Yuuki e Kazuto #3


Kazuto havia ficado o dia todo na cama, levantar era impossível, nem respirar conseguia direito. O corpo todo doía e nem ao menos comer alguma coisa conseguia, então preferia dormir até que a dor passasse ou até que se sentisse melhor para levantar, o que seria uma tarefa um tanto difícil. Quando conseguiu, finalmente, depois de sentir as pernas fraquejarem por um longo tempo e a fome quase engolir o estômago, vestiu-se de forma que não fosse perceptível a ninguém o ataque feito pelo vampiro alguns dias atrás.
Estava indo para a gravadora, usava o cachecol no pescoço e a camisa de manga comprida, tudo para que os integrantes da banda não notassem que estava tão machucado que de fato não conseguia dar um passo sem gemer. Adentrou o local ao chegar e como sempre, deu bom dia a todos,
 seguindo em frente com o ensaio, sem muitas opções, já que precisava do dinheiro do novo CD que lançariam. A voz parecia não sair, presa na garganta como na noite em que passara com o vampiro, sufocada, mórbida, provavelmente devido ao mal estar que sentia, sem conseguir fazer o que faria no dia a dia, um simples ensaio. Ao terminar, sentou-se na poltrona do lado de fora do estúdio, estava calor no local e se quer podia tirar o maldito cachecol. Ouviu as perguntas de Rin, que fazia parte da banda, sobre o porque não tirava o acessório, mas sempre o ignorava ou dizia que estava com frio, febre talvez fosse uma boa desculpa no fim das contas. 
O vampiro não saía da cabeça, e a dor no corpo ainda era presente, estava mesmo se sentindo mal e sufocado, mas não só fisicamente, se sentia mentalmente sufocado também. Havia sido estuprado e não queria contar a ninguém sobre aquilo porque de certo modo, nutria algo por aquele vampiro com o qual trocara poucas palavras e poucos sentimentos.
Havia uma revista sobre a mesa, não iria mexer nela, mas sentia-se entediado o suficiente por uma vida e já que estava descansando um pouco sem ter muito o que fazer a pegou e apenas folheou. Viu o nome de algumas bandas, a maioria participando daquela gravadora, e quando estava prestes a jogar a revista de lado viu numa das paginas a escrita grande e bem desenhada, com rostos conhecidos, aliás, somente um rosto conhecido. O nome "Lycaon" estava no centro, indicativo e irônico, e abaixo, o vampiro loiro com mechas cor de vinho. Tinha certeza que era ele, não podia ser outra pessoa, conhecia muito bem aqueles olhos que podiam facilmente parecer lentes de contato numa revista qualquer.
Levantou-se num pulo, tão rápido que nem sentiu o corpo doer e ignorando a pergunta dos staffs do estúdio, correu até o primeiro integrante da banda que encontrou, puxando-o pelo braço a interromper sua conversa.
- Onde fica o estúdio dessa 
banda? Onde?!
- Ahn... É na rua da sua casa, nunca viu ele por lá?
Kazuto respirou fundo e jogou a revista sobre o móvel de centro, onde a havia pego, saindo do local e deixando a mochila ao lado da poltrona, assim como os amigos numa eterna interrogação de onde teria ido, já que fugiu no meio dos ensaios. Correu pelas ruas, já tão conhecidas, mas naquele momento pareciam só um monte de números e placas, confusas demais para entender alguma coisa, e na rua da própria casa, seguiu em passos firmes, observando as casas com placas indicativas de quem ali morava até que finalmente visse a placa do estúdio. Encostou-se na parede ao lado da porta, a dor no corpo estava realmente matando, mas podia suportar mais um pouco para vê-lo novamente e tirar a limpo aquela situação, ah haviam tantas coisas que queria dizer a ele. Caminhou calmamente até a porta ao lado quando descansado o suficiente e adentrou, observando a quantidade significativa de pessoas que haviam ali, por sorte, todas ocupadas, o que facilitava ainda mais a possibilidade de invadir o local sem ser percebido. Era de uma banda não tão conhecida, esse era o único problema, ou poderia simplesmente entrar com a desculpa de que queria falar com algum supervisor ou produtor.
O pequeno permaneceu pensativo por um tempo, o que faria? Havia uma porta à esquerda e tinha certeza que não estava trancada já que um rapaz havia saído de lá com algumas peças de roupa nas mãos, certamente para a gravação de algum vídeo clipe. Ali mesmo que iria entrar. Retirou o próprio casaco e sorrateiramente deslizou para dentro da sala, indicando a roupa nos braços ao segurança e nem fora questionado, por sorte.
Caminhou pelo corredor, observando as salas com suas luzes vermelhas acesas e finalmente ao cessar o passo, ouviu a voz rouca de um vocalista dentro do local, e conhecia aquela voz, a mesma que sussurrou um nome na noite passada, a mesma que chamara a si de Cinderella, a mesma, aquela voz. Yuuki. abriu um sorriso nos lábios, sentia-se tão feliz por tê-lo achado, mas indagava-se se devia jogar a própria vida pela janela novamente. Por ele, valia a pena. Encostou-se na parede, esperando que todos os integrantes se retirassem, e até ignoraram a presença do loirinho ali parado, por sorte, o vocalista fora o último a sair. Os óculos escuros escondendo seus belos olhos vermelhos e amarelos,  e finalmente, o pequeno o fitou.
- Yuuki...?

