Yasuhiro e Yoruichi #4


Ao entrar em sua casa, Yasuhiro retratou-se por ele a seus pais a respeito das vestes. Novamente os cumprimentou na chegada e como sempre amenizava a situação, já que sua mãe, e tia, costumava ser dócil o bastante. No entanto, não perderia a oportunidade de importuna-lo, ainda que houvesse se emputecido com sua atitude, subiu por uma direção diferente e buscou encontrar seu aposento, o qual sorrateiramente entrou antes dele, como uma criança arteira. Sentou-se em sua cama e deixaria para conferir os adornos de seu aposento depois de sua chegada.

No caminho que fez para o quarto, Yoruichi tinha calma, e atenção ao cômodo, estava chateado, por isso não correria, e tentava não chorar enquanto não chegasse ao aposento. Quando adentrou, nem se deu conta de que o outro estava ali, o cheiro dele era inegável, mas estava pela casa toda, afinal, estava ali com seus pais. Conforme entrou, virou-se em frente a porta e deslizou-a até alcançar o limiar, e deslizou suavemente até o chão de mesmo modo, de cabeça baixa sentindo os fios que cobriram a face e mordeu o lábio inferior, tentando descontar a raiva numa pequena ferida que expeliu sangue e as pequenas gotas tocaram o tatami.
O loiro observou-o entrar no quarto, como ocorrido, imaginava que o odor seria camuflado pela estada dos pais ou mesmo o toque que lhe dera sobre a pele um pouco antes. Fechou a porta, parecia desapressado sobre tudo o que fazia, no entanto ajoelhou-se, o que era um pouco esquisito, pelo menos naquela localização, talvez se houvesse se ajoelhado um pouco mais próximo a pequena mesa de chá em frente a sua cama, não tivesse ponderado sobre o que fazia. Mas pôde sentir o odor que já conhecia, o mesmo que havia dado nos lábios alguns dias atrás.
- Tem um cheiro agradável.

O moreno desviou rapidamente o olhar a ele, sobre a própria cama e nem se dera conta de que os olhos brilhavam na luz. Voltou-se para frente rapidamente e limpou os olhos com a manga do kimono.
- O que você está fazendo aqui? Não pode entrar no meu quarto antes do casamento...

Yasuhiro notou um leve brilho em suas linhas d'água, o que fora escondido ao se virar novamente em direção a porta fechada.
- Você já me mostrou os ombros, o que é algo muito além de um quarto. Além do mais, mesmo casado não poderia entrar neste quarto, não moraremos aqui. - Levantou-se de seu leito, seguindo a seu encontro. - Me parece que tanto quanto eu, não é ligado as formalidades conjugais, então não imagino que as lágrimas sejam por estar sendo obrigado a se casar.

Yoruichi suspirou, mesmo que não fosse preciso respirar e lambeu o sangue dos lábios, limpando-o na medida do possível já que o pequeno furo não parava de expelir o próprio sangue. Não queria observá-lo, também não queria a companhia dele, não naquele momento.
- Pode sair, por favor? Não quero companhia.

- Certamente.
O maior retrucou, a educação com que formulou o pedido fazia levar mais a sério seu pedido, imaginava que a ponto de pedir daquela forma, merecia alguns minutos consigo mesmo. Caminhou em seu quarto no entanto e deliberadamente observou seus trajes, escolheu um quimono cor champagne e dourado, imaginava que bem lhe cairia com seus cabelos escuros em destaque e seus olhos amarelos. Levou a peça até sua cama e deixou bem disposto.
- Ficará bonito em você. - Disse e seguiu pela porta o qual não havia entrado. Estendeu-lhe a mão no entanto. - Venha, levante-se.

