Broken Hearts #8


Yori encolheu-se na cama, em silêncio, estava com frio, na verdade, estava com febre, toda manhã seguinte da mordida acordava assim. Ele dava é claro uma pausa de alguns dias para morder a si de novo, ele era calculista, sabia quantos dias se passavam e quando poderia fazer novamente, era o suficiente para que a ferida do pescoço se estancasse e secasse, criando uma pequena casquinha que era sempre rompida por ele novamente com seus dentes. Havia acordado naquela manhã com uma mancha no travesseiro, sangue que aos olhos dele, poderia ter sido desperdiçado, havia molhado a fronha e o travesseiro também, teria trocado, mas não alcançava no guarda-roupa a parte dos lençóis que ficava no alto e pela fraqueza, tinha medo de subir, acabar caindo e batendo a cabeça. Mas naquela noite, havia sonhado com algo muito bom, com o sol, as estrelas, o mar, quanto tempo não via o mar, e tinha consigo um pequeno animalzinho, quando era mais novo, tinha um gato, tinha os pelos bem branquinhos, era lindo, e gostaria de poder sentir aqueles pelinhos macios novamente. Acordado já há algumas horas, o
bservava o relógio ao lado da cama, esperando o momento que ele entraria no quarto e cada minuto parecia precioso para si, precisava ser gentil com ele, dócil, se não, ele nunca permitiria o que iria pedir.
As pisadas na escada certamente denunciavam a ele o momento em que Hideki o veria novamente. Mesmo a chave que destrancava dando vasão a pequena claridade exterior da luminária no corredor, e entrou tipicamente no quarto, seguindo até a poltrona e sentou-se, admirando como sempre, sua beleza simples, cabelos bagunçados e pele alva. Deixou sobre o colo uma porção de camisetas, suas roupas de dormir.
- Ophelia trará o café daqui um momento.
Yori levantou-se rapidamente ao ouvi-lo chegar, tinha algumas gotas de suor pela pele, escorriam sutilmente pela nuca, colando alguns fios de cabelo devido a febre que tinha, mas havia tomado banho alguns minutos atrás, cheirava a sabonete e os cabelos loirinhos a shampoo, o que ele havia comprado para si que tinha um cheirinho doce. Levantou-se e seguiu até ele em sua cadeira, as mãos tremiam, não sabia se era de medo ou pela febre que deixava a si meio aéreo. Retirou as roupas do colo dele e deixou sobre a cama, tomando o lugar delas ao levar as pernas a cada lado de seu corpo, sentando-se em seu colo e observou-o, sabia que ele gostava de si, então aqueles toques, tinham que ter algum efeito sobre ele. Beijou-o no rosto, um beijo sutil, sentindo sua pele fria e suspirou, deixando-o perto do próprio pescoço, mas sabia que ele não avançaria, não com as feridas tão recentes.
- E-Eu... Posso pedir algo pro senhor?

Hideki observou  garoto e mesmo seu gesto deliberado em tirar as roupas limpas e colocá-las sobre sua cama. Mesmo o fato de se acomodar sobre o colo, ajeitando suas pernas parcialmente expostas. Sentiu  beijo no rosto, nada convencional. Em proveito, sentiu o aroma de shampoo adocicado, e com sabonete de ervas igualmente doces. Tão logo seu estranho comportamento não parecia sequer sutil, denotou o interesse sem muitas delongas.
- O que quer? - Indagou, áspero.

O menor uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo e quase encolheu-se em seu colo, porém seguiu com a voz doce e sutil que havia feito antes, sem se importar com sua voz soando de forma grosseira.
- Eu gostaria de ter um bichinho de estimação...

- Muito menos do que eu esperava que fosse pedir. Não precisa me adular tanto por um bicho de estimação. - O maior sorriu-lhe com o canto dos lábios, não realmente dócil.
- Então eu posso ter um?
- Que bicho quer?

