Yuuki e Kazuto #45


O cigarro queimava entre os dois dedos do mais velho, deixando pelo comodo correr o cheiro fresco e mentolado. O silêncio da noite não era tão quietante, pelo contrário, era o horário onde mais podia se sentir alerta, talvez como diziam os humanos, vivo. A coluna apoiava no travesseiro gordo e fofo atrás das costas, sentava-se ou talvez estivesse quase deitado, enquanto a brisa vinha da porta aberta na varanda, podia senti-la roçar a pele, mas sem alguma temperatura específica. O cilindro de nicotina soava num leve barulho da brasa queimada, ainda quando o sugava no meio dos lábios pálidos sem batom ou qualquer artifício de trabalho. O corpo ao lado de moveu sutil, pequeno, ainda mais encolhido e arrepiado, parecia sentir frio, mesmo que isso não fosse possível, e regredia até que estivesse colado a si mesmo. O fitou por longo tempo, sem pensamentos ou devaneios, seus olhos pouco inchados, fossem talvez noites ou dias mal dormidos, talvez fosse um bom sono ou talvez choro, nunca fora capaz de saber, afinal, tudo era possibilidade vindo dele. A mão impensada lhe tocou uma das mechas de cabelo, a mais escura dentre o loiro bagunçado pelo travesseiro, deslizou ao longo até que o fio sumisse da mão. A unha fina fez um breve e sutil contorno pelo ar, delineando sua bochecha, certamente fria. Sobre os lábios tão secos e descoloridos quanto os próprios, pressionou a garra sem força, e assistiu o trepidar do inferior, o descolar das extremidades inconscientes e subiu com o dorso que apenas se pôs fronte suas narinas, onde tão, tão sutil, pôde sentir um sopro leve de respiração. Suspirou consigo, tragou o último rastro de vida do cigarro e se ajeitou na cama. A mão, aquela mesma lhe pousou na cintura, fosse um ato consciente ou não, e logo igualmente, dormiu.
Kazuto ouvia o leve barulho pelo local, estava quase dormindo, mas a cama parecia fria sem o outro por perto, ainda mais com a janela aberta, deixando entrar o vento frio que tocava a pele, mas não sentia, e não se importava, a unica coisa que se importaria se não sentisse mais eram os toques do outro, os beijos e era tudo, já que não haviam carícias da parte dele. Suspirou, virando-se e aproximou-se do maior, buscando o toque do outro e logo o encontrou tão perto de si na cama, achou que não precisaria abrir os olhos e apenas permaneceu da mesma maneira, descansando. O pequeno tempo que passou, sentiu a mão do outro se aproximar de si, mesmo que não pudesse vê-la, sabia que ele iria tocar a própria face, e vindo do maior, só podia ser para machucar a si, mesmo assim não se moveu, manteve-se alerta com os próximos movimentos, já prevendo a dor que certamente viria. Sentiu o dedo sobre os lábios e separou os mesmos sutilmente, deixando-o como sempre, fazer o que quisesse, mas para a própria surpresa o vampiro recuou. Ouviu o suspiro e por um breve instante uniu as sobrancelhas, abrindo apenas um olho ao vê-lo apagar o cigarro e se deitar, logo após, o toque sobre a própria cintura. Uniu as sobrancelhas, mantendo os olhos abertos e observou-lhe a face, sentindo as lágrimas que escorriam pelo rosto em traços sutis e manteve-se imóvel, em silêncio, apreciando aquele pequeno toque do outro em si, tão incomum, atípico. Aproximou-se ainda mais, abraçando-o e fechou os olhos, tentando dormir, junto dele, tão perto que por um segundo pensou ter ouvido aquelas batidas do coração do maior, mas certamente, não ouvira nada. Lhe deu um suave beijo no pescoço e repousou a cabeça no travesseiro, permanecendo desse modo, esperando, ou talvez rezando para que ele não se afastasse de si.

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