Kusagi e Shohei #17


Kusagi pegou o endereço onde o deixou, e buscaria-o dentro de alguns dias, como planejado. Chegara um pouco mais tarde, já havia até escurecido. Trouxe consigo o jantar e até a sobremesa que ele gostava. Ao fechar a porta, o viu na porta do quarto e observava a si, parecendo um pouco perdido ou indagativo.
- O Yuki quis passar uns dias fora.

Shohei saiu do banho a observá-lo, tentando entender o porque a casa estava vazia e suspirou ao ouvi-lo.
- Certo... - Murmurou, os cabelos molhados indicavam o banho recente, e a falta de maquiagem também, havia esquecido e estava chateado, óbvio. - Achei que você fosse embora.
Ninguém foi embora, nem ele, só foi passar uns dias. Acha que você não quer mais ele. - Disse e mostrou as sacolas. - Trouxe seu jantar, e a sobremesa que você gosta. Você fica lindo com cara de choro.
O menor assentiu e suspirou, abrindo um pequeno sorriso a ele.
- Ouvi você dizer que tinha comprado o apartamento.

- Eu comprei. Mas isso já faz um tempo e você sabe que eu mencionei sobre a compra. Mas eu disse que sairia, pra deixar o Yuki tranquilo, não realmente. Mas, ele pediu pra eu ficar.
- Por que ele pediria isso?
- Porque ele quer transar comigo quando voltar. - Disse o maior e sorriu-lhe com os dentes. - Disse que sabe que você gosta de mim.
- Vou ligar pra ele e pedir que não volte... - Murmurou. - Você também devia ir pro seu apartamento.
- Está me mandando ir embora, é?
- Estou te mandando me deixar sozinho. Eu sugo a energia das pessoas. Foi por isso que você quis outra pessoa ao invés de mim.
- Cala a boca, Sho. Não comece com esse papo melancólico, vai sugar minha energia se ficar falando merda.
Shohei desviou o olhar a ele e uniu as sobrancelhas, assentindo.
- Você quer que eu vá, ah? Então ok, se imagine aqui sem o Yuki, sem mim. Quem vai perder as energias é você.
O menor se manteve em silêncio por alguns segundos e assentiu.
- Isso aí é sorvete de menta?

- Não complique as coisas, você está confuso pelos sentimentos mas isso é muito simples. Conviva e pronto, até a hora que não der mais a ponto de você simplesmente não se importar com porra nenhuma além de si mesmo e do que você realmente quer.
Shohei se manteve a observá-lo e negativou, percebendo que ele realmente não tinha muita noção das coisas.
- Kusagi, você sabe por que eu coloquei esse piercing?

