Keisuke e Miruko #13


Miruko ajeitou os livros sobre as mãos, tinha acabado de comprar o livro novo, tinha capa dura, era simplesmente a coisa mais linda que já havia visto, então, tinha deixado algum dinheiro para o fim do mês para que pudesse comprá-lo. Iria mostrar ao amigo, por isso havia tirado do plástico e caminhava pelo corredor em direção a sala quando fora parado pelos três garotos. Suspirou e ergueu a face, quase rezava para que deixassem o livro passar.

- E aí, quatro olhos.
- Cara... Eu só quero ir pra sala, só hoje, me deixa em paz.
- Olha, ele fala, achei que não falasse sem seu namorado. O que você tem aí?
Negativou, escondendo o livro nas costas.
- Me deixa ver!
- Não porra! É meu!
Ao falar, sentiu o baque do punho contra o estômago e uniu as sobrancelhas, abaixando-se, até mesmo soltou o livro, sentindo o ar faltar nos pulmões. Desviou o olhar ao vê-lo pegar e negativou. 
- Você é otário? Entregasse logo. Parece que gosta de apanhar. Lembra que seu namoradinho quebrou meu nariz? E se eu quebrasse o seu também?
- Por que você não quebra o dele?
Murmurou a estreitar os olhos, estava irritado e virou a face quando sentiu o soco, podia sentir o gosto de sangue na boca, e não disse nada, também não disse quando sentiu o chute na costela, havia se deitado no chão.
- Obrigado pelo livro. Vê se fica de boca fechada, seu idiota.
Negativou, encolhendo-se no chão e desviou o olhar para a porta da sala dele, parecia ter alguns metros de distância, um, dois, contou quantos passos até lá, até ter a vista meio embaçada e sentiu as mãos da enfermeira sobre si.
- Vocês viram?! Disse a garota ao entrar na sala. O Miruko foi pra enfermaria. 
- O que? Como assim?
- Sei lá, deram uma surra nele.
- O que?
Keisuke disse ao ouvi-la. O rosto estava amarrotado e o cabelo teve de jogar para trás para tirar da frente do rosto. Acordou ao ouvir com profundidade o que dizia a colega de classe. Se levantou então.
- Quem foi? Você viu?

A garota desviou o olhar a ele e uniu as sobrancelhas.
- Sei lá, acho que foi o menino que você quebrou o nariz, ele pegou o livro do Miru.

- Esse cara deve ser masoquista.
O loiro disse e por fim deixou a sala, dada informação, seguiria para buscar de sala a sala qual ele estava, mas primeiro, veria o amigo na enfermaria.
- Miru? Miruko?

Miruko estava sentado sobre a maca, o rosto estava um pouco inchado, na verdade, os lábios onde o soco havia pego, estava cortado e tinha o sangue da boca agora limpo, pela enfermeira. Piscou algumas vezes ao ouvi-lo e acomodou-se na maca, dolorido como estava.
- Kei...

Keisuke o visualizou na maca, aparentemente não havia ganho muito além de uns lábios inchados, mas mesmo aquilo já era um desafio pessoal. Porém, duvidava que a enfermaria faria parte de seus planos se fosse somente seus lábios.
- O que houve?
Se pegou dando um leve afago em sua nuca, cessou ao perceber.

- Estou bem. Quero ir pro quarto.
- Melhor não ir ainda, precisamos saber se você quebrou alguma coisa.
- Não quebrei nada, eu só...
- Ele levou um chute na costela e um soco no estômago, o estômago ainda deve estar dolorido, mas a costela não sabemos se está tudo bem.
- E não acho que vão descobrir aqui, devia ir a um hospital. Sayuki-san, pode reportar para a direção? Eu fico com o Miruko enquanto isso.
O loiro disse à enfermeira, queria que ela saísse, iria sair também, mas seria rápido em estar de volta. Embora estivesse aparentemente tranquilo, estava na verdade bem elétrico. Miruko n
egativou ao ouvi-lo e por fim viu a enfermeira se retirar. Desviou o olhar a ele.
- Kei, não precisa de tudo isso... Eu só... Eu estou bem.
Murmurou e tossiu, encolhendo-se com a mão sobre o estômago.

