Kazuma e Asahi #46


Já fazia alguns dias queAsahi não o via, os ventos frios traziam a neve para perto da igreja, quase bloqueando os portões e talvez fosse por isso, ele parecia querer se aquecer por lá mesmo no inverno, o que achava meio bobo, já que poderia aquecê-lo melhor do que qualquer um. Mas enquanto não o tinha, podia subir na torre e observar sua base de longe, e claro, fez questão, de acender outro daqueles pequenos balões, e deixar que o céu se iluminasse por ele, esperando que de alguma forma ele pudesse ver a si novamente, e se interessar em vir.

Os últimos dias não haviam sido de fato tumultuados pela guerra, ataques ou aquele período caótico que já se seguia por alguns anos. Mas Kazuma tinha afazeres, troca de cartas ou mensagens entre outras bases e mesmo a central, onde tinha ampla informação do que ocorria ao redor. Na última que recebera, tinha quase uma notícia positiva, o qual não tinha animosidade precoce, esperaria acontecer, mas era aquela a terceira vez que se mencionava a possibilidade do fim da guerra. Quando finalmente colou o papel, terminou atividade e apagou a vela sobre a mesa de madeira, mogno, assim como finalizou o conhaque num trago, do pouco se viu pela janela um pequeno ponto de luz, que dalí, mais se parecia com um vagalume, mas era distante demais para ser e ainda estar a vista. Ao se levantar, seguiu até a porta e de lá fitou seu presente noturno, era estranho dizer mas achava aqueles balões adoráveis, coisa de criança. Um sorriso é claro apareceu com sutileza e se voltou junto ao soldado para dentro, entregando-lhe os documentos a medida que buscou o casaco de inverno e sem respondê-lo, seguiria numa visita até a igreja. Chamou alguns dos soldados, indicou a leva de alimentos e seguiu junto aos homens até a casa santa, onde preparariam algum ensopado, alguma bebida quente e lhe faria uma visita no quarto. 
Asahi sorriu para si mesmo, já que estava sozinho e esperava que ele houvesse visto, daquele ponto, era tudo tão pequenininho que quase não via nada, somente formiguinhas. Mesmo assim, esperava do fundo do coração que ele viesse, e foi se trocar, mas antes, deixou preparado e montado mais um daqueles pequenos balões, e queria que ele o acendesse consigo. Agasalhou-se no quarto, há pouco havia se lavado, embora um frio de congelar, conseguira um pouco de água quente, e daquele modo, poderia se manter limpo sem morrer de frio. Seguiu ao andar de baixo, fitando por ali os idosos que cumprimentavam a si e se perguntavam o que teriam de jantar.
Após a pequena marcha ao destino não muito distante, o moreno bateu à porta da igreja, em suas portas pesadas e detalhes ornamentais entalhados em sua madeira maciça e pouco gasta após a guerra. Aguardou o atendimento, embora logo desse vasão a si e aos homens sem necessidade de serem recebidos. Indicou a ele onde seguir e disponibilizar o jantar a ser formulado.
Ao ouvir o som da porta, o padre abriu um pequeno sorriso, e sabia quem era, se encaminhou quase num pulo até o local, e com um pequeno sorriso de canto, atendeu ao outro e seus soldados, cumprimentando-os até chegar a ele.
- Kazuma-san.

- Oi garoto dos balões. - Disse o maior a ele e trocou uma e outra ordem com os soldados antes de por fim falarem. - A caminhada parece um pouco turbulenta até aqui.
Asahi sorriu a ele ao ouvi-lo e assentiu.
- Que bom que viu... Por quê?

- A neve está densa.
- Ah... Sinto muito por fazê-lo vir aqui.
- Não fez, vim com minhas pernas, não empurrado. - Kazuma disse e sorriu a ele. - Trouxe alguns mantimentos. Faremos o ensopado com carne para o jantar.

