Kaname e Shiori #30


Shiori sorriu a observar o berço como tinha costume, sentado na poltrona próxima ao mesmo com o pequeno livrinho de histórias na mão, atencioso a algumas figuras, precisava fazer algo para passar o tempo afinal, demoraria até que o outro voltasse. Suspirou e deslizou a mão pela própria barriga numa caricia, distraído, passando um tempo com o próprio filho, e algumas vezes até falava com ele, claro que não esperava uma resposta, mas as vezes tinha um chute ou outro. Encostou-se na cadeira e sentiu os olhos pesados, dormiria um pouco ali, porém o sono fora atrapalhado pela dor forte abdominal, que fez a si até mesmo soltar o livro.
- Ah...
Desviou o olhar a própria barriga, ainda estava no oitavo mês, e era por isso que o outro ainda não estava em casa consigo, ele só ficaria por lá, a partir do nono, quando teria o filho. Levantou-se e seguiu rápido até o telefone do quarto ao lado e o único que tinha acesso, digitando o número do outro a espera de que ele atendesse a si, uma vez que sentiu outra pontada, uma contração.

O aparelho vibrou no bolso de Kaname, denunciando uma chamada. Num gesticulo sutil com a mão pediu um minuto ao paciente na sala, permitindo-o ter informação sobre o estado de gravidez do companheiro, e assim retirou-se no fim de sua consulta.
- Shiori.

- Kaname... Está doendo... Eu acho que o bebê vai... - Shiori fez uma pequena pausa ao gemido que deixou os lábios pela nova contração e suspirou. - Nascer.
- Dói muito?
O maior indagou e prontamente tateou os bolsos do branco jaleco, buscando averiguar as chaves do carro.
- Hai, muito...

- Sente-se na cama, parcialmente deitado e faça uma massagem leve onde dói. Já estou indo.
Shiori assentiu e suspirou.
- Eu te amo.

Após o término da ligação, Kaname informou as enfermeiras que antes já sabidas da situação do companheiro, até haviam sugerido ambulância, mas não precisou dizer nada a ser convincente de que ir por si próprio seria mais viável. Pegou o veículo no estacionamento, e levou consigo o jaleco, as chaves e uma grande bolsa médica, não grande demais.-
Shiori desligou o telefone e seguiu até a cama, ajeitando-se quase deitado no local e deslizou as mãos pela barriga, vez ou outra deixando um sutil gemido escapar.
- Calma... Seu pai está vindo... - Murmurou.
Não demorou demais até que Kaname ali estivesse, o único impasse do elevador demorado, mesmo nem tanto assim se não fosse pela pressa. Seguiu os passos categóricos até a porta da residência e adentrou.
- Shiori.
Chamou, porém subiu ao quarto onde certamente o moreninho seguia o indicado a pouco tempo atrás. O pequeno desviou o olhar a ele assim que entrou na porta, unindo as sobrancelhas pela dor que sentia e suspirou.

- Kaname... Está doendo muito.
- Sh, já vai passar. Prefere ir ao hospital ou quer aqui?
- Q-Quero ficar aqui.

- Certo. Já vai passar. Parece que nosso bebê é apressado.
Kaname brincou com ele, enquanto ajeitava a bolsa ao lado, buscando todo um necessário, mesmo que não tanto quanto a um humano. A seringa injetou o líquido em sua veia, e posteriormente o ajudou a tirar as roupas, afim de substitui-las.

O menor gemeu sutil ao sentir a agulha, porém sabia que já havia sentido coisa pior do que aquela. Levantou-se e retirou as roupas, substituindo-as pelas roupas que o outro havia trazido a si com certa dificuldade, deitando-se novamente.
- Mas... Vai nascer com problema?
- Claro que não. Só nascerá mais cedo, algumas semanas, porém já está formado. - Dizia o maior a vesti-lo com o avental cor rosa clarinho. - Vamos, segure essa que é mais dolorida. - Dizia e introduzir a agulha em sua espinha dorsal.
- Ah! - O menor gemeu ao sentir a agulha e apertou com força o lençol da cama, unindo as sobrancelhas. - K-Kaname...

- Passou. - O maior sussurrou e o ajudou a se deitar na cama. - Tente ficar quietinho e sentir a dor passar.
Shiori assentiu e deitou-se, aconchegando-se na cama a fechar os olhos.
- Ta bem...

