Tsuzuku e Koichi #2


Os olhos vermelhos observavam a parede do camarim, impaciente, havia tomado banho há pouco tempo e as roupas curtas já estavam no corpo como se já fizessem parte dele. A música já havia começado fora do local com suas batidas altas, apenas esperava, mais nada.

- Hey, Koichi, acho melhor você desistir.
- Não... Ele vai vir, eu sei que vai.
- Esquece, Chi, o Tsuzuku nunca fica duas vezes com o mesmo garoto, ainda mais sendo inexperiente. O que foi, já se apaixonou por ele?
- Claro que não! Como eu poderia? - Estreitou os olhos.
- As vezes alguns se apaixonam na primeira vez. - O rapaz loiro falou ao de cabelos rosas, sorrindo. - Ainda mais que você era virgem.
- Você era virgem?!
Falou o amigo ruivo do outro lado da sala.

- Shh... Não fale alto, vão tirar sarro de mim!
- Entendi porque o Katsuragi te deu para o Tsuzuku.
- Vai se foder, Shin!
- Não fale assim com o garoto, Shin. - O outro, loiro, se aproximou de si e abraçou o próprio corpo menor. - Escute, Chi, o Tsuzuku é uma das pessoas mais difíceis de agradar e mesmo que você tenha agradado, ele não compra escravos.
- Mas ele foi gentil.
- Ele não é gentil, é calmo. Os clientes aqui costumam nos tratar feito lixo, acostume-se.
- Eu não sou lixo...
- Você é um vampiro recentemente transformado ainda tem um gosto bom, talvez alguém te adote se pagar bem.
- Ah, não fale essas coisas pro menino. Eles não adotam você, você é só um brinquedo deles. Não são seus pais.
- Ah, Shin, fica na sua!
O loiro soltou o menorzinho a se aproximar do ruivo e lhe deu um tapa. O pequeno permaneceu parado, atônito e apenas observava enquanto o ruivo rosnava ao outro.

- Hey, suas putas, parou. E você Shin, vai servir as mesas e vocês dois é melhor estarem prontos daqui a pouco, o show já vai começar e eu não pago ninguém pra ficar de briguinha por motivo estúpido!
A voz havia vindo da porta, e parado ali estava o moreno com seus olhos vermelhos acesos em direção aos garotos, usava o quimono estranho de sempre, como se vivesse em outra era e entre os dedos, carregava a cigarrilha acesa.
- Sim senhor.

A figura de trajes negros, pele branca em contraste dos cabelos enegrecidos e longos mas não demais, a cútis pálida peitoral, tinha-se exposta com as suaves definições existentes de uma forma sutil e atrativa pelo cavado decote V do casaco único que usava sem nenhuma outra peça abaixo dele. O tom imaculado da tez, interrompido apenas por rosada marca no peitoral, expondo uma cicatriz que sumiria alguns minutos depois. As íris claríssimas quase pareciam cubos de gelo, denotadas pelo preto esfumaçado em volta dos olhos que encararam todo o escuro ambiente em transparentes luzes vermelhas misturadas pelas brancas fluorescentes e oscilantes junto a música da boate em mesmo ritmo. Brandou das mãos as luvas, tirando-as ao caminho que traçou até o centro local, próximo ao palco, próximo ao balcão de bebidas e com o típico uísque com uma dose de limão e o charuto cubano. Acomodou-se pelo estofado de couro negro, cruzou as pernas sem feminilidade e um gole da bebida apreciou, logo mais a um trago do tabaco, a espera de quaisquer novidades.
O nome do garoto foi anunciado pelo local e suspirou, já não contava mais com a presença do outro no local, então esperou apenas que encontrasse algum vampiro que fosse bom para si. Os passos lentos deu ao palco enquanto as luzes já piscavam, acostumado a tal ritmo. Caminhou pelo palco a agarrar pela segunda noite a barra de metal no palco a observar discretamente os rapazes ali. Os olhos se prenderam no moreno por alguns segundos poucos, ele estava ali, logo a opinião dos garotos talvez pudesse estar errada, e esperava que estivesse. Virou-se de costas a encostar-se na estrutura atrás de si e deslizou ao local a abaixar-se e jogou sutilmente os cabelos para trás. O tapa olho não estava mais sobre os olhos, agora o rosto era coberto apenas pelos cabelos, mas a maquiagem preta ainda enfeitava a face. Ergueu o corpo novamente, levando ambas as mãos ao casaco que usava e retirou aos poucos, mantendo o quadril num leve rebolado, jogando o casaco ao chão e aproximou-se da beira do palco, observando os três rapazes a frente, mesmo que não tivesse interesse em dois deles, dançava para todos.
O olhar percorreu as mesas por um breve instante e logo abaixou-se a se ajoelhar no chão

