Masashi e Katsuragi #1


Katsuragi fechou os olhos por alguns segundos, espirando a fumaça do cigarro preso à cigarrilha e suspirou, não havia de fato um jovem bom naquela noite, geralmente era isso que acontecia, quando eles vinham a si, sempre eram terríveis, não entendia, tinha até raiva de atender tantas porcarias como aquelas num dia. Sempre fora sozinho, cuidava de tudo sozinho, dos problemas, do bordel, e sempre cuidaria. Tivera azar de cruzar com um vampiro alguns anos atrás, por isso agora os olhos eram vermelhos, principalmente quando se alimentava de sangue humano, e adorava provar alguns dos garotos, o problema é que só na última semana havia matado três deles por não saber se conter, eram deliciosos, o sangue novinho, quente, agitado, não podia resistir, ainda mais às crianças. Pigarreou, saindo dos devaneios e cortou a apresentação do garoto, sem nenhum atrativo que havia adentrado o local.
- Próximo! - Desviou o olhar, entediado e por fim observou o pequeno que continuava ali. - Você é surdo? 

- Desculpe, mas eu vim de tão longe para... 
-Você sabe o que fazemos aqui?
Katsuragi levantou-se, e parecia que nunca iria achar uma distração, o garoto era de fato irritante, odiava aquele tipinho.

- Sim senhor.
Ajeitou os cabelos longos e presos e o quimono, negro estampado com alguns dragões em vermelho vivo.
- Então sabe que não serve para essa vida.

- O... O que?
- Já se olhou no espelho, garoto?
Observou-o, suas feições assustadas, principalmente ao notar os olhos vermelhos que o observavam.*
- Você não tem nenhum atrativo. Não sabe cantar, não sabe dançar, seu corte de cabelo é sem graça, suas roupas me dão agonia e sinceramente, eu não beberia nem o seu sangue se quisesse me dar, não serviria de alimento nem aos cachorros.
Observou a face da criança e negativou ao vê-lo chorar, o rostinho tão pequeno e cheio de lágrimas, segurou-o entre os dedos e observou-o.
- Ah, não chore. Eu não tenho pena de você. Agora saia do palco, tenho coisas mais importantes a fazer.
Suspirou e voltou a se sentar, já desistindo daquele lugar e pegou mais um cigarro no maço.
- Próximo.

O rapaz caminhou pelo hall até alcançar as cortinas do palco de apresentação. Por um instante até se virou ao pequenino que corria a fora dali, chorando. Sentiu pena, mas não tinha como sair dali para consolá-lo afinal, era chamado agora. E aquele era o tipo que mais gostava, os frágeis. Seguiu pelo palco até o centro, não queria cantar, não queria dançar, portanto em movimentos que julgou provocantes o suficiente para um cortesão, serviu chá ao homem ali.
Katsuragi levou uma das mãos sobre a face, deslizando por ela a acariciar a pele, irritado com aquele show idiota dos garotos sem talento e somente se deu conta de que ele já estava ali ao sentir o cheiro do chá. Aos poucos desviou o olhar ao rapaz e arqueou ambas as sobrancelhas, suavemente, observando seus movimentos sutis, que de certa forma, funcionaram para si, e era tão bonito, não se lembrava em quanto tempo não via alguém assim, capaz de tirar o fôlego de si só ao observá-lo.
- Qual é o seu nome, garoto?

- Sou Masashi, Senhor.
Masashi disse ao rapaz, que usava maquiagem, um batom escuro, fina maquiagem nos olhos, quase não poderia vê-lo se não fosse observador em tal quesito. Delicadamente rodeou a base da xícara, e ergueu a bebida morna à medida. Possuía um odor leve floral, gengibre e hortelã. E descansou pequenas folhas sob a lateral do recipiente, enquanto o observava, e estranhou a tonalidade de seus olhos, eram escuros, mas tinha neles um brilho vermelho refletido.

- Hum...
Katsuragi observou atentamente cada movimento dele, ouvindo o som das folhas sobre o prato, o líquido a ser despejado na xícara, tudo com lentidão interminável e sobre o cinzeiro apagou o cigarro, embora fosse totalmente incomum que deixasse um cigarro antes de seu fim. Segurou-o em sua mão antes que ele pudesse se afastar e levantou-se, aproximando-se dele e aspirou o aroma de seu pescoço, seus cabelos que cheiravam a flores, a pele que cheirava a banho e sentiu até o sangue que corria em suas veias, agitado. Tinha velos cabelos médios e negros, alcançavam quase a metade de suas costas, se lembrava de ter visto olhos cinzas bonitos como aquele antes, mas naquele momento, não associou a nada, sua pele branca e quente indicava que era humano, era suavemente mais baixo que a si, poucos centímetros, era realmente o mais bonito que havia visto na noite. Excitou-se, mas não disse a ele, nunca diria. Afastou-se a observá-lo melhor, seu rosto bonito e mordeu o lábio inferior, suavemente.
- Você é muito bonito, de onde veio?

