Miyako e Sayuki #39


Os passos soaram altos pelo corredor com o barulho do salto a bater no piso, mesmo no último mês de gravidez, Sayuki ainda usava salto e ainda trabalhava. O único motivo para isso é que precisava ficar perto da outra, que estudava no mesmo local onde atendia, queria avisá-la caso algo ocorresse. Bateu na porta de uma das salas, carregando consigo a prancheta e alguns papéis já preenchidos e aguardou que a professora abrisse, observando-a e aos alunos, em especial a morena perto da janela e sorriu a ela, mas não acenou, não queria constrangê-la na frente dos alunos. Indicou a professora os papéis que precisava e juntou-os aos da prancheta, sorrindo outra vez ao sair da sala. A garota a poucas cadeiras da morena observou a amiga e cochichou próximo a ela.
- Dizem que ela namora com a Miya, e que a Miya é na verdade um homem que engravidou ela...
A garota arregalou os olhos, observando-a e desviou o olhar à morena sentada ali.
- Jura? Mas ela parece tanto uma mulher...
Miya descansava tediosamente o cotovelo sobre a mesa, dando um confortável apoio ao queixo sobre a palma da mão. Os olhos se desviaram diante do ruído que vinha de saltos no chão, conforme entrou o loiro na sala. Ou a loira, como todos ali viam, e as vezes até si mesma. Um sorriso tímido havia ganhado, ou talvez somente contido. Podia ouvir murmúrios vindos das alunas próximas, mas não dava importância. Cruzou visualmente a direção da aluna cujo se voltou para si, e deu-lhe um sorrisinho proposital. Assim como despedia-se do outro ali antes que saísse, com um sorriso diferente daquele anterior.
Os passos do loiro voltaram a fazer barulho pelo corredor, porém antes que chegasse ao fim dele parou, o olhar fixo a qualquer canto e apertou a prancheta de madeira entre os dedos, deixando cair junto dos papéis pelo chão. Mordeu o lábio inferior, apoiando-se na parede próxima a si e voltou-se ao corredor por onde havia andado antes. Recompôs a postura e caminhou rapidamente até a porta que havia entrado por último, deixando no chão as folhas e bateu na porta, esperando que a professora atendesse. Ao observá-la, cochichou algo a ela, pedindo que por favor indicasse à morena que devia se retirar da sala e aguardou do lado de fora.
O olhar da morena que já havia voltado a janela outra vez logo se dirigiu para a porta, aonde notou o loiro e a professora, fitando-o com curiosidade evidente. Após sua saída, logo notou o olhar de íris negras da superior, que chamou até sua mesa. Levantou-se, caminhou até ela e abaixou-se, quase nem precisava ser avisada, logo seguiu à saída, buscando pelo outro em algum lugar dali.
Sayuki esperou-a do lado de fora e ao observá-la segurou sua mão, puxando-a para afastá-la da sala e uniu as sobrancelhas.
- Miya... Está doendo... Acho que... Que eu vou ter o bebê, temos que ir pro hospital.

Embora Miya presenciasse sua expressão de dor, era inevitável o sorriso.
- Fique aqui, vou buscar sua bolsa e a chave do carro. Respira. - Sussurrou e beijou-o na testa.

O loiro observou-a em sua aparente calma e assentiu, permanecendo no local e como ela indicou, respirou rapidamente.
- Papai já volta, Miyuki.
Miya murmurou próximo a sua barriga e caminhou mais depressa até sua sala, buscando no armarinho fechado de enfermagem sua bolsa com tudo o que precisava dentro dela. Sayuki s
orriu a ela e manteve-se ali, próximo a parede, a espera de que ela voltasse logo. Caminhou pelo corredor, já próxima da porta da própria sala e a esperou ali.
A morena encontrou-o após a busca do que precisava e colocou a bolsa sob o ombro. Envolveu-o na cintura, num meio abraço, levando-o consigo pelo caminho até a saída. Chegou a encontrar a coordenadora que nem precisou questionar, a par da situação e no carro abriu a porta para ele, deixando-o se acomodar no banco de passageiro. 
Sayuki seguiu junto dela e nem desviou o olhar para a coordenadora ali, estava mais preocupado em segurar a barriga dolorida. Sentou-se no carro e colocou o cinto, suspirando.
- Vamos...

Miya passou em frente ao carro após fechar a porta e entrou, tomando posse das chaves em sua bolsa. Ligou o automóvel e deixou o estacionamento da escola, dirigindo mais rápido do que devia, e sentia-se bem por fazer aquilo. Estava se divertindo por fim.
- Por que está tão calma? - Riu baixo a observá-la, com a mão sobre a barriga dolorida. - Está até sorrindo.
- Se eu ficar nervosa você vai ficar também e eu estou feliz, não consigo ficar nervosa. - Sorriu mais uma vez e alcançou sua barriga, acariciando-a. - Muito feliz.

