Broken Hearts #14


Ainda na cama, imóvel, Yori ouviu os passos do lado de fora, não era dele, sabia pela inconsistência deles e os sapatos que ecoavam um barulho chato no chão, era um sapato feminino, mesmo assim não se levantou, havia estado deitado na cama o dia todo, e embora os lençóis estivessem sujos de sangue, não se moveu para que ninguém trocasse. 

- Yori-chan? Bom dia. Trouxa seu café da manhã. 
O menor manteve-se inerte na cama, virado de costas e se quer a respondeu.
- ... Vou deixar aqui em cima. Coma... 
Após aquele tempo, o loirinho tentou se esticar, mesmo minimamente, porém sentiu os quadris doloridos, como se alguém os tivesse quebrado. Fora obrigado a voltar a se encolher, e de cabeça baixa, escondeu a face em meio ao cobertor e edredom, estava frio.
- Yori... Trouxe seu almoço... Você... Nem comeu o café? ... Bem vou levar o seu café e... Eu fiz purê de batatas, você disse que gostava uma vez. E olha... Trouxe alguns analgésicos. Quer tomar pelo menos os remédios?
O menor negativou ao ouvi-la e manteve-se virado, ainda imóvel e abraçou o travesseiro maior que havia na cama, silencioso. 
- Bem... Ao menos tome essa pílula pequena. Sabe o que acontece se não tomar. Hideki comprou algumas pra você, não... Não ter bebê. 
Yori desviou o olhar a ela, de canto e negativou, sem ânimo algum para comer ou tomar qualquer tipo de coisa.
- Vou deixar aqui na cômoda... Pode beber quando se sentir confortável. Haiiro-chan está comigo na cozinha, se precisar dele... É só chamar. 
Ao sair, a empregada seguiu em direção a cozinha, e estava começando a se preocupar, então, no interfone, discou o número do quarto do outro. 
- ... Senhor? É o Yori.
Hideki desceu do quarto até o cômodo de baixo, observou a serviçal brevemente que parecia se reprender por incomodar o próprio sono. Ainda tinha uma pequena fresta de luz diurna, embora não fosse assim tão cedo. Após a parada rápida, desceu uma segunda escadaria e encontrou sua porta, estava aberta. Ainda estava desarrumado, quer dizer, usava uma calça de dormir, estava sem camisa e os olhos estavam um pouco inchados. Não disse nada ao entrar, se sentou à beira da cama e sem dificuldade tomou os braços do garoto, acomodando-o na cama e separou suas pernas de modo que não lhe causasse dor ao se sentar e após coloca-lo sentado, arrumou a roupa de cama a cobri-lo e pegou o comprimido na bandeja, assim como a água que ajudou a beber ao guiar para sua boca.
Ao ouvir os passos, dessa vez, Yori sabia que era ele, embora diferente, não usava sapatos. Desviou o olhar a ele ao vê-lo entrar e sentou-se puxado da cama, o gemido dolorido deixou os lábios, pouco mais alto que de costume e observou-o conforme se sentou, o problema não eram as próprias pernas. Tinha marcas arroxeadas onde ele havia batido na noite anterior, o pescoço e pulso haviam marcas de onde havia sido preso e tinha um pouco de sangue seco sobre a testa onde batera. Ao observá-lo com o copo d'água, virou a face de lado, mantendo a boca fechada mesmo conforme o viu trazer o comprimido para si.
Hideki segurou sua cabeça diante da insistência, tocou sua nuca onde evitou que se virasse. Somente então pressionou o remédio em sua boca. 
- É melhor você tomar isso, a menos que queira gerar um filho.
Yori uniu as sobrancelhas conforme o sentiu empurrar o remédio para si e abriu a boca, deixando-o colocar a pílula sobre a língua e por fim pegou o copo, bebendo um pequeno gole da água, suficiente para engolir o comprimido.
O maior piscava um pouco mais firme, tentando se acostumar com o sono recém arrancado de si. Ainda assim se levantou e pegou o garoto, sustentando sem dificuldade sobre um dos braços enquanto arrumava sua roupa de cama. Yori novamente gemeu ao ser levantado e negativou, agarrando-se a ele, conforme sentia o corpo dolorido. 
- Não! M-Me solta...
- Estou somente trocando o lençol. 
O mair disse, juntando forças para não dar umas palmadas nele, era ruidoso demais. O loiro uniu as sobrancelhas conforme fora colocado novamente na cama e buscou o cobertor, cobrindo o corpo rapidamente, já que usava só a roupa íntima. 