A pele alva do vocalista destacava bem a regata preta, assim como o resto das trajes na mesma cor, sendo a calça jeans num tom semelhante, mas não chegava ao negro. Os cabelos louros, fixados, formando o penteado para a sessão de fotos, feita algumas horas atrás. Levou a bebida aos lábios, tendo o retoque do batom vermelho escuro, feito pela maquiadora que o fez logo após a conclusão da bebida. Retornou ao centro da sala, conjunto aos integrantes do grupo, que assim como a si próprio, se colocaram em posição para a ultima foto. Encerrando o ensaio, a ultima música.
- Kira kira to hoshikuzu maichiru you ni, dare mou ni you suru sonzai de itai...
 Dado o fim, pegou o casaco sobre o estofado em couro, tão negro quanto as roupas e a maquilagem nos olhos. Os óculos escuros colocados frente aos olhos, e mesmo dentre o cômodo pôde sentir o aroma exalado do próximo, ainda não visto, mas novamente conhecido. Deu de ombros e deixou o estúdio, antes mesmo que o passos guiassem para o elevador, a voz tão conhecida quanto aquele perfume cessou o andar, virou-se afim de fitar o dono da mesma.
- Hum ?

Observou o garoto de estatura baixa, e na face mantida a expressão apática, talvez desprovido de qualquer vontade, até mesmo do simples fato de abrir a boca e dizer alguma coisa.
- Não foi difícil achar você...
Murmurou o menor e pigarreou para que a voz não ficasse tão baixa, aproximando-se dele, aparentando ter perdido quase todo o medo do vampiro, mas por dentro ainda podia sentir os ossos querendo tremer diante dele.
- Não sabia que era vocalista do Lycaon... Ainda não me apresentei, hum. - Estendeu uma das mãos em direção a
ele, hesitante. - Prazer, Kazuto, sou vocalista do ValettA.
Yuuki continuou frente ao corpo alheio, observando a face ligeiramente conhecida. Uma das mãos fora na haste dos óculos, abaixando as lentes escuras conforme curvou levemente o tronco, e teve a face a pouca distância do rosto do louro menor, analisando os traços faciais do tal, que se apresentava como Kazuto. Havia ignorado totalmente o ato alheio, desde sua apresentação até o cumprimento, e sem alternativas, descerrou os lábios e falou com o típico tom baixo, porém suficientemente audível.
- ... A cinderela virgem?
Indagou o loiro, a sutil curva no canto esquerdo dos lábios, cínico. Kazuto r
ecolheu a mão assim que percebeu que ele não a tocaria e encostou-se na parede novamente, fitando o rosto tão próximo.
- É... É sim...
Fitava os olhos do loiro e um pequeno sorriso se formou nos lábios, gostava tanto deles.

- Hum...
O vampiro tornou a cobrir os olhos com as lentes escuras do óculos, endireitou a coluna e jogou sob um dos ombros o casaco negro que tinha em mão. Deu as costas ao mais baixo e passou a caminhar até o elevador, sequer se deu ao trabalho de perguntar ao garoto o que fazia ali.