Sayuki sorriu a ela e assentiu.
- Quer ver logo ela?
- Quero. Quero descobrir o que ela tem de você e o que tem de mim.

O loiro riu, porém logo a face se fechou num gemido ao sentir a contração, segurando a mão dela e apertou-a.
- Opa, opa. Que moça mais forte, vai puxar a mim. - Miya brincou, sentindo o aperto dos dedos devido a contração no outro. - Já estamos chegando, baby.
Sayuki riu novamente e assentiu.
- Desculpe por te tirar da aula.

- Não me importo de sair de lá pra ver você, Sensei.
O loiro sorriu e levou a mão dela aos lábios, beijando-a.
A menor estacionou o veículo ao adentrar o estacionamento do hospital. Desligou o carro e seguiu até ele, abrindo para o outro, a porta, e o levou para dentro, entregando-o à enfermeira já hábil no que fazia a dispor a cadeira de rodas para ele.
Sayuki saiu do carro e segurou a mão dela, seguindo para dentro do hospital e sentou-se na cadeira oferecida, sorrindo à garota e não poderia ser mais irônico, estava com o uniforme de enfermeira afinal. Miya deixou que ele fosse guiado ao quarto e ficou a preencher suas fichas. Murmurou, silenciosamente indicando que logo estaria com ele e soprou um beijo no ar. Sayuki assentiu ao murmurio dela e retribuiu o beijo, seguindo ao quarto junto com a enfermeira, que entregou para si a roupa do hospital, indicando que trocasse.
- Vocês são um casal lindo. Nunca vi um casal de mulheres terem um bebê.
O loiro riu baixinho e com a ajuda dela retirou as roupas, trocando-se com as roupas do hospital e pôde ver o rosto dela se corar ao perceber que não era realmente uma mulher.
- Ah meu deus, desculpe!
- Tudo bem. - Riu baixinho e deitou-se na cama.
- Hey hey, não fique nu na frente dos outros, idiota. Só eu posso ver.
Miya resmungou a entrar no quarto, notando a ocasião. Sorriu por fim, segurando alguns papéis e já sua bolsa. 
O outro riu e assentiu, estendendo a mão a ela.
- Desculpe, senhora.
- Ah, senhora soa feio. - Miya brincou e caminhou até ele, segurando sua mão. - Alguma notícia?
- O doutor já está vindo para dar a anestesia, por enquanto, fiquem a vontade e tentem se manter calmas.
Sayuki assentiu e apertou a mão dela, sufocando um gemido na garganta. A morena observou a enfermeira deixar o quarto e sentou-se com o outro.
- Quer que eu brinque com você pra distrair?

- Brincar de que? - O loiro murmurou, seguido de uma careta pela dor.
- De sexo oral.
Sayuki estreitou os olhos.
- Não seja boba.

- Deita. - Riu baixinho.
- Está doendo... - Disse o loiro a se deitar.
A menor ajeitou-se na cama, dando espaço para ele a que se deitasse. Voltou a se sentar e ambas as mãos levou em sua barriga, uma em cada lado, massageando sem força alguma. O loiro sorriu a ela, ajeitando-se na cama e sentiu as lágrimas que preenchiam os olhos.
- Miya... Obrigado por estar aqui comigo...

- Bobo, aonde mais eu estaria? Está falando como se não fosse minha garota pra nascer.
Sayuki sorriu e por um momento fechou os olhos, quase chegou a suspirar. Não imaginava a vida sem ela agora. Estava nervoso e com dor, mas ela conseguia manter o bom humor e dar apoio a si, sentava-se na cama junto a si, queria poder beijá-la e abraçá-la forte para agradecer, mas foi interrompido pelo médico com a anestesia.

- Desculpem pela demora, estava cuidando de um outro parto.
Miya pressionava a ponta dos dedos, passeando em sua barriguinha saliente, massageando embora não fosse ajudá-lo realmente. E uma das mãos tirou dele apenas o suficiente para limpar a lágrima que iria cair.
- Não chore, gata. Vai ter seu gatinho hoje.
Retrucou e logo se voltou à porta, observando o médico com explicações e afastou-se dali, indicando que fizesse logo o uso da anestesia.

Sayuki teve que se sentar, contra a vontade, já que estava com dor e sentiu nas costas a aplicação da anestesia, fez uma pequena careta, mas não havia realmente incomodado, não comparada a dor que sentia no abdômen embora fosse dolorido. Miya tocou-o no rosto, num tipo de conforto, enquanto via sua expressão dolorida.
- Agora vai passar, baby.

