Kusagi e Shohei #26


Shohei se ajeitou na poltrona, nada confortável para si, já que já estava irritado, chovia lá fora, podia ouvir o barulho e ver a água que caía sobre a janela, não estava muito bem naquele dia e a irritação só piorou quando tentava digitar o maldito texto com apenas uma das mãos, devido ao gesso na outra e negativou umas dez vezes, seria melhor gravar com voz no celular para depois escrever, mas se sentia ridículo fazendo isso. Porque diabos tinha que ser atropelado em véspera de lançamento do maldito livro? Suspirou e desviou o olhar à tela, lendo as últimas considerações e sorriu de canto, com o mal humor sumindo ao perceber o que escrevia.
"Ele era tudo no que pensava, dia ou noite, só conseguia se levantar da cama se soubesse que ele estava ali para dar um bom dia."
Manteve-se ali sentado com um pequeno sorrisinho nos lábios, porém aspirou o cheiro de queimado e quase pulou da cadeira, lembrando-se que estava dolorido logo após e correu em direção a porta em pequenos gemidos.
- Kusagi? Kusagi tem algo queimando!

Kusagi lançou-se para fora do quarto ao ouvi-lo avisar. Embora tivesse corrido mais por seu modo de falar do que pelo fato de estar queimando.
- Tsc.
Resmungou e seguiu até cozinha, tentou tirar imediatamente o canecão de cima do fogão, mas num triscar rapidamente afastou a mão enquanto xingava o maldito cabo tão quente quanto a porra da água que fervia dentro dele, e sacolejava a mão, tentando esfriar rapidamente enquanto pegava a luva de tecido almofadado e tirava finalmente o recipiente, já seco, sem a água que já existiu ali alguma vez. Negativou diante do esquecimento e seguiu a lavar o canecão de água, levando-o para ferver mais uma remessa de água, para o café que agora demoraria mais um tempo para ser feito.
- Porra, esqueci a água fervendo.
Disse, voltando para a sala, fitando-o sentado ali, com o pescoço esticado, como se dali fosse conseguir descobrir alguma coisa e até riu.
O menor desceu devagar a escada, deixando um gemido escapar a cada degrau que pisava e por fim o observou, curioso e riu baixinho.
- Sempre.
Murmurou e seguiu até ele, segurando sua mão machucada e beijou-a, massageando-a, mesmo só com uma mão.
- Claro, você não pode fazer meu café porque está machucado. - Disse o moreno ao sentir o beijo e beijou-o igualmente em sua mão ferida. - Você desceu parecendo um suricatezinho com o pescoço esticado. - Riu, e apertou sua bochecha.

Shohei riu baixinho e negativou, esticando-se a lhe selar os lábios.
- Sabe que se pedir eu faço mesmo machucado.

- Não, claro que não. Como está se saindo? - O maior indagou a respeito do trabalho e guiou-o consigo até a cozinha, onde tratou de preparar o café. - Chá?
- Por favor. Horrivelmente, odeio digitar com uma mão só. - Murmurou e estreitou os olhos, sentando-se.
- Ora, e o digitador por voz?
Kusagi indagou e serviu numa caneca azul a água quente sobre o sachê de chá preto e que deixou à mesa, para ele. Terminou o café, pegando para si uma dose igualmente e se aproximou, finalizando sua bebida, adoçando de leve.
- Aqui.

- Obrigado. - Shohei sorriu e negativou. - Me sinto ridículo falando sozinho.
- Ninguém está vendo. - Sorriu e experimentou o café. - Não fica bom como o seu.

- Mentiroso, eu faço o café que nem você. Não coloco mágica não, só amor mesmo.
- Ah, coloca amor, é?
- Só um pouquinho.
- Fofo.
- Fofo, é? Eu sou ruim.
- ... É, é sim. - Disse, afagando seus cabelos.
Shohei estreitou os olhos
- O que vai fazer de jantar?
- O que você quer comer?

