Yasuhiro e Yoruichi #10


Yoruichi uniu as sobrancelhas ao sentir a dor de cabeça crescente conforme piscava os olhos, era terrível estar acordado tendo aquela ressaca, era vampiro, se curava com sangue, mas enquanto não o tomasse, ficaria com aquela dor de cabeça quase impossível de suportar. A janela havia sido fechada, mas estava largado na cama, com o kimono aberto e a roupa íntima retirada, e o corpo tinha resquícios do próprio prazer. Levantou-se, devagar e desviou o olhar ao quarto, não fazia ideia do que havia acontecido. Havia sonhado com ele enquanto estava bêbado? Ainda podia se lembrar do gosto de seu sangue e de suas expressões, de sua voz, ainda se lembrava dele. Droga, nunca mais iria beber. Arrumou o quimono sobre o corpo, limpando-se com um tecido próximo e seguiu para fora.

- Hum, estou bem, tive um bom descanso, oba-san, não se preocupe.
Yasuhiro disse a ela, tinha os olhos ainda um pouco inchados. Havia dormido mesmo após as brincadeiras com o primo e não havia tocado nele, independente de tê-lo feito fazer algo mais ousado do que já havia feito ou que a si já tivera visto. Levou a xícara até a boca, experimentando do chá de hibisco com eucalipto e uma parte mais generosa de sangue humano que, se não fosse por ele, não beberia o restante. Ganhou também algo doce, ou melhor, algo considerado doce embora não fosse assim tão adoçado. E não demorou para ouvir o caminhar pela casa, seguindo até a porta que arrastou e deu vazão a sua vista do exterior, onde dejejuava com a tia.

O moreno observou o outro no andar de baixo, a própria tia e arqueou uma das sobrancelhas, não entendia nada, e pior, estava com um kimono transparente.
- Mas que porra...? 

- Meu senhor! Que linguajar é esse?
- ... Prepare meu banho...
Yoruchi falou à garota, ainda com dor de cabeça e seguiu para o banho que seria preparado para si, banhando-se antes de pensar em descer as escadas e vestiu-se apropriadamente. Seguiu para a mesa de café e observou a própria mãe, junto ao convidado.
- Quando foi que você chegou aqui?

- Boa noite, meu primo.
Yasuhiro disse a ele após seu retorno. Havia passado pela porta mas havia regredido, provavelmente para se livrar de seu aspecto de ressaca. Após sua saída, levantou-se e ajudou-o a se sentar, como um bom cavalheiro, fez o mesmo em seguida, retomando o posto no qual estava antes.
- Eu passei a noite, tive um convite de minha tia, sua mãe.

O menor sentou-se com a ajuda dele junto a mesa e uniu as sobrancelhas, estava com a cabeça dolorida ainda, e era bem evidente, tanto que chamou um dos serviçais pedindo uma taça de sangue, puro, sem adição de chá.
- ... Passou a noite? ...
- Você está deplorável, Yoruichi, o que aconteceu?
- Deplorável? Só estou com dor de cabeça.
- Sim, mas claro que dormimos em quartos separados, mas já deve saber disso se sua dor de cabeça não for uma ressaca.

Yoruichi estreitou os olhos a observá-lo, e tinha quase certeza que era ele, mas não diria nada, ou ficaria envergonhado por tê-lo feito em frente a ele, preferia pensar que havia sonhado.
- Andou saindo pra beber? - Yashiro retrucou, tentando ser convincente o suficiente.
- Fui beber ontem com um amigo, por quê?
- Yoruichi! Que absurdo!
- Eu só fui a uma casa de chá, o que isso tem de mal, não é como se eu tivesse ido a um prostíbulo.
O moreno desviou o olhar a própria mãe, pasma a observá-lo.

- Casas de chá são quase como prostíbulos. Gueixas são prostitutas.
- Que absurdo, gueixas não são prostitutas. Só se forem prostitutas muito bem instruídas sobre dança e arte. Não sejam ridículos.
- Você não voltará pra lá, Yoruichi!
- Gueixas são prostitutas que sabem dançar e estudam pra isso, mas são prostitutas. Depois fala de mim com um humano, quando você vai até uma casa de chá encontrar mulheres que fazem sexo por dinheiro. - Yasuhiro colocava lenha na fogueira, provocando-o.
- Não fiz sexo com nenhuma mulher, sou gay, você bem sabe, afinal é o meu noivo, ou não? Pelo menos eu não dou presentes caros para as mulheres, entro na casinha delas, seguro a mãozinha delas, sinto o cheirinho.
- Yoruichi!
- O que mamãe? O que?! Por Deus, pare de gritar o meu nome ou eu juro que o mudo para que você possa gritar algo mais divertido. Não sou mais uma criança que você pode ficar controlando como um fantoche.
Disse o menor, já irritado com a imposição de ambos e por fim sentiu o tapa contra a face, e já era habituado aquele toque, mas a novidade era a força e permaneceu parado por um tempo, pegando o guardanapo sobre a mesa para limpar o canto dos lábios que sangrava, e sentiu como se a própria cabeça fosse arremessada contra o chão.

