Atsushi e Kaoru #2


Kaoru recebeu a própria bebida sobre o balcão e abriu um pequeno sorriso a ele, sentado lado a si, havia sido convidado por ele para ir até o bar, beber, conversar um pouco, e já estavam no terceiro drinque. Era fácil de soltar um pouco mais se estivesse sob efeito das bebidas, assim gostava de conversar. Riu a ele ao ouvi-lo, um comentário ou outro e apagou o cigarro no cinzeiro, já era o segundo que havia fumado junto a ele.
- Não, o pior é quando algum fã segura você e não quer soltar mais, você começa a rezar achando que não vai voltar pra casa naquele dia. - Riu, bebendo pouco mais da bebida.

O riso soou mais entre os dentes cerrados e boca fechada de Atsushi enquanto deslizava o pequeno copo sobre o balcão mogno envernizado do bar, já vazio, com um pequeno filete de limão em seu interior.
- Isso acontece mais no exterior, não? Acredito que temos alguma sorte com as fãs japonesas. Não digo que isso não existe, mas é com certeza com menor proporção. Gosto dos shows mais fechados, com poltronas, um pouco por conta disso, principalmente porque as fãs mais velhas geralmente são capazes de vir quando com cadeiras.

- Ah sim, é que a gente não tem muitas fãs mais velhas... Quero dizer, ninguém com quarenta anos quer se sentar e ouvir o Kyo gritar. - Riu baixinho. - Mas... Deve ser muito bom ter um público assim.
- São bandas diferentes. Claro que com a atualização do ritmo atual, o público mais jovem é quem mais atingimos, mas nunca deixamos as antigas e o público do passado continua se adaptando, mas como disse, os ritmos são bem diferentes.
- Hai. - Kaoru sorriu, meio de canto. - Aliás, você está muito bem, Atsushi-san. Tenho ouvido suas músicas e gosto muito delas.
O riso soou um pouco nasal, um breve sopro, o vocalista não sabia se era sincero mas assentiu.
- Em comparação as antigas, acho que estamos melhorando mesmo, tínhamos um estilo meio punk. A idade chega e precisamos amadurecer a música também, ah? Gosto da fase atual de vocês também. O instrumental cada vez mais pesado, mas eu gosto de ser capaz de ouvir cada um dos instrumentos, algumas bandas não conseguem lidar com isso.

Kaoru o ouviu-o em silêncio, sua análise como se realmente passasse seu tempo ouvindo as próprias músicas e até sorriu meio de canto e surpreendeu-se com ele, assim como ele havia feito consigo.
- ... Ora. Obrigado.
Falou e chamou o garçom com um sinal, pedindo outra bebida para ele, por conta própria. O maior d
eu-lhe um meio sorriso, de canto. Ao receber a dose, ergueu o pequeno copo, era um silencioso "saúde" junto a dose dele, que juntamente ingeriu, terminando com um franzir de cenho com a garganta ardente.
O menor ergueu o pequeno copo assim como ele e por fim retribuiu a mesma careta, sentindo a bebida ardida, mas gostosa e por fim deixou o copo sobre o balcão, pedindo outra.
- Sabe, eu... Acho que eu preciso ir. Já são quase duas horas e... Sabe como é.
- Hum, talvez seja bom ter um tempo com a família.
Atsushi completou no que dizia e tragou a última nova dose, deixando na mesa o copo vazio, pegou a fina fatia de limão no interior do recipiente e levou até a boca, mastigando a fruta cítrica.
- Então vamos, talvez um táxi.
Disse a ele enquanto tateava o bolso, pegou o cigarro e o acendeu caminho a fora do bar.

- Hai... Ah um táxi seria bom.
Kaoru falou e sorriu a ele, finalizando a própria dose e retirou o dinheiro do bolso, pagando pelos drinques próprios e os do outro, afinal, o havia convidado.
- Pra onde você vai?

O maior levou o cigarro até a boca, tragou vigorosamente do filtro e expeliu a fumaça densa um pouco depois. Ao parar em frente ao bar na saída suavemente iluminada do estabelecimento, continuou a nicotina cujo odor mentolado não fazia realmente jus ao sabor, embora detivesse um toque fresco no trago. Haviam bebido algumas doses, suficientes para causar um leve estado aéreo e também encorajador.
- Casa, suponho.

