Yuuki e Kazuto #59


No meio da noite, uma sombra se esgueirava pela janela, Kazuto se deitava sozinho sobre a cama, e a seu lado, o berço que tocava uma suave cantiga de ninar que não seria audível em outro quarto se não aquele. A cortina adentrava o quarta na ventania que a chuva trazia para dentro do local, anunciava que logo a água cairia sobre os prédios altos da cidade. Naquela noite, não era Yuuki quem se sentava na sacada. Um rapaz, de cabelos negros e medianos havia achado um meio de entrar, pelo local onde Kazuto havia deixado aberto, e era um garoto inocente, sempre achava que nada iria acontecer, como se não fosse uma criatura capaz de invadir uma casa com um simples pulo em qualquer altura, sabia que aquela história de que vampiros precisavam de permissão para entrar nas casas dos humanos, não passava de uma mentira, de todo modo, aquele vampiro que o observava, antes, já havia tido permissão para entrar naquela casa, o dono dela havia dado.
Em passos lentos, o rapaz se fez dentro do quarto, o cheiro do garoto impregnava tudo que havia ali dentro, como uma praga, não conseguia entender o que o outro havia visto nele, o garoto não tinha nada de interessante, além de seu sangue doce, podia sentir o cheiro, e era enjoativo. Ao se aproximar da cama, sua mão tocou o berço, poderia quebrá-lo facilmente, havia sido transformado a mais tempo do que o pequeno pedaço de gente que dormia na cama, e era isso que pretendia fazer. Os olhos da criança estavam vidrados em direção a ele, embora não houvesse feito nenhum barulho, estava alerta, não era um humano, e farejava o ar, notando que aquela pessoa em questão era um desconhecido pelo menos para ele.
- Moleque maldito.
Disse, observando o garoto sobre a cama, falava como Yuuki costumava dizer, mas Yuuki podia, Kazuto o amava, já o visitante, entrava na casa de um vampiro poderoso, cuspindo palavras contra seu amante, quase implorava para morrer, isto é, se Yuuki estivesse ali, se não, era fácil matar um bebê e depois, sua mãe. O pequeno corpo foi segurado em seus braços, o bebê já tinha em seu semblante um estado de alerta conforme o rapaz segurou sua cabeça, e antes que pudesse ouvir algum som, seu corpo fora atirado contra a sacada, e o bebê já não estava mais em seus braços.
- Ahn?
Seu corpo se encontrava a um milímetro de cair prédio abaixo, ele não morreria, mas seria uma queda deveras dolorosa. Yuuki segurava sua camisa, observando-o de perto enquanto ele tentava se equilibrar ali.
- Como ousa entrar na minha casa?
- Como você ousa me deixar por um pivete.
- O pivete em questão é meu parceiro, você, melhor do que ninguém deveria saber que só escolhemos um, então sabendo que você era só um pedaço de lixo que me rondava, o que está fazendo dentro da minha casa?
- Por que você sempre foi tão cruel? Como você pode dizer que o que tivemos não foi importante?
- Não foi, você foi uma pessoa passageira, um verme que eu tive o desprazer de conhecer, alguém que eu deveria ter matado quando percebi que poderia entrar pela minha janela e ameaçar o meu filho. Você é louco ou é idiota.
- Por que ele? Só me fala isso.
- Por que não ele?
- O que um pivete pode te dar que eu não poderia?
Yuuki abriu um pequeno sorriso, debochado como de costume e uma das mãos segurou a do outro vampiro, sobrepondo-a com a própria, claro, que ainda o olhava nos olhos quando ouviu o estalo de um pulso quebrado e um grito que fora abafado pela mão do vampiro em sua boca.
- Se colocar a mão no meu filho de novo, se você ousar entrar aqui de novo, se você cruzar o meu caminho, se você olhar torto pro Kazuto na rua, eu queimo você até sobrar só pó. Você me entendeu?
O rapaz respondeu num maneiro de cabeça.
- Acho bom você não tentar se meter comigo. E espero que essa seja a última vez que eu vejo você na minha vida.
Ao soltar a mão dele, que estalou novamente, ainda deslocada, Yuuki empurrou o corpo para fora de sua sacada, se ele iria conseguir saltar antes de atingir o chão, não era problema dele. Ao voltar para o quarto, fitou o garoto ainda adormecido e no berço, o pequeno corpo o observava com os olhinhos arregalados. Uma de suas mãos, o dorso, deslizou pela bochecha da criança, evitando tocá-lo com as unhas compridas e por fim, fechou a janela com a tranca, seguindo para a sala de jantar novamente onde continuarua o trabalho. 

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