Keisuke e Miruko #6


Keisuke pendeu levemente a cabeça para trás. As mãos se foram aos bolsos da calça como se não houvesse nada para fazer, tinha lição, mas preferia estar sentado na cama com as pernas estiradas e uma cara amarrada como se houvesse sido abandonado pelo mundo. Naquele horário muitos ainda tinham aula extra, mesmo as meninas do colégio, mesmo o companheiro de quarto, Miruko, que até hoje não sabia exatamente qual sua escolha extra curricular. Ao adentrar o bolso da calça, encontrou o aparelho celular, bem talvez pudesse acessar a internet e deixar o tédio passar, cutucou algumas letras mas ao perceber o ângulo, talvez tivesse uma ideia muito melhor. Não sairia do tédio agora por isso, mas mais tarde certamente. Da forma como estava pressionou o aplicativo de fotos, o dígito polegar levou ao cós da calça e com ele ergueu também a boxer cor vinho vívido que usava naquele dia e então num clique reservou uma lembrança que enviou para, podia enviar a alguma garota, mas nenhuma seria interessante quanto ele, e assim encaminhou a foto do chamado, Kei Júnior, para ele. No restante do tempo sabia que seria difícil tirar o sorriso gigante do rosto, nada gracioso, até que pudesse escancarar uma risada em sua chegada.

Um suspiro deixou os lábios de Miruko conforme ouviu o barulho do celular, imaginava ser alguma notificação inútil e ainda mais no meio da aula. Mas estava de saco cheio de estar ali na verdade, gostava de cozinhar, mas naquele dia especificamente aquele curso era um saco, sem contar que era o único menino da sala o que frustrava a si ainda mais. Na cadeira, ouvindo o professor dar a aula em frente a sala sobre algum assunto inútil, retirou o celular do bolso e olhou o remetente, Kei? Naquela hora? Estava no quarto já? Arqueou uma das sobrancelhas, mas distraído abriu a foto, o problema fora realmente estar distraído, ao abrir, arregalou os olhos e levantou-se quase automaticamente, sentindo a face queimar num tom vermelho.
- ... Algum problema, Miruku?
Desviou o olhar ao professor, e só então percebeu que era o único da sala que estava em pé, e todos os alunos olhavam a si. Negativou, meio "mecânico" e sentou-se novamente no próprio lugar, apagando a foto rapidamente antes que alguém pudesse ver.


Ao adentrar o quarto, Miruko observou-o sobre a cama e jogou nele o celular, irritado e estreitando os olhos. 
- SEU MERDA! Quase me fez ser expulso da aula!
Keisuke estava distraído com o livro em frente ao rosto, daquele modo não deu atenção quando abriu a porta. Claro, foi inevitável no entanto assim que o celular foi desferido e atingiu a canela. 
- Ai! - Disse e tocou a região esfregando-a rapidamente. Ainda assim, gargalhou.
- Caralho. Que porra você tem na cabeça de me mandar foto do seu pau? - Falou a aproximar-se dele e bateu em sua cabeça, claro, sem força.
- Achei que você ia gostar.
O maior disse e se afastou, cruzando os braços em frente ao rosto como se fosse evitar de apanhar.

- Ah ia no meio da aula de culinária, porra?
- Fora da aula então você ia?
O menor estreitou os olhos e novamente o bateu.
- Ai cacete! Só queria te animar pra dar o melhor de si na aula.
- Seu puto. Não faça isso de novo.
Keisuke riu, entre os dentes, evidentemente divertindo-se.
- Que porra você estava fazendo? Nada aposto.
- Então por que pergunta?
O maior estreitou os olhos.
- Estava terminando a lição, não tinha nada pra fazer, fui obrigado a estudar. As meninas estão na aula de culinária, inclusive você, onde estava?
- Eu não sou menina, porra. - Miruko falou com os olhos estreitos. - ... Fiz cupcakes. - Falou, e embora tenha feito para ele, não falou e deixou o saquinho sobre a mesa.
- Você está na aula de culinária?
Keisuke arqueou a sobrancelha, disse e pegou a embalagem, sentindo os bolinhos, embora estivesse interessado na resposta.

- Sim, ora, onde mais estaria cozinhando?
- Sua aula extra curricular é de culinária?
Miruko uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo e pigarreou, se dando conta de que havia dito sobre a própria aula. 
- ... Ah...
- Culinária, Miru? Você é tão nerd, achei que ia fazer parte, sei lá, club de livros, experiência química.
- ... - O menor desviou o olhar, envergonhado e assentiu. - Eu gosto de culinária.
- Hum, gosta de ficar rodeado de mulher. - O menor disse e somente então abriu o pacote, sentindo o cheiro suave de baunilha. - Parece gostoso. - Completou e então pegou o pequenino bolo, com a mão tirou um pedaço e levou para a boca. - Hum...  - Murmurou aprovando sua receita.Miruko sorriu conforme o ouviu, gostava de vê-lo animado com os doces.
- Oishi?

- É bem gostoso. Vai abrir uma padaria no futuro?
Miruko riu.
- Uma padaria?

- É, com doces, pães. Essas coisas.
- Sério? 

- Não... - Riu.
- Então por que as aulas?
- Quero aprender a cozinhar, ué.
- Só por aprender? Hum. Okay. - Disse o maior e voltou a morder o confeito.
- Acho que... Pessoas gostam de caras que sabem cozinhar, né?
- Hum, gostam? Bem, acho que sim. Eu gosto que você saiba cozinhar e me traga isso aqui.
Miruko riu.
- Certo, vou trazer mais vezes.
- Só não muito, porque tenho que continuar com a barriga plana. - Brincou.
- Tá bom. - Riu.
Keisuke sorriu a ele e tornou a comer o pequeno bolo, terminando com ele.
- Que bom que gostou...
- Também gostei de gostar.
- Eu faço algo bem feito ao menos.
- Ao menos, é?
- É... - Miruko sorriu.
- Sua mãe está sabendo da sua aula extra?
- Ela não precisa saber. Assim como não precisa saber que eu dei pra um cara.
- Mas ela vê sua grade com as notas.
- Quando ela ver, vai saber. Certamente vai querer que eu faça judô, karatê, futebol, sei lá. Não ligo.
- Não acho, ela provavelmente vai querer que faça algo tipo jornalismo. Sabe que sua mãe te empurra pra qualquer coisa que te tranque num quarto de estudos.
- Hum... Não vou fazer o que ela quer.
- Oh, meu garoto está crescendo e se rebelando! - Brincou.
O menor estreitou os olhos.
- Idiota.
- Hum, eu tenho que sair um pouco, nos encontramos a noite, ah?
- A noite? Onde vai? 
- Eu marquei de ver uma coisa.
- Uma coisa? Uma menina.
- É... Meio que é isso sim. - O loiro riu, coçando a cabeça e seguiu em direção ao banheiro. - Mas eu volto logo. - Dito, fechou a porta.
- Eu achei que... - Disse o menor, vendo-o fechar a porta. - Íamos poder passar um tempo... Juntos... Ta bem.

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