Suzuko e Miyuki #3


Miyuki havia ficado até mais tarde na escola, estava tarde, quase noite, e começava a ouvir alguns barulhos meio estranhos vindos do corredor, alguns passos, vozes, e morria de medo de filmes de terror então qualquer um poderia imaginar o que passava pela própria cabeça naquele momento. Terminou de copiar a lição para o trabalho, já que estava ali porque o próprio computador havia quebrado e precisava fazer o trabalho para dois dias e era aula dela, então não poderia aparecer sem fazer. Suspirou, cansada com o termino e guardou os livros na bolsa, seguindo para a saída da biblioteca e olhou para trás uma única vez ao passar pelo corredor deserto. Retirou da bolsa uma pequena caixinha de suco e experimentou a bebida, sorrindo com o sabor agradável, porém andou rapidamente para evitar os fantasmas imaginários que poderiam estar perseguindo a si.

Suzuko pegou a bolsa sobre a cadeira desocupada ao lado de onde sentada até então e ao jogar num dos ombros, pegou igualmente o café da mesa o qual tragou pela tampa enquanto lia o papel impresso, numa matéria que usaria para elaboração de uma prova. Consequentemente caminhou desatenta ao corredor, e bem devagar, ressoando vagarosamente os passos do calçado preto que usava, o que tornava cada pisada ecoada, já que naquele horário a escola já estava vazia, e pouquíssimos alunos permaneciam até mais tarde, tendo disponibilidade da biblioteca ou sala de música. E se deu conta de como aquele corredor parecia fúnebre com o eco dos passos lentos e secos.
A loirinha parou no local onde estava, ouvindo alguns passos ecoarem, e não sabia mais se estava imaginando ou se eram realmente reais, já que tão próximos. Agarrou o livro entre os braços e apertou-o enquanto seguiu devagar caminhando e virando o corredor.
Suzuko parou quando enfim próxima a sala de música, e viu dali de fora um Kawai Fritz Dobbert, o que atraiu o suficiente para perder mais alguns minutos dentro da escola. Entrou na sala e parou, mesmo em pé, próximo ao piano e tocou brevemente as teclas com uma música digna de filme de terror, inspirada pela solidão da escola. E visto que sem forçar as teclas, a música soava audível, porém baixinha.
Miyuki cessou os passos e arqueou uma das sobrancelhas, observando a sala de música uniu as sobrancelhas, meio hesitante.
- Deus do céu...
Falou, mais para si mesma e parecia obvio que se fosse até lá iria ser como nos filmes de terror e iria morrer ali mesmo, mas já estava tão perto, que pensou que se fosse morrer, ao menos que fosse logo. Observou a sala de música, vazia, se não fosse por uma pessoa sentada no piano e abriu a porta.
- Sensei! Quer me matar?

A maior quase deu um pulo ao ouvir o barulho, visto que a escola tão silenciosa e de repente exclamada.
- Você que quer me matar! - Retrucou e até colocou a mão sobre o peito.

A menor riu e aproximou-se dela, observando o piano.
- Calma sensei.

- O que está fazendo aqui a essa hora? É hora de crianças estarem na cama.
- Não sou criança. Estava fazendo meu trabalho, estou sem computador.
- Devia ter feito mais cedo. Embora não seja tão tarde, pra você sair sozinha é tarde  suficiente.
- Ah, eu estou aqui desde cedo...

- Ah, fui rigorosa quanto o trabalho?
- Um pouquinho... - Riu.
- Vou moderar na próxima, ok? - Suzuko deu-lhe uma piscadela.

- Hum. - Assentiu. - O que faz aqui?
- Estava preparando um material de prova.
- Ah, não!
- Ah sim. Eu sou uma professora que adora complicar a vida dos alunos.
- Eu percebo.
- É claro. São tão barulhentos, preciso me divertir com alguma coisa. Alguém vem buscar você?

- Ah não... Vou pra casa.
- Eu posso te dar uma carona.
- Ah, mas não fica ruim pra você?
- Não, estou de carro. Ruim é ir de ônibus, ah?
- Metrô... Acho melhor ir com você se não quiser ser assaltada.
- Devia ter pensado isso antes. Se eu não estivesse aqui, iria sozinha. E você é uma gracinha, sabe que vão mexer com você.
- Uma... Gracinha, sensei?
Suzuko riu, na verdade sorriu por falta do ruído.
- É uma garota bonita. Bem, vamos lá.
Disse ao se levantar e ajeitar a bolsa do lado, pegou o copo de café já vazio e jogou numa lixeira próxima da porta. Miyuki a
ssentiu e sorriu a ela, ajeitando a bolsa sobre os ombros.
- Está com fome, quer comer algo antes?
- Pode ser... - A menor sorriu.
- Hum, será bom. O que você gosta de comer?
Disse a maior e caminhou pelo mesmo silencioso e fúnebre corredor, agora, já não tanto como antes. A menor a
proximou-se ainda mais dela, quase colando-se a professora, por medo do local e sorriu.
- Ah, eu gosto de yakissoba, ou hambúrguer.
Calma, não tem bicho, docinho. - A maior disse e até afagou seus cabelos. - Ah claro, nada de vomitar depois.
Miyuki sorriu a ela ao ouvi-la, porém negativou em seguida.
- Que horror, eu sou magra naturalmente, ora.