Yorucihi ouviu-o andar pelo quarto e se perguntava o que estava fazendo por ali, mexia nas próprias roupas, coisas absurdas que certamente se a mãe ouvisse, a faria desmaiar, mas já estava envolvido naquilo até o pescoço, e não se importava mais naquele momento. Ouviu-o falar consigo e ergueu a face, as lágrimas já secas e a boca arroxeada pela mordida, levantou-se, segurando sua mão.
Yasuhiro ajudou-o se levantar, como permitira que o fizesse.
- Espero não tê-lo ferido.
Disse ao moreno referindo-se a seu pescoço. No entanto seguiu para a saída, dando o tempo que pedia. Sendo assim seguiu a caminho da sala da jantar, o qual já aguardavam por um tempo.

O moreno observou-o por um pequeno tempo, e ainda parecia abatido, certamente se lembraria das palavras dele por um longo tempo. Viu-o sair, como havia pedido, estranhamente e se guiou em direção a própria cama, não tinha tempo para remoer palavras, havia sido ensinado que não deveria ter sentimentos por elas. Retirou as roupas molhadas, deixando-as de lado e o pequeno enfeite de cabelo guardou dentro do próprio baú. Trocou as roupas, limpando a maquiagem borrada em frente ao espelho, e refez o penteado dos cabelos, logo, descendo as escadas novamente para o jantar.
O loiro sentou-se à mesa e não foi indagado sobre o que acontecera com o moreno, os pais conversavam, e embora fitassem a si vez outra, aguardavam sem questões para o início do jantar. Um pouco depois via sua mãe soprar alívio, indicando a chegada de seu mimado filho. Observou-o com a veste que lhe escolhera, imaginava que propositalmente não a vestiria, mas surpreendeu-se ao tê-lo visto com o quimono.
- Eu tenho um bom gosto.

Yoruichi ouviu-o, é claro, e logo sentou-se no único lugar disponível deixado pelos demais, e terrivelmente, ao lado dele, claro, nem desviou o olhar ao outro, permaneceu a observar os pratos, aguardando a refeição.
Yasuhiro deu um tempo das provocações ao iniciar o jantar, havia perdido um pouco do "fôlego" para dar continuidade. Jantou em silêncio, como ele mesmo, e à mesa, pouco se ouvia de conversa, na verdade negócios de família, entre os pais. 
O moreno igualmente se manteve em silêncio, não era comum, mas nem os suspiros de tédio eram ouvidos da própria parte, apenas ouvia a palavra dinheiro, como se fosse uma forma óbvia de dizer que seria entregue a ele por uma quantia nos bolsos e pureza da raça, era entediante, ainda mais por saber que ele preferia um humano a si.
- Você está muito quieto, Yoruichi... O que aconteceu?
- Hum? Nada, Estou bem.
Tem certeza? Yasuhiro?
- Eu não o conheço, Oba-san. Ele sempre se comporta dessa forma junto a mim, então supus que era naturalmente seu gênio. Não é?
O moreno desviou o olhar a ele e assentiu por fim.
- Estou tranquilo, somente. 

- Certo. Após o jantar, lhe daremos alguns momentos com o Yasuhiro.
- Eu não o pedi.
Yasuhiro voltou o olhar a ele.
- Claro que pediu, disse que diria a sua mãe, porém tinha receio de ser mal interpretado, Yoru.

O moreno desviou o olhar a ele, meio de canto.
- Pare de mentir.

- Não precisa se envergonhar, sua mãe está propondo.
- Não estou afim, Yasu...
- Está até chamando ele por apelido?! ótimo!
- ... Hiro.
- Esse é outro apelido que se poder usar, Yoru.

O menor estreitou os olhos e por fim os desviou ao próprio prato.
- Certo, se vocês fazem tanta questão que eu fique com o meu querido primo. - Disse, obviamente irônico. - Eu fico.




Após o jantar, os pais se despediram do moreno conforme seguiram para seus afazeres juntos aos outros, e sabia, que queriam deixar a si com ele, embora parecesse errado vê-lo a sós antes do casamento, sem contar que estava magoado com ele, e não via motivos para vê-lo a sós, porém por fim, permaneceu sentado, aceitando o chá serviço pela serviçal.