- Qual deles? - Indagou com arqueio na sobrancelha.
- Todos. - Murmurou. - Sabe porque eu pintei o cabelo? Sabe porque eu me tornei outro Shohei? Acho que eu nunca contei isso pra você e você não me pareceu tão interessado na reunião dos ex alunos. Pode parecer ridículo, piegas, imbecil, o que for, desde pequeno eu sempre gostei de você. Não sei se você sabe disso, mas desde de que eu conheço você eu sei que eu te amo, mesmo antes de saber o que era isso. Mesmo antes de saber qualquer coisa. Quando você segurava minha mão, eu era uma pessoa feliz. É óbvio que você nunca percebeu isso, e eu não culpo você. Meus pais se divorciaram quando eu ainda era pequeno, eu nunca tive muito apoio deles, mas você sempre estava lá. Até que um dia você foi embora, e eu não consegui encarar as coisas sem você por perto... Todo dia eu pensava em como você estava, como seria se você estivesse comigo, como você estava passando cada dia. Eu guardei fotos, eu guardei tudo, até roupas que você havia usado, eu ainda tenho. Mas eu percebi que o Shohei que eu era, nunca foi o suficiente pra você. Você sempre queria mais, você queria outras pessoas, não eu. Eu comprava roupas novas, eu comprava maquiagem, eu comprava até sapatos com salto, só pra parecer uma mulher porque eu achei que você não gostava de homens. E quando você foi embora... Eu cortei o cabelo, eu arranquei as roupas, joguei tudo fora e mudei tudo o que eu era, porque aquele Shohei tinha morrido. Quando eu vim pra cá, eu saí de perto, ou tentei de todas as coisas que eu tinha antes, eu tinha um colega de quarto pra dividir a casa que na época eu não podia pagar sozinho, e o Yuki cuidou de mim todas as vezes que eu fiquei mal. Ele me levantou, ele me fez companhia, ele ficou do meu lado mesmo sabendo que eu era frustrado por causa de outra pessoa. Mas você não sabia... Quando eu recebi a sua ligação, nossa... Eu fiquei tão feliz, porque quais eram as chances disso acontecer? Você voltou, ficou perto de mim e eu consegui finalmente ficar com você, sentir a sua pele, o calor dela que eu sempre quis sentir, tudo que eu sempre quis eu tinha ali, era só pegar. Por isso eu fico tão chateado. O Yuki é especial pra mim, porque ele cuidou de mim, mas o que eu estava esperando está 
aqui comigo agora, então ele fica chateado, eu também ficaria. Eu amo você, ele sabe, eu não preciso dizer. Porque quando eu estou com você, eu sorrio, eu brinco, eu sou outra pessoa, e quando eu estou com ele, eu sou completamente diferente. O que eu quero dizer, é que não há como eu esperar mais nenhum dia, porque eu estou magoando o Yuki. Eu não consigo mais dormir com ele, porque quando eu faço isso, é o seu nome que eu quero chamar, não o dele. E eu sei que você gosta dele, mas eu sempre gostei de você. Me desculpe, eu sou fraco, eu não sei fingir como uma pessoa normal, eu tenho sentimentos que me machucam muito e não posso fazer nada com eles... Isso doi. Doi muito. E eu tentou trazer essa dor pra fora de alguma forma, você não é uma faca, mas sentir suas unhas no meu peito doem menos do que sentir o meu coração doer tanto, sabendo que eu não posso ficar com você, sabendo que na primeira oportunidade você pode ir embora e eu posso ficar sozinho de novo. Eu vivo numa corda bamba. E eu estou sufocando... Não é que eu não goste do Yuki, é que eu gosto mais de você. Todos. - Murmurou. - Sabe porque eu pintei o cabelo? Sabe porque eu me tornei outro Shohei? Acho que eu nunca contei isso pra você e você não me pareceu tão interessado na reunião dos ex alunos. Pode parecer ridículo, piegas, imbecil, o que for, desde pequeno eu sempre gostei de você. Não sei se você sabe disso, mas desde de que eu conheço você eu sei que eu te amo, mesmo antes de saber o que era isso. Mesmo antes de saber qualquer coisa. Quando você segurava minha mão, eu era uma pessoa feliz. É óbvio que você nunca percebeu isso, e eu não culpo você. Meus pais se divorciaram quando eu ainda era pequeno, eu nunca tive muito apoio deles, mas você sempre estava lá. Até que um dia você foi embora, e eu não consegui encarar as coisas sem você por perto... Todo dia eu pensava em como você estava, como seria se você estivesse comigo, como você estava passando cada dia. Eu guardei fotos, eu guardei tudo, até roupas que você havia usado, eu ainda tenho. Mas eu percebi que o Shohei que eu era, nunca foi o suficiente pra você. Você sempre queria mais, você queria outras pessoas, não eu. 