- Com carne? - Asahi sorriu. - Não como carne há... Uns dez anos.
- Carne desfiada, é uma quantidade suficiente pra sentir o sabor dela, e mordiscar um pouco.
- Mesmo assim é incrível.
- Sim, é bom. Vamos sair daqui, esperar até estar pronto.
- Hai, quer subir?
- Podemos? Tenho algo a comentar com você, embora seja trivial.
- Claro, eu quero saber.
- Então vamos. - Disse o maior e indicou com a mão a direção que já conhecia.
Asahi assentiu e seguiu com ele pelas escadas, ignorando os comentários sutis de seus homens, que já se dissipavam em olhares apenas devido ao costume com que viam seu general saindo com um padre. Por fim, fechou a porta do próprio quarto atras dele.
- O que houve?

Kazuma seguiu logo após ele, e na chegada, adentrou seu aposento o qual a porta viera a ser fechada por ele mesmo. Deliberadamente caminhou por lá e sentou onde bem entendeu.
- Como deve perceber a guerra está cada vez mais branda. Não é algo certo ou definitivo, mas acho que a esperança lhe pode ser benéfica. Aparentemente estamos muito próximos do fim dela.

O loiro sorriu ao ouvi-lo, um sorriso que aos poucos cresceu nos lábios e mordeu o lábio inferior.
- Verdade?

- Sim, foi a informação que hoje recebi. Porém não deve levar a ferro, é uma possibilidade de acordo com o andamento da situação.
- Mas já é uma boa probabilidade.
- É uma chance.
Asahi sorriu, e claro, pensava que iria poder ficar junto a ele, mas aquilo talvez nunca acontecesse, e o sorriso aos poucos sumiu dos lábios, o medo tomou o lugar.
- Qual o problema? - Kazuma indagou ao rapaz, notando seu sorriso vacilar.
- Nada... Só meio preocupado. Vem, eu coloquei os cobertores que eu tenho, a cama está bem quentinha.
- Não estou planejando me deitar.
Disse o maior, estranhando o intuito do comentário. Não havia de fato pensado em sexo, justamente por isso não o entendeu. 
Asahi manteve-se a observá-lo por um pequeno tempo e não sabia o que dizer, nunca o havia recebido de modo que ele não pensasse em fazer aquilo, na verdade, era somente aquilo para ele. E por fim, deu um pequeno sorrisinho sem graça, desviando o olhar e assentindo.
- Certo... Ahn... Quer subir para a torre comigo?

- Hum, talvez o padre esteja me convidando para o sexo? - Kazuma indagou, dando-se por conta ao perceber sua feição tímida.
- Ah, é que eu achei que... Você...
- Hum, se você quer, posso fazer.
- M-Mas eu não convidei... Eu achei que quisesse porque... Sempre que vem aqui, vem pra isso.
- Nem sempre fazemos quando venho. - O maior corrigiu, ainda assim achando graça.
- Desculpe... Não me leve a mal...
- Por que levaria?
- Por eu ter convidado a se deitar...
- Não seria motivo para levar a mal, temos esse tipo de contato, não é nada a que levar a mal. Mas diga, quer ir pra cama ou pra sua torre?
- ... Podemos ir primeiro para a torre. - Sorriu a ele. - E depois, jantar a luz de velas, ensopado. - Riu, como se fosse algo muito romântico. - E depois, podemos dormir juntos. O que acha?
- Ah, que planos mais românticos.
Asahi sorriu.
- Uma comemoração para o possível fim da guerra.

- Não se encha de esperanças.
- Não estou. Não se preocupe. Vou pegar uma boa garrafa de vinho, mas primeiro, venha comigo, eu fiz uma coisa pra você.
- Claro. - Ao se levantar, Kazuma esperou por onde queria seguir o caminho.
O loiro sorriu a ele e guiou-o consigo para as escadas e subiu em direção a torre, onde disse que o levaria. Ao chegar, embaixo do pequeno banquinho, pegou o balão feito, como os anteriores e mostrou a ele, havia gravado as iniciais na lateral, na parte de papel, e com um pequeno sorriso entregou na mão dele, junto da caixinha de fósforos.
Kazuma seguiu consigo o caminho que já conhecia. Notou então o pequeno balão que ganhou dele e conferiu o "brinquedo" de papel.
- Ora, me deu um balão, por quê?
Indagou achando o gesto curioso, mas continuava a achar aquilo adorável, tanto o brinquedo quanto a ideia de vê-lo criando aquela pequena coisa.

