Masashi e Katsuragi #3


Ao sair da casa de banho, Katsuragi arqueou uma das sobrancelhas, na verdade estava irritado consigo mesmo, irritado por sentir vontade do garoto, por se sentir atraído por ele. Voltou-se para dentro da casa de banho mais uma vez, e já podia ver os garotos que se levantavam seguindo para lá.
- Vamos, eu termino o que estava fazendo.

- Deixe eu já estou sem ereção... Tenho aula.
- Hum... - O maior arqueou uma das sobrancelhas e assentiu.
Masashi ajeitou o quimono e arrepiou-se com os cabelos de pontas úmidas, cumprimentou-o em reverência breve e deixou a casa de banho. 
- Maldito garoto...
O maior falou baixo, para si mesmo e seguiu em direção aos outros, observando-os enquanto tomavam seus banhos, se achavam bonitos, coitados, nunca seriam como ele.
- Vamos logo, vão ter que trabalhar muito.

O menor seguiu ao quarto coletivo e selecionou a peça simples, um quimono para a aula. Secava os cabelos, afagando-os com um tecido. E sentou-se nada cama, pensando por um momento, ele estava realmente interessado em si? Perguntou-se mudamente. Era estranho imaginá-lo, era tão desagradável durante o serviço no bordel. Já havia bisbilhotado durante os horários de pico.
Katsuragi suspirou na saída dali e voltou ao quarto para ajeitar os cabelos e trocar de roupas, há algumas horas os garotos iriam começar o serviço e os pequenos, aprender como trabalhar, não o mandaria para frente ainda, queria treiná-lo, por sim mesmo.
Masashi descansou alguns minutos  quanto pôde antes de ouvir a repreensão do dono do bordel. Sentou-se na cama e buscou por lá a tinta para os lábios, vermelho vinho. Fez menção de levar o pincel ao lábio, no entanto foi interrompido e sentiu o toque das mãos do mais velho, que pegou o acessório e guiou por si mesmo as cerdas tingidas aos lábios, pintando-os. 
O maior abaixou-se em frente a ele, observando-o de perto, suas feições que tanto gostava e segurou o pincel entre os dedos, guiando-o a seus lábios por onde deslizou e pintou-os de vermelho, e desejou que fosse sangue para que pudesse lamber, mas não disse a ele. Sorriu, mostrando ao outro as presas pequenas e deslizou um dos dedos por sua face.
- O que mais você usa de maquiagem, querido?

O menor ergueu o queixo e voltou-se, suavemente descerrou os lábios deixando as cerdas passearam pelo local até finalmente cobri-los inteiros.
- O khol.

- Hum, então fique parado.
Katsuragi disse a ele a pegar o objeto ao lado e aproximou-o de seus olhos castanhos, mas lindos de mesmo modo. Masashi a
ssentiu e fechou os olhos, sentindo a cerda firme do pincel passear sobre a pálpebra, rente ao cílio. O maior deslizou o pincel por um dos olhos dele, e logo o outro, observando-o a afastar-se pouco e sorriu.
- Prontinho.

Masashi permaneceu com os olhos fechados por um tempo, esperando a tintura secar. E só então se voltou ao moreno. 
- Mas prefiro você sem maquiagem.
- Mas vou ter que usar com os clientes.
- Não terá clientes ainda.
- Mas preciso aprender a ficar arrumado.
Eu vou te ensinar.
- Ainda não ficou bom assim?
- Hum, está lindo. - Sorriu. - Como de qualquer jeito.
- Me dará aula hoje, Katsura... Mãe?
- Está pronto? A aula é agora.
- Estou pronto.

- Então vamos. Só vou pegar meu chicote.
- Chicote por que?
Katsuragi riu baixinho.
- Estou brincando, era só pra te assustar.

- Eu não faço errado pra me chicotear.
- Falei brincando, mas ia adorar ver uma ferida abrir nas suas costas. - Mordeu o lábio inferior.
- Desagradável. - Grunhiu, desgostoso.
- Não pra mim, que me alimento de sangue.
- Não estou falando do sangue e sim da ferida.
- O que tem? Seria uma delícia.
- Não. - Masashi resmungou. - O que faremos hoje?
- Vou te ensinar a agir em algumas situações. Venha, vamos para a sala.
O menor caminhou logo atrás dele, dirigindo-se até a sala onde indicado. Katsuragi adentrou o local, ao lado do próprio quarto, no andar subterrâneo e tinha as paredes num tom de vinho, mas era bem iluminada.
- Preste atenção nessa sala, garoto, não vai achar uma igual a essa em todo o Japão ou China, é para clientes especiais, que tem dinheiro pra pagar, que gosta de usar o seu amado chicote, mas nunca deixaria que marcassem seu corpinho lindo.

Masashi entrou no quarto, notando a decoração lasciva com um ar evidentemente erótico, parecia agradável de estar ali, era excitante até sua meia palavra sobre a seção de sadomasoquismo, o que com certeza não queria participar, exceto que fosse o praticante.
- Alguns clientes pedem para serem feridos?

