Kaname e Shiori #41 (final)


Shiori adentrou a casa com o bebê, seguindo rapidamente para a sala, onde o deixou sobre o sofá e ali abaixou-se a observá-lo, colando o ouvido ao peito do pequeno, tentando ouvir os batimentos, se ainda existiam, e eram poucos que aos poucos estavam parando.
- Kaname!
Kaname havia chego há pouco, o tempo suficiente para tomar banho e vestir-se sem roupas de trabalho, sentir-se confortável. Ao chegar não encontrou o filho ou o companheiro, imaginou logo que talvez fosse sua ida ao mercado, do contrário teria deixado algo preparado, era habitual, embora já não sentissem mais fome de alimento, até mesmo pequenino havia se habituado com guloseimas e gostava de poder lhe prover de algum aperitivo mais elaborado do que simplesmente o sangue que precisava. Deixou o banho ao sair enquanto secava os cabelos compridos com uma toalha que não fazia muito pelos fios. E sentia aos poucos a presença do companheiro, seu cheiro, denunciando sua chegada, assim como ao ser chamado e parecia inquieto. Saiu do quarto até o local onde pôde recebê-lo, havia percebido o odor humano por lá, porém, sentia esse cheiro o tempo todo, portanto havia se adaptado. A medida em que chegava mais perto, pôde vê-lo junto a uma criança, enrolada no tecido e parecia tão débil.
- O que?
Indagou sem completar a frase, sem entender aquela criança. Imaginava que precisava de ajuda, porém não entendia a falta de um responsável. Mas claro que como de costume, voltou antes de pisar no último degrau para busca do estetoscópio ou o que fosse de prontidão para ajudar o pequenino por lá.
- Kaname... - Shiori falou a desviar o olhar ao outro já na sala e uniu as sobrancelhas, sentindo os pulsos do pequeno aos poucos se dissipando. - Me ajuda! Eu... Não sei o que fazer!
Falou a ele e observou o filho pequeno, que também parecia assustado. Apoiou os dedos no peito do bebê, pressionando-o a tentar uma ressuscitação, assim como a respiração que tentou fazer para acordá-lo e uniu as sobrancelhas, concentrado no que fazia por um bom tempo, mesmo após a volta dele, até que ao se deitar, pode ouvir os batimentos que haviam retornado e suspirou, aliviado.
- De quem é essa criança?
O maior indagou quando finalmente voltou até lá, verificou o pulso do bebê, os batimentos cardíacos normais embora fraquinhos. Cuidadosamente manipulou seu corpo frágil, verificou se não havia nada errado fisicamente, sua nuca, sua temperatura e infelizmente ninguém ali podia prover o que ele precisava, calor.
- Está com baixa temperatura, é um bebê, precisa de muito mais, não há como aquecê-lo com o corpo, precisamos acender a lareira e ficar por perto, enrolar ele numa manta ou cobertor térmico.
- Hai...
Shiori murmurou e levantou-se rapidamente após ouvi-lo e num pulo buscou a manta e o cobertor no andar superior, o que era do próprio filho antes.
- Aqui. Etsuo achou ele jogado numa caixa na rua...
- Ele vai morrer, mamãe?
Kaname negativou ante a situação. Aceitou a manta e envolveu o pequenino, entregando-o ao colo do parceiro. Encaminhou-se até a lareira na sala e acendeu sem delongas. Usou algumas das almofadas do sofá e ajeitou sobre o tapete da sala, criando um pequeno e temporário leito à criança, onde a colocou, evitando a exposição de outro alguém a temperatura não muito agradável por longo período, talvez pudessem manter algum tempo, mas não o quanto a criança precisaria.
Shiori observou o pequeno ali e sentiu pena, queria abraçá-lo, mantê-lo consigo e isso havia criado pequenas lágrimas nos olhos, desviando o olhar ao filho e negativou a sua pergunta, abraçando-o a pegá-lo no colo.
- Não, meu amor.
- Ele vai ficar bem, só tem frio. Hoje está frio até pra você, não está? - O maior disse ao filho, a que se dirigiu logo e afagou seus cabelos finos e escuros. - Precisamos de leite e uma mamadeira, deve ter alguma do Etsuo recém-nascido. Precisa ser rápido, o leite vai aquecer o corpo dele.
- Hai.
Shiori murmurou e entregou o filho nos braços dele, seguindo ao quarto do pequeno onde buscou a mamadeira guardada e na cozinha, preparou o leite quente. Kaname pegou o pequenino, que quase parecia um gato curioso, esticava-se no colo e se encolhia do mesmo modo, tentando ver o bebê e ao mesmo tempo se aconchegar no colo.
- Vem, vamos ficar no sofá e podemos vê-lo.
- Hai. Posso tomar meu yogurte agora?
Logo, Shiori voltou a sala e observando o pequeno deitado próximo a lareira e aproximou-se, guiando a mamadeira próxima de sua boquinha, que aceitou a bebida.
- Ah, você quer o yogurte? Achei que queria ficar e ver o que está acontecendo, curioso. - Kaname disse ao filho e viu o companheiro chegar. - Shiori, pode pegar ele e se afastar um pouco durante o leite, vai aquecê-lo de todo modo, depois pode colocá-lo de volta.