- Melhorando?
Kaname indagou conforme ajeitava cada um dos instrumentos necessários e observava-o na cama.
Hai... Um pouco. - Shiori murmurou a observar os objetos na cama e sentiu um arrepio sutil percorrer o corpo, assustado. - V-Vai... Cortar com isso?!
- Não diga cortar, parece pior do que é. Não vai sentir, o anestésico é forte.
Kaname concluiu e fez-se silencioso, ponderando. Caminhou até o quartinho do bebê e de lá pegou o ursinho que daria ao filho, entregando-o ao moreninho. O observou e continuou no silêncio, esperando não haver algum comentário. Assim que levou a máscara ao rosto, as luvas higiênicas nas mãos, o posicionou na cama, e deu início ao parto do próprio filho.

O menor o observou a sair do quarto e seguiu-o visualmente até voltar ao quarto, carregando o ursinho com ele. Sorriu e abraçou o bichinho, apertando-o entre os braços e fez silêncio, assentindo a ele apenas para que continuasse e sentiu o corte feito em si, porém não sentia dor devido a anestesia. Fechou os olhos e após um pequeno tempo, desviou o olhar ao outro, mantendo a atenção na face dele, tão concentrado que até preocupava a si.
Kaname prosseguia no silêncio, e vez outra os olhos se limitavam a observá-lo, porém era breve. Os movimentos continuavam em sua barriga já murcha, delineando o corpinho prematuro do bebê, que puxou para fora. Observou-o, ainda assim alternando entre vê-lo e ver o pequenino ainda dentro dele, e entre a fenda profunda de seu ventre, o chorinho quebrou o seu suave ruído de desconforto. Mesmo antes que pudesse lhe dar um tapinha, já deixava sua voz baixinha fluir. E num dos braços segurou o primeiro filho, acomodando-o na macia toalha confortável o suficiente antes de desfazer o laço que os unia. E assim, limpou sua pele fina, tirando todo seu rastro de sangue com minúcia e um misto de fascínio. Com a macia e pouco suja toalha branca, enrolou seu corpinho e partilhou sua figura com o moreninho, entregando-o a ele.

Shiori ouviu o choro do filho recém-nascido e suspirou a desviar o olhar ao outro, abrindo um pequeno sorriso a ele, aliviado por tudo ter corrido bem, embora fosse um vampiro, não sabia como tudo aquilo funcionava. Arregalou os olhos em busca de ver o rostinho pequeno dele e viu o maior limpando-o com a toalha macia. Sorriu novamente e o segurou nos braços, limpando com a toalha sua mãozinha ainda pouco suja e o beijou na face. Desviou o olhar ao outro a vê-lo iniciar os pontos no próprio abdômen e sabia que para ele talvez fosse difícil sentir o cheiro do sangue tão próximo.
- Ele é lindo.

Kaname teria sorrido atrás da máscara, o que não visto ainda expôs nos olhos.
- Por que esta com os olhinhos fechados?
- Bebês nascem com olhos fechados. Ele pode demorar um pouquinho até abri-los.
Shiori assentiu e sorriu ao outro.
- Kaname... Eu preciso de sangue...

- Colocarei como transfusão de sangue, terá mais agilidade em recuperar sua resistência.
O maior dizia, acomodando a bolsa de sangue lado a cama, numa pequena estrutura onde pudesse apoiá-la e única o qual pôde ter consigo. Introduziu a agulha acomodada em sua veia, sustentando-a com o algodão e pequeno pedaço de esparadrapo. 
Shiori gemeu sutil ao sentir a agulha e uniu as sobrancelhas.
- Dói... Não gosto de agulhas. - Falou a desviar o olhar ao filho pequeno nos braços. - Preciso dar um bainho nele...