- O que o Yuki quer comer, hum?
- Como eu vou saber?
- Ele não vem, ora?
- Sim, mas isso não me faz saber o que ele quer comer.
Shohei riu.
- Hum, quem sabe, caviar e lagosta?

- Caranguejo.
- Hum. - Riu. - Acho que massa.
- Então alguma carne assada. Espaguete ou nhoque?
- Nhoque, hum... Já sinto o gostinho.
- Então ta bem. Vou ter que fazer sozinho. - Resmungou, e não achava ruim, mas gostava de provocá-lo enquanto cozinhava.

- Eu ajudo, hum. - Sorriu. - Estou achando um saco esse negocio de ficar sem fazer amor porque estou machucado, já estou avisando. Me deixe ao menos cozinhar. 
- Fazer amor?
Kusagi riu, achando graça, mas no fim aquele era realmente seu jeito. O jeito do amigo do colégio, embora tivesse tomado sua aparência rebelde, sabia que ainda tinha o mesmo jeitinho dócil, ainda que na frente de seu ex namorado, as coisas fossem diferentes, mas não se importava, até achava graça. Buscou cada ingrediente, pré-preparando-os a fim de facilitar a confecção da receita. 

- É... Sexo, digo. 
O menor falou a ele e sorriu, mordendo o lábio inferior, e realmente, mudava demais de jeito, havia adquirido costume mesmo de ser daquele modo, malicioso, embora com ele, quisesse ser mesmo um garotinho frágil e se aninhar em seus braços.
- Sexo, claro.
Kusagi retrucou e sorriu-lhe de canto. Iniciou o processo da massa, terminando-a sem demorar. E ao concluir, colocou a massa para esfriar antes que tivesse de cortar os nhoques. Enquanto isso, buscou a carne que faria, e embora não precisasse, pediu ajuda a ele, indicando que consigo temperasse a carne para marinar antes de assar.

O menor sorriu a ele, levantando-se e ajudou-o com o tempero da carne, mexendo mesmo com só uma mão e logo virou-se, selando-lhe os lábios. O moreno retribuiu seu beijinho rápido e seguiu buscando a pimenta para o tempero. Polvilhou ali enquanto ele mexia, misturando a incorporar o tempero na carne. E com isso, logo serviu numa assadeira onde deixaria assar em imersão com o tempero.
- Não quero te dividir com ninguém, Kusagi. Você é tão bom pra mim... Me prometa.
Ora, por que isso de repente?
O maior indagou, estranhando o comentário repentino, embora nem devesse, já que ele costumava agir repentinamente. Observou o celular, conferindo o horário, marcou o tempo de cocção e por fim tirou a massa da geladeira.

Shohei sorriu a ele.
- Nada, é que o Yuki vai vir, e eu me lembro quando você transava com ele também...

Kusagi encostou-se ao balcão e cruzou os braços a fitá-lo.
- Mas isso era bem um fetiche de vocês dois.

- É, eu sei. Mas você gostava.
- Era só sexo, Sho. Não fique pensando merda.
- Hai.
O moreno se voltou para a massa por fim e dispôs à mesa, esticou-a, formando pequenos pedaços de massa.
- Não fique pensando, ó...

Shohei riu e negativou, observando-o enquanto fazia a comida e sorriu a ele.
- Você é tão lindo, como consegue?
- Você quer fazer isso? - Indagou o maior ao vê-lo parado e imaginava que queria continuar a fazer alguma coisa, entediado. Mas no entanto ouviu seu novo elogio. - Você que é, docinho.

- Mas não consigo.
Shohei murmurou, resmungando e sentiu a face se corar sutilmente ao ouvir o apelido, na frente de alguém, certamente iria dizer que é gay, mas pra ele, era fofo mesmo. Suspirou e observou-o, atencioso a sua receita, os fios de cabelo caindo sobre o rosto e sentiu um arrepio sutil percorrer o corpo, negativando.
- Eh...

- O que?
Kusagi indagou e notou seu leve rubor. Provocaria, mas estava fofo e não queria tirar aquila expressão de seu rosto.