- Tudo isso o que? - O maior indagou sem entende-lo. Seguiu então para a saída. - Espere aqui.
Disse ao moreno, que diria algo, mas não deu tempo dele continuar.
Kei! Kei! Não, você vai ser expulso!
Miruko falou e uniu as sobrancelhas, apertando o estômago dolorido. Keisuke buscou muito rapidamente a sala do garoto, até encontra-lo antes da diretora. Bem, talvez acabasse advertido ou expulso, mas daria um jeito. 
- E aí cara, você precisa vir comigo até a enfermaria.
Disse, ali mesmo da porta da sala de aula.

O garoto ainda não estava em aula, a professora ainda não havia chego, então, ele desviou o olhar ao outro na porta.
- Eu não preciso ir a lugar nenhum com você.

- Se você não for porque quer, vai ir depois que eu te enfiar a porrada e você ter que ir pra não lavar a sua sala.
As meninas pararam de falar e se voltaram ao outro na entrada, fitando-o ali e devagar se afastaram dele, deixando-o caminhar até a porta.
- O que você quer? Não vou devolver o livro da sua namorada.

- Curioso, porque você vai sim. Não adianta, minha "namorada" não tem interesse em você. Mas não precisa judiar dele por culpa da sua viadagem reprimida.
Keisuke passou pelo outro, desviando seu caminho e buscou o livro em meio seus materiais. 
O rapaz estreitou os olhos e seguiu-o pela sala, empurrando-o.
- Tira a mão da minha mochila.

- Own, por que? Tá com seu bichinho escondido? Me dá o livro.
Keisuke estendeu a mão e gesticulou, pedindo pelo livro, como se de fato fosse ter aquela educação ao pedir.
- Vamos lá, você vai gostar do sabor dele.

- Não vou dar porra nenhuma pra você, sai da minha sala.
- O livro não é seu, por que pegou? Sabe que eu te arrebento e continua enchendo o saco. Por que não se declara logo?
- Declarar o que? Não sou viado que nem você.
- Por que quer o livro?
- Porque sim.
- Você pegou o livro dele, então posso pegar sua mochila.
Dito, Keisuke foi pra cima dele e tomou a mochila, rasgaria-a se necessário.

- Para com essa merda, você é retardado?! - O garoto falou e empurrou-o, puxando a mochila de novo. - Se quer tanto essa merda, toma!
Falou e dentro da mochila pegou o livro, jogando-o nele. 
Ao ter o livro arremessado, o loiro pegou e fitou a capa, imaginava o cuidado do moreno com o livro, sabia que ele tinha amor à leitura e uma boa capa dura, foi por isso que não foi capaz de pegar as páginas e faze-lo engolir, porque era do amigo.
- Juro por Deus, que uma hora eu vou te aleijar. Você só não vai engolir essa porra, porque é importante pra ele. Mas se bater nele de novo, eu não vou bater você, vou quebrar seu irmão no meio e seus amiguinhos. - Keisuke disse e fitou os amigos que o acompanhavam normalmente. - Então é bom controlarem os impulsos de retardo do seu amigo, senão vocês vão pagar.
Dito, voltou para a enfermaria, frustrado por não enfiar as páginas nas cavidades do outro.
O garoto o fitou, silencioso, não batia nele, importunava o menor por outras razões, então somente deixou a mochila sobre a própria mesa e negativou, claro, que seria chamado pela diretora pouco depois e todos seriam suspensos. Quanto a Miruko, havia permanecido deitado até a ambulância chegar, mas não queria partir sem o amigo, não queria mesmo.
- Não posso ir... Não, não quero.

