Kazuma e Asahi #37


A noite havia caído, já se passava das oito da noite, e do alto da igreja Asahi observava o acampamento dele, parecia vazio, todas as luzes apagadas, e aquele era o maior sinal de que ele não havia retornado ainda da ronda que fazia, havia dito para si que não voltaria para dormir consigo naquela noite porque talvez tivesse que ir longe para saber se nenhum soldado havia restado. Sentia falta dele, mesmo que não fizesse nem um dia inteiro que não o via, e perguntava-se se voltaria com segurança dessa pequena viagem que agora fazia pelo cenário que era um verdadeiro campo de batalha, a cidade estava em ruínas. O vento batia direto no próprio rosto, tinha um cobertor sobre os ombros graças a ele, e a sopa que tomara há dez minutos, também fora graças a ele, ele era a razão de estar vivo, de estar respirando, e de ter a cama para dormir a noite, ele era a razão de tudo que havia restado para si, até mesmo da própria fé. Deslizou os dedos pelo quepe dele que segurava, observando ali o emblema marcado e a pequena bandeira do Japão, marcava pelo que ele lutava, e nessa hora se lembrou que era tão insignificante para ele quanto uma vela sem o pavio, ele não precisava de si e aquilo doía de uma forma incômoda, já que o amor que sentia por ele, quase não cabia no peito. 

- Kazuma...
A voz saiu, quase soprada e não fora uma reflexão, e sim o reflexo do que viu ao longe, uma pequena fogueira acesa, na qual podia ver o fogo e a fumaça, denunciando que ele estava bem e que logo voltaria para casa. Casa, será que era aquilo que significava para ele? Sentiu uma sutil dor no peito novamente e negativou, não tinha tempo para sentir pena de si, queria que ele se sentisse bem, sabendo que estava observando e rezando por ele, estivesse onde estivesse. Voltou correndo para o andar de baixo e revirou o quarto, pegando alguns itens que improvisariam o que faria, e correndo para o andar de cima, usou a caixinha de fósforos para acender o interior do pequeno balão improvisado feito com papel e aproximando-se da beirada, empurrou-o no ar, vendo-o ser levado com o vento, uma pequena luz no céu além das estrelas e desviou o olhar para aquele mesmo local de onde a fumaça vinha, concentrando-se nele por longos minutos, e pôde ver, ao longe, as faíscas altas do fogo que havia aumentado. Sorriu consigo e abraçou o quepe dele contra o peito.
- Boa noite, general.
A ronda diária de Kazuma havia levado um tempo maior que o normal, na verdade haviam partido ao anoitecer do dia anterior, em busca de pessoas pela região, soldados ou mesmo algum acampamento inimigo. Como haviam tomado longitude maior, levara da mesma forma algum tempo mais para retornar. Estavam no meio do caminho, sem nenhum resgatado ou mesmo mais uma batalha dentre tantas durante todo aquele para colecionar. Ao pararem por um tempo, descansou os soldados, embora achasse que poderia continuar, alguns dos homens precisavam da pausa, comida ou um mero descanso para as pernas exaustas das botas. O pedaço de tronco na horizontal servira como banco, fosse para si ou para os demais soldados, o que era típico mesmo na base, ainda há algum tempo longe dali. Antes de se sentar ou mesmo se juntar ao sono como os demais homens, acendeu uma pequena fogueira, o que servia como o cobertor que não tinham por lá ou fonte de cozimento para quem estivesse com fome, mesmo um pequeno aviso para quem estivesse à espera de notícias. E quando por fim se sentou, tirou o quepe da cabeça, precisou ajeitar os cabelos curtos, que com as mãos jogou para trás. De longe se via a silhueta, embora afetada, ainda gloriosa, da grande igreja erguida, quebrada pelo tempo caótico, mas se mantinha pela pouca fé de alguns homens. Imaginou como estaria o garoto, certamente como uma mãe preocupada a espera do filho, o que de alguma forma soava irritante, era teimoso e agia como se não devesse continuar a lutar na guerra, mas ainda, adorável à sua maneira. Ao olhar em sua direção, logo se vira um pequeno ponto de luz, que aos poucos no alto se iluminava, era um pequeno balão de papel, novamente, era ele adorável a sua maneira, mas antes que pudesse sorrir ou achar graça de seu pequeno "Oi", levantou-se a tomar a garrafa de saquê, e foi com ele que jogou na fogueira, fazendo a brasa faiscar como pequenas estrelas de pólvora, e podia esperar que fosse visto, retribuindo sua saudação. Mas logo estaria lá.

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