- ... Eu não ia embora.
Hideki ignorou-o, não era um bom ouvinte naquele horário. Ao descobri-lo novamente, arrancou sua roupa íntima que era fina e fácil e rasgar. Deu a ele a roupa íntima que estava bem dobrada e trazida pela serviçal hora antes. O menor observou a roupa dada a si, e negativou, não havia se lavado ainda e não gostava de usar roupas limpas daquele modo. 
- Eu não ia embora!
- Eu já ouvi! Você ia embora sim seu moleque, não sou otário. Eu ouvi você dizer ao gato que precisariam correr, não tente me enganar. Não me importa, você pode ir embora.
Disse o moreno e por fim pegou seu desjejum, pegou um pedacinho do pão agridoce e indicou a ele, evidentemente mais paciente.
Yori negativou ao ouvi-lo e virou o rosto conforme viu o pão.
- ... Eu queria ir porque tinha medo, fiquei com medo de você fazer aquilo de novo, me pegar a força... Então eu peguei o Haiiro e queria mesmo fugir, mas você havia falado comigo na noite anterior e foi tão gentil... - Murmurou, abaixando a cabeça. - Ophelia me disse que seria seu aniversário... Eu só queria ir até a minha casa, pegar as minhas roupas e... Algo meu pra você. Mas pra sair eu teria que correr, ou você iria me ver. Eu não ia embora...
- Mentiroso, não gaste saliva. Não acredito em você. - Hideki levantou-se. - Coma, você pode subir e tomar banho.
O menor uniu as sobrancelhas e negativou, segurando-o pelo pulso. 
- ... Não.
- O que? Gostou da noite passada? 
Hideki disse e sorriu a ele, embora desprovido de graciosidade. O menor soltou o pulso do maior, encolhendo-se ao ouvi-lo. 
- ...
- Sinto muito garoto, não acredito em você.
- E por que acha que eu continuo aqui mesmo tendo me mandado ir embora?
- Porque não consegue nem limpar a testa.
Yori franziu o cenho, irritado e novamente se deitou, virando-se de costas a ele.
- Você vai querer que eu o leve até o banheiro ou consegue ir?
- ... Me deixe em paz.
- Você precisa comer, garoto. Minha serviçal me acordou preocupada com você.
- Você não quer que eu morra?
- Que pergunta idiota é essa? Se quisesse morto teria sentado e assistido sua apresentação na ponte.
- Ontem mandou eu ir me matar várias vezes. Então me deixe morrer.
- Eu não disse que fosse se matar, eu disse que podia fugir para fazer isso se era o que queria tanto.
- Eu não quero fugir. Só não quero ser tratado como um prisioneiro.
- Não estava, te deixei correr livre pelo lugar. Faça o que quiser, pare de tentar se explicar, não queria fugir, uh, pegou até alho. Patético.
O menor suspirou e devagar se apoiou na cama, levantando-se lentamente, como conseguia, e caminhou em direção a porta, iria ao banheiro tomar banho, embora se apoiasse nas paredes. Hideki observou com impaciência sua caminhada vagarosa, acabou por pega-lo e joga-lo no ombro como já fazia antes, levou-o até o cômodo onde ia a se banhar. Após deixa-lo seguiu a busca da serviçal que enviara para o preparo de seu banho. Yori negativou, gemendo dolorido conforme o sentira pegar a si e agarrou-se nele, em sua pele já que não havia camisa. Após deixa-lo, Hideki seguiu para os aposentos de onde a pouco saíra, aproveitou para se recompor, se banhar e se vestir.
- Hum... Tudo bem, Yori-chan?
O menor assentiu a serviçal, desviando o olhar a ela e sentiu o toque dolorido sobre a testa conforme ela fazia em si um curativo.
- Tem que comer alguma coisa.
- Preciso ir até a minha casa, Ophelia. 
- Quer fazer o que na sua casa? 
- ... Me diz a verdade, o Hideki é casado?
- Eh? Não! Por que ele seria casado?
- Então... O que acontece com ele, por que ele me deixa preso aqui embaixo?
- Bem, você é um humano, somos vampiros aqui. Temos costumes bem diferentes, não vivemos de dia, quer dizer, não tão cedo. Sendo humano é senso comum que tenha medo dessa espécie, logo poderia partir. E por último, você queria acabar com sua vida, se o deixasse solto, qual seria o motivo para ficar antes de então conhece-lo?
Yori assentiu ao ouvi-la, abaixando a cabeça. 