- Yuuki!
Kazuto correu até ele, segurando-o pelo pulso.
- Espere, não me deixe sozinho de novo!
O maior sentiu a mão alheia ousada, demais, a segurar um dos próprios pulsos. A baixa risada fora audível certamente ao mais baixo, totalmente contraditória, desprovida de gentileza ou graça. A mão livre, anteriormente segurava a veste sob o ombro, a mesma fora até a face que abaixou minimamente, ajeitando o óculos frente aos olhos, mesmo que em seguida o acessório fosse retirado. Com a curva num sorriso presente nos lábios, virou-se e fitou o garoto, certamente fora o único movimento que ele foi capaz de notar, já que o ato de lançá-lo contra a parede próxima fora ligeiro. Apertou o pescoço do, agora, conhecido, assim como fizera nos dias anteriores em que havia o visto.
- Não te deixar sozinho ? - O riso inicialmente baixo, deu continuidade até se tornar uma gargalhada, logo cessado ao proferir. - Por acaso sou seu pai? Sua mãe?

Uma das mãos do pequeno fora guiada até a dele no pescoço, a expressão de dor por estar apertando sobre os machucados ainda não cicatrizados, por fazer pouco tempo que ele havia mordido e já sentia as gotas de sangue escorrendo pela pele branca e sujando a camisa que usava.
- Eu... Eu... Yuuki... Me solte... Por favor...

No corredor, Yuuki ouvira os murmúrios dos staffs, virou afim de observá-los e manteve-se a segurar o garoto, soltando-o somente quando fora minimamente avistado o tecido laranja, a camiseta de um deles. Estremeceu ao aspirar o aroma doce, e a mão anteriormente a segurá-lo pelo pescoço, desceu até agarrá-lo pelo tecido da camisa. Os passos retornaram de onde havia surgido, voltou a sala de gravação, jogando o garoto para dentro do cômodo, soltou-o novamente, para assim encostar e trancar a porta. Os já não surpreendentes movimentos repentinos e ágeis, guiaram o louro menor contra a porta, ecoando o barulho do pequeno corpo a ser jogado contra o material, assim como a três dias atrás. As unhas, por vez machucaram o couro cabeludo, assim que entrelaçou os dedos aos fios de cabelo do oriental, agarrando-os sem delicadeza, dessedentando-se novamente com o mesmo sangue.
O garoto suspirou ao ouvir os staffs, a única chance de escapar, mas não quis gritar, não quis chamá-los, também não colaborava para a própria vida. E logo voltou a assustar-se pelos movimentos bruscos dele, sendo jogado de encontro ao chão do local e sem ao menos perceber havia sido jogado contra a porta, o gemido soou baixo dos lábios, sentindo a dor do corpo machucado, dessa vez pela madeira e sentia que se ele continuasse machucando a si daquela maneira, quebraria os ossos do corpo em pouco tempo. Perguntava-se quando havia se tornado tão masoquista a ponto de voltar para ele e não gritar por ajuda. O grito de dor ecoou dos lábios ao sentir os cabelos puxados daquela forma, deixando que algumas lágrimas escorressem pelo rosto, escapando dos olhos.
- Yuu... Yuuki.... Pare...

A sucção forte feita com os lábios, cravando a carne com os caninos afiados, machucando-o mais uma vez, satisfazendo a sede com o sangue do louro. Yuuki apertava-o contra a porta e o próprio corpo, enquanto mantivera a puxar os cabelos tão claros quanto os próprios, passando a roçar o sexo ereto por trás da veste, contra o baixo ventre do pequeno, mas não era questão de sexo, era o prazer de tratá-lo como queria, mas assim como todas as outras vítimas, orgástico o sangue quente que pulsava os órgãos mórbidos no corpo, aquecendo a pele gélida, e assim que saciou a ânsia, roçou a língua rude sobre os orifícios, típico, estancando o sangue que corria para o tecido da veste alheia. Afastou-se somente o suficiente para encará-lo, e expor o olhos maldosos ao garoto, que reluzia naquele dourado impiedoso, e esboçava o rubro do sangue ingerido.
- O que foi, hum? - Sussurrou, sem desviar o olhar amedrontador, dos olhos tão negros do conhecido. - Está apaixonado, é? - Tornou a murmurar, conjunto ao pequeno riso, naquela expressão egocêntrica e risonha.