- Eu vou cuidar dele enquanto isso.
Kaname falou baixo, abafado pela mascara fronte a boca. E com minúcia, buscou o pequenino em seus braços. Shiori e
ntregou-o ao outro, sorrindo a ele e esticou-se sutilmente, deixando escapar um gemido sutil a tentar lhe selar os lábios, mesmo sobre a mascara.
O maior o fitou sem entender inicialmente, porém mesmo no impasse o retribuiu. Sorriu-lhe somente com os olhos e murmurou consigo e com o bebê algo sem nitidez. Um tecido mornou, porém o suficiente suportável, com o gel de limpeza passou a cuidar de seu corpinho, o banhando, o limpando do sangue.
O moreninho sorriu a ambos, descansando a cabeça sobre o travesseiro, e aos poucos sabia que a pele iria se reconstituir e a ferida ia cicatrizar. Observava-os com atenção, mesmo sem dizer uma palavra, ainda abraçando o ursinho.
Na macia toalha, Kaname enrolou seu corpo frágil e cheirosinho do primeiro banho. Voltou-se ao parceiro e deixou o quarto. Sobre sua cômoda quase marfim, pegou a roupinha já lavada, e que quase já tinha seu cheirinho de bebê. Sua estrutura sem firmeza, descansou acima do colchãozinho de gomos macios e amarelinhos. E após colocar sua fraldinha tão igualmente pequena, vestira-o com a roupa de mesma cor clara. E a confortá-lo, voltou a pegá-lo no colo, sentindo seus dedinhos minúsculos adornarem o próprio indicador com a maior firmeza que podia ter. Um sopro deixou as narinas num suave riso nasal, e a acomodá-lo contra o peito, regrediu ao quarto, levando consigo uma fina manta branca.
O menor suspirou a fechar os olhos por pouco tempo a esperar que o outro retornasse e logo que ouviu os passos abriu os olhos, observando-o com um sorriso nos lábios.
- Ele está bem? Não... Vai ter nenhum problema?
- Não, não tem. -Falou e novamente soou abafado, só então puxou a máscara.- Ele só é mais frágil, porém perfeitamente formado, estava quase no nono mês afinal. Vou por ele no cestinho, e fazer uma transfusão leve, assim pode dar a mamadeira pra ele quando terminar.
- Não... Eu... Não quero dar mamadeira.

- E por que não quer?
- Quero dar o meu sangue.
- Pode colocá-lo na mamadeira, Shiori. Diretamente de si ele não será capaz de sugar. É muito fraquinho ainda.
- Ah, hai...
- Você quer que ele mame em si?
Iie, eu posso dar a mamadeira.
- Mesmo que fure-se para dar a ele o sangue, as feridas fecharão muito rápido... Se ele tiver presas pode mantê-las abertas. Mas ele não te dentes ainda...
- Isso ele só será capaz a partir de oito ou nove meses.
- Mas ele é um vampiro..
- Bem, não sei, eu não conheço muito sobre isso. Mas até o momento ele não tem dentes.
- Sim, eu sei... Eu só percebi agora que não poderia.
- Mas podemos tirar o seu, hum?
Shiori encolheu-se e assentiu.
- Ou não quer?
- Quero. Só tenho um pouco de medo...
- Medo de que?
- De cortar...
- Cortar? vamos tirar com agulha, Shiori. Como alguém que doa sangue. Você já teve a barriga cortada, como pode ter medo?

- Eu estava com anestesia ne... Não gosto muito de agulhas. - O menor murmurou e observou o filho tão pequeno. - Mas... Não faz mal.
- É pela ponta do dedo, não é dolorido.
- Eh?
- Podemos fazer uma pequena perfuração no dedo, e dará o sangue a ele. Sem extraí-lo. É uma corrente sanguínea bem controlada, e não sai ligeiramente como no pulso.
- Mas vai fechar muito rápido como disse.
- É uma pele mais grossa que as demais, deve demorar um tanto mais.
- Apesar que pode ser difícil sugar da mesma forma.
- Não... Podemos extrair com a agulha, eu prefiro assim.
- O formato cômodo do dedo seria propício para ele. Mas podemos tirar, no entanto, você precisará de mais sangue.
- Hum... - Shiori ergueu o dedo a expor a ele e uniu as sobrancelhas.
- E ele vai precisar de um pouquinho de sangue humano depois disso também. Acho que sangue de vampiro não vai sustentar... Pelo menos a mim... - Não sustenta... Mas é muito saboroso, ou prefere sangue humano?
- O gosto, porém eu continuo precisando de sangue. E ele será da mesma forma. Quererá de qual forma? Dedo ou extrair?
- Pode furar o dedo...
- Vou usar uma agulha mais espessa, assim demora a reconstituir. Seu ventre já está de volta aos conformes, assim cessarei sua transfusão do contrário fechará com mais destreza. Dedinho.
Kaname falou em tom sutil, numa brincadeira breve mesmo que não demonstrasse tanto assim e com a agulha, introduziu-a o quanto pôde sem machucá-lo. 
Shiori ergueu pouco mais o dedo a rir baixinho enquanto o observava e gemeu baixo ao senti-lo pressionar a agulha até furar o local.
- Ah...
Observou o sangue e antes que pudesse pingar na cama o guiou a boquinha pequena do filho, vendo-o a tentar sugar o sangue que escorria.
- Ele está conseguindo?
O maior indagou ao moreninho, passados os minutos enquanto o observava. Shiori s
orriu a observar o filho com a pequena boquinha ao redor do dedo a sugá-lo.
- Hai.

