Kazuma e Asahi #38


- Hana! Hana!
O grito veio de dentro da igreja, do andar de cima e o quarto do padre, por sorte, a porta estava aberta a dar vazão para os outros cômodos e ela poderia ouvir e subir caso ele precisasse. Não estava doente, na verdade, não havia se machucado depois da última discussão com o general, havia feito o possível.
Dessa vez o problema era outro, não sentia dor, então era complicado saber alguma coisa que acontecia consigo, esse sempre havia sido o problema desde que era pequeno, e agora não seria diferente, se sentia desconfortável, um desconforto bem característico, que certamente se pudesse sentir dor, estaria no chão aos gritos.
- Hana!
- Estou aqui, calma, o que aconteceu?
O padre estava fora da cama, nem havia se trocado, o estranho pijama comprido e branco cobria o corpo, as sobrancelhas unidas e a mão sobre o abdômen, naquela estranha sensação de desconforto que não saberia descrever para alguém normal.
- Está... Está desconfortável, acho que está doendo... Não sei dizer, é horrível...
- Deite-se eu vou dar uma olhada.
O loiro se ajeitou na cama, cobrindo apenas os pés com o cobertor deixado ali e indicou o abdômen para a enfermeira, que ergueu a roupa rapidamente, ignorando demais partes intimas do rapaz, e tateou o local, unindo as sobrancelhas a tentar entender o que acontecia.
- Padre, eu nunca vi algo assim...
- Hana, me ajude... Está horrível...
- Você... Eu não sei o que te perguntar, você está tomando os remédios como eu mandei?
- Sim, sempre tomo... O que está havendo?
- Eu não sei, mas nessa área... Só se... Talvez um tumor, eu preciso de um médico... Não posso fazer isso...
- Hana, eu não estou aguentando, por favor, faça o que tem que fazer.
- Eu teria que abrir, e você iria... Você não sente dor, mas... Uma hemorragia, eu vou chamar a outra enfermeira, ela pode ajudar.
E ao correr em direção à porta, a garota gritou o nome da outra, chamando-a ao andar de cima e assim que adentrou, também teve que ignorar a nudez do padre, que estava coberta pela roupa íntima, mesmo assim era estranho.
- Hana!
O gemido alto deixou os lábios do padre, e desesperada, a enfermeira pegou o bisturi em mãos, guiando sobre a pele dele, na região do abdômen, ainda meio desconfiada do que fazia e esperava que a outra garota não desmaiasse.
- Hana, não! Ele vai sentir muita dor!
- Ele não sente nada. Tudo bem.
A mão tremia, tinha medo de tocá-lo e de fazer algo que pudesse machucá-lo, por isso passava poucas instruções a outra garota, que ainda era uma aprendiz e quanto ao padre, fechava os olhos, tentando se concentrar em outra coisa além da sensação extremamente desconfortável de ser cortado, mas não era pior do que a que sentia antes, e agora as roupas brancas eram vermelhas, assim como as roupas de cama. A enfermeira concentrada, cortando os pontos certos, ou tentando se lembrar das roupas aulas de medicina que teve, antes de ser enfermeira ela queria ser médica, mas infelizmente não haviam médicas mulheres, e ela teve de se contentar com a enfermagem. Suas sobrancelhas unidas, tensionadas aos poucos se aliviaram, e do alívio passou a surpresa, arqueadas sobre os olhos assim como a outra enfermeira e na falta de movimento, Asahi abriu os olhos.
- O que foi?! O que houve?
O silêncio novamente reinou e após um longo minuto, o choro fraco foi audível pelo local, do bebê que havia sido resgatado pelas enfermeiras, e retirado do corpo do padre, seu incômodo por fim não era um tumor, mas Hana se perguntava como aquilo havia acontecido, visto que o padre somente emagreceu mais e mais, ao invés de engordar. Talvez o porque era simples, o bebê era tão pequeno que quase cabia na mão, certamente era prematuro, e não havia estrutura para cuidar de uma criança daquele modo, por isso a preocupação era bem estampada no rosto da enfermeira que limpou o bebê quase sem pensar muito e colocando-o em um pequeno cobertor que encontrou pelo quarto, entregou nos braços do padre, numa expressão dura, indecifrável, enquanto a outra tinha o enigma estampado no rosto.
Asahi segurou aquele pequeno pedacinho de carne, podia ser chamado assim e observou seu rostinho pequeno, ainda pouco sujo e uniu as sobrancelhas a observar a enfermeira. Era estranho, ninguém dizia nada, não sabia da existência dele, não havia nutrido nenhum sentimento por ele, mas ao vê-lo, imediatamente o amava.
- É menino ou menina...?
- É uma menina...
O padre deslizou o pequeno paninho branco ao lado pelo rostinho dela enquanto a enfermeira se esforçava para reparar os cortes de forma que o padre não conseguisse abrir se por acaso se mexesse visto que não sentia dor. O sorriso estava estampado no rosto dele, meio sutilmente, nunca pensou, em sã consciência que teria um filho nos braços, era padre, ainda mais sendo seu pai um militar do exército. O que passava na cabeça naquele momento? Nada, era nublado, como um grande susto.
- Kazuma... Kazuma vai me matar...
- Não é sua culpa, padre... Você não sabia e tomou todos os remédios.
- Como isso é possível...? Quer dizer, eu se quer sabia que estava esperando ela...
- Talvez, seja a vontade de Deus.
O loiro uniu as sobrancelhas e nem por um momento achou que algo assim pudesse ser verdade, era um pecador, por que deus faria aquilo consigo? Por que daria aquele milagre para si? Talvez somente para retirá-lo quando se apegasse a ele. E começou a se preocupar.
- Não diga ao Kazuma...
- Terá que contar a ele, é filha dele. E ele saberá quando o procurar a noite...
- Eu vou contar... Quando estiver pronto. Por hora, diga a ele que estou doente e que não posso me deitar com ele.
- Certo... Vou providenciar alguns cobertores.
- Hai... Obrigado Hana...
A mão deslizou pelo rostinho pequeno novamente, e ninguém disse nada mais uma vez, Hana achou melhor não avisar sobre a condição do bebê, e Asahi não quis saber, somente a beijou no topo de sua cabeça com algumas lágrimas nos olhos.
- Durma... Kazumi. 

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