- Hum... Sou magra naturalmente.
- Sou.
Suzuko riu.
- Hum, então que tal aquele restaurante de hambúrguer gourmet? Já foi lá?

- Hum, nunca fui, é gostoso?
- É bem gostoso. Claro que um lanche meia boca do "Mc" ainda é bastante saboroso, mas o deles tem um gosto ótimo de uma forma diferente. E o pão é realmente bom.
- Hum, ta bem, eu pago.
- Ah vá, pirralha.

- Eh?
- Eu vou te levar, eu chamei você.
- Hai, ta bem...
- Não ache que meu salário é miserável porque sou professora e você é uma modelinho.
- Não acho.
Suzuko sorriu a ela, tocando seu nariz na ponta e desalarmou o veículo sedan, preto, indicando a porta de passageiro a frente para ela, mas abriu a porta de trás, onde colocou a própria bolsa antes de se dirigir até o motorista e tomar posse do volante a dar partida sem muito demorar.
- Mas ligue para seus pais e avise que está com uma amiga.

Miyuki assentiu a ela e seguiu a adentrar em seu carro, entregando a mochila a ela e pegou o celular no bolso.
- Uma amiga?
- É claro, se falar professora, vão achar estranho.

- Hai.
A loira riu baixinho e ligou aos pais, esperando que atendessem e falou com a mãe, ou pai, informando que sairia com uma amiga, logo desligou o telefone, depois das várias reclamações sobre o horário.
- Pronto.
- Hum... Seu pai achou ruim?
- Iie. Tudo bem.

- É só um lanchinho.
Suzuko disse e deu a ela uma piscadela. Enquanto já se encaminhava pelas ruas tão iluminadas no centro de Tóquio e o fervor de pessoas com o fim de um dia de trabalho. 

- Hai. - Murmurou a ela e ajeitou o cinto sobre o corpo. - Vamos, vamos.
- Estou até pensando naquele pão. Eu adoro pão, principalmente os crocantes.
A maior disse, embora falasse descontraidamente. Tão logo alcançou o destino desejado, observando o restaurante bem decorado, de cor escura mas iluminado. Miyuki r
iu baixinho e sorriu a ela.
- Eu não sou muito fã, mas hambúrguer eu gosto.

- Hum, comer hambúrguer puro também não é legal, uh? O conjunto é bom.
O menor riu.
- É sim.

- Então vamos.
Suzuko disse e deixou o veículo, levando consigo somente uma carteira e as chaves do veículo dentro do casaco sobre o antebraço. E pousou a mão sobre o ombro dela, guiando-a ao interior do restaurante, selecionando visualmente uma das mesas e optou o segundo andar, onde o número de mesas era menor e a luz um pouco mais baixa.
- Que tal lá?

A menor seguiu junto dela pela entrada do local, observando e sorriu, assentindo a segurar a mão dela.
- Pode ser.

A maior dirigiu-se junto dela até a mesa que escolheu, com vista suficiente para notar o ambiente inferior. E tão logo aceitou o cardápio, observando as opções junto a ela, defronte. Miyuki sorriu a ela, mesmo sutil enquanto pegou o cardápio igualmente, folhando, observando as opções.
- Ah, eu não gosto muito de molhos...

Suzuko não teve muita demora ao selecionar o que preferia. Optou pelo lanche, bebida e ergueu o olhar a ela ao ouvir seu comentário.
- Peça que tirem. Embora seja um complemento que agrega sabor.
Hai...
Miyuki murmurou e pediu o lanche e bebida igualmente, optando por um suco leve mesmo, nada de especial e claro, pediu que tirassem qualquer molho do lanche. 
A maior aceitou o suco que pedira, entregue antes do jantar. Pingou algumas gotas de limão no suco de cranberry e experimentou a bebida, pousando-a posteriormente sobre a mesa.
- Fez o trabalho direitinho?

- Hai... Você quer ver? - A loira sorriu, porém estranhou o limão e uniu as sobrancelhas. - Limão?
- É, eu gosto de limão no suco. - A maior sorriu, mas negativou com a pergunta. - Amanhã você entrega.
- Ta bem, falta a capa mesmo.

- É, hoje eu só quero comer, não quero ver nada de aula.
- Ta bem... - A menor sorriu a ela.
A maior sorriu enfim quando recebeu o jantar e acomodou-se melhor após agradecer o serviçal. Protegeu as mãos antes de enfim iniciar o lanche.
- Bom apetite, docinho.