- Um gatinho ou um coelho.
- Vou ver sobre isso. Agora você pode sair.
- Hai... - Yori murmurou e levantou-se, voltando para a cama, onde se sentou.
- Espertinho.
Hideki retrucou, mais para si mesmo do que para ele. E após um breve ruído à porta, seguiu até a entrada e buscou o desjejum do garoto, junto ao medicamento para o seu mal estar. Não era especificamente dado para sua febre, mas para a dor do pescoço, no entanto, vinha a calhar, tratando ambas as condições. Acima da cama deixou seu alimento, tinha panquecas e suco, um tipo de alimento que nem sequer despertava um pingo de curiosidade em si.
- Coma.

O menor sorriu ao ver as panquecas, era a própria comida favorita. Cortou um pedaço dela e experimentou, abrindo um pequeno sorriso, não tinham muito sal, a cozinheira era vampira, não sabia preparar bem uma comida humana, mesmo assim, era delicioso.
Não me adule como um maldito interesseiro, não sou uma criança, Yori. Não vou acreditar em você com um beijinho no rosto.
Eu sei... Eu só achei que isso iria ajudar...
Hideki fitou-o impassível, encarando-o há alguma distância. Observava seu corpo afetado pela febre, um pouco úmido, não tinha certeza se era o banho ou se era suor, mas ambos seus aromas eram bons o suficiente. O olhar deslizou de seu rosto frágil até seu pescoço mais ainda, notando a pele ferida, que não realmente se importava, mas imaginava por trás daquela cútis limpa, o sangue correndo em sua veia. Pensar nisso fazia com que os olhos se tornassem vívidos pela sede.
- O que você come, quando não pode me morder?
O loirinho murmurou e uniu as sobrancelhas, desviando o olhar a ele, guiando um pedaço da panqueca aos lábios.
- Que me possa saciar a sede somente o sangue. Não tomo somente o seu. - Disse, mas foi evasivo, sem detalhes. - Como carnes. Ophelia costuma cozinhar.

- Ah... - O pequeno murmurou e desviou o olhar.
- Preciso somente do sangue. - Completou.
- Porque eu estou aqui se pode ter qualquer um?
- Porque é o que eu quero.
Yori assentiu novamente e terminou o café.
- Estou com dor...
- O remédio está sobre a bandeja.

- Ah...
O menor murmurou e bebeu o remédio junto ao suco gostoso de manga feito pela moça.

- Você vai ficar melhor.
- Eu sei... Sempre fico.
Hideki levantou-se tão logo sem avisos, ajeitou a roupa sobre o corpo e fitou-o, observando a bandeja já vazia o qual pegou a fim de levar consigo.
- Precisa de açúcar?

Yori assustou-se ao ouvi-lo levantar e desviou o olhar a ele, quase automaticamente, negativando e bebeu pouco mais do suco, entregando o copo a ele.
- Estou falando sobre doces, não para seu suco.
O maior pegou o copo e deixou sobre a bandeja que levou consigo para a porta e entregou à empregada, Ophelia.

- Hai... Eu gostaria sim.
- Ophelia lhe trará.
Hideki disse e então se despediu do garoto sem formalidades ou algo a dizer, somente a sair de seu quarto e simplesmente trancá-lo como sempre.

- Iie! - Yori falou alto, levantando-se e correu até a porta, batendo na madeira e puxou a maçaneta. - Senhor!
- Não vou deixá-lo sair. - Disse o maior, soando abafado pelo impasse da porta entre ambos.
- Iie... Fique mais um pouco comigo.
- Não vai conseguir mais nada.
- Não estou pedindo nada...
- O que você quer?

- Um minuto com você. Eu esperei o dia todo... Por favor...
Yori encostou a face na porta, talvez todo aquele tempo sozinho tivesse feito aquilo consigo, implorava por algum contato humano, poder conversar, poder falar com ele, poder fazer qualquer coisa que não fosse sozinho.