- Nada... Um arrepio só...
- Um só? Não dois?
- Não, só um.
- É só você cortar os nhoques enquanto eu enrolo e estico a massa.
Shohei assentiu e pegou a faca, cortando os pequenos pedacinhos de massa. Kusagi deu-lhe um tapinha na bunda e continuou a porcionar as massas e esticar, dispondo ao corte dele. 
- Isso é bem divertido. - Sorriu.
- Parece mesmo divertido. - Disse o outro e sorriu a ele, entregando mais duas massas esticadas. - Aqui, pra finalizar.
Shohei arqueou uma das sobrancelhas ao observar a massa e uniu-as em seguida.
- ... Ai meu Deus.

- Pois é, tem mais. Eu vou fazer o molho. Um pouco apimentado seria bom, hum?
- Hum, hai, oishi!
Kusagi deu-lhe outro tapa na bunda e seguiu para preparar o molho. Selecionou as frutas que colocou para cozinhar no microondas, e preparou a panela com condimentos, alho, azeite, paprica e quando por fim apitou, trouxe os tomates até a panela, já sem pele, iniciando o preparo do molho.
Shohei sorriu a ele e mordeu o lábio inferior, observando-o enquanto preparava o molho e ouviu o barulho da campainha, unindo as sobrancelhas.
- Droga... Vou atender. - Aproximou-se e lhe selou os lábios.
O maior assentiu a dar atenção ao molho e no entanto o retribuiu no beijo. Somente se lembrou por fim e o interrompeu vocalmente antes de sair.
- Ah, se for uma mulher é minha irmã.
- Sua irmã...?
- Sim, ela estava passando por aqui em uma viagem de negócios então ela vai passar a noite, se não tiver problema.

- Você nunca me disse que tinha uma irmã, ora.... Eu... Vou atender. - Você esqueceu dela na verdade. 
Disse o maior, e bem, costumava ser muito próximo dele na escola, duvidava que não houvesse falado sobre ela. E o viu partir até a porta. Logo no entanto ouvia a voz da parente na cama, talvez conhecendo o recente companheiro.
Shohei caminhou até a porta, observando a garota parada ali, e era bonita, tanto quanto o outro, analisou-a de cima a baixo.
- Oi, você é...

- Olá. 
Disse ela logo que a porta aberta, imaginava ver o irmão, mas notou seu amigo, ou melhor, seu companheiro. Não parecia bem o tipo que o irmão ficaria, mas era bem bonitinho na verdade.
- Sou a irmã do Kusagi.
Sim. - Sorriu. - Você é bem bonita, seja bem vinda. - Murmurou e deu passagem a ela. - Você... Qual é seu nome mesmo?
- Ah, obrigada. Você também é bonito, diferente do que imaginei, pra melhor. Kazue, você é o Shohei.
Ele sorriu.
- Ah, que bom. Seu nome é bonito também. Sou sim.

Kusagi podia ouvir a conversa de onde estava, e por fim achava que o amigo parecia bem receptivo à irmã, talvez até fofo. O menor desviou o olhar ao outro na cozinha e sorriu.
- Pode ficar a vontade.
Agradeço.
Ela disse a ele e claro, seguiu até a cozinha, onde observou o irmão do batente.
- Hum... Até parece que cozinha mesmo.

Kusagi riu num sorriso na verdade.
- O Sho gosta.

Shohei sorriu ao ouvi-la.
- Gosto de tudo em você.

- Hum, que gracinha. Achei que teria vergonha de dizer em público esse tipo de coisas.
O menor uniu as sobrancelhas, se corando.
- Não...
Kusagi sorriu meio de canto, notando a timidez do namorado, como costumava ter antigamente, e não por hoje. Tão logo abaixou-se tirando do forno a carne assada.
O menor suspirou a observá-lo, ele era tão lindo, ainda não havia se acostumado a tê-lo e logo ouviu a campainha, o amigo, obviamente, não esperava mais visitas. Seguiu em direção à porta e logo a abriu, sorrindo a ele.
- Yuki! 

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