Masashi abriu os olhos, surpreso evidentemente ao ser puxado. E sentiu na pele um leve sopro de sua proximidade enquanto o aspirar de suas narinas eram audíveis ante a pequena longitude o que fez a nuca se arrepiar. E afastou-se, o quanto pôde, na menor chance que teve.
- Algumas cidades distante daqui.

- Não, não fuja. - O maior disse a ele e estreitou os olhos. - Eu odeio isso, não seja covarde. Além disso, eu não estragaria a minha mercadoria, não é? - Sorriu e voltou a se sentar.
- Não pensei que fosse.
Disse o menor, negando a possibilidade de ser ferido por ele ou algo semelhante. Afastou-se por reflexo, e por sua proximidade demasiada, embora naquele ramo provavelmente fosse ficar ainda mais próximo de outras pessoas.
- Se quiser ficar aqui, terá que aceitar isso, eu sou intrometido, gosto de ficar bem perto dos meus garotos. Aceitaria isso?
- Vou me acostumar.
Masashi sorriu ao outro cortesão, o que supôs ser o dono do bordel conhecido há cidades dali.

- Hum... E o que você faz aqui? Seja sincero... É bonito demais para estar aqui por acaso.
O menor pendeu-se suavemente num agradecimento breve e voltou a fitá-lo. Não queria responder a questão e tentou através do agradecimento desviar a resposta.
- Agradeço o elogio, Senhor.

- Me responda. - Katsuragi disse a ele, abrindo um pequeno sorriso.
- Quero estar aqui.
- Hum... Já vi que não quer falar. Bem, está contratado. Keiko! - O maior gritou e viu a garotinha correr em direção ao salão, observou-a e sorriu de canto a ela. - Mande os outros embora. Já achei o garoto que eu queria.
- S-Sim senhor...
Masashi não queria citar os assuntos pessoais ao outro. Fitou-o por algum tempo esperando mais alguma pergunta, e que não veio. Sorriu diante do resultado do teste, embora não tenha lhe feito nada além do chá. Surpreendeu-se até mesmo pelo fato de que dispensara os demais sem saber de seus rostos e fitou a garotinha, que ao assentir deixou o lugar. Novamente agradecia-o com a reverência tênue.
- Antes de te dispensar... Não ligo de onde você tenha vindo, mas se ficar aqui, será leal a mim, entendeu? Se tentar fugir, eu quebro as suas pernas. Ninguém sai sem a minha autorização. Mais uma coisa... - Disse a observar seu rosto e suas expressões, tão bonitas. - Você é virgem?
O menor não lhe deu a palavra enquanto mencionava como quem tinha orgulho de soar desagradável às pessoas. Era altivo, mas não esperava encontrar algo melhor naquele lugar. E somente em sua última pergunta o respondeu.
- Sim.

Katsuragi mordeu o lábio inferior ao ouvi-lo e arrepiou-se, suavemente, mas não demonstrou a ele, assentindo em seguida.
- Entendo... Será mais caro então, meu garotinho.

- Eu... Posso saber se vou ser um cortesão que é ativo ou que é passivo? - Perguntou, receoso.
- O que acha que é mais caro? Qual das suas virgindades?
- Passivo.
O maior sorriu a ele, sem mostrar os dentes.
- Você é esperto.

