Ryoga e Katsumi #37


Ryoga ajeitou a roupa, observando-o se vestir enquanto escondia-se dentro da própria. Sabia que estava amuado ainda que não tivesse certeza do porquê. Ouviu a voz sair do cômodo ao lado e o riso soou entre os dentes, estalou a mão sobre a nádega do moreno ainda exposta.
- Claro, baixinho. Venha dizer ao Katsumi o que quer comer.

Katsumi desviou o olhar a ele meio de canto ao sentir o tapa e suspirou, fechando a calça. Negativou ao fato do pequeno já saber quando entrar e sair, esperando a ambos e pegou-o no colo, beijando-o em sua bochecha quentinha.
- Bom dia, pequeno, o que você quer?

- Quero yogurte
- Yogurte não é comida, quer que eu faça ovinho pra você?
- Com pão?
Katsumi sorriu e novamente o beijou na bochecha.
- É, com pão.

Ryoga sorriu ao ver a interação de ambos e tocou o pequenino na bochecha assim como o moreno, e deu a ele o mesmo toque que ao filho, apertando sua bochecha. Katsumi desviou o olhar ao outro, fechando um dos olhos ao sentir o aperto e sorriu em seguida, levando o pequeno, que também era o próprio filho, até a cozinha, colocando-o sobre o balcão.
- Então espera aqui, e escolhe o pãozinho que você quer. 

- Quero aquele que você faz pro papai. 
- Está com inveja do papai, é? - Katsumi falou a pegar os ingredientes na geladeira.
- Do ovinho sim. Mamãe, pode fazer leite pra mim?
Katsumi desviou o olhar ao pequeno, e havia ouvido sua frase toda, o modo como ele chamava a si de mãe e não achava estranho, pelo contrário. Por um momento sorriu e deslizou a mão pelos cabelos do menor.
- Faço sim.

- Leite? Por que leite? Katsumi está te ensinando a ser muito humano?
Ryoga indagou ao menor e se sentou próximo após voltar do pequeno trajeto que fez para mudar as roupas. 
O pequeno deu um sorrisinho sonolento e desviou o olhar ao pai.
- Não, Katumi faz leitinho com gotinhas de sangue, o leite fica todo vermelho!

- Gotinhas? Tem que ser o sangue com gotinhas de leite então.
Disse o maior e afagou os cabelos do pequeno, observando como o outro parecia bem com sua atividade.

- É quase isso que eu faço. - Katsumi riu. - Você e seu irmãozinho vão ficar com o titio Haruki hoje, tudo bem?
- Haai! Ele é tão legal!
Ryoga observou o menor, que olhava para o moreno e para si, alternando o olhar de um a outro enquanto aguardava ansiosamente pelo café.
- Papai, come comigo. Mamãe comigo e com o papai também.
Katsumi sorriu ao pequeno e assentiu.
- Mamãe não está com muita fome.

- Katsumi tá triste porque estavam fazendo as coisas no bar?
Katsumi desviou o olhar ao pequeno e uniu as sobrancelhas, ele era estranho, conseguia sentir emoções que tinha mesmo que não as transparecesse totalmente.
- ... Não estou triste, meu anjo.                        

- Tá sim, papai faz carinho na cabeça dele, que nem faz em mim. Vem vem, mamãe.O menor sorriu ao pequeno e negativou, abaixando-se e beijando-o na testa, acariciando seus cabelinhos curtos.
- Queria que tudo se resolvesse com um carinho na cabeça, pequeno. - Murmurou a ele.

- Mas o que você tem que não pode resolver com carinho? 
Ryoga fitava-os ainda, vendo aquela conversa que embora amável, soava um pouco melancólica.
- Hey, deixe ele, Erin.                        