Após o fim do jantar, não realmente precisasse, haviam sido deixamos a sós durante um chá. Yoruichi parecia reservado e contrariado sobre aquilo, como quem realmente dava importância as formalidades pré-casório, era contraditório. O loiro adicionou as cascas de laranja ao chá e tragou suavemente.
-  O que há, meu noivo tão reservado?

O menor desviou o olhar a ele, meio de canto e experimentou o chá, amargo mesmo, como ele pensou que gostasse.
- Se um noivo vê o outro antes do casamento, de modo íntimo, ele pode perder o interesse. Claro que esse interesse não existe.

- E você não quer que eu perca o interesse, ah? - Yasuhiro retrucou, estimulando sua voz de contradição.
- Você tem outros interesses.
- Você quer que eu tenha interesse?
- Eu não disse isso.
- Disse que se ficarmos a sós poderia perder o interesse, e não quer ficar sozinho comigo, é o que se pode deduzir.
- É o que as regras de etiqueta dizem. E também, acredito que eu não o mereça como o humano merece, não? Sendo assim, acredito que seja melhor não ficarmos sozinhos. Posso me retirar?
- É bem simples, já que muito o incomoda, ele não acha que pode ou tenta me segurar pelo pescoço. Você é mau educado mesmo que se ache muito cortês. Você tem um péssimo comportamento desde que cheguei, espera que eu pense que merece muito mais? Acha que algum homem irá aceitar sua prepotência, Yoruichi? Espera que eu o trate como um cavalheiro, quando por um beijo infantil você se impõe à mim? Não importa o quão dócil eu possa ser, não pense que vai me tocar na dor e vou respondê-lo com amor. Posso ser um ótimo noivo ou bom marido, ainda que pense que esse casório é superficial, posso ser um bom amigo, mas você se porta como um animal, é outro animal que você vai receber. Tente ser gentil, não tenho culpa se seus pais arranjaram um casamento de negócios a você, não ache que é o único, afinal meu casamento será o mesmo e nem por isso estou sendo um tirano.
Yoruichi desviou o olhar a ele, e em cada palavra só tinha vontade de novamente segurá-lo pelo pescoço, era um imbecil, e quanto mais o ouvia, mais se magoava.
- Talvez você devesse ficar com o humano mesmo se espera flores. Como espera que eu o trate bem se chega em minha casa com uma má reputação e fedendo a lavrador? Gostava mais de você quando não se envolvia com essa gente.
Disse a ele, e certamente o deixaria confuso, já que não havia falado com ele antes, mas isso se devia ao fato de que já o observava há anos, quase desde pequeno, assim que soubera que ele seria o próprio marido e aquele era o motivo de tamanho rancor em sua pessoa, havia se tornado uma pessoa rancorosa, e aquele era um modo de se camuflar de pessoas como ele, que tentavam machucar a si, mesmo sabendo que se casaria, procurava outro para passar o tempo, e aquilo para si era quase imperdoável.
- Se me dá licença, vou me deitar.

- Não lhe dou licença. - Disse o loiro, antes que tomasse a atitude de seguir para seu quarto, havia escutado o que dizia, embora não entendesse exatamente. - Qual é a minha reputação? Me informe, pois não estou sabendo. - Disse buscando realmente saber a que se referia, se tinha má reputação, ainda não havia chegado aos ouvidos. - Essa gente seria o humano em específico? Afinal, deveria dizer o quão mau cheiroso é seu odor de lavrador ao tocar uma pequena humana? Gostava mais de mim? Não pudemos nos encontrar até que o casamento fosse marcado, Yoru. Gostava de mim quando não passava de um "acho"? Um "acho" que vou me casar?
- Desde pequeno eu sabia que iria me casar com você, você não? Porque nossos pais conversavam todo fim de semana, com fábulas de como seria meu futuro marido, bonito, forte, cabelos loiros, olhos amarelados, pai dos meus filhos. Me encantei tanto com as histórias que eu ouvi, mas não podia conhecê-lo, só podia ouvir as histórias. Foi por isso que eu decidi observá-lo de longe, até perceber que estava me desrespeitando com um humano, bem menor do que eu, de olhos grandes e escuros, tudo que eu não sou.
Yoruichi disse, num sorriso ingracioso de canto e bebeu o restante do chá, desejando que fosse uma boa dose de saquê.