- Bom apetite. - Miyuki disse a ela e igualmente pegou o lanche, guiando-o a boca a experimentar e sorriu em seguida. - Oishi.
A maior mordeu o lanche e sorriu-lhe com os olhos, visto que tinha a boca ocupada. A menor sorriu e tomou um pouco da própria bebida, e com certeza, se o pessoal da revista visse a si comendo daquele modo, levaria uma tremenda bronca.
- O pão não é gostoso, uh? - Suzuko indagou e pegou uma casquinha do pão, levando para a boca.
- É, até que é. - A menor sorriu e mordeu somente o pão, mas não gostava muito.
- E aí, trabalhando bastante, uh?
A morena indagou após mais uma mordida, descansando o lanche sobre o prato onde viera. Tragou o suco, suficiente para ingerir o alimento e fitou-a.

- Ah, um pouco... - Miyuki murmurou e observou-a enquanto comia o lanche, unindo as sobrancelhas. - Ah, sensei... Você tem namorado?
- Não devia trabalhar tanto nessa idade, devia aproveitar. Seus pais tem dinheiro, você não precisa de emprego para as coisas que quer.
A maior disse, mas sem resposta, na verdade teve uma pergunta, e que achou esquisita, já que não era o tipo típico de assunto japonês, ainda mais vindo de uma adolescente e sorriu a ela.
- Você quer algum conselho?

- Ah... De certo modo, é que vi que você está usando aliança.
Suzuko observou o anel que usava no dedo, e sorriu canteiro enquanto logo se dispunha a morder mais um pedaço do lanche.
- Você tem?
- Algo parecido. Por quê? Me diz o que quer saber.
- Bom... Tem um garoto que eu gosto... Ele é bem bonito, mas... Meio estranho. Estamos saindo, mas ele parece meio...
- Meio? - A maior retrucou e apoiou o cotovelo sobre a mesa, esperando pela continuidade.
- Gay.
- Hum... Por que acha isso?
- Bem... Porque ele fala muito com um menino da sala, e até trocam bilhetinhos.... - Murmurou. - Mas ele é meu... Bem, quase um namorado.
- Ah, então ele é da sala?
- Ah, hai. É o Jun.
- Hum... Eu vou dar uma olhada pra saber se ele parece meio... Mocinha.
- Hai... - Sorriu.
- Mas como tem tempo pra namorar?
- Ah, todo mundo tem.
- Não quando você trabalha o tempo todo.
- Ah, mas eu estou aqui com você agora, e também, ele é modelo junto comigo, então.
- Hoje em dia parece uma profissão muito fácil. Metade dos alunos tentam ser modelos. Acabam faltando as aulas, o que me deixa puta. Darei provas mais difíceis para os faltantes.
- Hum...
- Fique espertinha você também. Não ache que vou ser mais flexível porque somos amigas, hum?
Miyuki uniu as sobrancelhas.
- Mas...

Suzuko negativou com a cabeça, mas sorriu a ela, com uma suave curva nos lábios.
- Vamos, coma o lanchinho.
Hai... - A menor murmurou e mordeu o lanche novamente, sorrindo a ela e desviou o olhar em seguida. - Obrigada pela comida.

- Mas então, vocês já se beijaram, hum?
- Não sou um neném, sensei.
- Hum, isso é um sim?
- Sim.
- E quem tomou a iniciativa?
- Eu.
- Hum... E qual foi a reação dele?
- Bom... Ele retribuiu, então..
- Então por que acha que ele é gay? Somente pelos recadinhos?
- É, o jeitinho dele também...
- Como é o jeitinho dele? - A maior disse, com um ar risonho.
- Meio afeminado.
- Hum, então por que se interessou por ele? Gosta dos meninos afeminados?
- Ah, mais ou menos... Ele é o menino mais bonito da sala, não acha?
- Eu não reparo dessa forma nos meus alunos, pra mim são todos pequenas crianças. Exceto as meninas, costumam ter uma postura mais madura. Mas não sei, verei se ele é bonitinho.
Miyuki assentiu e sorriu a ela.
- Mas se ele realmente fosse gay, acha que ele não diria? Ao invés de tentar ficar com uma garota.
- Bom, vai saber né? Aparências.
- Bem, talvez se ele for bastante famoso.
- É... Não é pra tanto.
- Tente conversar com ele. Ele pode gostar das duas coisas.
- Ah... Hai...
- E se esse for o caso, acha interessante?
- Não, é meu namorado, ora!
- Ora, mas ele está com você no momento. Se ele gostar das duas coisas, significa que ele estaria com você mesmo se fosse um garoto. Não exatamente significa que ele sente necessidade de ficar com pessoa de outro sexo, mas sim que estaria sendo homem ou mulher.
- Mas ele conversa com aquele garoto! Ora...
- Hum, podem ser somente amigos, como nós.
- Hum, não acho. Mas ta bem.
- Pergunte a ele, e diga pra mim. Podemos tomar um café amanhã e você me diz, o que acha?
- Hai... Pode ser.
- Sensei vai cuidar de você se ele te deixar triste, uh?
A menor sorriu.
- Ta bem, sensei.
- Começou a semana de cafés especiais na cidade, amanhã podemos encontrar uma boa cafeteria e comer um docinho legal. Mas converse com ele, não fique na duvida se gostar realmente dele. Já que são um casal, não devem ser tão afastados a ponto de não ser capaz de perguntar algo a ele, uh?
- Ta bem.

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