- Quero que você solte ele comigo. - Sorriu. - Tem nossas iniciais, aqui na lateral.
- Qual significado disso?
Kazuma indagou mas buscou o palito dentro da caixa, riscou para acendê-lo. 

- Bem... - Asahi murmurou e observou-o por um pequeno tempo, depois observou o céu. - Significa que de alguma forma, eu posso imaginar que ele vai se juntar com as milhares de estrelas no céu, e que com isso, eu terei esperanças de que... - Cessou e uniu as sobrancelhas, desviando o olhar a ele. - Deixa, é coisa de criança.
O maior sorriu a ele, meio de canto, ouvindo e achando graça em sua teoria, não precisava completar, imaginava que se tratava de algum desejo, pedido. O que era estranho para um padre, ter fé em estrelas ou mesmo um pequeno balão de papel. Assentiu a ele no entanto e acendeu o brinquedo, entregou na sua mão para que o soltasse, uma vez que havia acendido.
O loiro sorriu a ele, satisfeito da pergunta não ter sido formulada e assim que o viu entregar a si, segurou a mão dele e empurrou em conjunto com o outro, deixando que o vento levasse o pequeno balão. Kazuma observou a partida do brinquedo, e imaginava como era vê-lo de onde normalmente estava. 
- Tchau, balãozinho.
Asahi riu baixinho e assentiu, observando o pequeno balão que voou pelo céu até se perder.
- Tchau.

- Tadinho do balão. - O moreno disse a ele e soava muito sério.
- ... Eh? Por que?
O maior fitou-o de lado, e deu um sorriso, estava brincando. Asahi observou-o e sorriu em seguida, negativando.
- Bem, vamos descer e beber um pouco de vinho?

O loiro observou-o e sorriu em seguida, negativando.
- Bem, vamos descer e beber um pouco de vinho?

- Vamos verificar o jantar? Podemos ter o vinho de acompanhamento.
- Hai!
- Então vamos até lá.
Disse o maior a ele e observou a vista ampla por onde o pequeno balão passeou e logo, desceram da torre onde haviam ido. Kazuma d
esceu junto dele, atento aos degraus, afinal, quebrava ossos como se fossem de vidro, e não sentindo dor, era fácil passar por algo ruim e não tinham médicos. Seguiu com ele para a cozinha, no andar de baixo e por fim, segurou sua mão, não tinha mais vergonha.
Asahi observou o contato de seus dedos, nunca os entenderia, não era alguém acostumado com toques deliberados ou amorosos senão familiar, nunca tivera interesse em algo além de sexo ou trabalho, então ter aquele tipo de contato com ele, era incomum e novo.
- Parece que está pronto.
O maior disse a ele, sentindo o cheiro da comida, não finalizada, mas quase.

- Hai. - O menor sorriu e observou o cozinheiro do exército que preparava os pratos. - Eu vou pegar o vinho.
- Trouxemos o vinho para aquecê-lo, Padre. Como aquele que bebeu antes.
- Ah, trouxeram? Ta bem. - Sorriu.
- É claro, como faltar vinho e gengibre com o frio que estamos?
- Me parece delicioso.
- É claro, já o tomou antes.
Kazuma disse e deu-lhe um leve peteleco na testa. Estavam na cozinha e podia perceber o vapor da panela grande e quente. Já os mais velhos, aparentemente estavam sempre no salão, rezando, enquanto aguardavam o jantar. As crianças, em algum quarto, tinham livros e alguns brinquedos, outras simplesmente adoravam o colo dos mais vividos ou seus cabelos que pudessem pentear.

- Ai! Eu sei, mas parece delicioso hoje.
Asahi riu novamente e segurou sua mão, dando uma pequena mordida em um de seus dedos, uma brincadeira, nada que o machucasse. Kazuma a
rqueou a sobrancelha ao sentir o mordisco e pressionou sua língua, enchendo o saco, ao ser mordiscado.
- É o frio.

