Kaname e Shiori #39


A noite havia começado há algumas horas, e Shiori já estava no hospital, trabalharia aquela noite ao invés de atender em casa. Não havia visto Kaname a tarde toda, e era por isso que estava aflito enquanto segurava a prancheta anotando os nomes dos pacientes, era um trabalho medíocre para si, já que havia se conseguido se formar em enfermagem, mesmo que somente para ajudá-lo no trabalho. Observava o relógio a cada cinco minutos, meio inquieto e atendia de modo desgostoso aos pacientes, que vez ou outra, acabavam ofendendo a si.

- Shiori, tudo bem?
- Hai... Eu queria ver o Kaname... Onde ele está?
- Na emergência. Sabe que ele é escalado uma vez por mês pra ficar lá, ele odeia, mas está lotado.
Shiori uniu as sobrancelhas a observar a outra enfermeira e negativou.
- Será que eu posso ir pra lá? 

- Você pode ver como ele está, vou pedir que a Ana venha pra cá.
- Hai. Obrigado.
O menor falou à  moça e sorriu, seguindo rapidamente em direção à entrada da outra ala e pelos corredores brancos chegou na emergência, parecia o inferno, sangue para todo o lado. Um paraíso para um vampiro, mas não para ele. Passou por alguns médicos, tentando encontrá-lo, meio confuso.
- Kaname?
Kaname caminhou por todo o salão, enquanto com a prancheta na mão, analisava cada ficha dos pacientes, buscando os casos piores para passar a frente no atendimento e chamar no consultório. Ao passear por lá, sempre se alimentava bem, o bastante suficiente para não sentir fome entre tantos feridos. Buscou o estetoscópio já no pescoço e ao posicioná-lo sobre o peito do paciente junto aos ouvidos e ouvir cada pulso de seu coração, analisando com procedimentos pequenos e padrões e quando o deixou novamente descansar no pescoço, ouviu a voz do companheiro.
- Kaname!
Shiori falou ao vê-lo finalmente, e reconheceu pelos cabelos compridos, presos num rabo de cabalo.
- Você... Está de cabelo preso... Está lindo. - Sorriu a ele, meio envergonhado. - Está um inferno aqui, vim ver se precisa de alguma coisa.
Num reflexo, Kaname tocou os cabelos somente por vê-lo falar, mas sorriu, sem muita evidência, mas notável.
- Foi necessário. - O maior respondeu, no entanto já dada atenção ao que prosseguia a dizer. - Não preciso de nada, vou deixar alguém no meu lugar por uns minutos e podemos fazer um intervalo se quiser.
- Hai, eu... Ficaria feliz.
Shiori sorriu e aproximou-se a beijá-lo no rosto, mesmo em meio ao caos da sala e antes que pudesse segurar a mão dele ouviu a sirene alta da ambulância que deu espaço para um grupo de enfermeiros que correram para receber o paciente, e era um homem, não era muito grande, na verdade, quase da própria estatura e era guiado com uma máscara de oxigênio sobre a face, para que pudesse se manter vivo, embora com os ferimentos que tinha, duvidava muito, mas o que mais chamou a atenção de si fora a maca que veio a seguir com um pequeno corpinho, tão pequeno que parecia o próprio filho quando pequeno e sentiu o coração apertar ao perceber que ele também podia não sobreviver. Ouviu no som, a voz chamar pelo outro, indicando a sala de cirurgia para o novo paciente que acabara de adentrar o local e uniu as sobrancelhas, desviando o olhar a ele.
- Kaname... É um bebê... Ele... Não pode perder os pais.... - Murmurou. - Eu vou com você.
- Ele não vai.
Kaname disse, muito ligeiro, infelizmente anulando o pequeno intervalo que teria, e junto a precisão dos enfermeiros que corriam para o atendimento, seguiu para a sala, junto ao menor que levou, indicando seus preparos para o procedimento. E ao entrar na sala antecessora, aprontou-se para o atendimento o mais breve que pôde.
Ao adentrar o local com ele, Shiori observou as macas colocadas lado a outra, o pai havia falecido no acidente segundo a ficha anexada e a "mãe" era operada por alguns médicos já prontificados. Uniu as sobrancelhas, observando o pequeno corpinho ali e segurou a mãozinha pequena da criança.
