Broken Hearts #6


- Yori-chan?
Disse a empregada, que adentrou o quarto, encontrando o garoto ali sentado na cama, coberto com aquele cobertor que parecia não aquecer nada, mas era de certa forma quentinho e macio, mesmo assim, era de cortar o coração vê-lo sozinho, quase abandonado no quarto, sem ter o que fazer.
- Você está bem?
- Estou.
- Trouxe algo pra comer. Sabe, eu pensei em trazer algo que você pudesse se entreter, o que acha? Como algum jogo... Ou algo assim.
- Consegue um celular?
- Eh?
- Um celular, pode trazer um pra mim? Pra jogar, sabe.
- Não, Yori... Não posso te dar um celular, na verdade, nem somos autorizados a usar um aqui dentro.
Yori abaixou a cabeça, decepcionado.
- Estou cansado de ficar aqui sozinho.
- Posso chamar o senhor Hideki se quiser.
- Não... Não quero.
- Ele disse que viria ainda hoje, então... Achei que seria melhor avisar.
O menor uniu as sobrancelhas, lembrando-se do modo bruto como ele tratava a si.
- Toma, sua comida, vou providenciar algo que possa te distrair, ta bem?
O pequeno pegou o prato com as fatias de pão, estava faminto, mas não demonstrou nada a ela, somente comeu quando ela enfim saiu, mordendo um grande pedaço do pão, eram todos vampiros ali, não comiam com a mesma frequência que a si, então fazia poucas refeições, e tinha que aceitar desse modo, visto que a porta do quarto estava sempre trancada.
Após comer, voltou a se deitar na cama, o quarto era grande, mas não havia nada nele, somente a cama, então passava a maior parte do dia entediado, se sentindo um animal em cativeiro, só pensava na hora que iria sair dali, e o que faria quando voltasse para casa, perguntava-se se tudo ainda estava no lugar onde havia deixado, se ninguém havia mexido, mas não conhecia ninguém...
A noite havia caído, e o olhar fitava o teto do quarto, com as luzes acesas do lado de fora, podia ver sombras, pessoas que caminhavam e imaginava o que elas poderiam estar fazendo, a empregada andando rápido a servir alguma coisa a ele, limpando o chão do ambiente ou até mesmo parada do lado de fora tentando ouvir a si e o que fazia, não sabia dizer, mas sabia que todos aqueles passos não eram dele, ele era bem específico ao andar, firme, sempre parecia estar apressado para voar na garganta de alguém, geralmente a própria.
Não havia percebido quando finalmente adormeceu, parecia que ele não viria ver a si naquele dia, visto que do lado de fora tudo estava tão pacífico, e imaginava, sonhava que poderia estar do lado de fora, na floresta, caminhando para dentro de um riacho, podia sentir o cheiro da grama molhada pela chuva, as folhas das árvores quase tocavam o topo da própria cabeça, sentia o cheiro das flores, as flores que cresciam nos troncos, nas beiradas de um rio que quase podia ouvir o barulho das águas, talvez tivesse algum peixe que pudesse comer, nem ouvira os passos. Passos? Os passos dele para dentro do quarto.
- Está dormindo a essa hora?

Quase pulou da cama.
- ... H-Hideki.
- Boa noite. Achei que haviam te avisado que eu viria.
- Me avisaram, mas eu não tenho nada pra fazer aqui, então... É fácil pegar no sono.
- Já mandei providenciarem alguma coisa para que possa de entreter.

O menor assentiu, observando a face firme dele, parecia nervoso, meio inquieto.
- ... O que houve?
Hideki desviou o olhar ao garoto, por algum motivo, não parecia estar se debatendo, gritando e esperneando como de costume.
- Nada que lhe diga respeito.
O menor uniu as sobrancelhas.
- Achei que eu pudesse ajudar. Talvez eu possa subir e ajudar você a fazer alguma coisa.
- Não vai sair daqui. Matsumi está doente.
Yori permaneceu silencioso um momento, tentando se lembrar quem era Matsumi.
- ... Sua serva?
- Sim. Não pude me alimentar hoje.
O pequeno engoliu em seco.
- Por favor, não me machuque.
- Se você se comportar não vou machucá-lo. 