estendendo uma das mãos ao vampiro do meio a pegar a mão dele ao vê-lo estendê-la a si e levou-a ao inicio da blusa curta que usava, deslizando dois dos dedos dele pelo local a rasgar a roupa com suas unhas afiadas e sentiu os leves machucados pela pele a deixar um rastro de sangue, porém os machucados logo se fecharam, embora causassem o olhar de todos devido ao cheiro forte e soltou a mão do outro vampiro, delicadamente, piscando a ele a retirar a camisa e jogou-a de lado.
O amargoso sabor de uísque, suavizado pelo azedo limão, gostava daquele sabor, ambos fortes, descera pela garganta num gole que deu o término a bebida. A essa hora já observava a apresentação do garoto o qual se proveu no fim de semana anterior, e como antes, apenas observava seus movimentos lascivos, contrários a seu posto na cama. Sugou a fumaça do espesso cilindro de tabaco, não tragando a que jogasse a neblina cinzenta pela vista frontal que tinha do palco, nublando o ambiente a que se instalava e novamente fora servido de um pequeno cálice de seu agradável fel. Ingerira o líquido sem demasiada delonga e lambeu os lábios a sugar quaisquer gotas a não tê-las desperdiçadas, enquanto a mão erguida, chamava o serviçal nu, e pediu-lhe outra dose de uísque com limão.
Koichi se levantou devagar em frente aos rapazes e viu o outro a beber de uma vez todo o próprio sangue do recipiente. Virou-se a desabotoar o short pequeno que usava, abaixando-o devagar a expor a roupa intima preta e o retirou, deixando-o ao lado junto das outras roupas, ajoelhou-se em frente ao moreno dessa vez e piscou a ele a deslizar uma das próprias mãos pelo corpo, alcançando o membro sobre as roupas e deu um leve aperto, deixando o gemido baixinho escapar, que certamente os ouvidos atentos dele notariam.
As íris tonalizadas da cor pelo sangue ingerido, encararam a figura alheia servida à elas, enquanto a dose de bebida descera violenta pela garganta e quase não a sentia queimar, apenas seu aguçado sabor amargo, azedo e alcoólico e ao repousar do copo esvaído do drink acima do balcão, o lábio superior se erguera a denotar os salientes e longos caninos, num sibilado ameaçador. O menor uniu as sobrancelhas a encolher-se sutilmente, perceptível as presas e logo se recompôs a se levantar e afastar-se do outro a caminhar em passos lentos para o centro do palco novamente, dançando por um pequeno tempo a mais, tentando não pensar naquelas presas se cravando na pele. Logo que acabou o show, saiu do palco e dar passagem a algum outro dançarino da noite, deixando-o lá, sentado e tão lindo como na semana passada.
Uma tênue elevação lateral dos lábios, o maior não expôs o sorriso maldoso e forjado. Ao término do segundo drink, continuou à espera do próximo dançarino, enquanto curtia o forte cheiro e sabor do tabaco, e pedia pela próxima dose de sangue.
Koichi adentrou o local a caminhar ao camarim e viu o amigo loiro caminhar em direção ao palco, ajeitando os cabelos, esperou por um momento que o maior não escolhesse a ele.