- Com licença, Yasuhiro. - Disse ela antes de se levantar e sair.
- Não invente histórias, primo. Posso ter uma amizade, ninguém tem amizade com prostitutas. 
Disse o loiro, estava realmente um pouco aborrecido com ele afinal. Mas não suficiente para desejar-lhe algo como um tapa, mas talvez aquilo o fizesse perceber que era demasiado insolente. Assentiu com a cabeça após a saída da tia, e pôde ver ali de onde ele havia herdado aquela mania desagradável, no entanto agora oportuna. Ao vê-la sair, buscou o lenço e direcionou-o ao rosto do moreno, limpando um gotejo em seu lábio.
- Que atitude desagradável, Yoru. - Disse a ele e deu-lhe um pouco de chá. - Pela proporção, eu acredito que tenha realmente a magoado.

Yoruichi sentiu o toque sobre os lábios e desvencilhou-se rapidamente, afastando-se do outro, e ficara observando a mesa, esperando pela dose de sangue que havia pedido, embora quisesse desesperadamente se retirar.
- Não toque em mim, seu desgraçado.

- Por quê? - Yasuhiro indagou, realmente curioso sobre a resposta.
- Porque você é um maldito manipulador. Acha que eu não percebo que é você quem brinca comigo como se eu fosse um bonequinho? Que é você quem me faz dizer essas coisas, ter esses ataques de raiva, acha que eu não sei? Acha que eu não sei que você foi ao meu quarto ontem a noite enquanto eu estava bêbado?! Espero que tenha se divertido, porque você nunca mais vai me ver sem roupas.
- Não sou manipulador, você diz essas merdas porque você é insolente e desagradável. Você é uma maldita menininha mimada que merece levar muito mais que um tapinha nessa cara bonita que se torna quase imprestável quando você abre a boca. Fui a seu quarto e te fiz dizer o quanto queria meu corpo, você gozou pensando em mim, seu estúpido. Mas parece que só assim pra você ser agradável com alguém, estando bêbado, porque não consegue parar de ser um idiota mesmo quando você ama alguém. Eu quero dar certo com você, mas você é um maldito pessimista ranzinza que me faz querer simplesmente esquecer dessa porra de acordo. Mas se isso tiver de continuar, eu vou tocar seu corpo a hora que eu quiser uma vez que eu for seu marido. Se quer ser respeitado, aja para que eu faça isso, como ontem, mesmo em seu estado mais vulnerável eu sequer encostei em algo além de seus lábios, porque o respeitei, porque você em todo esse tempo, só conseguiu usar de sinceridade porque bebeu saquê em casa de prostitutas.
Yoruichi levantou-se, irritado e puxou a serviçal que passava próximo, já não estava mais em nível de conversa e ainda não haviam trazido a maldita taça de sangue, os dentes se cravaram em um dos braço dela com tamanha força que podia jurar que havia rompido um osso, mas naquele momento não estava se importando muito. Sugou o sangue, suficiente para se alimentar e estar disposto, a cabeça havia parado de doer, enfim, e o machucado havia se fechado, não estava com paciência para ele ou os pais e por isso não quis discutir, não achava que havia sido tão desagradável para ter a necessidade de ouvir sermões, agora sim estava sendo desagradável. Empurrou a garota, que poderia cair em qualquer lugar e rosnou para ele, mostrando as presas sujas de sangue.
- Pro inferno você, minha mãe e essa maldita educação e sinceridade. Agora me dê licença, preciso de sangue e já sei onde arranjar, um bem novo e refrescante, certamente doce.
Disse só então seguiu para fora, batendo a porta atrás de si, e deixou-o ali. Yasuhiro a
ssistiu a sua breve e dramática apresentação, assim fora como o viu naquele momento, e a medida que soltou sua serva, deveras leal, o qual de fato não merecia, aparou sua queda, em seu corpo frágil. Por um momento fez questão de lamber seu braço ferido, limpando-o, mesmo ao encarar o primo e noivo.
- Ficará bem.
Disse a ela, e já tinha os olhos nítidos em mescla rubra dourada, indicando o sangue fresco que sentia o cheiro, e que bebia e que também, causava furor aos instintos.
- Sabe onde arranjar e deve ser sábio o suficiente para saber onde não ir, Yoruichi.
Disse já novamente em pé. Não parecia-lhe flexível naquele momento.

- Não perguntei a você onde devo ir, meu noivo. Com licença.
Disse o moreno a sair de casa, batendo a porta atrás de si e levou consigo a cigarrilha, seguindo o caminho para a vila pela pequena estrada de terra, e quase podia sentir o gosto daquele garoto nos lábios.

- Não estou lhe dizendo onde deve ir, estou dizendo onde você não vai. E não tente me testar, Yoruichi.
Disse o loiro, mesmo que tivesse ganhado suas costas, mesmo que o houvesse deixado ir, acreditava que não seria abusado como dizia.

- Ah vá pro inferno.
Yoruichi falou a ele, e acendeu a cigarrilha no caminho, com aroma de menta, e obviamente, bem queria matar aquele pedaço de merda, mas sabia que iria sofrer o dobro do que fizesse ao garoto, por mais que ele gostasse de si, não era o mesmo que gostava daquele maldito. Por isso, somente não voltou para casa, e pegou a estrada mais adiante, sumiria por alguns dias.

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