- Hum...
Kaname murmurou e lhe sorriu, observando o pequeno com olhar alternado ao que fazia, ajeitando os utilitários médicos que esterilizou com álcool. Shiori s
orria ainda a observar o pequeno e por fim ajeitou o ursinho junto dele, quase tão pequeno quanto ele.
- Kaname, como vamos chamá-lo?
Não tem nenhum que goste ou antes tenha pensado?
- Tem um, mas você não vai gostar.
- Me diga qual é.

- Ryutaro ou Ryosuke. - O pequeno falou a segurar a mãozinha do filho com o indicador.
Ryosuke é mais bonito dos dois. Ryutaro... Taro não soa bem.
- Hai. - Riu.
- Nós logo pensamos em algo pra ele, por enquanto, cuidamos dele, o registro nós faremos daqui cinco dias.
- Ta bem.
- Como se sente?
- Bem, um pouco cansado, mas bem.

- Ele continua sugando? Não fechou?
Shiori puxou o dedo devagar a observá-lo.
- Já. - Riu baixinho. - Acho que ele precisa de uma chupeta.
- Tão cedo?

Shiori negativou e riu baixinho.
- É brincadeira. Você... Poderia pegar a mamadeira por favor?

Kaname buscou sobre a mesa a mamadeira, o qual encheu o pequeno recipiente com a bebida que completou o frasquinho e entregou ao parceiro.
- Ele é tão pequenino, que até essa mamadeira pequena vai enchê-lo.
O menor riu baixinho.
- Você... Quer dar pra ele?
- Quer que eu faça isso?

- Quero. Gosto de ver você com ele.
O maior assentiu e buscou o pequenino, sentiu seus movimentos tão passivos e inofensivos. O acomodou nos braços e pegou a mamadeirinha, levando-a a sua boca. Shiori sorriu a observar o maior junto dele, acomodando-se a se deitar na cama e cobriu-se com o cobertor.
- Ele vai parecer com você quando crescer... Não vai?


- Não temos como saber agora. Ele é miudinho, como você. Mas ele nasceu prematuro, portanto não há como saber.
Kaname murmurou, suficientemente audível para ele enquanto observava a boca envolta ao silicone macio da mamadeira, sugando o conteúdo.

Shiori sorriu.
- Ta bem. Mas ele é tão lindinho... E pequeno. Da vontade de apertar.

- Sim, é lindo...
O pequeno permaneceu pouco tempo a observá-lo, mantendo o sorriso nos próprios lábios.
- Você... Parece muito feliz.

- Eu estou.
- Não parecia muito feliz em ter um filho... Digo... Antes.
- Por que concluiu isso?
- Porque agia meio... Sério.

- Eu continuo sério.
- Mas da pra ver que esta feliz.
- Você só não prestou atenção.
- Acho que não...
- Não há diferença.
- Eh?
- Não faz diferença na forma como agi.
- Não faz.
- Mas continuo dizendo que não parecia menos satisfeito.

- Tudo aconteceu... Tão rápido.
- Sobre?
- Nós... Nos conhecemos e... Pouco tempo depois eu engravidei.

- É, realmente. O tempo é que passou rápido.
Shiori sorriu.
- Mas eu fico feliz.

- Deveria estar descansando, não falando sobre isso, hum? Sente fome ou fraqueza?
- Um pouco de fome.
- Quer mais do sangue?
- Quero...
Após o término da segunda refeição do filho, Kaname o aconchegou no cestinho almofadado, e o colocou junto ao menor na cama de casal onde se deitava. E posteriormente o proveu do que pedira. Shiori virou-se de lado, cuidadoso a observar o filho e acariciou o rostinho tão pequeno dele.
- Já havia pensado em ter filhos?
- Nunca... - Murmurou.
- Inesperado.
- Hai.
- Mas ele nasceu bem, eu estarei aqui para ajudar no que precisar.
Shiori o observou com um pequeno sorriso nos lábios.
- Fico feliz que... Sejamos uma família, eu... Sempre quis ter uma família.
Kaname deu a ele um sorriso pequeno, acariciando seus cabelos curtos.
- Descanse, eu cuido dele.
O menor assentiu, e era tudo tão estranho, estar com o filho que há uma hora estava ainda dentro de si, nem tivera tempo direito de olhar o rostinho dele, sua expressão tranquila, sua pele fria, morta, mas era tão lindo, de certo modo, sabia que seria igual ao outro quando crescesse. 

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