- O que ele tem...?
Kaname seguiu para procedimentos padrões, analisando o estado da criança. Colocou-o no respirador, provendo de oxigênio seus pequenos pulmões, e o que era necessário de medicamento para anular a dor e fazê-lo funcionar.
- Um pequeno traumatismo, é leve, mas pela idade do bebê, é grave pra ele. Vai dar tudo certo.
O menor uniu as sobrancelhas novamente ao ouvi-lo e deslizou uma das mãos pelos cabelinhos poucos dele, devia ter no máximo um aninho e desviou o olhar ao pai dele ao lado.
- ... O que eu posso fazer?
- Vai dar tudo certo.
Disse o maior ao pequeno, tentando tranquilizá-lo, e tão logo deu inicio ao procedimento cirúrgico, pedindo o menor o que achava necessário, fosse em acessórios ou no procedimento.
Shiori assentiu ao ouvi-lo, mesmo aflito e o ajudou no que ele julgou ser necessário, sempre pronto ao lado e vez ou outra cessava a segurar a mão do pequenininho. Deslizou uma das mãos pelos cabelinhos sele uma segunda vez.
- Tudo bem, você vai ficar bom.
- Você pode conversar com ele, pode cantar ou fazer carícia.
Kaname disse ao menor, enquanto continuava, meticulosamente nos cuidados da cirurgia. Até que completasse alguma hora depois. Shiori assentiu ao ouvi-lo e aconchegou-se ao lado do pequeno, embora ainda atento aos pedidos do maior vez ou outra. Deslizava a mão pelo rostinho pequeno do bebê e como ele havia sugerido, cantava uma musica baixinha para ele.
- Pronto, Shio. Nós terminamos. Estável, porém vamos precisar observar ele.
O menor sorriu ao ouvi-lo, finalmente tranquilo e assentiu, observando o garotinho com a expressão inalterada e deslizou uma das mãos até a dele, apertando-a sutilmente.
- O pai dele... O que houve?
- Eu não sei, não tive atendimento com ele. Pela ficha, morreu logo ao ser atendido ou na hora.
- M-Mas a "mãe"?
- Ficará bem, Shiori. Sabe que não deve se apegar dessa forma. Ele estará bem, não há como ele ficar sozinho comigo por perto.
- Hai... Me desculpe... É que ele parece tanto o Etsuo...
- Eu sei, eles ficarão bem.
Ao fim da noite, o dia já raiava enquanto o menor estava no quarto a cuidar do garotinho, não era realmente necessário, mas estava ao lado dele a segurar a pequena mãozinha entre os dedos e com a cabeça encostada em sua cama, estava quase pegando no sono.
- Shiori.
Disse o maior, chamando baixinho visto que seu quase sono. Tocou seu cabelos, nas pontinhas do comprimento e trouxe a ele um café com chocolate, entregando. Golando o próprio, sem o chocolate.
- Eh?
O menor acordou rapidamente, fingindo não estar dormindo e desviou o olhar a ele, aceitando o café, com o rosto de aparência meio "amaçada", sonolento e bebeu um gole da bebida.
- Obrigado...
- Como você não gosta de café, trouxe com chocolate. Vamos embora.
- Obrigado. - Shiori sorriu novamente. - Mas... Ele está bem?
- Sim, estável. O pai dele também.
- Hai... Então vamos... - O menor murmurou e levantou-se.
Kaname soltou o cabelo e ajeitou o casaco que substituía o jaleco por vez. Entregou a ele seu casaquinho preto. O menor pegou o próprio casaco, colocando-o sobre a roupinha branca, já que não usava jaleco e sorriu a ele.
- Vamos.
Kaname disse, seguindo junto a ele até o estacionamento. Debaixo de um guarda-chuva comprido e preto, suficiente para se esconder um pouco da luz da manhã, ainda que o sol não estivesse evidente, estava bem claro. Shiori seguiu junto do outro, agarrado a ele praticamente e ao adentrar o carro, se cobriu com a blusa.
- Quer que eu dirija? Eu... Sou vampiro a mais tempo e...
- E o que? Sou acostumado com os horários, você não.
- Hai...
- Além de que, está preocupado demais.
- Desculpe. - Shiori murmurou e sorriu a ele.
- Pare, amanhã vamos vê-los muito melhores que hoje.
Disse  maior, logo assumindo o volante.
- Hai... - Murmurou e encolheu-se no banco.

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