- Vou ser os dois?
- Acha que tem vocação pra ser ativo?
- Naturalmente, sou homem.
- Hum... Mas você tem um jeitinho tão... Fofo.
Masashi observou o outro, desta vez não agradeceu o elogio porque não gostava muito dele.
- Digo, não se parece com os meus outros garotos, eles tem a expressão diferente, são malvados por natureza, gostam de abusar, de machucar, e muitos são indiferentes. Você é... Diferente deles, entende? Mas se diz que quer ser ativo, bem, então eu permitirei. Mas primeiro me mostre o que sabe fazer.
- Eh? - O menor indagou, confuso com o comentário. - Quer que eu faça algo em você?
- Ah, não, não, entendeu errado. Não o faria me comer, ia perder o dote que tem, mas quero que me mostre que tem jeito pra ser ativo, como quiser, é claro.
Masashi tateou os dedos a sua pele, embora estivesse sem temperatura e o achasse estranho o suficiente de tal forma. Seu ofego contra a pele fê-la se eriçar, não estava tão próximo, mas seu sopro atingiu a cútis. Beliscou suavemente o pequeno ponto al, e puxou-o de leve o suficiente para que não fosse repreendido. Os lábios deixaram um rastro de vermelho escuro em sua pele branca, adornando-a com o tom do batom que usava a correr pelo lóbulo de sua orelha e subir na região cartilaginosa. E ao se afastar de lá, fez-se próximo a seu rosto, e quase encostou em seus lábios, porém não o fez, ainda que estivesse próximo. Ambos os braços se voltaram de modo abrupto por suas coxas e enlaçando suas pernas por baixo, puxou-as contra si, que de joelhos tinha a altura de seus quadris visto que sentado até então, e acomodou-se entre as pernas do cortesão, fazendo seus quadris colidirem contra ao puxá-lo. Mas foi aí que deu cesso. 
Katsuragi seguiu os movimentos dele com os olhos, hipnotizado pela beleza dele, sentia-se arrepiar, e até mesmo a ereção se formar abaixo das roupas, sutil, mas ainda assim estava lá, e pedia por ele, como queria poder tocá-lo, senti-lo melhor, pele contra pele, por baixo daquelas roupas todas que ele usava devido ao frio do lado de fora, mordeu os lábios, sutilmente, cuidadoso para que não perfurasse e por fim o gemido sutil deixou a garganta ao sentir seus últimos movimentos, semicerrando os lábios e deixou-o ver as presas, pequenas, mas presentes, junto ao pequeno filete de sangue que escorreu da língua perfurada.
Masashi afastou-se, num modo abrupto e automático ao notar o filete rubro que corria por seus lábios, tingindo-os tão vivos quanto o batom nos próprios, já ofuscados pelos beijos em sua pele fria. O maior lambeu o sangue, sutilmente e sorriu a ele, deslizando uma das mãos pelo quimono impecável em seu corpo, sobre o abdômen.
- Hum... Você pode ser ativo.

Masashi assentiu e curvou-se brevemente num agradecimento.
- Ativo e passivo?

Katsuragi assentiu. O menor desviou o olhar a sua mão, sentindo através da roupa o deslizar de seus dedos pela região abdominal.
- E.. Agora eu vou com aquela garotinha?

O maior assentiu novamente e sorriu a ele.
- Vai dormir com os outros garotos... Mas tome cuidado, eu gostei de você.

- Tomar.. Cuidado porque gostou de mim?
- Ainda não percebeu o que eu sou, não é?
- Talvez...
- Hum, melhor continuar ingênuo.
- Não tenho muitas crenças.
- Se eu lhe dissesse que eu me alimento de sangue, acreditaria?
- Parece que sim. Seus lábios estão sujos de sangue, e sua língua também.
Katsuragi sorriu.
- Não consigo parar de pensar em como deve ser o gosto do seu sangue, tão quente, tão jovem... Morder seu pescoço enquanto toco esse corpo durinho e lindo... Ah... Você me deixa louco só de te olhar, Masashi.

O menor franziu as sobrancelhas, tornando-as próximas.
- Nem me conhece direito.

- Não preciso, essa é a mágica de trabalhar com sexo. - Sorriu. - Você não vai conhecer os seus clientes a fundo para transar com eles, você simplesmente vai lhes dar prazer. E você, tenho certeza que vai deixá-los muito felizes... - Mordeu o lábio inferior.
- Mas você não é meu cliente.
No entanto, o menor assentiu a seu comentário e levantou-se do modo como estava, ajeitando o quimono e as mangas dele.

- Mas podia ser. Por que acha que pedi para me seduzir?
- Pra ver o que eu sei fazer?
- Exatamente.
- Bem... E agora o que eu faço?
- Vá para o seu quarto, já está tarde, terá de aprender a dormir durante o dia.
- Eu já fico aqui a partir de hoje?
- Fica. Tem pra onde ir? Se tiver, esqueça.
- Tenho uma casa.
- Hum... Família?
- Não.
- Bem, não quero saber. Por enquanto vai ficar com os garotos, mas esqueça sua casa, não voltará pra lá.
O menor trancou os dentes, queria respondê-lo mas não fez, assentiu. Curvou-se em reverência e sorriu a ele.
- Espero por suas aulas.

Katsuragi assentiu a pegar o copo sobre a mesa, bebendo um pequeno gole do saquê.

Compartilhe:

DEIXE UM COMENTÁRIO

    Blogger Comment

0 comentários:

Postar um comentário