A voz resmungona vinha de dentro da sala de enfermagem. Keisuke apressou o passo e ergueu o livro.
- Estamos aqui.
Sorriu a ele e se aproximou. Novamente se dava conta que o estava acariciando. Miruko u
niu as sobrancelhas ao vê-lo e negativou, sentiu os olhos se encherem de lágrimas ao notar o livro em sua mão.
- Não quero ir pro hospital...

- Eu vou com você. Precisa fazer uma radiografia. Não chore, chorão.
- Minha mãe vai me encher o saco...
- Vai encher o saco por que? Porque um otário te bateu?
- Porque eu estou no hospital. Vão ligar pra ela vai ser um inferno.
- Ela não tem porque encher o saco, você não tem culpa de ter de ir ao hospital, só se sua mãe for uma... Enfim, foda-se sua mãe, vamos. Como você está se sentindo? Não está sentindo nenhuma dor forte?
Miruko desviou o olhar a enfermeira e ao rapaz lado a ele, a espera para colocar a si no carro.
- ... Minha costela está doendo.

- Então tem de ir. Vamos, ela não vai brigar.
O menor assentiu e segurou a mão dele, deixando que levassem a si até a ambulância. 
- Obrigado Kei, pode voltar para a sala.
- Não! Eu só vou se ele for!
- Eh? Ta bem...
- Eu vou com ele. Somos quase irmãos.
Keisuke disse à enfermeira que provavelmente sabia que não era bem assim. 
O enfermeiro loirinho assentiu e sorriu a ambos. 
- Tudo bem. Pode ir.
- Obrigado.
O loiro sorriu a ela e então embarcou com o amigo no veículo, foram então para o hospital que era próximo, muito na verdade. Após entrada do coordenador, tornando-se responsável pelo envio e acompanhamento do aluno até a chegada de seus pais, encaminhados foram até a ala onde feito seu exame.

Um suspiro deixou os lábios de Miruko, odiava tudo aquilo, se sentia um inútil por não poder bater neles e agora tinha até que tirar um maldito raio x. Parecia que duraria uma eternidade. Antes de entrar na sala, entregou os óculos a ele. Ao sair, fora colocado em um dos quartos, precisaria esperar até que o resultado estivesse pronto e naquele meio tempo, observou o outro.
- Será que o senhor pode me deixar sozinho com o Kei por um momento?

- Certo, vou ficar lá fora caso seus pais cheguem.
Após sua saída, Keisuke o acompanhou ao quarto e sentou na proximidade de seu leito na enfermaria. Viu partir o coordenador, embora não tão feliz por isso.
- O que há?

- Desculpe por ser tão otário...
- Você não é otário. Aquele cara é.
- ... Eu queria poder bater nele, eu... - Suspirou. - O que... O que você fez? Não parece ter a mão machucada.
- Não bati nele. Mas eu ameacei toda a família dele. Na verdade não ameacei, prometi.
Miruko uniu as sobrancelhas.
- Hai... - O menor disse e sutilmente estendeu a mão a ele. - Eu... Comprei pra você. Quer dizer... Era pra ser um presente para lermos juntos, mas... Ele deve ter estragado.

- Está inteiro. Na verdade eu ia tirar as folhas e enfiar na garganta dele, tipo aqueles caras que obrigam os gansos a comerem, sabe? Mas eu imaginei que era importante pra você.
Miruko assentiu e sorriu a ele.
- Acho que... Não vou poder te beijar por um tempo.
Disse e pigarreou, porém cessou quando ouviu o barulho da porta, desviando o olhar e viu a própria mãe, com sua expressão como sempre impassível.

- Você não cansa de brigar na escola, Miruko?
- E você está querendo beijar, ah? - Keisuke disse a fim de provoca-lo, interrompido no entanto. -  Se tivesse brigado não estaria machucado. - Disse a ela, já a conhecia.
- Keisuke, não é? Continua desbocado. 
Miruko suspirou.
- Não precisava ter vindo, eu estou bem. 