- Vai... Vai sim... - Sayuki murmurou, sorrindo a ela e logo voltou a se deitar, ajeitando-se ali.
- Que hora será o parto? - Miya indagou e acariciou a barriguinha do outro.
- Nós, esperamos um tempo para que a anestesia faça efeito. Como será cesária, vamos fazer rápido para evitar as dores dele. - Disse o médico.
Sayuki observou o doutor, que já se arrumava para o parto, colocando as luvas e máscara.
- Será aqui mesmo?
- Sim, fazemos no quarto mesmo. Ainda está dolorido?
- Não. Já passou um pouco...
- Ótimo, então vamos começar.
- Um pouco, ou passou?
- Eu... Acho que passou.
Sayuki observou o médico que se aproximou e tocou a barriga, apalpando-a e ao ver que não esboçava nenhuma reação observou a morena.

- Por favor, fique do lado dela, para que eu possa começar.
Miya levantou-se do lugar, dando espaço, seguindo ao local aonde propício e ficou ainda assim ao lado do louro, vestindo-se com aquela roupa engraçada que deram a si, notando logo a vinda da enfermeira e do instrumentista.
- Ansiosa? - Indagou a ele e sorriu.

O loiro assentiu, rindo baixinho ao ouvir o feminino colocado por ela e notou o médico a descobrir o próprio abdômen, preparando a si para a cirurgia que logo deu inicio e segurou firme a mão dela, tentando conter a sensação estranha de ter a barriga cortada pelo médico, agoniante, e embora não sentisse dor, sentia todos os toques dele, mesmo do bisturi a abrir a si. Fechou os olhos, tentando se concentrar em alguma outra coisa, mas sentia os movimentos firmes do doutor, como se mexesse dentro de si, e nunca havia pensado em algo tão estranho na vida quanto fora aquele momento, agradeceu no entanto, por não sentir dor. Poucos minutos depois, o médico tinha a filha nos braços, entregando à enfermeira que trouxe-a primeiramente a si, deixando vê-la de longe e sorriu, desviando o olhar à outra ao lado de si, apertou a mão dela, sentindo as lágrimas que escorreram pela face.
Com o polegar, Miya suavemente acariciava a mão dele. Ouvindo cada tilintar de aço, cada movimento do médico, no mais, havia sido tão rápido, tão tranquilo, que sequer havia imaginado. Surpreendeu-se ao ouvir o chorinho fraco, agudo. Movimentos limitados e olhinhos tão fechados. De longe pode vê-la, ainda corada pelo sangue. E olhou para o outro, já sabendo que provavelmente chorava, e constou a apertar a própria mão. Abaixou-se, beijando-o na testa.
- Hum, você foi muito bem, baby.

Sayuki sorriu a ela e um dos dedos levou em meio a mãozinha da filha, mesmo suja, segurando-a e sorriu a ela, porém teve que soltá-la, deixando-a ir com a enfermeira enquanto recebia os pontos feitos pelo doutor, um pouco mais distraído agora.Miya observou a pequenina antes que pudesse deixar a ida da enfermeira, fitou seu rostinho tão pequeno, seus movimentos tão sutis.
- Oi, Miyu. - Sussurrou e só então deixou a moça levar a criança, a fim de higienizá-la. -  Amor, vou pra casa buscar as roupinhas dela.

Sayuki assentiu e sorriu a ela, beijando-a na mão.
- Volta logo, ta bem?

- Precisa que eu espere um pouco, hum?
- Acho que a enfermeira pode colocar a roupinha que eu trouxe na bolsa, eu trouxe uma em caso de... Acidentes. - Riu baixinho.

- Ah, que eficiente. - Miya riu. - Então quer o papai por aqui?
- Quero... Pega a roupinha dela pra mim, amor?
A morena assentiu e buscou na bolsa ali mesmo, e observou a roupinha clara, escolhida por ele. Sorriu na pequenez da peça e entregou logo à enfermeira.
- Cansado?

- Um pouco... Mas quero pegar ela primeiro. - Sorriu.
- Pelo jeito homens são mais práticos pra ter bebê.
- Mais... Práticos?
- Sim, mulheres sofrem muito. Fazem força demais, tem rompimentos, sangue e dores mais fortes ainda.
- Ah, mas... Tem mulheres que fazem cesária.
- Claro, mas ainda assim sofrem mais que os homens. - Riu.
Sayuki riu igualmente e assentiu.
- Tá dodói a barriguinha, hum?
- Ainda não estou sentindo... Mas... Vai doer.
O loiro riu e o olhar se desviou a porta, observando a enfermeira que adentrou o local carregando a pequena nos braços, abaixando-se e entregando-a a si, pegou-a nos braços e sorriu, observando seu rostinho lindo, tão pequeno e desviou o olhar a outra.

