Yuuki e Kazuto #26


O menor observou a janela dele, estava agindo de modo estranho, como se estivesse se acostumando a própria presença, mesmo assim, era um pouco esquisito estar com ele sem ser mandado embora. Sentia o frio suave no ar, certamente o inverno estava se aproximando e queria ao menos poder vê-lo antes de dormir, mesmo que ele não gostasse ou se somente acenasse com a cabeça, como havia sido toda aquela rotina até então, entrar, foder e ser mandado embora. Começava a achar que era somente um doador de sangue que nem matava mais a sede dele, já que agora havia se tornado um vampiro de mesmo modo.
Pela janela adentrou o quarto novamente e atirou-se em direção a cama, vendo-o deitado ali, e parecia dormir, claro, iria chamá-lo e tentar alguma coisa, mas preferiu os beijos suaves no pescoço dele, chamando-o para si, e estranhamente, sentia um cheiro diferente no ar, estranho, não era dele, e não queria nem pensar na possibilidade de ter outra pessoa com ele, que não fosse a si, mas ele havia dito a si, tinha um parceiro.
- Yuuki... Acorde, eu vim te ver.
- Estou dormindo, não está vendo?
- Estou, mas... Queria um beijo.
- Cale a boca, Kazuto, quer ficar aí fique, mas fique quieto.
O pequeno assentiu, dando um último beijo em seu pescoço e ajeitou-se na cama, cobrindo-se com seu edredom e observava curiosamente o quarto escuro, farejando o ar, estranhando, tentando entender o que ali parecia estranho. O outro fechou os olhos, tentando voltar a dormir, mas aquele maldito barulho que ele fazia com o nariz, estranhando o ambiente era quase insuportável. Tentou fechar os olhos novamente, e se repetiu por várias vezes, em longos minutos até que tivera vontade de jogar o garoto pela janela. Kazuto suspirou por fim, um longo suspiro e fechou os olhos, tentando ignorar demais resquícios por ali, porém aquele suspiro fora a gota d´água.
- Cansei...  -  Disse após os minutos longos descontraídos, ignorando a presença daquela criança deitada na cama. - Cansei de ser esse bonzinho forjado. Eu odeio você, odeio sua cara infantil. Você sabe o quanto eu te acho inútil e você sabe que tudo o que fiz até agora, foi te levantar, pra te derrubar novamente, não sabe?

O menor abriu os olhos bruscamente, observando-o.
- Hum...?
- Tenho que repetir tudo o que eu disse?
Kazuto se levantou, unindo as sobrancelhas, e realmente não entendia.
- Vem aqui.
A voz rouca, ordenou como a tempos não fazia, certamente o tom rude nunca morreu, mas facilmente era notável distinguir que não era o mesmo timbre usado em dias atrás.
- Se coloque aqui, na minha frente.
Deitado na cama, indicava o lado da cama, onde o ordenava estar. Cruzou os braços atrás da nuca, apoiando-se neles e o pequeno seguiu a ele, devagar, ajoelhando-se a fitá-lo.
- Hum?

As douradas íris desceram acompanhando o movimento do vocalista.
- Sangre. Se corte, se machuque. Aqui. Agora.

- P-por quê...?
- Porque eu mandei. Ou prefere que eu faça isso?
- ...Não quero fazer isso...
O pequeno se levantou, dando alguns passos para trás.

- Não vai me obedecer?
- Aonde quer que eu corte...?
- Onde der, se corte todo.
- Mas Yuuki...
- Ah... - Suspirou. - Acho que terei que fazer isso.
- Por que faz isso...? Por que agora?
- Agora? Desde quando eu escolho hora certa? Me deu vontade.
- Eu... Vai machucar...
- Não me interessa moleque!
O pequeno permaneceu em silêncio por alguns segundos, observando o outro e por fim Yuuki abriu a gaveta e jogou sobre o garoto uma pequena lâmina, afiada, e ainda esperava. Kazuto a segurou firmemente entre os dedos, guiando-a sobre a pele no braço e roçou o fio sobre o local, estremecendo, ansioso e não queria fazer aquilo, o mais velho podia ver. Ponderou, hesitante quando deslizou a lâmina sobre si e um pequeno corte expeliu sangue, insuficiente e descobriu isso com o tapa sobre a face, e agora era a boca cortada que sangrava.
Jogado no chão, o garoto desviou o olhar ao mais velho, agora em pé em frente a ele, irritado e não se lembrava de tê-lo visto assim, não sabia porque.
- Yuuki... O que eu fiz?
- Você nasceu, é isso que você fez.
- E-Eu vou embora, não precisa se zangar.
- Não estou zangado, não estou porra nenhuma, eu estava dormindo, agora não estou mais. Você é tão inútil que não consegue nem cortar a porra do próprio braço.
Kazuto fez um momento se silêncio, observando-o e ainda não entendia o que havia acontecido.
- O que você quer?
- Você.
- Ótimo, espero que esteja feliz. Agora eu sou todo seu, mas suma da minha frente hoje, e não me encha o saco.
- E-Eh?
- Você ouviu, suma.
- Você... Você vai ser meu namorado? Mas... E seu...
- Não tem ninguém Kazuto, não tem mais ninguém. Agora suma, antes que eu mude de ideia.
O garoto permaneceu um pequeno tempo a observá-lo, processando aquela atitude, aquele tapa, aquele cheiro, não estava na cama dele, nem no travesseiro, ou nele, era um cheiro passageiro, e sumiria com o tempo. Levantou-se, apoiando-se na parede e segurou uma das mãos do loiro, guiando-a ao próprio peito, agora bem mais corajoso do que antes e pressionou as unhas afiadas no vampiro em si, deixando a risca de sangue pelo local onde cortou e observou-o por longos segundos, antes de se afastar e deixar o quarto.

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