O menor assentiu ao ouvi-lo e logo pegou o bebê no colo, aconchegando-o nos braços e abriu um pequeno sorriso. Sentia-se como quando pegou o filho a primeira vez, aconchegando-o em si, e dando a ele o que podia para alimentá-lo.
- Só tente não deixar a pele dele em contato com a sua.
Kaname teve de alertá-lo e consigo levou o filho até a cozinha, pegando o yogurte da sacola e entregou a ele, ainda no colo, assim como a colher de chá, para a sobremesa. Etsuo fez bico e pegou o pequeno potinho, abrindo-o meio desajeitado e tentava observar a mãe na sala.
- Vai ser meu irmãozinho, papai?
- Você é mesmo curioso.
O maior disse ao pequenino, parecendo ainda um pequeno bicho. Seguiu até a sala novamente, sentando-se no sofá próximo ao companheiro, deixando a criança em vista do filho. Não sem antes respondê-lo.
- Nós vamos devolver ele pra mãe dele.
Desviou o olhar ao maior e assentiu, porém, lembrou-se que havia um bilhete em conjunto e retirou cuidadoso o papel do bolso, entregando-o ao parceiro.
- Isso estava com ele.
Shiori ajeitou o pequeno no colo, até havia feito menção de deixá-lo no sofá, mas fora bem agarrado antes disso. E fitou o bilhete, ao mesmo tempo que mexia em seu pequeno pote de yogurte, sua colher igualmente miúda e preencheu com a sobremesa a levar em sua boca, que era aberta sem atenção, já que seus olhos arregalados fitavam curiosamente o hóspede recente.
- O que está escrito? Abandonaram o bebê?
Shiori desviou o olhar a ele e observou-o enquanto lia a carta e uniu as sobrancelhas.
- "Espero que um dia Deus me perdoe por isso e você também. Espero que uma boa alma possa te encontrar e fazer o que eu não tenho condições de fazer."
Kaname ouviu o que dizia e no fim do pequeno bilhete não disse nada, na verdade, deixaria a criança melhorar e pensava que conversar sobre aquilo, somente após isso. Assentiu e negativou logo após.
- Então por que faz... Tsc.
- Me perguntei a mesma coisa. Sabe como são os humanos.
- Costumávamos ser sem que fossemos assim.
Shiori assentiu, observando o rostinho pequeno do bebê.
- Ele parece muito o Etsuo quando era pequeno.
- É porque ele é meu irmãozinho.
- Mas ele tem cabelos claros.
- Isso é chantagem, Etsu? Querendo convencer seu pai de ficar com o bebê, ah?
- E o papai vai?
Shiori riu e negativou, desviando o olhar ao bebê e acariciou o rostinho dele.
- Parece que sua mãe se apaixonou.
- Eh? Não mamãe, você tem que me amar mais!
O menor riu e desviou o olhar ao outro.
- Hey, estou brincando.
- Não estou apaixonado por ninguém.
- Vocês podem ficar com ele se o Etsuo não for ficar com ciúme.
- Eh? Não, é meu irmãozinho!
Shiori sorriu a desviar o olhar ao outro.
- Podemos...?
- Não acredito que os pais vão procurar, então...
- Hai... Eu vou cuidar dele.
- Eba!
- Mas... Você tem que entender, Etsu, ele não é um mordedor.
- Eh? Mas não posso tirar nem uma lasquinha?
- Não!
- Nem idade pra isso você tem.
- Vou levar ele embora, não vai dar certo com o Etsuo.
- Não! Não! Eu me comporto!
- Quero só ver.
- Ele pode tomar yogurte?
Shiori desviou o olhar ao filho, sorrindo e suspirou, deixando a mamadeira vazia de lado.
- Ele provavelmente ainda não consegue se manter com algo além do leite. É muito pequeno, mas daqui uns meses talvez ele já possa. Bom, precisamos dar um nome a ele.
Kaname disse ao companheiro e voltou a servir o filho com o resto do yogurte.
- Hai... - Shiori murmurou e sorriu, observando o pequenininho.
- Eu gosto de Ritsu. - Disse Etsuo.
Kaname arqueou uma das sobrancelhas.
- Você tem quatro anos, como pode saber o que é um bom nome, hum?
- ... É meu irmão, eu dou o nome que eu quiser. - Deu de ombros.
Shiori riu.
- Quem escolhe o nome sou eu, porque você é meu filho, então eu mando em você e mando nele também.
O pequeno uniu as sobrancelhas.
- É, eu mando mesmo.
- Hai...
- Então eu vou escolher Ritsu, o que você acha, baixinho?
- Acho lindo. - Shiori sorriu.
- De verdade?! - Disse o pequeno.
Shiori riu, bem baixinho na verdade, achando graça da reação do filho.
- O que?
- Nada, bonito o nome que o papai pensou, não é?
- Papai não pensou em nada, fui eu que pensei.
- Mentiroso, foi o papai.
- Não!
Shiori riu.
- Olha, vocês.

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