Ikuma e Taa #42


Em passos despreocupados, sem correria e sem lentidão, Ikuma traçava o caminho pelo solo que ecoava no ambiente vazio o curto salto da botas de bico. A boate não tinha nenhum movimento, nenhuma alma a penar por ali. Era cedo, não muito, mas o suficiente pelo horário o qual havia instruído um rapaz a abrir o lugar. A bolsa carregava pelo ombro e balançava-a de lado e outro sem peso do que havia em seu interior, apenas roupas e poucas, pelos meses em que passou fora dali, três ou quatro, e nem sequer havia avisado ao companheiro. Ao pensar sobre tal, tinha consciência do desgosto que daria ao homem, porém não pôde evitar que a curva dos lábios se alargassem num sorriso. Sabia, que talvez voassem objetos pelo quarto, mas desviaria de todos, talvez um tapa e outro, ah, enfrentaria o mau humor do vampiro. Nas escadas os passos de eco já denunciavam a quem estivesse dentro do quarto, aproximação existia, e como vampiro, o cheiro da amadeirada colônia se instalaria nas narinas de Taa, mesmo antes que pudesse tocar a fria maçaneta da porta e girá-la, até que a porta de casa estivesse aberta 

a dar as boas vindas a si.
Taa caminhou em passos irritados pelo local, firmes no solo, passou pela porta mesmo sem se identificar nem dizer nada as pessoas ali existentes e ignorou todas as palavras delas a si. Desceu as escadas e abriu a porta do quarto, deixando-a bater contra a parede com força e logo voltou a fechá-la, aproximando-se do outro que viu virar de frente para si e segurou o pescoço dele encostando-o a parede e rosnou, mostrando as presas.
- Onde você estava seu desgraçado?!

O meio sorriso elevou a lateral dos beiços espessos, e de longe era previsível ouvir sua marcha irritadiça pelo lugar. Ikuma virou-se tão brando a direção, e pôde quase prever até mesmo suas palavras antes de dizê-los. Visto que regrediu passos a ser voltado ao concreto de cor forte, assistia-o rosnar e sem quaisquer respostas desgrudou os próprios lábios num rosnado suave, junto de uma leve expressão risonha e sacana.
O maior observou a face dele, estreitando os olhos e a mão encontrou a parede, dando um soco no local.
- Fala, seu filho da puta!

- Ah, que medo... - Sussurrou a ele, num leve franzir do cenho tão ironizado.
- Ikuma!
- Por aí.
As mãos do menor em inércia a pender nas laterais do próprio corpo, elevadas a pousar no magro quadril do outro homem e trazê-lo mais próximo ao próprio corpo. Taa l
evou ambas as mãos até as dele, retirando-as do local.
- Fala!

- Trabalhando, visitando a família. Oh, mas tudo isso é saudade, Lagartixa?
- Você não estava visitando a sua família!
- Então o que eu estava fazendo?
- Estava com alguma prostituta por ai, não estava?
O riso escapou enquanto as azuladas lentes do menor corriam pelo ambiente do quarto, até enfim pousar novamente ao rosto enfurecido defronte a si mesmo.
- Já tenho uma prostituta em casa.
Taa levou uma das mãos até a face dele, dando-lhe um tapa com certa força, deixando marcado os próprios dedos. Ikuma sentiu a pressão de um espalmo sobre a bochecha, que se fez a arquear uma das quase inexistentes sobrancelhas.
- Isso deveria ser um elogio.

- Não suma de novo sem me dizer, porra.
- Ah, mas é tão excitante provocá-lo.
Ah você acha? Esse tapa não é nem um terço do quanto eu queria bater em você.
- Então bata, Lagarta. Bata, mas cuidado pra não quebrar seus ossinhos com a força que for usar, ah.
- Seu idiota. Babaca. Fiquei dias atras de você! - O maior afastou-se, suspirando.
- Ora e não quer nem me dar um beijo? Aposto que está louco por um.
- Eu quero matar você!
- Ah, não quer.
- Ah, eu devia.
- Devia nada, sou muito novo pra morrer.
Ikuma desencostou-se enfim, o puxou pela cintura, tornando prendê-lo junto do corpo.

- Novo? Novo sou eu. - Taa empurrou o outro. - Sai de perto de mim.
- Parece mais velho que eu, mas é.
O menor firmou os braços envoltos, sem sair do lugar ao ser empurrado.