- Desculpe se sou ingracioso e mal educado. - Levantou-se finalmente, cansado de dialogar sozinho e somente ouvir insultos. - Estou cansado de ser insultado.
O maior levantou-se tal como ele, em sua resposta. Tomou-lhe o pulso sem dificuldades, ele sabia bem disso.
- Sabia de nosso casamento, mas nunca dei importância aos acordos matrimoniais, porém nunca o desrespeitei. Sou naturalmente fácil de lidar, sou curioso sobre outras raças, isso não faz de mim alguém de má índole. Você acha que me destratando fará você uma opção melhor? Já pensou que poderíamos ter sido bons amigos, primos, ainda que fossem tão diferentes? Faria sentido querer alguém, pensar que esse alguém quer outra pessoa e ao invés de competir para ser melhor, agir muito pior do que o outro? Não faz sentido ser frígido porque é diferente dele, ao invés de tentar superá-lo. E novamente, ainda que esteja dando argumentos desnecessários a você, nunca desrespeitei, não tenho sentimentos românticos pelo garoto, tenho algo mais fraternal do que amoroso, como eu citei, tenho curiosidade. Terei uma eternidade pela frente, devo sucumbir ao tédio eterno por não querer me misturar com uma raça inferior? Se me observou, já me viu toca-lo intimamente?

- Qualquer toque que você dê aquela criança é um toque íntimo. E não quero competir com ele, visto que desisti da pessoa que o procurava, não estou a altura de um reles humano. Sou indelicado, grosseiro, nada doce, irritante, e diversas outras coisas, você não precisa mais vir me ver. Me poupe de seus sermões.
- Nunca toquei o garoto, Yoruichi. Se você diz observar, deveria saber. E não espere que eu diga que é doce, se está sendo de fato grosseiro. Se eu agir com você como está reagindo a mim, vai me achar um doce?
- Eu já magoei você alguma vez?
- Não me magoo facilmente, Yoruichi, mas isso não diminui o fato de que foi estúpido. Eu o beijei, queria descontrair e ser capaz de me aproximar com uma brincadeira, posso não ser facilmente magoado, mas que é desagradável ser maltratado quando lhe provi algo delicado me parece algo que se possa magoar.
- Certo, sinto muito pela minha reação explosiva, se lhe conforta. Pode soltar o meu braço?
- Se quer ir apenas vá. - Disse o loiro ao solta-lo. - Mas que fique claro que nunca desrespeitei o acordo de nossos pais, nem você. Mas falarei com seus pais sobre o noivado.
Yoruichi uniu as sobrancelhas a observá-lo e assentiu, sentia um nó na garganta, mas era orgulhoso, e se ele não queria a si, preferia assim.
- Como quiser.

Yasuhiro assentiu apenas com a cabeça, não prenderia aquele rapaz. Sabia que seria difícil quebrar o acordo, mas tentaria. Sentou-se novamente, dando continuidade ao chá amargo como aquela situação toda.
- Mas claro que eu duvido que vá encontrar um companheiro tão legal quanto eu.
Disse, não perdendo a oportunidade de descontrair a situação.

O moreno virou-se a observá-lo, e por dentro queria gritar, com ele, com os pais, com aquele maldito humano, mas de certa forma, deu apenas um sorriso a ele, mostrando os dentes pela primeira vez, e seguiu em direção ao andar de cima.

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