Yori assentiu, sentando-se na cama, os cabelinhos loiros desalinhados. Hideki ergueu uma das mãos e deslizou os dedos pelos fios fininhos, como se fosse uma carícia, o menor recuou sutilmente, mas preferiu não fazê-lo, fitando-o de perto, e sua expressão séria parecia não tão dura assim.
- Por que escolheu um homem?
- Não escolhi um homem, eu não me atenho a um gênero.
- Teve pena de mim?
- Por alguns momentos, eu tive.
Yori suspirou e desviou o olhar ao outro, podia vê-lo sutilmente afastado de si, as mãos pouco trêmulas, e não entendia seu desconforto, quer dizer, podia imaginar.
- Eu não quero machucar você, Yori. Por favor, se comporte, tudo bem?
O maior disse, e o modo como ele havia dito, de alguma forma, havia soado afável.
- Dói?
- O que?
- Ser mordido.
- Eu não sei, eu nunca fui.
O menor abaixou a cabeça, ponderando por um pequeno tempo, se sentia como uma presa fácil para um predador, estava em frente a ele, frágil, e ele tentava desviar o olhar e não prestar atenção em si, não queria mesmo machucar a si, o que era estranho, mas causava uma suave sensação de segurança.
- ... Pode beber de mim.
Hideki desviou o olhar a ele, um tanto surpreso por sua decisão e fitou o rosto de sobrancelhas unidas do garoto, estava com medo e era evidente, sabia que era doloroso, mas se ele se entregava daquele modo para si, não iria recusá-lo. Sem respondê-lo, devagar, puxou-o para si, colando os lábios ao pescoço dele e aspirou o aroma de seu sangue, a milímetros dos lábios e da garganta, correndo pelas veias, agitado como seu coração que batia firme no peito, o medo era evidente, um prato cheio para um vampiro.
Num piscar de olhos, antes que Yori pudesse acordar de seus devaneios ansiosos pela mordida, Hideki havia cravado as presas em sua pele, talvez daquele modo fosse realmente melhor, não iria sentir tanta dor quanto algo fincado devagar na carne, mas o grito ainda assim rasgou a garganta do menor. Era a sensação mais agoniante que já havia provado, um misto de dor, ansiedade, medo, todos os sentimentos ruins que podia sentir, e ainda assim, as mãos do outro o seguravam com tamanha gentileza entre os braços, não era apertado, era suave, e podia sentir sua pele fria se aquecer conforme ingeria de si, cada gole quente do próprio sangue.
Yori piscou algumas vezes, quase não podia ver corretamente, mas Hideki já o havia abandonado, não iria beber muito mais ou o mataria ou o deixaria doente, seu corpo já parecia fraco, sabia que não o estavam alimentando bem, e seria aquele o motivo das reclamações da noite que o vampiro faria. O corpo pequeno fora deixado na cama não tão macia, coberto pelos cobertores quentes, o sangue não mais escorria, e novamente, o menor podia sentir o cheiro de grama e das flores, havia desmaiado. 

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1 comentários:

  1. Mesmo eu imaginando a dor que a mordida causou em Yori, não paro de pensar no quão amável foi o Hide-chan. Quer dizer, neste cap ele se segurou bastante para não beber o sangue do Yori e, talvez, o machucar seriamente.
    Ele poderia ter deixado de ver o Yori? Poderia, mas ao meu ver a saudade bateu. Ele até deixou claro para a empregada que ela falasse que ele iria vir!

    Estou ansiosa pelo próximo cap!!!

    Obrigada Kaya!!! Amei demais!!!

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