Fei e Hazuki #2


O céu estava aberto, sem nenhuma promessa de chuva, trazia consigo o agradável clima, nem frio e nem calor e as cerejeiras floresciam às margens do lago em frente à casa na qual agora morava. Aquela pequena criança que brincava por ali quando mais novo havia crescido, Hazuki tinha agora seus dezesseis anos, os cabelos pretos caíam com peso sobre suas costas até a altura da cintura e os olhos azuis brilhavam como aquele céu em dia de primavera, era de se imaginar que havia se tornado um dos garotos mais queridos da casa pelos clientes, e mais odiado pelos colegas, mas não por Fei, que o acompanhava a qualquer lugar que ia como um protetor que o havia adotado.
- Bem, 
Gong Zhu, tem que decidir onde quer ir, não podemos ir muito longe ou vai anoitecer e ficaremos perdidos.
- Iie! É bem pertinho, um jardim lindo, Fei! Quando vir vai entender.
Hazuki estava com aquela promessa de jardim faziam alguns dias, aliás, semanas, o tempo passava rápido ao lado de Fei, tanto que ele nem percebia. Acordava e se deitava normalmente próximo do amigo, haviam se tornado irmãos e era assim que Hazuki o via, um amigo inseparável. A cestinha do chá estava pronta, com o bule preenchido pela bebida feita à pouco assim como as xícaras e alguns bolinhos de arroz. O moreno passou o caminho todo com ela e segurava a mão do loirinho ao lado, enquanto caminhava pela estrada coberta pelas flores cor de rosa. O maior o fitava de soslaio, sempre reparando milimetricamente em como se vestia e como estava naquele dia, até chegar ao local de destino e se sentar sobre a toalhinha estendida sobre a grama.
- É realmente bonito aqui, ah.
- Eu disse. Demoramos, mas... Finalmente conseguimos chegar.
O loiro sorriu, ajeitando uma das mechas de cabelo do pequeno atrás de sua orelha.
- Não é tão bonito quanto você, 
Gong Zhu.
- Ah Fei, que mentira. Não me bajule assim.
O risinho fora audível, e o pequeno colheu uma pequena flor do chão, mostrando a ele.
- Gosta das cerejeiras? Lá na China também tinha?
- Uhum. São bonitas.
O loiro bebeu um gole do chá e aconchegou-se melhor ao lado do outro.
- Tem algum cliente hoje?
- Ya, mas só mais a noite.
- Hum, é aquele garoto bonito?
Fei desviou o olhar a ele com um pequeno sorriso nos lábios, as vezes parecia incomodá-lo estar com outras pessoas, mas acreditava ser apenas impressão, afinal, era taxado como o irmão mais velho dele.
- Uhum. Está com ciume é?
- Por que eu teria ciume? Ora. Sabe que não sinto ciume, é o seu emprego afinal.
- Hum.
O maior assentiu e desviou o olhar ao pequeno junto dele, sempre tão bonito, parecia uma pequena flor que gostaria de tocar, mas parecia poder desmanchar ao mínimo toque, olhava para ele crescido, mas ainda via aquele garotinho o qual cuidou e segurou nos braços quando sentia frio, e era confortável pensar daquele modo, tão nostálgico, o tempo passa como o vento, quando nos damos conta, ele já foi embora.
- Você parece pensativo hoje Fei, na verdade, já fazem alguns dias que está assim.
- Ah, não dê importância, tenho trabalhado bastante.
- Você prometeu que ia me levar no festival das flores esse fim de semana.
- Por que você insiste tanto nisso? Vamos todos os anos, as flores são tão sem graça.
 O pequeno riu.
- É porque você não gosta, mas eu sim. Como no ano passado, onde você acha que poderia ver uma orquídea tão linda quanto aquela?
- Ora, em qualquer lugar. Nós deveríamos ir é em algum festival de comida, isso sim.
E riu novamente.
- Ora, você só pensa em comer, Fei.
- Tome cuidado se não eu vou comer você também, hein.