- Ah sim, eu sei, mas... Lado da cidade.
Kaoru riu, e por um segundo teve até que se apoiar na parede do lado de fora, tinha mais de quarenta anos e não era o mesmo que beber com vinte anos.
- Acho que se eu chegar assim em casa, ela me coloca pra dormir no quintal. - Riu.
Atsushi observou o moreno, seus comentários contidos com o tom de voz grave. Após um trago do cigarro, aspirando a fumaça, sorriu ao guitarrista com leveza embora os dentes estivessem à mostra.
- Sigo pra lá. - Indicou a ele, gesticulando com a mão não muito enfática.

- Ah... Eu vou pro mesmo lado. - Sorriu. - Moro perto do centro.
- Então podemos pegar o mesmo táxi.
Disse o maior ao músico, e podia notar o rubor de seu rosto, indicando seu índice alcoólico. Não estava muito diferente, mas não costumava ter mudanças drásticas de humor com o sangue alcoolizado, exceto talvez o fato de que parecia interessante levar a companhia de um homem adiante.

- Claro, tudo bem.
Kaoru falou a ele, digitando o número do táxi no celular e aguardou a chegada, que não demoraria muito tempo, e que logo estacionou em frente ao local. Adentrou o carro, esperando-o e por fim esperou-o para indicar onde iriam.

Antes de seguir ao veículo, Atsushi tragou uma última vez o cigarro e jogou a bituca na lixeira metálica em frente ao bar, somente então entrou no táxi e fechou a porta. Indicou ao motorista a direção desejada, tal como o guitarrista, num caminho não muito diferente em direção a seu endereço.
- Qualquer hora marcamos uma cerveja com os caras da banda, hum?

- Ah, claro. Todos iam adorar te conhecer, acho que todo mundo lá é seu fã.
O menor sorriu meio de canto, ainda um pouco afetado pela bebida.

- Hum, eu já troquei algumas palavras com o Toshiya e com o Daisuke. Conheci o Kyo quando ele era mais novo, há um bom tempo, como um fã, mas vocês já estavam com banda, La Sadies.
- Ora, você era fã do Kyo? - Sorriu. - Ele deve gostar de saber disso...
- Claro. Mas quis dizer que o conheci como ele sendo um fã, estava começando a ter presença nas gravadoras, era tímido e parecia uma criança sorrindo.
Atsushi disse e podia perceber um sorriso tênue no guitarrista, imaginava que como líder da banda, sentia-se responsável pelos demais  e talvez aquele sorriso era de quem imaginasse a situação de seu amigo.

Kaoru assentiu, com um pequeno sorriso nos lábios e sabia que o outro realmente parecia uma criança, embora ele não gostasse de ouvir.
- Desculpe, estou meio alto e entendi errado. - Riu, cobrindo os lábios com uma das mãos.

