Yuuki e Kazuto #4


Kazuto ouviu um som estranho soando do local onde estava, mas não sabia ao certo o que era, os olhos foram se abrindo aos poucos e fitou o loiro ao lado de si na cama, virando-se devagar, como se aqui fosse algo completamente comum. O sobressalto fora quase instantâneo e o pequeno pulou na cama ao sentir os fios loiros roçados na face, não sabia quem era, não sabia se era o outro, se estava sonhando. Não, aquilo era bem real.
- AHHH!

- Quê isso Kazuto? Deite-se direito!
- Onde diabos eu estou, no céu? 
- Ah claro. Deite-se. 
O menor virou-se e fitou o outro, finalmente descobrindo quem era o loiro misterioso, e não era Yuuki, era apenas um amigo da banda.
- Ah... Hinata... Onde eu estou? Quanto tempo eu dormi? Porque meu corpo dói tanto?

- Esta na sua casa. Dormiu por dois dias e sei lá, você estava desmaiado na frente de casa mais como me disseram que você tinha fugido do hospital. Me obrigaram a ficar com você. O outro dizia enquanto colocava os pés sobre a cama, sentado ao lado na poltrona e o pequeno estreitou os olhos ao ver o ato.
- Tire os pés dai! - A mão guiou sobre a face. - Ai minha cabeça.... 
- Deve ser porque você é meio idiota, Kazuto-san..
- Saia agora daqui. 
- Ah, que isso ficou chato é? Deve ter batido a cabeça quando caiu. Mas o que aconteceu? Era um ladrão?
- Ah claro.... Mais ou menos.
- Roubou alguma coisa?
- Várias.
- O que...?
O menor estreitou os olhos.

- Meu sangue... Minha sanidade... Minha virgindade e meu coração... - Suspirou.
- Kazuto-san... Está ficando louco? Até parece que está apaixonado por um vampiro. Anda lendo alguns livros de...
Kazuto chutou o outro antes que terminasse e se levantou, porém só então notou que estava apenas de roupa intima e o fitou, o rosto queimando pela vergonha que sentiu.

- Quem tirou as minhas roupas? 
- Fui eu. Achei que fosse ficar mais confortável.
- I-Idiota! E correndo ao banheiro, vestiu uma calça preta jogada por lá e no armário pegou uma camisa branca social, que costumava usar em ensaios.
- Você não pode sair, não deixaram, só semana que vem!
- Cala a boca, Hinata. 
E voltou ao banheiro, pegando um pequeno objeto e logo depois, seguiu em direção à cozinha, pegando o restante das coisas necessárias enquanto o amigo fitava a si, confuso. Parou sobre o móvel do quarto, escrevendo um bilhete rápido numa folha qualquer e logo o guardando no bolso. Saiu do local, deixando o amigo ali, e nem se quer se importou, caminhou em passos rápidos até a gravadora do outro na mesma rua, onde já sabia onde era e notou que ninguém havia entrado ainda, o local estava deserto.
Adentrou o prédio, ou tentou, mas cessou na entrada por alguns segundos devido a sensação de tontura que invadiu a si, era óbvio, estava fraco, sentia o braço doer como se tivesse sido perfurado e de fato, foi, provavelmente ficara alguns dias tomando soro, talvez em casa mesmo, o amigo tinha cara de quem chamaria um enfermeiro ou médico para ajudar, mas pelos problemas que andava tendo, sabia que era melhor não ligar para o hospital novamente. Na entrada, deu o nome do vampiro, e disse que sairia logo, 
já era conhecido do dia anterior e tendo sido visto com o loiro, provavelmente ninguém iria estranhar e fora exatamente o que aconteceu, tendo a entrada liberada em seguida.
Subiu até o andar da banda do vampiro, tendo pequenos devaneios no elevador com aquela música irritante e maldita tocando de fundo. Ao adentrar o local, analisou se ninguém estava presente ali dentro e pela falta de alguém, sentou-se na poltrona próxima, retirou as coisas que havia trazido numa pequena bolsa, espalhando pela pequena mesa. Uma toalha, levou em direção à boca e mordeu-a, o pequeno estilete que trouxera em conjunto, guiou até o pulso em sua frente, e cortou a pele, tentando não ser muito profundo, mas o suficiente. A toalha conteve o grito de desconforto e assim deixou escorrer o sangue para a taça que colocou sobre o móvel até preenche-la. Usou uma faixa para atar o machucado no pulso e antes de sair deixou o bilhete sobre a mesa.