- Ikuma... - Puxou ambas as mãos do outro. - Me solta, agora!
- Ah okay!
Ikuma o soltou e dera de ombros, sabia que não deveria realmente soltá-lo. Deu-lhe as costas ao caminho do salão na mesa de sinuca e no barzinho as bebidas ainda existiam bem conservadas. Taa o o
bservou, estreitando os olhos e caminhou ao lado da cama, pegando o abajur no local e jogou contra a parede, observando o mesmo quebrar e espalhar os cacos pelo chão.
O menor não conteve o novo sorriso que expôs a si mesmo quando o som do vidro se expandiu no quarto. A taça funda encheu do vinho e os acompanhou em dois cubos de gelo. O maior sentou-se na cama, observando o local.
- Maldito.

Ikuma voltou ao quarto, observando os cacos pelo chão, adornando o felpudo carpete que revestia o solo em sua extensão, enquanto na mão balançava sutilmente a taça, ouvindo o tilintar dos cubos de gelo a bater no cristal.
- Por que tanta raiva, Lagarta?

O maior desviou o olhar a ele e estreitou os olhos.
- Você me fez ficar uns cinco meses aqui seu maldito!

- Quatro. - Corrigiu, servindo-se de um gole generoso da bebida.
- Não me importa pra mim pareceu dez mil anos.
- Oh, que adorável.
- Adorável o que?!
- Saudade foi tanto assim, ah?
Ikuma caminhou a ele, sentindo o rangir dos cacos que com as botas pisoteou, até que se tivesse postado defronte a si na cama e ao lado dela, acima de um móvel qualquer, deixou a taça com a rubra bebida. Taa e
streitou os olhos, observando-o e desviou o olhar.
- Tsc... Odeio quando você faz isso... Faz de proposito!

- Isso o que?
- Me largar aqui e sumir.
- Oh, já o larguei tantas vezes.
Um dos joelhos, o menor levou a lateral da coxa do outro, postado ao macio colchão da cama. Taa o
bservou o corpo do outro e suspirou, afastando-se sobre a cama e ao chegar do outro lado levantou-se, passando ao lado do outro e saiu do local para a sala, retirou o cigarro do bolso e levou-o aos lábios, pegou o isqueiro com as mãos tremulas e acendeu o mesmo, jogando-o no bolso e tragou o cigarro, expelindo a fumaça e suspirou, fechando os olhos.
- Uh.
Um riso sutil soou nasal em Ikuma ao vê-lo se afastar. Postou-se com ambos os pés no chão outra vez e tornou pegar a taça com o pseudo vinho tinto. Taa s
uspirou novamente, feliz por sentir o cheiro do cigarro ao invés do sangue na taça ao lado da cama e observar o corpo dele. Queria tanto o outro, mas estava realmente irritado pelas atitudes dele. Tragou o cigarro novamente, observando as pessoas pelo local a adentrar a boate.
- Vou tomar banho. Peça a alguém que limpe o quarto antes que eu saia dele.
Ikuma ingeriu todo o conteúdo da taça e pousou-a pesada sobre o móvel do lado da cama. Seguiu marcha ao banho e sabia que o provocaria ao fazê-lo.

- Pede você, não sou seu empregado. - Falou alto.
- Foi você quem quebrou e não eu.
O menor encostou a porta em seu limiar, desnudou-se a um banho de uma hora inteira.

- Tsc...
Taa voltou-se ao quarto, observando a taça sobre o móvel e pegou-a, notando-a vazia. Suspirou e deixou-a novamente sobre o local, voltando-se ao banheiro e levou uma das mãos a maçaneta, hesitante em abri-la.
- Já que você não vai me dar atenção, vou lá em cima, ver se alguém quer a sua prostituta, hum.
Falou num tom alto, sabia que ele ouviria e virou-se, subindo as escadas e sentou-se próximo ao balcão. pedindo uma taça de vinho ao barman.