Katsumi desviou o olhar ao outro ao ouvi-lo e assentiu.
- Não tenho nada pequeno, eu só estou meio indisposto, mas estou feliz. - Disse num sorrisinho e beijou-o novamente. - Deixa a mamãe fazer o seu ovinho. Porque não pega seu ursinho e assiste os desenhos no seu quarto enquanto a mamãe prepara?

- Vai ver o seu irmão, hum? Deita com ele e já nós levamos o café pra você e a mamadeira dele.
O pequeno assentiu e descendo da bancada, seguiu ao quarto do irmão como haviam dito. Katsumi desviou o olhar ao fogão, acendendo a colocar ali a frigideira, e tentou ignorar o assunto.
- Por que está tão melancólico, Katsumi?                        
O menor desviou o olhar ao outro e negativou.
- Desculpe, Ryoga. Sei que acha que estou o tempo todo fazendo drama.

- Não o tempo todo, mas esses últimos dias você está oscilando, estava bem, de repente terminamos e já mudou. Eu não te entendo. 
Katsumi deu um sorriso de canto e negativou.
- Sinto como se você não gostasse de mim...

- Venha aqui. - Disse o maior e estendeu a mão a ele, chamando. 
Katsumi assentiu e desligou o fogo, seguindo até ele a segurar sua mão. Ryoga trouxe-o numa das pernas, deixando-o se sentar.
- Você foi transformado como? Eu não tenho certeza se já me disse isso, é provável, mas não lembro.                        

O menor sorriu ao se sentar sobre a perna dele.
- Eu sou o que? Seu filho? - Riu baixinho. - ... Não gosto muito de falar sobre isso.

- Certo. O que você sabe sobre sua nova espécie? Digo nova porque estou aqui há muito tempo.
- Praticamente nada. Sei que posso sentir você, muito pouco.
- O que você sabe por cima é que não morremos, não precisamos de alimento humano, não temos reações físicas como as de um humano. Vivemos a vida toda sem necessidade de obrigações, porque obviamente podemos conseguir o que quisermos com o tempo de sobra que temos. Eu escolho se quero sair pra matar alguém ou deixa-lo viver. Eu escolho se trabalho pelo que preciso ou se eu simplesmente tomo o que eu quiser. Temos liberdade, diferente dos humanos não temos tempo perdido. Então se eu escolho algo é porque quero de fato, não faço absolutamente nada que eu não queira. Sobre parcerias, somos quase como alguns animais, temos um parceiro que escolhemos e se ele é humano, ele é transformado, porque tem de ser capaz de viver para sempre, uma vez que eles são únicos. Uma vez que escolha alguém, não trocamos, não nos apaixonamos novamente, é só uma vez. Então, se eu escolhi você, tendo toda a minha vida pela frente, sem necessidade de me responsabilizar por nada, não acha que é uma prova de sentimentos?
Katsumi ouviu-o silencioso e de fato, não sabia de boa parte do que ele havia falado, mas também pensava assim. Quando vampiro, sempre havia ficado com alguns parceiros, nunca sentira apego algum por eles, mas ele... Havia até mentido para te-lo consigo.
- ... Então por que não diz que me ama?
- Porque não é um hábito, depois de tantos anos. Tenho quase duzentos anos. Mas amo.
O menor uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo e sorriu, um sorriso sutil e assentiu.
- Quer saber como me transformei?
- Me conte. - Disse o maior, tendo ainda sobre uma das pernas.
Katsumi sorriu a ele meio de canto.
- ... Não gosto muito de novelas mexicanas, mas... É uma história interessante. - Murmurou. - Você me ensinou então, quero que saiba tudo de mim. Quando eu era mais novo, costumava sair com o Haruki, embora minha mãe dissesse que eu não devia leva-lo comigo tão tarde, por causa do toque de recolher. Estávamos perto de casa quando um homem parou a gente e pediu o celular do Haru. Eu olhei pra cara dele, um velho horrível, que olhava pro Haru como se fosse fazer alguma coisa horrível com ele se eu não estivesse ali. Senti tanto nojo dele, que não consegui deixar o meu irmão tremendo dar a ele o celular. - Suspirou. - Dei um soco nele, mas ele estava armado. - Sorriu e do bolso retirou o maço de cigarros, embora não tenha acendido, apenas observou, contando-os mentalmente. - Ele me deu um tiro no peito. Bem aqui. - Indicou, lado ao coração. - ... Eu estava morrendo, mas consegui ver o meu irmão e as expressões dele, estava sozinho agora com o cara, eu não podia fazer nada. Nunca presenciei algo tão agoniante. Eu ainda sinto a bala as vezes,  quando sonho. Eu não podia ajudar, e achei que ele também fosse morrer, quando apareceu alguém, no escuro do beco. Parecia uma mulher, mas eu não vi o rosto, tinha cabelos médios e loiros na altura do ombro, mas minha vista estava embaçada. Ela matou o ladrão. - Disse a levar o cigarro agora sobre os lábios e suspirou. - Depois, se abaixou e encostou o pulso em mim, eu senti o cheiro de sangue, sabia que estava com a boca cheia dele, mas não era a mesma coisa. Não me lembro de nada depois, mas Haru disse que ela disse a ele que ele deveria me levar pra casa, sem ligar para a polícia ou hospital.
- É de fato uma história interessante. Como ele conseguiu levar você sem que sua mãe presenciasse isso?
- Nunca perguntei pra ele. Toda vez que eu pergunto, ele começa a chorar. Tsc. - Falou num suspiro. - Morri com dezoito anos.
- Ele tinha que idade?
- Quinze.
- Ele parece bem apesar disso. Você não parece melhor que ele no entanto.
Katsumi sorriu.
- Acho que ele finge que nada aconteceu. Eu mesmo transformei ele, depois que nossos pais morreram.