A chave já estava posicionada a porta, portanto Hideki precisou somente girá-la e empurrou o garoto antes que tentasse sair de dentro do quarto e causasse algum transtorno, não queria ficar de mal humor. Ao entrar fechou-a atrás de si, já não portando a bandeja.
- O que quer?

O menor sentiu a porta bater em si e deu alguns passos para trás, segurando o braço esquerdo, dolorido pela batida desprevenida em si. Observou-o de sobrancelhas unidas, e ao contrário do que ele pensava, nem tentou observar o lado de fora quando entrou.
- Desculpe... Só queria ficar com você... Quero falar com alguém... Quero ter alguém aqui.

- Não seja espertinho, Yori. Sei bem que algumas noites atrás não queria que eu ficasse aqui. Não queria sequer que eu chegasse perto, não acha que vai me convencer de que tudo está tranquilo pra você.
Yori uniu as sobrancelhas e sentiu as lágrimas tomarem conta dos olhos, escorrendo pela face ao observá-lo, os olhos castanhos claros brilhando e ainda tinha o cheiro de banho que ele gostava, mas sabia que não iria convencê-lo.
- Me deixa ir lá fora...

O olhar do maior que voltou a ele certamente transparecia ao menor o desagrado que teve ao notar sua insistência patética e apelativa, não o respondeu simplesmente. Mas pegou o garoto no colo e jogou-o para sua cama quando lhe deu novamente as costas e seguiu novamente para a saída do cômodo.
- Acha que vai me convencer fingindo gostar de mim? - Indagou e então sorriu. - Não, porque eu não me importo com isso.

- Iie... Eu quero ir com você de noite... Quero ver as estrelas, como eu poderia escapar de você? Por favor... Pode me prender se quiser, me amordaçar, eu não me importo.
- Vivi anos demais, não ache que me engana tão facilmente. - Hideki disse-lhe com os olhos estreitos, e não parecia forçá-los para isso. - Você não precisa sair daqui, não precisa conhecer ninguém, posso fazer muito mais do que qualquer estúpido humano que já conheceu.
- Mas... Eu não quero sair daqui pra conhecer ninguém, quero ir até o quintal...
- Por quê?
- Porque quero ver o céu e sentir o vento... Só isso.
- Não por hoje.
- Só um minuto... Não vou sair do seu lado... Já disse, pode me algemar.
- Hoje não. - Hideki disse e não parecia que mudaria de ideia.
Yori uniu as sobrancelhas e assentiu, agarrando o braço com uma das mãos e por nervosismo cravou as unhas na pele, observando seus olhos "acesos" pela briga ou pelo próprio sangue correndo nas veias.
- Já é dia, não posso sair a essa hora.
- Hai... - Murmurou, limpando as lágrimas do rosto.
- Lave o rosto.
- Vou lavar.
- Vá dormir.
- Eu faço o que eu quero.
- Tanto faz. - Disse o maior e novamente deixou o quarto, com uma boa batida na porta.
- ...
Yori manteve-se em silêncio a observar a porta e novamente sentiu as lágrimas que deixaram os olhos, agarrou o travesseiro e retirou a fronha, puxando o tecido entre os dedos até ouvir o barulho do rasgo e jogou-a de lado, no chão, estava manchada com o próprio sangue mesmo.
- Eu te odeio!

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1 comentários:

  1. Mas esse Yori tá ficando espertinho mesmo hein? (aquela carinha)
    E eu ficaria cabreira também que nem o Hide-chan, ainda mais quando sei que meu amado não gosta de mim e sim se faz para ter o que quer.
    Yori, Yori, quem te viu quem te vê pequeno indeciso u33u vamos ver se ele vai continuar com essas artimanhas pra cima do Hide-chan. Só sei de uma coisa: " quem brinca com fogo, pode se queimar"

    Amei o cap Kaya! Obrigada! <3

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