O pequeno fez um bico e negativou, servindo um dos bolinhos de arroz a ele.
- Não pode fazer isso, ou vai ficar sem irmão.
O loiro deu de ombros, o que causou outro bico no pequeno, que roubou uma mordida de seu bolinho.
- Você está muito ousado,
Gong Zhu, atacando minha comida desse jeito.
- Fui eu que fiz, ora. Posso roubar um pedacinho.
- Você que coma o seu, ora.
- Nossa, que mesquinho. Também não te dou mais bolinhos.
O loiro riu e estendeu o pequeno bolinho ao pequeno, que mordeu novamente e ao observar aquele rostinho pequeno, imaginava como alguém conseguia ser rude com ele, como tinha relatos pelo bordel.
- Hum. Olha isso!
O maior arqueou uma das sobrancelhas conforme o ouvira falar alto e levantou-se junto dele, visto que o pequeno pôs-se a correr em meio as flores e como o sol já se punha, tinha medo de que pudesse se perder, mas tudo que ele fizera fora correr atrás dos pássaros pousados ali, e deviam ter uns dez.
Gong Zhu, não vá sumir! Tenho que te levar inteiro pra casa depois ou serei castigado, ah.
O pequeno riu e voltou correndo, tomou impulso e pulou sobre ele, pegando-o despreparado já que caíra sobre a grama num baque e um gemido nada confortável.
- Você quer me quebrar... Já não é mais criança, garotinho.
Hazuki sorriu, enquanto observava o amigo na pouca luz do local e talvez nunca houvesse reparado como seus olhos cinzas ou seus cabelos loiros 
eram bonitos, mas não devia se demorar muito ou ficaria estranho, e ao abaixar, selou os lábios dele como tinha costume de fazer, sempre com a infantilidade daquele garotinho embora já não o fosse mais, e era isso o que deixava o outro confuso. O maior manteve-se a observá-lo sobre o corpo e o abraçou, deslizando os braços em suas costas, ainda o sentia com o peso de uma criança, mas não o via mais daquele modo fazia algum tempo, até o beijo que era habitual entre ambos, se tonava meio estranho, mas mesmo assim, fora retribuído.
- Tem que parar de fazer isso, hum.
- Eh? Por que?
- Não podemos mais nos beijar assim, sabe disso.
- Somos amigos, Fei. Aliás, somos irmãos, não tem problema.
O loiro desviou o olhar, e sentia-se incômodo já desde que chegara ali, na verdade, como ele mesmo disse, já estava meio pensativo há alguns dias sobre o modo como estavam agindo, mas não diria a ele, gostaria que ele percebesse, embora sempre tão ingênuo, certamente não o perceberia. Os dedos haviam deslizado por seus cabelos negros e macios, acariciando-o com todo o cuidado que tinha e segurou-o firmemente na nuca, puxando-o para si, com medo de que ele pudesse se afastar, mas ao contrário do que pensava, o garoto se mantivera inerte e somente se aproximava em conjunto, justamente por achar que não havia nada demais no ato.
Fei quase podia sentir os lábios dele junto aos próprios, quando ouvira um barulho que chegara por trás, e alerta como sempre, sentou-se rapidamente, puxando o garoto para o colo. O rapaz responsável pelo barulho, correra para perto de ambos com expressão de poucos amigos, Fei o reconhecia, era um dos garotos da casa.
- Fei, Katsuragi está te procurando, parece que precisa de ajuda com alguma coisa, bem, já sabe.
- Ya, eu já estou indo.
- Iie, disse pra voltar só quando estivesse com você, então... Precisamos ir.
O loiro voltou a olhar o pequeno, meio confuso e sabia exatamente do que se tratava e o que o dono queria, tanto que suspirou, estava cansado. Levantou-se a ajeitar o quimono e beijou o pequeno na testa.
- Não se demore, 
Gong Zhu, arrume as coisas e suba, ah?
- Mas Fei, nem ficamos aqui direito.
- Eu sei, outra hora nós voltamos. Outra hora...

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