- Ai ai. - Riu.
- Vamos, sirva-se.
O loiro assentiu e aceitou o prato com a sopa, e deu a ele antes de pegar o próprio, agradecendo o cozinheiro em seguida. Kazuma agradeceu a gentileza do garoto e após se servir, via os homens por lá fazerem o mesmo. Já o cozinheiro, junto as enfermeiras colocavam-se a dispor a refeição as crianças e mais velhos, que era guiados à mesa noutro cômodo, assim formulando seu jantar.
- Hum, onde podemos acender as velas? Por aqui mesmo? - Sorriu.
- Hum, se realmente quer esse tipo de coisas, sugiro ir ao quarto.
Asahi riu baixinho.
- Estou brincando, estou perguntando se quer se sentar aqui ou lá em cima.

- Venha, vamos nos sentar onde não tenha barulho.
- Hai. - O menor falou e o seguiu.
O loiro sentou-se ao canto, junto dele, onde não havia tanto barulho e deixou o prato sobre a mesa, experimentando a sopa, gostosa com os pedacinhos de carne.
- Oishi.

Kazuma segurava o pequeno recipiente com a sopa, achando os finos pedaços de carne, saboreando o gosto forte e salgado.
- Bom, bom.

- Gosta de coisas fortes? - Asahi sorriu a ele e experimentou um pouco da bebida servida por um de seus soldados. - ... Quente.
- Gosto de coisas bem salgadas.
Respondeu o maior e tornou tomar do jantar. E estava ali um tanto frio, amenizado no entanto pela sopa e a bebida que acompanhava. Asahi s
orriu de canto e assentiu.
- ... Acho que queimei a língua.

- Bem, felizmente você ainda consegue sentir sabor mesmo assim.
- ... Tem bolhas? - Asahi mostrou a língua a ele.
Kazuma fitou e negativou, percebendo-a vermelha, mas nada excessivo. Asahi assentiu, ao finalizar a refeição, sorriu meio de canto a ele e bebeu mais do vinho.
- Posso comer um pouco mais
?
- Você viu o tamanho daquela panela, hum? Suponho que deva comer um pouco mais. - Disse o maior e deu-lhe um sorriso de canto, como ele a si.
O menor sorriu meio de canto e assentiu.
- Acho que... Não vou comer mais...

- Por que não?
- Porque minha cama parece convidativa.
- Coma, teremos algum tempo depois.
- Hai... - Asahi sorriu e pediu pouco mais da sopa, que foi servida em seguida. - Você quer?
- Vem, vamos buscar.
Disse o maior e por fim se levantou, seguindo com o garoto até a cozinha onde a pouco estavam. Com seu pequeno recipiente em mão, serviu o ensopado a ele, e aceitou um pouco mais para acompanha-lo. Voltaram-se no entanto ao lugar onde estavam, onde as conversas não eram altas ou mesmo o sorver da sopa.

Asahi assentiu e levantou-se, seguindo com ele a cozinha e entregou o pequeno potinho ao rapaz que o preencheu com mais comida. Voltou com ele ao local, próximo da torre onde se sentaram e sorriu a ele, meio de canto.
- Está realmente gostosa.

- Bem salgado. Espero que não faça mal aos mais velhos.
Disse o moreno e voltou a comer, o acompanhando, no silêncio. De fato não tinha muito sobre o que abordar com ele, se conversavam, geralmente ele era responsável pelo encontro do assunto, embora não fosse proposital.

- Hum... Sabe quando eu era pequeno, nós saíamos da igreja para fazer bolas de neve... Será que podemos?
- Hum, está frio, talvez quando a neve deixar de cair.
- Hai... Fazer um boneco de neve.
- Você parece uma criança. - Disse o maior, achando graça.
Asahi sorriu meio de canto.
- Eu não tive infância, então...

- Mas você disse que brincava na neve, o que basicamente quer fazer agora.
- Eram as poucas formas que podíamos nos divertir
- Já é alguma coisa, hum?
- Hai. - Asahi sorriu meio de canto conforme terminou a sopa.
- Aposto que mesmo na infância com pouca diversão, você provavelmente sente falta e gostaria de ir dar uma volta no passado.
- Talvez... Talvez um dia eu... Possa descansar sem toda essa guerra e brincar na neve de novo.
- Quem sabe.

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