- Hideki não me parece alguém agradável... Ele me estuprou duas vezes.
- Informação demais. - Disse ela com um sorriso. - Infelizmente vampiros não são tão dóceis como seres humanos comuns.
- Hum... Como se você não pudesse ver as marcas no meu corpo. - O menor disse em relação a informação. - ... Seres humanos não querem ser tocados de modo tão rude.
- Senhor Hideki é temperamental. Ele é bipolar, pode estar muito feliz e muito raivoso alguma vezes. Não vou dizer para ficar, vejo que ele o liberou, mas com o tempo se torna uma boa convivência. Vampiros são muito sexuais, e também são muito fortes, se ele não quebrou nenhum ossinho é porque tocou você como tocaria outro vampiro normalmente, mas ele é jovem, ele ainda vai aprender a lidar consigo mesmo.
Um suspiro deixou os lábios do loiro, assentindo a ela. 
- ... Não vou embora, mas quero comprar um presente de aniversário pra ele. Será que você pode me ajudar? Aliás... Quantos anos ele tem?
- Como vocês parecem brigados, acho que o presente ideal estaria em alguma atividade cotidiana. Meu senhor também gosta muito de uma boa refeição. Ele fará oitenta e três. Pode parecer muito para um humano, mas para um vampiro isso é pouco.
- Uniu as sobrancelhas ao ouvi-la. Oitenta?! Ah... Eu... Sei fazer doces...
- Oitenta e dois precisamente. É como um jovem adulto. - Disse ela a sorrir. - Talvez possa fazer um bolo. Mas precisa usar sangue nas receitas. Posso ajuda-lo de quiser.
O menor sorriu e assentiu a ela. 
- ... Eu tinha um ursinho, será que se eu pedir a ele... Ele trás pra mim? Sei que é infantil  é ridículo. Mas eu gostava dele.
Ao ouvi-lo ela riu, achando graça no pedido. 
- Achei que fosse mais maduro, Yori-chan. Mas ..  Talvez pedir pra irem juntos buscar o urso.
- Ele não vai comigo. Está quase cuspindo na minha cara, ele não gosta de mim.
- Se não o apreciasse não teria o mantido por aqui.  Ele é um pouco explosivo como lhe disse, em breve seu humor deve suavizar.
- ... - O loiro abaixou a cabeça. - Não tenho mais nada Ophelia... Nem ninguém.
- Por hora tem o senhor Hideki e a mim também.
O loirinho desviou o olhar a ela, unindo as sobrancelhas e assentiu.
- ... Ophelia, quantos anos você tem?
- Por que a pergunta?
- Curiosidade...
- Tenho cem anos redondo. Sou mais velha que o senhor Hideki, mas sou uma vampira transformada. Fui lavada a casa dele quando tinha dezessete anos, ele havia acabado de nascer.
Yori uniu as sobrancelhas. 
- ... C-Cem anos...
- Sim, mas diferente do Hideki-san, eu não nasci como um vampiro então o peso do tempo me é ainda maior.
- Ah... Deve ser horrível não poder sair e ver o sol.
- Podemos ver o sol, somente não sentir os raios na pele. A noite ainda assim é muito mais bonita.
- É, eu concordo. - O menor sorriu e encolheu-se conforme sentiu o estômago doer, sentia fome, mas nada disse. 
- Me ajude a sair... Quero... Vê-lo.
- O sol ou senhor Hideki? 
Ela indagou enquanto recolhia o roupão para ajuda-lo no término de seu banho.
- Hideki... Está nevando, não tem sol... Mas não acho que ele vá querer me ver.
- Vai ficar bem. - Ela tateou levemente o garoto, nada muito íntimo, ajudando a se secar e entregou uma toalha para os cabelos. - Vá em frente.
Yori assentiu, agradeceu numa reverência e em passos lentos seguiu para fora do banheiro. Estar naquela parte da casa era estranho, não havia estado ali até então, quando subia, o fazia vendado pela serviçal. Agora tinha todo o espaço para si e a última porta do corredor estava aberta. Observou dali e devagar, curioso seguiu até ela. Cessou os passos ao chegar em sua frente, analisando o local adentro e timidamente adentrou, segurando a toalha ao redor do corpo.
- ...

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1 comentários:

  1. Yori! Nossa! Nossa, to sem palavras! Gente que coisa!!!! Esse menino..mas que bom que finalmente ... FINALMENTE se decidiu #AssimEsperamos agora é aguardar para ver o que irá acontecer nesse encontro.

    Muito obrigada pelo capítulo sensacional Kaya!!! Tá muito boa a fic!!! <3

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