- Alguns gostam, gostaria de machucá-los?
- Prefiro do que ser machucado.
- Hum...
O maior mordeu o lábio inferior a observá-lo e assentiu, indicando que se sentasse no sofá ao canto. Masashi c
aminhou até o sofá e sentou-se no lugar imensamente confortável e sentiu inveja pelo fato de que não dormia ali ao invés do futon.
- Hum, hum. Vamos ver, você já me provou que sabe agir como ativo, mas, você tem outros dons? Canta? Dança bem? Em sua primeira vez comigo só o vi servir chá para mim.
- Posso dançar.
- Eu quero ver...
- Sem... música?
- Ah, eu posso tocar pra você. O instrumento, digo.
- O que você toca?
Masashi indagou, curioso sobre que tipo de melodia combinaria com o cortesão.

- Hum, eu toco Shamisen, flauta e aprendi a tocar piano e violino quando saí do Japão há alguns anos. Infelizmente não tenho um piano, de restante, é só me dizer o que quer.
- Shamisen.
- Certo, tocarei então.
Katsuragi falou a ele e sorriu, deixando o local por um minuto a pegar o instrumento no próprio quarto e retornou, ajoelhando-se numa almofada ao canto.
- Quero ver você dançar.

- Mas não tive aulas de coreografia ainda, então...
- Não tem problema.
O menor assentiu, não queria dançar, mas não tinha escolha ou tinha? Observou-o no posto e aguardou pelo início da música. O maior dedilhou as cordas, devagar enquanto o observava e sorriu a ele, sutilmente.
Masashi fechou os olhos, não queria olhar pra ele. Sentia-se como um aluno em prova, sentado a frente de toda a sala. E desse modo ignorou sua presença, deixando somente a música vinda dele, iniciou o ritmo, passou a dançar.
Katsuragi sorriu novamente, sem mostrar os dentes e o observava, cada movimento, de suas mãos, do kimono que balançava conforme ele se movia e suspirou, por pouco não havia errado as notas, tinha que se concentrar muito perto dele.
Sem alternar o ritmo, Masashi prosseguiu com leveza, junto ao ritmo da música. Com alterações mais fortes do toque, um ou outro movimento mais brusco e voltava com suavidade. Quando enfim se sentiu acostumado, abriu os olhos e fitou o mais velho.
O maior mostrou os dentes finalmente num sorriso satisfeito ao vê-lo observar a si, e não pararia de tocar, até que ele o fizesse, afinal, não adiantava ser um garoto de programa se era tão tímido, a menos que fosse apenas passivo. Cessou a música com pequenos toques e levantou-se.
- Excelente.

Com o fim do ritmo, Masashi logo cessou igualmente o próprio e suspirou ao parar, observando ainda o chefe cortesão.
- Você não atende os clientes?

- Está perguntando se eu sou prostituto também?
- Sim.
- Não. Faz uns... Dez, vinte anos, que não toco ninguém.
- Nunca foi um?
- Hum, quando eu era mais novo.
- Gostava? - O menor sorriu e sentou-se deliberadamente.
- Não iria gostar de ouvir a minha história, garoto. Bem, tenho algumas dicas pra te dar. - Katsuragi levantou-se, ficando em frente a ele. - Tem que ser mais suave com os movimentos das mãos, mova-as se seduzindo a pessoa que o esta assistindo. - Moveu uma das mãos, delicadamente, puxando suavemente a manga do quimono. - Viu?
- Eu entendo. Só não consigo fazer isso a sua frente. Meus clientes não vão reclamar.
- Terá que aprender a ficar confortável na minha frente, afinal, eu sou o desafio.
- Hum... Acho que os clientes são o desafio, vou ter de agradá-los. A você eu faço o dinheiro, e a eles o sexo e os fetiches, não é assim?
O maior assentiu, mordendo o lábio inferior, queria poder dar um tapa no rosto dele toda vez que ele falava daquele modo, mas não disse nada.
- Certo.

- Não é assim?
- É, mas aqui eu sou o dono, eu sou o responsável, então fará o que eu quero.
- Eu sei, Senhor.
- Não me chame de senhor que eu não sou velho!
- Sim, mãe.
Katsuragi estreitou os olhos e suspirou.
- Terminamos por hoje.

- Eu não o acho velho.O maior guiou uma das mãos aos olhos e deslizou um dos dedos pela marca d'água, limpando o rastro de lágrima ali, mesmo sutilmente, e de costas a ele.
- Saia.

Masashi observou os detalhes de seu quimono às costas e caminhou devagarzinho até ele, a fim de que não fosse repreendido e tocou a manga longa da vestimenta, segurando com delicadeza a fim de não amarrotar a peça.
- Foi um termo respeitoso.

Katsuragi desviou o olhar a ele, de canto e assentiu, virando-se a observá-lo.
- Vou sair. Me desculpe.
O maior assentiu a unir as sobrancelhas, fitando-o enquanto seguia para fora e negativou somente.

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