- Alguém tem que pagar a conta do hospital. 
- Mamãe, pode ser menos desagradável? 
Ela suspirou.
- Certo. Vou acertar o que eu tiver que acertar. Você está bem? 
- Estou...
- Então tudo bem.- Eu tenho boca. - Disse o loiro, embora não houvesse interrompido a conversa com o filho. Após sua saída se voltou para ele. - Ela se preocupa do jeito dela. Mas é por isso que seu pai não quis mais. - Sorriu.Miruko riu ao ouvi-lo e assentiu, logo ouvindo mais uma vez o barulho da porta, dessa vez o médico. 
- Certo, Miruko. Você não quebrou nada, mas fraturou a costela. Terá que ficar uns dias de cama. 
- Tudo isso por causa de um chute? 
- Bem, parece que foi o chute. - O médico riu. - Espero que ele tenha as punições que merece. Vamos cuidar de você e poderá voltar para a escola. 
- Obrigado...
- Bom, depois eu dou um jeito naquele merda. Vou fazer uma visita pro irmão dele, só pra dar uma assustada. - Keisuke sorriu, como uma criança arteira. - Aí sim, vai ser bom moscar em casa, hum?
Miruko uniu as sobrancelhas a desviar o olhar a ele.
- Não quero ir pra casa...

- Precisa ir e descansar. Pode ler, jogar vídeo game. Comer coisas legais.
- Sozinho. Sozinho não tem graça.
- Claro que tem, você sempre esteve fazendo as coisas sozinho e sabia aproveitar. O que houve? Te acostumei mal, nerd?
- É, acho que sim.
- Hum, você está meio murcho hoje. Vai ficar tudo bem. Prefiro que fique em casa e se cuide. Nesse meio tempo eu posso bater no carinha.
Miruko uniu as sobrancelhas e assentiu.
- Não quero que faça nenhuma idiotice. Deixa ele pra lá.

- Não vou. Já avisei ele, mas não vou deixar ele te tocar de novo. Acho que ele deve ter algum sentimento reprimido por você, não tem explicação.
- Que horror. Ou talvez ele goste de você.
- Não é a mim que ele enche o saco.
- Mas me bate porque sabe que você gosta de mim.
- Ah, ele sabe que eu gosto de você, é?
- Bem, você me defende, deve gostar. Ninguém defenderia qualquer um desse jeito.
- Eu sou seu amigo, se supõe que deveria defender você. - Disse o loiro, na verdade provocando um pouco. - Mas acho que você faria mais o tipo dele, a menos que ele goste de homens muito machos tipo eu.- Amigo? - Miruko sorriu meio de canto e assentiu. - Certo. - O que, somos o que? 
Keisuke perguntou, sabia que o havia provocado e aquele era exatamente o modo indireto de buscar saber o que ele andava pensando. No entanto antes que pudesse responder viu sua mãe.
- Certo, já está tudo pronto, vou demorar uma vida pra entender como você trincou uma costela, mas okay. - A mãe de Miruko disse.
- Eu levei um chute, mãe. 
- Hum, Kei vai vir?- Eu vou voltar pra escola, Sayuki-san me autorizou como acompanhante, pode acabar comprometida se eu não voltar. Se cuide, certo?
O loiro disse a ele e tocou seus cabelos, afagando-os.

- ... - Miruko assentiu e segurou sua mão, apertando-a sutilmente. - ... Me liga tá?
Keisuke acariciou sua mão, tentando não chamar a atenção de sua mãe. Mas com o polegar acariciou seu dorso.
- Se divirta e descanse. Baixe uns jogos legais.

- Hai, vou baixar. - O moreno sorriu meio de canto e acenou a ele conforme o viu sair.
- ... Hum, isso não é normal. - Disse a mãe dele.
- Eh? 
- Você gosta dele? 
- Ele é meu amigo. 
- Não parecem amigos. 
- ... Não quero falar sobre isso. 
- Miruko. 
- ... Talvez eu goste dele. 
- Você é homem. 
- E daí? 
- E daí, que dois homens não ficam juntos. 
- Mãe, vivemos no século 21. 
- Não quero graça perto de mim. 
- ... Hai.

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