- Eu vou cuidar e não vai doer.
Miya ditou e interrompeu ao se voltar igualmente à mulher. Notou a pequena existência em seus braços, logo entregue ao outro. Resmungou como se desgostasse do fato dele ser o primeiro, brincando. E ao seu lado abaixou-se, apreciando a beleza da pequenina. 
Sayuki riu baixinho e desviou o olhar a ela novamente.
- Quer segurar?
- Se a mamãe puder me dar.

O loiro sorriu e estendeu a filha pequena, cuidadosamente entregando-a à outra. A morena estendeu os braços, tomando a pequenina, era impossível não sorrir com os dentes tão a mostra, refletia até mesmo nos olhos. E o mais importante disso, era porque tinha feito com ele, e quase não podia acreditar, chegou a rir ao pensar. Sayuki sentia-se bem ao vê-la feliz e ajeitou-se na cama, apoiando a cabeça no travesseiro.
- Vai dar de mamar pra ela, é? - Riu.

Miya arqueou a sobrancelha ao ouvi-lo.
- O que?

- Nada... Brincadeira. - Riu.
- Bom, seus peitinhos já parecem estar loucos pra dar leite, ó. - Ditou baixinho, para ele.

- Para, boba.
Sayuki ouviu o chorinho baixo da filha, que aos poucos ficou mais alto, estava incomodada, talvez com fome.
- Pronto,mamãe, entregue seus seios pequeninos a ela.
O loiro riu.
- Para, precisamos falar com a enfermeira pra dar leite na mamadeira.

- Ela vai precisar levar ela pra descansar, Sensei. Assim já será alimentada. Quer amar mais um pouquinho?
- Não... Eu quero dar de mamar pra ela.
- Claro. - A menor provocou a entregar o bebê em seus braços, não sem antes afagar a bochecha à sua, pequenina, e sentir o calor suave de sua pele tão macia. - Ela é quase uma pluma.
Sayuki riu baixinho.
- Ela é tão pequenininha...

- É... Não vejo a hora de irmos embora.
- Eu também...
O loiro observou a enfermeira que adentrou o quarto, trazendo uma mamadeira já morna e pronta para servir à filha.

- Podemos conseguir uma ama de leite, mas... Achei que ia querer dar a ela.
- Obrigado... - Sorriu.
Miya agradeceu igualmente num maneio e sorriu. Sentou-se na poltrona próxima, observando o outro a servir a pequenina. Sayuki levou a mamadeira aos lábios da filha e deixou-a sugar o líquido, observando-a com um sorriso no rosto.
- O papai quer dar?

- A mamãe pode matar essa vontade. Eu dou na próxima. - Miya sorriu e afagou os cabelos louros do companheiro.
Sayuki assentiu e manteve o olhar na pequenininha que sugava com vontade a mamadeira, os bracinhos imóveis ao lado do corpo e os olhinhos ainda fechados, porém aos poucos viu-a abrir os mesmos, piscando algumas vezes a observar a si, sabia que ela via embaçado, mas os olhos tinham um lindo tom mel, talvez porque ela ainda era nova. Sorriu e desviou o olhar à outra.
- Olha Miya! Ela abriu os olhinhos.

Miya já havia visto, afinal, quase não deixava de olhar a bonequinha, senão, para fitar o outro e notou o tom clarinho de seus olhos desacostumado, piscando lentamente pela falta de costume.
- Que olhinhos mais bonitos, Miyu. - Falou com a pequenina.

O loiro sorriu e deslizou um dedo pelo rostinho dela.
- Estou tão feliz... Ela parece com você.

- Parece o papai, é? - A morena brincou, tanto com a pequenina quanto o companheiro. - É mentira, parece mais com a mamãe.
- Parece nada.
O loiro riu baixinho e retirou a mamadeira praticamente vazia, entregando-a a outra e o dedo levou à mãozinha dela novamente, segurando-a.

- Claro que parece. Olha como já é gatinha nessa idade.
Sayuki riu novamente e notou os olhinhos dela que piscavam, preguiçosos.
- Acho que ela está com soninho.

- Provavelmente. Deixa o papai cuidar, você, mamãe, dorme também.
O maior assentiu e entregou-a a outra.
- Amo você.

Com cuidado, Miya tomou posse da nova integrante da família, aconchegando-a no braço para que a fizesse dormir.
- Também te amo, mamãe.

O loiro sorriu novamente e aconchegou-se na cama, como podia, fechando os olhos.
- Qualquer coisa o papai está aqui. - Brincou, ditando as duas.
Sayuki assentiu e riu baixinho ainda com os olhos fechados.

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