Os olhos do garoto se fecharam e uma das mãos foi guiada às costas dele, agarrando a blusa que o outro usava enquanto sentia aos poucos o sangue sumindo das veias novamente, já não o tinha, e perdia os restos do mesmo, e dos lábios apenas os gemidos em tom alto escapavam, mas no local acústico de nada adiantaram. Sentia o membro do outro por baixo das roupas, um arrepio percorrendo o corpo e perguntava-se porque o sentia, porque se excitava com aquilo. Os olhos voltaram a se abrir devagar ao senti-lo lamber as pequenas marcas feitas pelas presas e o fitou, apreciando os olhos dele tão perto de si, talvez a única razão por ter voltado.
- Eu sou qualquer um pra você, não é? Eu quero ser o único... Não sei dizer o porque, mas eu quero... Isso me fez levantar hoje mesmo com as dores no corpo e voltar aqui para vê-lo. Só isso... Seus olhos... Me... Me hipnotizam...

Yuuki ouvira as palavras do garoto, mas era somente mais palavras que passaram despercebidas pelo vampiro, audíveis, porém insignificantes. Ambas as mãos, tomaram rumo a deslizarem pelo pequeno corpo pressionado pelo próprio, com as unhas de vidro a formar fendas que abandonavam filetes de sangue da nuca do louro. Desceu pelo tecido, e tornou a subir assim que atingiu o cós da calça, invadindo a roupa do mais baixo, livrando-o de correr despido pelos corredores da gravadora, não por gentileza, mas sim bom senso, afinal, o garoto correndo para fora do estúdio, desnudo, atrairia a imprensa. As unhas pontiagudas, assim como havia feito na nuca, marcavam sinais de que esteve ali, sinais que seriam vistos por mais algumas semanas. Deslizou na base da coluna, subindo e tornou a desceu onde invadiu a veste inferior, apalpando-o, ou talvez assim como em todas as partes do corpo, machucando-o com as unhas dolosas, mas assim concluída a fala do garoto, livrou-o de quaisquer toques, manteve-se próximo, onde apoiava o antebraço na porta de madeira atrás do menor, e continuou, assim como ele dizia, "o hipnotizando" com os olhos fluorescentes, ofuscando o tom negro dos olhos dele.
- O que te faz pensar que conseguiria algo de mim?
Os olhos semicerrados do humano, fitando os olhos do outro, não desviava o olhar nem por um segundo que fosse mesmo com os lábios mordidos ao sentir a dor insuportável das unhas afiadas rasgando a pele que fazia gemer, afinal estava concentrado nos olhos dele e isso não o deixaria gritar. Sentia-se tão perdido diante daqueles olhos dourados como ouro do maior. A mão adentrou a camisa dele, sentindo a pele gélida e assim subiu pelo tórax, uma pequena caricia que sabia que ele nem iria notar. A mesma mão foi até o rosto dele, segurando-o entre os dedos de modo delicado, aproximando o rosto do rosto dele.
- Eu não sou tão bom quanto você esperaria que alguém fosse... Mas eu sei que posso fazer você gostar de mim... Eu preciso disso... Mesmo que me corte em pedaços todos os dias... Não quero ser apenas mais uma vitima...
Fechou os olhos, um gemido baixo escapou ao se mover, revelando ao outro a expressão de dor como na noite passada e logo voltou a fitar os olhos dele, aproximando os lábios dos lábios gelados do outro e nem se quer sabia porque fazia aquilo, era aquela sensação, de não ser tão comum, de não estar com uma pessoa comum, aquela sensação de que precisava estar ali esperando por uma reação de um vampiro sanguinário e maldoso.
- Posso... Beijar você...?
Yuuki sentiu o toque caloroso das mãos alheias, por mais que não pudesse sentir tal temperatura com exatidão. Odiava aquele toque, quaisquer toques que fossem feitos em si. Como aquela pequena figura poderia ser tão ousada? ou talvez não tivesse imposto realmente as ordens a ele. As mãos seguraram as alheias, já sequer descreveria os atos de tão abruptos, apertou os pulsos finos, tão frágeis, e tornou a jogá-lo contra o material da porta, ecoando no corredor o encontro brusco e seco. Uma das mãos fora ao rosto do garoto, apertando-o tipicamente a machucar a pele com as unhas.
- Escute garoto, estou sendo gentil o suficiente. Não apareça novamente diante de meus olhos, ou então eu te farei sangrar do modo mais lento possível, vou te fazer definhar até apodrecer, eu não te quero, eu não amo, eu não sinto, suas palavras entram por um ouvido e saem pelo outro. Ah, e antes que eu me esqueça, eu tenho um parceiro. - Com o ultimo arremesso feito do louro contra a porta, soltou-o das mãos, tendo razoável distância. - Desapareça, Cinderella!
Kazuto fechou os olhos, sentindo o corpo ser pressionado contra a porta e virou o rosto para o lado apenas ouvindo as palavras rudes do outro, e as lágrimas novamente deixaram os olhos por achar que podia sentir algo por alguém tão frio. Assim que foi solto, o corpo foi novamente de encontro ao chão. Apoiou-se na porta, levantando-se com dificuldade e assim ficou em pé, deixando o local que se apoiava e observou o outro.