O maior sorriu a ele, meio de canto. Por um momento fechou os olhos, sentindo a leveza do corpo causada pelo teor alcoólico no sangue. Ao encostar a nuca no encosto do banco de motorista, cruzou os braços no peito e formulou aquele curto descanso, e podia sentir a tontura das doses um tanto mais intensa com a posição o que tomou. Quando voltou descerrar os negros nipônicos, fitou o guitarrista de soslaio. 
O menor suspirou, e não queria admitir que estava bêbado, mas quase estava, tentava entender as coisas corretamente, mas estava difícil, e observava a janela atentamente, tentando se situar pelo local, para saber quando chegaria em casa.
- Tudo bem?
Atsushi indagou com aquele típico sorriso levemente aberto, de dentes alinhados aparentes com sutileza. Arqueou-se sutilmente a que pudesse fitar o músico, percebendo seu olhar meio atendo, ainda que levemente perdido, pelo que via na paisagem iluminada de Tóquio.
Kaoru desviou o olhar ao outro, rapidamente ao ouvi-lo e assentiu, notando seu sorriso bonito, bem alinhado e até sorriu a ele igualmente, embora sem mostrar os dentes.
O maior fitou em seu sorriso fechado, quase parecia murcho, embora tivesse passado tempo suficiente para saber que era habitual. Ao fitar brevemente a janela, sabia que o destino inicial seria o de casa, e por isso mesmo se atreveu a conseguir uma companheira. Talvez incentivado pela bebida, na junção de seu sorriso bêbado e preguiçoso, pendeu-se o suficiente para chegar perto do outro, até mesmo perceber o crescimento suave de sua barba, o que lembrava o fato de que era um homem, embora não precisasse de muito para percebê-lo, ainda assim levou a mão sobre seu ombro cujo cardigan preto fino cobria parcialmente as tatuagens, aparentes dos cotovelos até as mãos, não tinha muito pudor ou resguarda ao chegar em sua boca já com um toque da língua que sentiu um gosto leve de álcool.
O menor desviou o olhar a ele novamente, e se sentia meio desconfortável com sua proximidade, era homem, ele também, e ambos eram casados, então não via muito sentido em tê-lo daquele modo, observando a si tão de perto. A bebida deixava a si meio confuso, principalmente quando sentiu o toque sobre os lábios, recuou suavemente, piscando algumas vezes, mas por fim, aproximou-se novamente, deixando-o tocar a si com a língua, talvez curioso.
Atsushi o fitou ainda de perto mesmo em seu recuo, podia notar sua pele espessa, era homem, e muito por sinal. No entanto a análise não impedia a tentativa, mesmo em seu quase interesse ao reaproximar e de seu ombro subiu ao pescoço por onde o segurou e voltou a roçar a língua em seu lábios onde resvalou entre as extremidades e o beijou, sentindo o gosto levemente amargo em sua boca.
Kaoru se virou, pouco de frente a ele, sentindo aquele toque de lábios se aprofundar num beijo, e era velho, ou taxava-se assim, fazia anos que era casado, e não se lembrava como reagir aquelas situações, se ficasse solteiro certamente nunca mais arrumaria uma namorada, não sabia mais flertar com ninguém, mas ele fora bem específico. Retribuiu o toque, devagar, meio desajeitado, ele era homem, sabia disso, sabia muito bem, tinha todos os traços masculinos ali expostos, mas convivia tanto com isso, era tão comum para si, que por um momento pareceu não achar isso tão diferente.
O maior pressionou os dedos abaixo de sua nuca, ainda por trás de seu pescoço. Podia sentir o cheiro de perfume masculino, álcool e talvez um pouco de suor, não tinha certeza mas não era ruim. Não estava muito são, embora tivesse certeza das coisas que fazia, mas talvez fosse por isso que o beijo não era cuidadoso, afinal, provavelmente era uma experiência diferente para os dois, algo que certamente exigia sutileza, mas beijava-o com firmeza e um pouco de roçar dos dentes em seus lábios.
Kaoru acreditava que talvez, nunca estivesse mais desajeitado em toda a vida, não sabia muito bem como agir, o que fazer, onde tocar, as mãos permaneciam sobre as próprias coxas enquanto sentia o passeio da língua dele pelos próprios lábios e tudo que fora capaz de fazer foi guiar uma das mãos sobre a face dele, tocando-o com sutileza com os dedos, não mais atados com as faixas, e deslizou até o ombro dele, notando aquela parte reta, bem diferente do que seria uma mulher.
A mão direita de Atsushi até então inativa, levou sobre seu antebraço tatuado e deslizou até o cotovelo, segurou-o por lá. Pressionou a língua sobre a do guitarrista e interrompeu o beijo com uma sugada leve naquela parte enquanto sentia o toque áspero de seus dedos levemente calejados pela guitarra.
- Quer continuar com uma cerveja em minha casa?

O menor sentiu o deslizar de sua mão pelo próprio braço, onde a pele se arrepiou quase por inteiro e desviou o olhar a ele, sério e com um leve sorriso nos lábios, ainda pouco aéreo.
- Claro...
Disse, assentindo com a cabeça, e não sabia bem ao certo o que estava aceitando, mas por dentro sabia sim.

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