- Ele estava lá. - Sorriu a ele antes que saísse.
- Ele veio?
- Hai.
O pequeno assentiu e o dono do local deu leves tapas no ombro do outro, apressando-o. 
Tsuzuku teve posse do cálice de sangue, bebeu do fel mediante a apresentação do jovem dançarino louro e com menos roupas que o anterior. Provou de seu sabor, era mais velho, porém não o depreciou, e à bebida sob a mesa adicionou o restante da dose rubra, misturando-a numa volta do líquido balançado pelo copo e ingeriu a tomar na boca um dos cubos de gelo, o sugando vagarosamente enquanto observava a dança.
O rapaz, ao lado do vampiro desviou o olhar ao garçom nu que circulava pelas mesas e o chamou com uma das mãos, falando algo baixo a ele, levantando-se em seguida com intenção de se retirar da mesa.
- Sim senhor.
Assentiu o garçom e 
virou-se a seguir a direção do dono da boate, apenas cochichando algo baixo a ele que assentiu.
Após uma e outra das apresentações, o moreno se levantou e como previsto, nada a que pudesse selecionar de bom gosto. O cheiro de perfume transitava junto ao corpo, misto ao aroma amargoso do uísque que sempre tomava por ali, e após a busca das luvas de couro, sentou-se próximo ao bar, abandonando o posto frontal do palco e neste, sem mais palavras somente mais um drink que ligeiramente tomou. A fatia fina de limão, levou a boca a sugar cada gotícula azeda.
Katsuragi adentrou o camarim, observando os garotos no local e sem muita cerimônia anunciou.
- Hey, Koichi.
- Hai?
- Cliente.
- É o Tsuzuku? 
- De que te importa garoto, anda.
- Hai.
O pequeno assentiu a levantar-se e seguiu o caminho para fora do local, permanecendo com aquelas roupas mesmo, logo seriam retiradas de qualquer maneira.

Tsuzuku sugou o restante da fruta, até que não mais houvesse seus resquícios e jogou-a no copo já vazio de bebida. O breve maneio da mão formulou conforme voltado ao extenso salão escuro, e diversos ambientes, visto que a presença do dono desta, não era necessário dizê-lo qualquer coisa, saberia, queria a sala particular, e queria o melhor dançarino que podia oferecer, sem erros e nada muito velho. Levantou-se ao caminho da sala cujo adentrou e sentiu o cheiro de sangue invadir os poros, tal como as narinas e eriçar a cútis, salientando os dentes e como sempre, sentou-se a prover-se de alguma bebida, agora somente um vinho.
O garçom, visto seu pedido, aproximou-se do moreno e dono e uniu as sobrancelhas.
- Senhor, o dançarino mais novo é o que ficou com o senhor semana passada. - Murmurou.

- Eu não disse o mais novo, eu disse o melhor e nada muito velho.
Dito, o maior voltou-se a direção da sala, onde já instalado, bebia do vinho.

- Certo.
O rapaz disse e virou-se a seguir o caminho ao camarim novamente, avisando um dos rapazes que o moreno esperava por ele, escolhendo-o rigorosamente em meio aos dançarinos.
O pequeno ouviu os comentários, nada podia fazer, parece que ele não havia gostado de si afinal e cabisbaixo, caminhou ao sofá onde o loiro se encontrava, o que havia chamado a si. O sorriso preencheu os lábios, falso, é claro e sentou-se ao lado dele, lhe dando atenção.

Após a vestimenta das roupas, o maior dera mais um gole no vinho e abandonou a taça sob o móvel criado-mudo vermelho e chamativo lado a redonda e extensa cama de lençóis, por vez negros e de veludo, amassados de qualquer jeito pelo colchão já utilizado. Com a cigarrilha fina na boca, o cheiro adocicado exalado do pequeno cilindro marrom, deixou o quarto logo após a saída do dançarino o qual havia tomado naquela noite e cruzou a saída a vistar o recente vampiro de cabelos róseos o qual provocou novamente no expôr dos caninos e um sibilado mais sutil, um tênue desenhar de seu contorno facial com a ponta da unha negra e bem afiada, porém sem feridas e seguiu ao caminho de saída da zona particular.
Koichi seguiu em passos calmos para fora da sala, cobrindo-se apenas com o roupão de banho, já que tivera as roupas arrancadas pelo rapaz, e embora tivesse tentado aproveitar aquela noite, não o tivera feito de fato, não o queria, não sentia vontade dele, e embora bonito, não era aquilo que queria. Ao se ver sozinho e cabisbaixo, observou o outro a passar por si, dando-lhe um pequeno sorriso de canto, que logo sumiu ao sentir a unha deslizar o contorno do rosto, ergueu uma das mãos a acenar a ele, e não entendia o porque havia feito, já que havia sido trocado, mas viu apenas as costas do maior dadas a si. Uniu as sobrancelhas e seguiu em passos lentos ao camarim onde tiraria o roupão e veria as feridas no próprio corpo que logo iriam cicatrizar com uma boa dose de sangue.

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