Kaname e Shiori #36


Shiori adentrou a casa, vazia, naquele dia não trabalhava, mas infelizmente o outro sim, quis insistir para ir com ele ao hospital, mas ouvira um não, uma vez por semana tinha folga e precisava descansar e ficar com o filho em casa, afinal, não podia chamar a garota que cuidava dele ali todos os dias. Havia se passado um tempo, e finalmente podia trabalhar com ele, era só um assistente contratado, uma vez que não tinha formação de enfermeiro, tinha feito o curso técnico e queria a faculdade, mas por ser um vampiro jovem, era um pouco difícil, não tinha tanto auto-controle quanto ele.
Deixou as compras sobre a mesa e voltou-se ao quarto do filho, abrindo a porta e observou o berço, aproximando-se para pegá-lo, era hora do almoço para ele e pegaria o sangue na geladeira. Acendeu a luz baixa do local e uniu as sobrancelhas, virando-se para olhar o quarto.
- ... Etsu? ... Ai meu deus... Etsu, cadê você?
Shiori falou, como se o bebê fosse capaz de responder a si e olhou embaixo do berço, sobre as almofadas, até no guarda roupa e saiu, procurando na sala, cozinha, banheiro e por último, quando estava entrando em desespero olhou o próprio quarto, cessando os passos na porta ao ver a imagem na cama sentada, não podia ver o rosto, afinal estava escuro, mas sabia que segurava o filho no colo, o reconheceu só por um motivo, o cheiro diferente e horrível do perfume dele. Estreitou os olhos e ligou a luz do 
quarto, a dos abajures da cama, não gostava de luz muito forte, nem o outro.
Ele estava ali, sabia quem era, se lembrava dele, se lembrava de cada maldito minuto passado com ele, era o vampiro responsável por transformar a si naquele monstro, era o vampiro responsável pelos dias sem comida, água, sangue, responsável pelas marcas no próprio braço, responsável pela vontade que tinha de simplesmente morrer, antes de conhecer o outro.
- O que faz aqui?

- Sabia que ia achar você. Achou que ia embora e me deixaria lá sozinho?
- Você é louco por acaso? Devolva o meu filho.
- Fiquei sabendo que casou com um médico, o problema é que preciso de alguém pra caçar pra mim, Shiori.
- O problema é seu, eu não sou sua propriedade, sai daqui!
- Se quiser que eu saia, eu vou, mas levo ele comigo.
O menor uniu as sobrancelhas.
- O que você quer?

- Você vai voltar pra casa comigo.
- Casa? Chama aquilo de casa? Você me transformou e me usou para conseguir comida, eu vivia num quarto escuro e horrível, morrendo de fome, quando caçava algo você nunca me deixava comer, eu nunca vou voltar pra lá. Vá embora antes que o Kaname chegue, e quando ele chegar você vai levar uma surra.
- Estou sentindo o cheiro dele, o transformou em vampiro, não é? O problema é que ele é vampiro há menos tempo que eu, então não acho que seja eu quem vai levar uma surra.
- Acha que isso significa alguma coisa? Ele não precisa ser vampiro há mais tempo, é o nosso filho que está com você, um pai faz qualquer coisa pra pegar o filho de volta.
- Essa eu quero ver.
- Vai embora logo, eu não devo mais nada pra você, se quer outro escravo procure na rua, tem milhões de pessoas, eu tenho uma família agora, não vai me obrigar a voltar. - Shiori disse e deu alguns passos em direção a ele. - Me dê o meu filho.
- Fique aí.
O menor cessou os passos e uniu as sobrancelhas, tentava engolir o choro ainda mais ao vê-lo retirar do bolso o isqueiro prateado.
- Não faria isso...
Shiori desviando o olhar em direção a porta e a janela do quarto, aberta. 

Kaname sentiu o eriço correr a longo da espinha dorsal, arrepiando a penugem fina. E por uma momento acreditava ter sentido frio, embora fosse somente impressão da temperatura. Mas era evidente que algo não parecia bem. Trocou a marcha leve e suave do veículo, seguindo o percurso enquanto o telefone acoplado ao automóvel discada o número marcado no atalho, e ouviu ressoar a chamada em viva-voz.
Shiori ouviu o celular tocar no bolso e retirou-o rapidamente, vendo o número do outro, queria atender, porém o rapaz a frente acendeu o isqueiro, aproximando-o do rosto do filho que ao sentir o calor iniciou o choro fraco. Uniu as sobrancelhas e deixou cair o celular, permanecendo no mesmo local e confuso, não sabia o que fazer, somente sentiu as lágrimas que escorreram pela face.
- Não! Não machuque ele! Eu vou, eu vou com você.

Kaname juntou as temporárias rugas entre as sobrancelhas ao sentir novamente o desconforto. A ligação não atendida, e a caixa postal deu vazão a mais alguns pensamentos. E logo o rumo atingiu o fim do percurso, estacionando fronte a moradia, cujo subiu rapidamente, embora tentasse não correr e abriu a porta.
- Shiori. - Chamou, sentindo o odor desconhecido no ar.

O menor manteve-se em silêncio, sufocando o grito na garganta ao ouvi-lo chamar a si e viu o outro negar para si, levantando-se e deixando sobre a cama o filho.
- Vamos, antes que ele entre aqui.
O menor uniu as sobrancelhas, sentindo as lágrimas que molhavam o rosto e abaixou-se, beijando o filho no rosto.

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