cinzas haviam sido o resultado de todo o cigarro quando finalmente Yuuki se pôs fronte ao edifício residente. Encaminhou-se ao próprio apartamento sem delongas nos passos ligeiros ao interior da moradia. A empregada ainda trabalhava, cuidando da higiene do ambiente com o cheiro não muito doce e desagradável. Talvez tivesse servido algo na recepção da chegada sem demora, porém o jantar havia sido feito. No quarto as botas de cor escura foram jogadas em qualquer lugar, a camisa com seus primeiros botões abertos e zíper da calça aberto, livrando-se da pouca formalidade da roupa, antes bem trajada.
O menor seguiu o outro em silêncio a adentrar o local e observou-o apenas no que fazia, retirando a camisa dele que usava e deixou-a junto as roupas do maior, abrindo o zíper da calça, mas se a retirasse ficaria nu, então permaneceu com ela.
- Como essas roupas servem em você?
- Ficam grandes, eu dobrei a manga.
Yuuki desceu a direção das vistas a calça. Kazuto o observou e puxou o cós da calça, mostrando estar igualmente grande, assim como as barras da mesma. Um sorriso de canto se fez dos lábios do mais velho, porém a gargalhada debochada logo viera.
- O que? - Uniu as sobrancelhas.
- Você é minúsculo... - Disse diante do riso.
Kazuto desviou o olhar ao próprio corpo e abaixou-se, soltando a barra da calça que arrastou no chão.
- Não sou...

- E... tem 20 anos...
- Vinte e dois. Não sou minusculo.
- Deveria ir para sua casa, pode se vestir ou vai cair com isso.
- Não, sou grande suficiente pra usar. - Kazuto deu alguns passos, observando a barra da calça.
- Bem, como quiser. Adoraria vê-lo cair de qualquer forma, ainda posso sugar o sangue do seu nariz.
- Ai que nojo... - Riu.
No guarda-roupas, Yuuki ajeitou as peças retiradas, permanecendo com uma regata de tom branco e talvez quase se igualasse ao tom pálido da própria pele, já que nunca havia sido tocado pelo sol. Jogou um short qualquer ao outro e fechou a porta do móvel bem feito e de madeira maciça. Kazuto sorriu, pegando o short e retirou a calça, mesmo sem abri-la, vestindo o short que quase servia como calça para si.
- Você é anão.
- Não sou... Só sou pequenininho. - O menor caminhou até a cama, deitando-se.
Yuuki caminhou a cama igualmente e jogou ao lado o edredom já trocado e lençóis limpos. Deitou-se, se ajeitando no conforto da cama abandonada no dia durante poucas horas. O menor se aproximou do outro, abraçando-o e sorriu a ele.
- Obrigado por ter ido comigo caçar.

- Não precisa ficar grudando em mim como se eu fosse seu pai.
- Só estou te abraçando...
- Você passou o dia me tocando de qualquer forma que fosse possível e quase imperceptível.
- Ah... Hai. - Kazuto afastou-se, observando-o apenas.
- Boa noite, pirralho.
- Não... Fica acordado... Só mais um pouquinho.
- Pra que? - Yuuki resmungou debruçado a cama e face afundada abaixo do travesseiro. 
- Olha pra mim...
- Acho que você não está muito dentro de si hoje.
- Por favor, pode me dar uma surra depois.
- Tsc... - O maior puxou o travesseiro a jogá-lo na cama e deitar a face a direção do alheio. - Ah?
Kazuto aproximou-se, selando-lhe os lábios e sorriu.
- Amo você.

- Era isso? - Yuuki indagou após aquele breve toque labial.
O menor uniu as sobrancelhas, observando-o.
- ... Era.

- Esse costume de fazer cara de coitado não tem efeito em mim, garoto.
- Não é de proposito ne... Bem... Boa noite. - Sorriu a ele e virou-se de costas. - Obrigado pelo dia, digo noite.
- Boa noite.
Kazuto assentiu ao ouvi-lo encolhendo-se pouco a baixo do cobertor, aproximando-se do outro.

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