- Yuuki... - Deu alguns passos em direção a ele, mas o corpo não suportou o próprio peso e caiu de joelhos no chão, as mãos no mesmo impedindo que caísse deitado, o fitou. - Eu não quero... Não quero desistir... Se vai me proibir de vir aqui vê-lo, prefiro que me mate. Eu passei três dias definhando e sobrevivi porque tinha vontade de saber mais sobre você!
O vampiro trincou os dentes, tamanha raiva que sentira daquele garoto. Típicos movimentos repentinos e abruptos, quando se ajoelhou frente ao corpo pequeno, e tornou a segurá-lo pela face, apertando-a com as unhas, machucando-o ainda mais que os minutos anteriores.
- Seu fedelho, maldito o dia que te encontrei. Eu não me importo de te matar, sua bicha. Quer porra você é? Tamanha ingenuidade. - Empurrou-o ainda com a mão que anteriormente o segurava, jogando o corpo alheio contra o chão, feito com que o rapaz perdesse o equilíbrio que depositava nos braços. - O que quer, ahn? Quer morrer, se mata!
Ao ser atirado ao chão, o garoto nem tentou se levantar, não disse nada a ele, os olhos fechados, esperava que ele parasse de falar, as palavras o machucavam mais do que as ações e realmente preferia sentir as unhas dele perfurando o próprio coração ao ouvir as palavras. Deixou que apenas as lágrimas escorressem pelo rosto, mais uma e ficou em silencio. 
Ao lado do corpo deitado no chão, o vampiro ajoelhou-se e abaixou, tendo mínima distância da face chorosa do conhecido.
- Qual é o seu problema ?

O pequeno abriu os olhos devagar, observando o rosto dele.
- Disse.... Disse que não se importava...

- Não me importo. Quero saber o que te faz ser ousado desta forma, me tocar sem que eu permita, ser tão inútil e ridículo a ponto de correr atrás daquilo que te faz mal. Deve ser só mais um bastardo largado por ai. Você quer um pai, é?
Os lábios se descerraram para o riso, logo a gargalhada que expunha os dentes afiados, com pequenas manchas de sangue.

- Acho que...
As mãos do pequeno se fecharam com força, tentava mover o corpo e as gotas de sangue já deixavam as pequenas marcas no pescoço novamente, realmente não sabia descrever o que sentia por ele, nem sabia dizer o que havia sentido ao ver os olhos dele pela primeira vez, mas correr atrás daquele vampiro, aguentar a dor insuportável e aceitaria a morte se ele quisesse matá-lo, morrer nos braços dele... Ah era algo para si melhor do que viver uma vida sem ele, mas porque...? Fazia tão pouco tempo que o conhecia, mas sentia como se conhecesse há anos aqueles olhos, aquele sorriso e aquele rosto bonito. Chegou a única conclusão e a mais difícil de dizer, afinal não o "conhecia", mas por algum motivo a cada corte feito na pele, cada cicatriz deixada por ele parecia tão bom para si.
- Acho que... Estou apaixonado por você...  