- Há quanto tempo?
- Ele tinha dezessete, faz um tempo já.
- Bem, não é como se eu soubesse há quanto tempo ele tinha dezessete anos.
- Ele tem vinte e dois agora.
- Ah, são dois bebês.
- Hum, bebê é? Bem, estou no seu colo.
- Ele vive com quem agora?
- Está morando na minha casa antiga.
- Vocês morávamos juntos antes?
- Sim, antes de você aparecer sim. Ele tem uma tatuagem no tornozelo, foi o primeiro que eu testei a tinta.
- Hum, sabe que se precisar pode traze-lo pra viver com você, ah?
- Iie, ele está bem lá, não se preocupe.
- Não sou eu quem me preocupo, não é meu irmão. Mas se quiser pode trazer, será uma boa babá. - Ryoga brincou ainda que soasse sério.- Esse lugar é grande.
Katsumi sorriu meio de canto, ciumento, como sempre.
- Não acho que ia gostar dele perto de você.
- Não seja estúpido. Eu acabei de te contar como funciona um relacionamento entre nós. Além do mais, ele é seu irmão, não acho que ele vá fazer algo que te magoe.
- Você não acha? - Sorriu. - Haru acha você o homem mais lindo do Japão.
- Você acha isso, não ele. - Ryoga disse e deu a ele um peteleco na testa. - Mas você decide. Faça o que acha melhor.
- Não sei, ele realmente gosta de você, e eu sou ciumento. Pergunta pra ele se rola fazer sexo a três pra ver o que ele te responde.
- Não acho que um humano ia querer ter sexo a três com irmão. Entre vampiros isso é comum. Alguns se casam para manter a pureza da família.
- Hum... Sei lá, o Haru ficou meio estranho depois disso tudo. Ele nunca foi de fazer comentários do tipo que fez quando te viu sem roupas. Aliás, coloque uma camisa, ficar sentado no seu colo está me excitando de novo.
- Está? Não me queixo de fazer sentado aqui, mas alguém está esperando um pão no café.
O menor sorriu. 
- Guarde sua energia para a noite.

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