“Yuuki, não se esqueça de mim. Cinderella
 

Yuuki entrou no cômodo, já desprovendo as mãos das luvas em couro negro. Antes mesmo que fosse capaz de alcançar o pequeno móvel, sentira o aroma exalado. Aspirou o ar para os pulmões, e desviou o olhar para a taça com o liquido vermelho, escuro, e caminhou até o objeto ao lado do estofado na mesma cor que as luvas que tinha em mãos, colocando-as sobre o mesmo. Mesmo com antiga longitude, fora capaz de notar o sangue conhecido, pegou o cristal com uma das mãos, aproximou-o da face, sentindo o cheiro forte, capaz de acender as íris vampíricas do louro. Suspirou, e tornou a baixar a mão conjunto a taça, e quando novamente tornou a erguê-la, não fora para que pudesse sentir seu aroma, e sim lançar o vidro contra a parede, que se manchou de sangue, espalhando os cacos de vidro pela sala, enquanto os olhos constaram o bilhete do garoto.
-  Criança irritante!


O menor esperou que fosse perto da hora em que os ensaios acabassem e levantou-se da cama, já havia voltado para casa e caminhou calmamente pela rua até o estúdio visitado mais cedo, não iria falar com ele, apenas esperou que o outro saísse do local para vê-lo, mesmo assim havia se esquecido que ele provavelmente sentiria o próprio cheiro, na verdade, não tinha aquela informação. Parou diante da gravadora, do outro lado da rua e encostou-se na parede, fitando o vampiro que saia do local com um pequeno sorriso nos lábios.