Kusagi observou o amigo, e o início de seu desabafo que aos poucos, se tornou mais longo do que esperava que seria. Sabia o que ele sentia naquela época, não a intensidade disso. Sabia do seu amor de irmão caçula, de suas provocações sutis que pareciam lhe causar graça diante das próprias reações, ao se esfregar em si e ser empurrado como geralmente fazia, brincando com ele, até então, para si, naquela época era tudo brincadeira. Suas risadas ao ser levado pelo ombro, era brincadeira, as empurradas mesmo cuidadosas, com suas novamente risadas, eram brincadeira. Dormir consigo, era um aconchego, não realmente uma investida sexual, não real. Sabia que ele era gay, e imaginava que era por isso que provocava a si daquela forma, sendo chato, achando tudo engraçado. E no fim, nem imaginava o que ele pensava por trás de suas risadinhas infantis e tão divertidas, não sabia sequer como ele conseguia ser tão convincente. Gostava dele antes, como um irmão, como alguém que cuidaria sempre, mas gostava dele de uma forma diferente agora, portanto sabia o que era desejar alguém de tal maneira e imaginava que se seu sentimento, desde antes, fosse tal como era o que sentia por ele agora, provavelmente sua risada, era um protesto silencioso. Ou mesmo cada pergunta sobre as mulheres, sobre que tipo de corpo gostava, sobre seios, sobre cintura, sobre roupas, maquiagens, tudo, era falso e comparativo. Já o havia visto chorar naquele tempo, mas imaginava por hora, se suas desculpas naquela época não eram esfarrapadas, se eram reais. Observou-o, observava-o ainda, e da mesma forma continuava próximo a entrada, com sacolas na mão, processando sua declaração e nem sabia exatamente como deveria se sentir, mas era esquisito. O amava, era retribuído, mas destruía tudo o que construiu longe de si. Talvez se não houvesse chegado ali, ele já houvesse esquecido e superado tudo. Olhava pra ele e o queria, mas olhava para o pequenino que agora já não estava ali e pensava sobre o Shohei que descobria agora, via Yuki como o Shohei amigo de quarto, e se perguntava se não faria com o menor, o mesmo que fizera com o amigo, se não o faria sofrer, como seu próprio companheiro sofreu. No fundo, achava que não deveria ficar com ele, justamente por tê-lo feito sofrer tanto, mas ao mesmo tempo pensava se não o faria sofrer novamente se não estivesse por lá.
Yuki é grandinho... Ele vai superar. Os pais dele são um amor, ele tem vários amigos, lugar pra ir, ele já saía várias vezes antes de você chegar aqui. Eu sinto muito ter mentido pra você todo esse tempo... E se você quiser ir, tudo bem... Eu entendo.
- Eu... Não sei porque está tão triste agora. - Disse o maior, colocando as coisas sobre o sofá onde, por vezes a própria cama. - Porque eu estou aqui agora e não sei em que momento fiz parecer que penso em não ficar mais com você. Portanto vou ser claro, pra te tirar dessa corda do qual você já deveria ter saído: Não penso em te deixar. Mesmo que eu não estivesse mais na sua casa, eu estaria com você. E não estou falando em pensamentos, estou falando corpo e todo o restante, mesmo que eu não morasse com você nós nos veríamos, nos encontraríamos, você podia esse tempo todo me procurar e eu iria te responder, mas a escolha de se ferir sozinho, foi uma escolha errada e foi sua. Podia ter me procurado, podia ter ligado pra mim. De todo modo, o que sente por mim, eu sinto por você.
Kusagi caminhou até o rapaz e, observou-o de perto, era evidentemente um homem e mesmo que quisesse não iria parecer uma mulher como tentou fazer. Quis rir ao pensar sobre isso, mas estava ocupado demais encarando sua feição desprovida de artifícios. Levou as mãos até a nuca, desabotoando uma fina corrente prateada e levou-a 
até seu pescoço desprovido de detalhes.
- Bom, não posso te dar uma aliança porque você tem junto do Yuki. É o que eu tenho no momento, use isso. - Abotoou-a, e ao soltá-la, deslizou o dígito indicador sentindo o pequeno adereço descansando em sua clavícula, que agora era seu. - É um colar de compromisso. É um segredo e fica por hora, no lugar de uma aliança e bem, é simbólico e não precisa disso pra saber que você é meu, e que posso ser seu se é o que você quer. 
Ficou bonita em você.
Shohei o observou enquanto se aproximava e manteve-se igual a ele, boquiaberto ao ouvi-lo, tentou negar ao ouvir a primeira parte, mas ficou em silencio, sabia que ele tinha razão, talvez tivesse se frustrado tanto por ele ter outra pessoa com ele que não pensou em entrar em contato. Uniu as sobrancelhas e desviou o olhar ao pescoço, notando a pequena corrente, sem pingente algum, que brilhava bastante, e era bonita. Sorriu e deslizou os dedos por ela, sentindo-a e sorriu a observá-lo, aproximando-se e lhe selou os lábios.
- Você diz... Como se estivéssemos namorando?

- Hum.
Kusagi murmurou afirmativo e retribuiu seu breve toque labial. Shohei s
entiu as lágrimas nos olhos e assentiu a ele, mordendo o lábio inferior.
- Obrigado!

- Na... Nãaao. Não vai chorar, porra.
O menor riu e limpou as lágrimas com o dorso da mão.
- Eu te amo.

- Eu também te amo.
- É sorvete, né?
- É. E também gyoza.
- Deus, você me conhece bem demais.

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