Kyo e Shinya #39


Shinya sentou-se a beira da cama do outro, estava vestido, tinha tomado um banho rápido e já havia feito seu café, porém como não sabia que horas ele iria acordar, apenas deixou numa garrafa térmica a espera dele no andar de cima. Deslizou uma das mãos pelos cabelos do menor, acariciando-os sutilmente, porém cessou o toque ao vê-lo se mover sobre a cama, porém, ainda dormia. 
Abriu um pequeno sorriso e abaixou-se a lhe beijar a face, levantando-se e caminhou para fora do quarto, subindo as escadas até o andar de cima onde seguiu até a cozinha. A mão deslizou sutilmente pelo balcão de madeira, observando o local tão calmo e sereno como sempre fora, sem muitos barulhos ou incômodos, era um lugar realmente lindo e ótimo para se morar. Prestou atenção em cada detalhe da casa, desde os lustres bonitos até a decoração feita pelo outro, parecia tão escuro ali dentro, mas gostava assim, exatamente como ele, era aconchegante, assim como seu quarto. Subiu as escadas ao andar de cima, abrindo a porta do escritório há muito fechada, fazia tanto tempo que não entrava ali, e sabia que ele também. Tinha alguns livros fora do lugar, sobre a mesa, em cima de alguma poltrona e até mesmo no chão. Nunca notou que aquilo mais parecia uma biblioteca do que um escritório na verdade. Shinya seguiu em direção a mesa dele, observando alguns poucos papéis sobre ela, o computador desligado e prestou mais atenção na pequena moldura que tinha no local, pegou-a, levando-a em frente aos olhos e pode ver a foto de ambos juntos, sorrindo, mas era antiga, quando ainda eram só amigos, não pôde deixar de sorrir e deixou-a no mesmo lugar onde a pegou, virando-se em direção a janela no alto do local, observando a paisagem tranquila do bairro e as árvores que jé deixavam suas flores cor de rosa caírem pelo chão, estavam perto do natal, afinal.
A porta foi fechada novamente e desceu as escadas a notar ainda o silêncio pela casa, seguindo o caminho para fora, na área onde ficava a piscina e a observou por longos minutos, a água, ainda limpa como sempre, mas sabia que o outro não entrava ali há tempos, na verdade, perguntava-se porque ele tinha uma piscina em casa se não a usava, e até chegou a rir. Abaixou-se em frente a ela e tocou a água fria, apenas sentindo-a nas mãos e por fim acabou por se sentar em uma das cadeiras dali de fora, observando o tempo fechado, que anunciava chuva, porém, não se intimidou com a mesma e permaneceu no local, fechando os olhos a se recostar e apreciar o vento prazeroso que batia contra a face, esperando que o outro acordasse, e lembrou-se de ao se levantar, deixar ao lado de sua cama o bilhete habitual.
"Bom dia, Kyo. Estou te esperando lá em cima, preciso lhe dizer algo."
Kyo reclamou com o causador daquele ruído insistente, claro, que não receberia qualquer resposta, visto que somente um despertador. A mão jogou sob o aparelho, tomou posse do celular e desligou o apito alegre demais para quem acaba de acordar, ou melhor, ter sido acordado. Sentiu na ponta dos dedos a textura e encontrou o papel branco, preenchido por uma caligrafia pequena, com frase pequena.
- ... "Bom dia..."
Repetiu brevemente não dando o término na frase e assim deixou o bilhete na mesinha. Sentou-se na cama, passeou os dedos nos cabelos louros e médios, mesclados em tons, poucos, mais escuros. Suspirou e após criar alguma coragem, se levantou, se higienizou na face e na boca e trajou uma regata já laceada e folgada. Caminhou até a saída do cômodo, subiu até o hall e fitou a visão da própria moradia. O cheiro vinha exalado e bem conhecido, da cozinha. Porém no máximo voltou as vistas a busca de sua figura, o procurando pela casa.

Shinya ouviu o sutil barulho vindo do outro comodo e abriu um pequeno sorriso, virando-se em direção a porta de vidro.
- Kyo, estou aqui!

O menor erguera a direção dos nipônicos desprovidos de artifício e encarou-o no exterior de casa, onde se encaminhou e sentiu a brisa fria atingir a pele parcialmente despida com uma boxer vermelho vinho e regata branca. O maior observou-o, permanecendo em silencio por um pequeno tempo a observar a roupa colada a pele.
- Ah... Senta comigo.

- Esfriou. - Kyo comentou a ele ou talvez consigo mesmo. - Já comeu?
- Estava esperando você.
O menor caminhou até ele e sentou-se próximo.
- Me diga.

Shinya sorriu a ele e lhe selou os lábios, ajeitando-se junto dele e encolheu-se a repousar a face sobre o seu ombro, suspirando. Segurou a mão do menor, entrelaçando os dedos aos dele e permaneceu em silêncio por um pequeno tempo, pensando em como lhe diria.
- Eu te amo... Eu percebi que, eu fiz muita besteira no passado... E eu queria te pedir desculpa por tudo. Eu quero que tudo dê certo a partir de agora, porque eu realmente quero ficar com você sempre. Eu sei que, mesmo que você não demonstrasse, você me queria sempre bem, queria sempre que eu estivesse do seu lado, e sempre que eu dormia, você me puxava pra perto pra me abraçar... Eu percebi isso um dia quando ainda estava acordado. Você é tudo pra mim...

