Izumi e Tsubaki #3


- Mamãe, mamãe!

Izumi sorriu ao ver o filho esperando a si com aquele sorrisinho quase contagiante no rosto e pegou-o no colo, erguendo-o a apertá-lo consigo e mordeu sua bochechinha fofa.
- Olha, olha! Trouxa lanchinho!
- Eh...? Onde pegou isso?
- Não peguei... O Tsu mandou eu dar pra você.
- Eh? Mas... O viu?
- Sim, no parque hoje, ele foi falar comigo e mandou eu dar lanchinho pra você, eu comi o meu, esse é seu.
O maior uniu as sobrancelhas e pegou o lanche, sorrindo para ele e assentiu a beijar seu rostinho.
- Obrigado. Você já comeu?

- Já sim, jantei agora pouco.
Izumi assentiu e guiou o filho consigo para casa, pegaria o ônibus com ele como sempre e logo estaria no hotel. Somente lá, fora quando comeu o lanche, estava com fome e era tão bom que não se lembrava de ter comido algo daquele modo antes, mesmo sendo um simples lanche de queijo. Pegou o telefone colocado ao lado da cama, logo após aconchegar o filho para dormir e discou o número dele, esperando que atendesse.
O rosto amarrotado sobre o travesseiro alto e fofo estava, enquanto debruçado tinha um braço a pender ao lado da cama. Tsubaki sentia na ponta dos dedos o toque macio dos pelos brancos do animal bem acomodado sobre o tapete felpudo, quase tão macio quanto ele. Provavelmente tinha algum sono raso que não se lembraria, justamente por não estar há tanto tempo assim adormecido, quando por fim ouviu o celular vibrar vigorosamente no criado-mudo, despertando por fim do sono recente, tanto é que quando atendeu o telefone, só se deu conta de que o havia feito quando ouviu a voz ressoar do outro lado.
- Sim?

- A-Alô? - Izumi murmurou, e ouviu a voz sonolenta do outro do outro lado, só então se deu conta de que já era quase uma da manhã e arregalou os olhos. - Ah... Desculpe! Tsubaki-san, desculpe eu esqueci que era uma hora, eu, eu ligo amanhã.
Tsubaki piscou algumas vezes ao descerrar os olhos e acender o abajur ao lado, embora não houvesse necessidade. Massageou o canto interno dos olhos enquanto ajeitava em melhor posição na cama.
- Quem fala? - Indagou, embora tivesse uma breve lembrança da voz.

- Izumi... - O loirinho murmurou, percebendo que ele não teria como lembrar da própria voz. - P-Pai do Hasui.
- Hum, sim. - Disse o moreno, na verdade um pouco surpreso pela ligação fora de hora ou mesmo pela ligação em si, independente do horário. - Izumi.
- Desculpe, é que acabei de chegar do trabalho... Eu só queria agradecer pelo lanche.
- Hum... Então ele não comeu mesmo.
Disse o maior e deu a ele, pela linha, o que soava como um sopro nasal, mas era um tipo de risada sonolenta.

Izumi riu baixinho.
- Não. Obrigado por ser tão bom com o meu filho...

- Ele é uma boa criança. É muito inteligente.
- Obrigado, eu tento ensinar ele de uma boa forma... Mas é difícil, eu tenho que ser mãe e pai ao mesmo tempo. - Sorriu. - Desculpe de novo, eu... Vou te deixar dormir.
- Não parecer ser difícil quando ele é tão inteligente. Não tem problema, foi um cochilo breve.
O loiro sorriu novamente e assentiu, embora ele não pudesse ver.
- H-Hai... Você... Me desculpe, eu nem perguntei no outro dia, você... É casado?

- Se eu fosse casado eu certamente não ia estar falando ao telefone a essa hora.
- Ah, tem razão... Desculpe.
- Por que você se desculpa tanto?
Izumi manteve-se em silêncio durante um pequeno tempo.
- Nada... É que tenho a impressão que sempre erro com algo.

- Inseguro. Bem... 
Tsubaki disse, sem muito ter o que dizer, estava ao telefone junto a um estranho que havia passado o número sem qualquer motivo aparente. É, podia ser uma situação bem incomum.
- Hasui dormiu?

- ... - Izumi manteve-se em silêncio, e ele tinha razão, não tinha muito o que dizer. - Sim...
- Hum... Amanhã irá leva-lo para o trabalho novamente?
- Sim, não tenho onde deixá-lo.- Deve ser difícil pra ele. Ele estava sozinho, parece não gostar das crianças da creche.
- Hai... Ele não gosta, mas... Ele não pode ficar com os avós e o pai dele... - O loiro murmurou ao telefone, virando-se para ter certeza de que o pequeno dormia. - O pai dele foi embora quando soube que eu estava esperando ele.
Tsubaki o ouviu em silêncio, imaginava que tipo de vida ele podia levar, ainda mais por falar algo pessoal para um estranho, parecia alguém procurando um amigo. E podia ouvi-lo, embora não fosse um típico conselheiro.
- Lamento por isso. Ele te ajuda com as despesas?
- ... Iie, eu nunca mais o vi. - Falou baixinho ainda, em meio a um suspiro. - Mas... Tudo bem, eu trabalho bastante, mas ainda tenho tempo pra ver o Hasui no fim do dia...- Bem, quem mais perdeu foi ele no fim de tudo.- Eh?- O Hasui é uma ótima criança e você é um bom pai, eu suponho.Izumi sorriu.
- Eu tento...
- O que você faz na fábrica?- Trabalho na linha de produção.- Sempre trabalhou com isso?- Ah iie, eu já fui atendente... Eu... Tentei concluir os estudos, mas com o Hasui era muito difícil.- Não terminou a escola?- Não... Eu só tenho vinte anos.- Oh, é bastante novo levando em consideração a idade do seu bebê.- Hai... Eu sei... Foi uma idiotice.- Quantos anos tem o Hasui?
- Quatro...
- Hum, ele é tão pequenino que eu pensei ter menos.
- Hai... Ele nasceu de oito meses, foi... Meio arriscado, todos achavam que ele iria morrer.
- Bem, felizmente ele continua sendo seu companherinho.
- Hai. - Sorriu. - Eu o amo muito.
- Eu disse ao Hasui que iria vê-lo amanhã, mas eu não tenho certeza disso. Ainda assim, talvez eu possa dar um oi qualquer dia, aparentemente não moramos muito distantes.
- Hai, eu ficaria muito feliz em receber você... Por hora estamos ficando aqui no hotel... Então...- Ah não, não estou dizendo em casa. Estou dizendo no serviço.
- Ah, hai. - Izumi falou e sorriu. - Vou avisar a moça que você vai passar para vê-lo.
- Você tem folga algum dia da semana?
- Na quarta.
- Podemos conversar na quarta-feira.
- Hai! Eu adoraria. - Sorriu. - Então... No encontramos aonde?
- Talvez na praça onde a feira acontece.
- Ta bem! Então... Até quarta!
- Até... Quarta. - Disse o moreno, notando seu ânimo com o convite.
- Ah... Boa noite.
Izumi murmurou e logo desligou o telefone, deixando o celular ao lado e o sorrisinho ainda estava nos lábios.

- Boa noite, Izumi.
Tsubaki disse a ele e após o fim da ligação deixou o telefone ao lado. Deu um breve afago nos pelos macios do cão-lobo de pelagem branca, e de olhos quase dourados como pareciam os próprios.

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