Ikuma negativou consigo ao ouví-lo e riu, deu-se de ombros apesar do desagrado das palavras. A toalha envolveu a cintura, cobrindo-a da nudez após deixar a água. Visto que nem sequer havia ordenado que alguém fizesse a limpeza do quarto, e tornou ao desagrado por ser desobedecido. No guarda-roupas pegou um jeans qualquer, o tiraria mesmo logo após, o vestiu no físico molhado, e mesmo sem a camisa saiu do quarto, dando tempo apenas de ajeitar as melenas louras bem claras e úmidas com a ponta dos dedos e passar pelo pessoal da boate, onde encontrou o outro próximo ao balcão, porém não lhe deu mínima atenção e a serviçal que preparava um martini ou algo de cor rosa e cheiro doce, pediu que fosse ao quarto e limpasse a sujeira que o alheio presente havia feito. Tornou dar as costas e voltar ao quarto quando seguido pela jovem, mesmo que talvez chamasse atenção pela falta da roupa, ou pelo fato de estar molhado.
O maior desviou o olhar ao outro, estreitando os olhos.
- Parabéns Ikuma, acabou de me deixar com ódio.
Observou o barman próximo a si e pegou a taça com o líquido, bebendo toda a bebida de uma vez e logo pediu uma nova dose da mesma.

O mais velho trocou-se da veste, sem importância a presença da fêmea no quarto, apenas não tinha interesse em qualquer reação. Vestiu alguma peça íntima, uma regata vermelho vinho e deitou-se na cama com mais uma das taças de vinho, concedendo a licença da jovem após ter limpado o chão do quarto.
- Mande-o vir aqui, agora. - Ordenou a ela, que se retirava.

Taa pegou a taça sobre o móvel, virando a bebida novamente e os olhos já tomavam a cor vermelha devido a bebida. Observou a moça próxima a si e estreitou os olhos, extremamente irritado com qualquer um que se aproximasse.
- Ora, e ele manda em mim agora? Diga pra ele que não vou descer droga nenhuma.
Observou a moça se afastar e voltou os olhos ao balcão, indicando a bebida que queria.

O olfato de Ikuma denunciava o cheiro feminino que regredia ao quarto, ouvira a ruiva dar exatas palavras do homem, e tornou ser desobedecido, ah só Cain poderia imaginar o desgosto em sê-lo, e ao encontro das pálpebras, o gole novo da bebida, que ao ingerir deixou a taça ao lado, sendo servido pela vampira empregada.
- Diga então que pode ir embora quando terminar de beber. - E assistiu novamente a saída da garota.

Taa tacou a taça no chão ao ouvir a garota, causando o olhar de algumas pessoas por perto, levantou-se, seguindo ao local novamente e abriu a porta, voltando a bate-la e observou o outro.
- O que você quer?

As vistas do menor, já sem as azuis lentes, e agora com o tom levemente amarelado nas orbes, ergueram-se a direção da porta, a direção do outro.
- Chega de tanto alvoroço. - Disse sem alteração vocal e levantou-se da cama, seguindo ao alheio. - Gritar, se fazer de estúpido ou nervosinho, não resolve problema algum e sequer tenho medo de você. Agora, me obedeça quando o disser. - Concluiu em vistas iguais encaradas.

Taa cruzou os braços, observando-o.
- Você acha... Que vai viajar por quatro meses, me deixa aqui plantado que nem um idiota e nem me avisa onde vai, volta pra cá, não esta nem ai, diz que fez realmente de proposito, desce quase sem roupas e sobe com aquela vadia. Acha realmente, que depois de tudo isso eu ia voltar correndo pra você aqui embaixo e chorar que nem um idiota te pedindo desculpas e assentindo a tudo que você diz?

- Hum, suas palavras só demonstram o que você realmente gostaria de fazer. Não pedi sua desculpas miseráveis, mandei que pedisse que limpassem o quarto que você sujou. Foi razoável que ainda não mandei você mesmo fazê-lo, ir atrás dela e mandar que limpe não cortaria e nem machucaria suas mãozinhas. E não adianta ir pra lá e pra cá beber e voltar gritando, eu passei quatro meses fora, e esses quatro meses não serão revertidos mesmo que você volte as horas no relógio. Entra dizendo que não lhe dei atenção, quando em todo momento você recuou, e ainda alega que irá atrás de quem queira minha prostituta. Então vai! Porque já não fez isso enquanto eu estive fora? Ah?
Taa observou o outro, mantendo-se do mesmo modo enquanto o observava e suspirou, assentindo. Virou-se, saindo novamente do quarto e desceu/subiu as escadas em direção a saída.

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