Após a ida dos integrantes do grupo, o vocalista foi o ultimo a deixar o estúdio. Ao sair do prédio espelhado, fazer-se ao exterior escuro, já era noite, e tarde por sinal, colocou os óculos escuros, mesmo que tal acessório fosse desnecessário, e caminhou pela calçada em direção a própria casa. Aquele cheiro, aquele perfume, conhecido, sabia que o garoto estava ali, no entanto fizera-se passar por despercebido, seguindo pela rua escura até a própria residência.
Uma das mãos, o pequeno levou ao peito, sentindo o coração bater, forte e rápido por sinal.
- Eu ainda não morri... - Murmurou. - Então...
Os passos hesitantes, correram até o vocalista, na cabeça, a voz irritante dizendo que iria parar no hospital novamente, se saísse vivo dali, parou e o fitou a poucos passos de distância, como dias atrás.
- Yuuki!
Os olhos arregalados se prenderam na imagem do outro, esperando uma reação.
O vampiro ouviu a voz aguda do louro menor, no entanto continuou a caminhar ignorando totalmente a presença do pequeno ser. Novamente como a noite em que o possuíra, ouvia somente murmúrios e grunhidos de gatos, a noite sendo minimamente clareada pelos postes de luz, e a lua, cheia. Ao longe, caminhava em passos descontraídos, a moça esguia, com belas medidas, curvas perfeitas e proporcionais ao corpo, cabelos compridos, talvez tão escuros quanto àquela rua. Cessou os passos, uma das mãos fora ao óculos escuro frente aos olhos, tirou-o e deixou o acessório cair no chão, assim como a garrafa da outra vez. Expôs os olhos luminosos, a expressão maldosa que nasceu com o sorriso, expondo os caninos afiados. Atrás do corpo feminino, os braços envolveram a cintura fina, e beijou-lhe o pescoço. A morena sequer se movia, efeito do próprio vampiro, entreabriu os lábios, e sussurrou algo à ela, seguido por uma pequena mordida no lóbulo da orelha, deixando que a língua umedecesse a pele alva até alcançar o pescoço, mordeu-o levemente por diversas vezes, até que lentamente fora perfurando a jugular, saciando a fome com o liquido que correu para a garganta, enquanto as mãos ousadas passeavam despudoradamente no corpo delicado, e, ao satisfazer a vontade, retirou os dentes da carne, a língua estancou o sangue dos orifícios, no entanto ato tão desnecessário quanto colocar o óculos, ao corpo morto que deixou cair em solo, retomando os passos em seguida.
Kazuto correu atrás do vampiro, queria realmente que ele prestasse atenção em si e os olhos tão logo o viram, se prenderam à imagem da moça junto dele, tendo a vida tomada, até que estivesse morta. Ajoelhou-se, as lágrimas escorrendo pelo rosto em pavor pelo feito, pelo visto, era a própria imagem nos braços dele na primeira noite. Cobriu a face com as mãos e apenas murmurou o nome dele, tentando lembrar a si de quem era o vampiro, quem era o dono daqueles olhos, como se tentasse resgatar algo de bom dentro deles, uma alma, um sentimento, alguma coisa que parecia morta. Abriu os olhos, fitando o corpo estirado em frente a si e afastou-se, mas logo fitou o outro a caminhar pela calçada e os gritos agudos ecoaram pelo local na única forma que tinha de chamar a atenção dele.
- Yuuki, porque você faz isso!? Pelo menos olhar pra mim já seria suficiente! - Abaixou o tom de voz, presa na garganta, o choro não o deixava se quer falar. - Idiota... Que droga...
A mão fora até o pescoço no local onde ele havia mordido, a pele rasgada coberta pelos curativos, doía mas doía ainda mais pensar que estava ficando louco, louco por diversos motivos, louco por correr atrás da morte incessantemente, louco por ansiar por um amor que provavelmente nunca seria correspondido, louco por pensar que poderia ser alguma coisa para ele.

Ao ouvir os gritos do garoto, que sequer havia se importado em chamar atenção dos moradores, mas sabia que aquelas pessoas eram tão covardes que nem ao menos abririam as janelas, somente observariam por alguma fresta. As mãos nos bolsos frontais do traje tipicamente escuro, o vampiro virou minimamente o corpo para ter em vista o garoto a uma razoável distância, deixando que este admirasse os próprios olhos. Desenhou nos lábios sujos de vermelho, um sorriso sutil, não gentil, grosseiro, esboçando o desdém ao pequeno louro, o cinismo. Ao virar-se para frente novamente, retomou os passos e virou a esquina, guiando-se para a casa, não muito longe dali.
- Isso não são horas de criança estar na rua.
Falou em tom audível, ecoando a voz rouca pela rua vazia.

Kazuto se levantou, apenas gritou em resposta, nada mais, o grito rasgado, rouco, destruindo a voz que tinha como vocalista. As mãos foram até o pescoço, arrancando os curativos e já sentia o sangue escorrendo pela pele novamente, manchando-a de vermelho.
- Imbecil! Eu te odeio! O-de-io! Eu odeio cada pedaço de você! Cada parte que você tomou de mim!
E virou-se, tomando o caminho de volta pra casa, não tinha como segui-lo, não poderia, não tinha estrutura mental para fazê-lo. Adentrou a casa e encostou-se na porta, odiando cada lágrima que escorria pelo rosto, só por saber que eram por ele, que era por ele que chorava.
- O pior... É saber que tudo que eu disse é mentira... Inferno!
O pequeno bateu contra a porta algumas vezes, esmurrando, chutando, machucando-se ainda mais do que já estava machucado, não só por fora, mas por dentro também, jogando tudo que havia sobre o móvel ao chão assim como o espelho do quarto que se transformou em cacos ao ser acertado pelo punho. Deitou-se na cama, gritando contra o travesseiro, que abafava a voz desesperada que tinha, para assim fechar os olhos e em meio às lágrimas, tentar adormecer.

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