Kazuma e Asahi #49


O suspiro profundo deixou os lábios do padre conforme o observou na cama, e parecia imóvel, ainda sem acordar mesmo após dias, estava mais do que preocupado, tinha medo que como na primeira vez, ele não acordasse, mas já havia chorado demais por ele, para saber que ele era forte, e que não era algo tão simples que iria derrubá-lo. Uma das mãos acariciou os fios negros da cabelo dele, beijando-o em sua testa e trocou os curativos, todos, não sem antes limpar seu corpo e colocou sobre a testa dele um pequeno tecido úmido e gelado. 

- Vamos Kazuma... Acorde, por favor...
Murmurou e segurou a mão dele em meio a própria novamente, beijando-a em seu dorso, enquanto ouvia os passos de uma enfermeira atrás de si.

- Padre, não acha melhor voltar para a igreja?
- Não vou deixá-lo, estou bem aqui, pode descansar, Hana.
- Sabe que ele não iria gostar de ver o senhor assim. 
- Eu me alimentei há pouco, estou me cuidando eu juro, só preciso ficar com ele até ele acordar.
- Certo, padre... Boa noite então.
- Boa noite, Hana.
Ao acordar, Kazuma não sabia mais o que estava a acontecer. Imaginava que apenas havia caído no sono, mas o corpo doía como se houvesse sido atropelado, coisa que não costumava sentir, uma vez que tinha sono leve e não costumava dormir por mais de quatro a cinco horas. Ao despertar buscou se sentar à beira da cama enquanto fitava o rapaz em alguma atividade pelo próprio quarto. Se perguntava se havia bebido e transado, uma vez que não tinha noção do porque ele estava ali.
Assim que ele acordou, Asahi dobrava as roupas dele pelo quarto, guardando-as em sua gaveta, e estava na base, estranhamente, dormia ali com ele desde o acidente. Ao virar-se, viu o outro sentado e por um momento achou estar sonhando, devia estar, mas os batimentos cardíacos dele diziam que não. Quase pulou em direção a cama do outro e indicou a cama. 
- Kazuma... Deite, você não pode levantar.
- Por que não? 
O maior disse ao vê-lo se jogar para si, quase como se estivesse a cuidar de algo pronto para se quebrar. Franziu o cenho sem entender.
- ... Você não se lembra de nada?
- Não. Diga logo, rapaz!
Asahi uniu as sobrancelhas. 
- Deite então. - Disse a ajuda-lo a se deitar. - Você havia ido me visitar na igreja, subimos em direção a torre mais afastada... Para... Namorar. Quando estávamos descendo, um dos soldados inimigos jogou algo na escada, por cima. Foi uma explosão enorme, por pouco você não morreu, mas você é de pedra então, sabia que iria ficar bem...
- Prestes a chegarmos ao fim dessa maldita guerra e esses filhos da puta continuam com isso. Meus homens os atacaram? 
- Sim... Fizeram duas tropas. Você bateu a cabeça, eu achei que não ia saber quem eu era quando acordasse.
- Quase não soube. Não me lembro de ter ido até a torre ou coisa assim.
- Hai... Eu imaginei. Que bom que você acordou... Não saberia o que fazer se não se lembrasse de mim...
- Tenho uma boa memória, seria difícil acabar com ela.
Asahi sorriu, deslizando uma das mãos pelos cabelos dele, impedido pela faixa.
- Acabei de te dar um banho.
- Espero que não tenha ido além dos limites, padre.
- Bem, eu tive que limpar seu corpo... Não o toquei intimamente. - Disse a se corar.
- Espero mesmo, o mataria.
Asahi sorriu e abaixou a cabeça, negativando. 
- Senti sua falta...
- Quanto tempo estive desacordado?
- Três dias...
- Tsc, sabe alguma coisa de minhas tropas?
- Não, eu sou só um padre... Mas cuidei de você.
- Pode pedir que alguém venha me informar?
- ... 
O menor uniu as sobrancelhas e ergueu-se, assentindo conforme seguiu para a saída.
- O que há, padre? - O maior indagou ao perceber seu semblante afetado.
- Nada, vou chamar um soldado e voltar para a igreja.
- Diga, Asahi.
- Sempre que você acorda, só pensa nesse maldito exército! Eu cuido de você e sou jogado de lado, estou cansado!
- Não o joguei em lugar algum. - Disse o maior em resposta ainda que estivesse surpreso por sua força de expressão. - Tenho vidas a cuidar, Asahi. Envolveu-se com um militar.
- Que vidas? A guerra já quase acabou! ... Esqueça.
- As vidas dos homens que atacaram os que fizeram isso a mim.
O menor assentiu e novamente seguiu para a saída, avisando a enfermeira que chamasse um dos soldados.
- Como você não se feriu? 
Kazuma indagou ainda assim, uma vez que o rapaz ainda no cômodo. Asahi virou-se a ele, observando-o meio de canto. 
- Você me abraçou.
- Hum, ao menos algo pude fazer.
O menor assentiu a unir as sobrancelhas e observou-o na cama. 
- Vou deixá-lo resolver os seus problemas.
- Não há necessidade. Agradeço por seus cuidados, Padre.
Asahi assentiu conforme o ouviu, embora não quisesse aquele tipo de agradecimento.
- Por que está tão indignado hoje?
- Não estou indignado, eu somente queria que ficasse feliz por me ver, uma vez ou outra.
- Asahi, você me diz que acabei de acordar após três dias desacordado, após um ataque inimigo, após uma explosão, que minha tropa revidou o ataque, e espera que eu não queira saber o que está acontecendo lá fora uma vez que eu não me lembro de nada que ocorreu previamente ao ataque?
O menor assentiu, ainda um pouco chateado, porém sentou-se na poltrona ao lado da cama dele, silencioso.
- Pense um pouco, rapaz. As coisas não são tão simples.
Disse o moreno e até o tocou em seus curtos cabelos louros. Numa tentativa de lhe dar algum conforto.

- As vezes eu queria que fossem. - Falou a ele num suspiro e uniu as sobrancelhas. - ... Devo voltar para a igreja.
- Esteve aqui por três dias?
- Nem pisquei.
- Você se alimentou? Enviaram mantimentos à igreja?
- Enviaram sim, eu estou me alimentando bem, não se preocupe.
- Você dormiu?
- Um pouquinho. Dormi por poucas horas.
- Deite-se. Primeiro preciso de analgésicos, estou quebrado.
- Hai, eu vou chamar a enfermeira, não preciso me deitar, estou bem.
- Eu estou bem, você pode se acomodar.
Asahi assentiu, porém antes de se deitar, indicou a enfermeira que trouxesse os medicamentos.
- Agradeço, Hana. 
Kazuma disse a ela que após a medicação analgésica deixou o quarto, não sem antes parecer repreender o jovem padre por ali. O menor uniu as sobrancelhas a observá-la e abaixou a cabeça, rindo baixinho.
- O que aconteceu? - O maior indagou ao vê-lo rir, para si mesmo.
- Hana fica me mandando ir descansar já tem três dias.
- Então descanse.
- Hai... Posso me deitar com você.
- Venha. - Kazuma disse e teve espaço suficiente para permiti-lo fazer.
Asahi assentiu e deitou-se junto a ele na cama, cobrindo-se logo em seguida.

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