Kyo o observou de esguelha, visto que o descanso de seu rosto sob o ombro, e observou a paisagem a frente das vistas, enquanto silenciado, aguardava a conclusão de suas falas. Algum tempo passou daquela forma, mesmo após seu término, até então formular algo a dizê-lo.
- Você anda pensando demais sobre isso, o tempo todo parece receoso demais, errante demais. Como se nosso relacionamento fosse feito de algo frágil demais. E você já deveria ter percebido antes, sempre fui de tal forma, desde o tempo em que éramos amigos, silenciosamente expressivo, mas não insensível. O chamei para que morasse comigo, evitei situações desagradáveis que antes eu fazia. Agora moramos juntos, dormimos toda a noite como um casal, você não precisa agir com tanta minúcia. Porque se eu disse que o amo, é porque não é algo frágil.

Shinya ergueu a face a observá-lo e abriu um pequeno sorriso a ele.
- Não estou dizendo isso porque tenho medo que me deixe... Estou dizendo isso porque eu não quero mais pensar no que houve, e quero começar de novo, e eu queria lhe pedir desculpas uma última vez pelo que eu fiz. - Aproximou-se a lhe selar os lábios. - Eu... - Afastou-se sutilmente, receoso a observá-lo e por fim. - Eu, sei que talvez possa ficar... Bravo comigo ou algo do tipo... Mas... E-Eu... Estou esperando um filho seu.
Falou baixo, quase sem forças a dizê-lo, talvez preparando-se para a resposta do outro ou talvez a bronca que viria e já sentia as mãos pouco tremulas.

Novamente, Kyo via-se a escutá-lo ao que dizia. Virou-se a observá-lo somente quando sentiu a hesitação tomar posse de sua voz, tornando-a ainda mais frágil do que o timbre que já possuía naturalmente. Chegou descerrar os lábios ao ouvi-lo, encará-lo estupefato, não que houvesse alguma aversão ou desagrado ao que ouvira, em torpor, continuou a observá-lo. Shinya observou-o igualmente, em silêncio, esperando pela reação do menor.
Kyo piscou vezes ainda em silêncio, e sem obter alguma reação precisa, sorriu a ele, ainda extasiado. O maior arregalou os olhos a ver o sorriso do outro e afastou-se sutilmente.
- Está... Sorrindo de felicidade?

- Por que mais eu faria? Só... Não sei como agir.
Shinya sorriu a ele e aproximou-se a abraçá-lo. Kyo igualmente o abraçou, silencioso ainda por vez e sutilmente deslizou os dedos em seu ombro, acariciando-o.
- Fiquei com medo... - O maior murmurou.
- Parabéns. 
- Pra você também... - Shinya falou baixinho e sorriu, afastando-se e lhe selou os lábios.
- É, parabéns pra quem fez. - Kyo o retribuiu no toque.
- Hai. - O maior riu baixinho.
- Não imaginei que quisesse ter filhos.
- Nem eu. - Sorriu.
- Diz isso quanto a mim ou sobre você mesmo?
- A mim mesmo, mas... Também não imaginava que quisesse.
- Eu gosto... De crianças.
Shinya o observou por um pequeno tempo.
- Gosta?

- Gosto.
- Ah...
- Achei que já soubesse disso.
- Ah, eu já percebi que fica feliz perto de crianças, mas... Não sabia que gostava.
Kyo negativou apenas, num gesto descontraído.
- Quantos meses?
- Quase três.
- Hum... Mais uma mês e pode saber o sexo.

Shinya assentiu.
- Você quer uma menina ou um menininho?

- Eu gosto de meninas.
- Eh?
- Menina.
- Ah, hai.
- E você?
- Uma menina também. - Sorriu.
- Eu imaginei que fosse.

- São mais fofas.
- Acho que são mais calmas.
O maior assentiu.
- Então, o que podemos comer?
- Ah, não sei se quer tomar o café essa hora...
- Hum?
- Já é quase hora do almoço. - Riu baixo.
- Quero algum arroz.
- Quer o que?
- Onigiri, sushi, qualquer coisa.
- Hum, eu faço então.
- Certo.
Kyo entrou na casa e seguiu até a cozinha, ligando a máquina de arroz.

- Você  quer saquê? - O maior sorriu.
- Não. Vou ficar no café enquanto isso.
- Ta bem então. E eu, vou pegar meu suco.
- Hum. Você quer o que de acompanhamento?
- Tanto faz.
- Quer algum peixe ou carne?
- Acho que carne seria bom.
- Ok.
Kyo disse após adicionar a água e o arroz na maquina, aguardando o cozimento. E buscou a carne vermelha já fatiada e conservada na geladeira.

- Hum... Estou morrendo de fome. - O maior riu baixinho.
- Também.
O menor concordou e deixou a carne congelada sob a pia, buscando os condimentos do tempero.

- Esta deixando seu filho ficar com fome hein? - Riu.
- Ah, alguém disse que ia fazer e por fim está só tomando suco.
- Então deixa eu fazer. - Riu.
- Já comecei.
Shinya fez um pequeno bico.
- O que?
- Nada. - Riu. - Posso cortar a carne ao menos?
- Está cortada.
- Ah, hai.
- Quer fazer?
- Iie, eu espero.
Kyo deu um sorrisinho de canto.
- Me deixe cuidar de vocês, hum?
Shinya o observou silencioso e quase suspirou, assentindo com um sorriso em seguida.

Compartilhe:

DEIXE UM COMENTÁRIO

    Blogger Comment

0 comentários:

Postar um comentário