- Apaixonado? Apaixonado?
Yuuki retomou aquele riso cínico, que talvez soasse insuportável para o louro mais baixo. Aquela voz rouca e arrogante, dando ênfase ao desdém a toda palavras dita por ele, não se importava, era somente uma criança, e mesmo que não fosse, sequer surtia algum efeito em si, como já havia dito a ele, não mais sentia, era somente um fedelho que havia proporcionado o alimento, mas já estava satisfeito o bastante e não mais precisava dele ali.
- Quantos dias faz que você me viu pela primeira vez, criança?

- Yuuki... Pare por favor, não esta vendo que eu não preciso de mais ironia...? Faz poucos dias que eu conheço você... Mas é a unica explicação que me parece razoável diante de todas as coias idiotas que venho fazendo até agora, eu voltei aqui, estou me matando por você... Sei que você acha ridículo... Mas eu não quero desistir agora... Eu faria qualquer coisa... Qualquer coisa... Não me chame de criança, eu não sou uma criança. - Mordeu o lábio inferior. - Não quero ser alguém que apenas matou a sua sede... Mas não quero desistir... - As lágrimas atrapalhavam o vocalista de falar, soluçava entre as palavras, tentando se livrar do torpor de uma mente destruída. - Me use como quiser... Mesmo que eu apenas esteja ali quando quiser saciar a sede, mas me deixe ficar perto de você...
- Vá embora, garoto! Já estou enjoado o suficiente.
O vampiro se levantou, passou sobre o corpo alheio deitado no chão, e pegou o casaco que a pouco deixara cair, colocando-o novamente sob o ombro.

O pequeno gemeu e mordeu o lábio inferior novamente, mantendo os olhos fechados e nem ao menos tentou levantar, nem disse nada a ele, destruído novamente por suas palavras.
- O que está esperando, pirralho? Quer que eu te foda mais uma vez ?
As palavras rudes soavam de um modo suave, por mais que fossem grosseiras, parecia tão calmo com aquele sorriso irônico, talvez não visto pelo pequeno.

- N-Não consigo levantar... - Murmurou o loirinho no chão.
- O que você é? Uma garota? Seja homem! - O vampiro caminhou novamente ao rapaz, inclinou-se o suficiente para segurar a veste alheia, e ergueu-o pela gola da camisa. - Vá embora!
O garoto ficou de pé e afastou-se, apoiando na parede para que pudesse chegar até a porta.
- Porque não foi embora e me deixou aqui, como fez na noite anterior?

Yuuki fez-se próximo ao louro, como na noite passada, teve a distância mínima com o corpo levemente curvado frente a ele. O antebraço apoiado a parede, no entanto, mesmo com tal proximidade imposta, não o tocava.
- Você, pirralho! Veio até a gravadora, e acha que posso deixá-lo ensanguentado aqui para que venha imprensa e veja seu corpo morto largado no chão? Eu não me importaria de sumir daqui e deixá-lo, ou matá-lo como inúmeras outras pessoas, afinal você é só mais um objeto ao meu bel-prazer, um lixo, já me satisfez o suficiente, então porque não vai embora enquanto eu estou de bom humor, ahn?

O pequeno fitou os olhos dele pela última vez e nem ao menos prestou atenção nas palavras, apenas ouviu a voz do maior, o tom suave e bonito, um pequeno sorriso se formou nos lábios e virou-se de frente ao braço dele, se abaixasse provavelmente iria cair.
- Me... Me deixe ir embora...

- A vontade.
Disse o maior ao ouvi-lo, afastando-se do garoto, dando a ele passagem para que saísse de vista. Kazuto a
poiava-se na parede para sair dali, sentia a vista embaçada, mas mesmo assim iria sair e assim adentrou o elevador, ignorando o segurança que falou consigo, perguntando o que havia acontecido. Assim que o elevador chegou no térreo, saiu da caixa de metal, apoiando-se nas paredes como antes, a mão sobre o pescoço no local onde escorria sangue, procurou as chaves no bolso e apoiou-se ainda mais na parede desistindo das mesmas, a vista completamente embaçada, estava ficando escuro, sumindo, desaparecendo. Nem ao menos abriu a porta dessa vez quando perdeu a consciência, caindo desmaiado em frente a própria casa.

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